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Nuvens baixas
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E-book191 páginas

Nuvens baixas

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Sobre este e-book

Gabriele é uma atriz que, quando sua carreira chega ao fim, empreende uma viagem à cidade onde passou a adolescência. Sua repentina visita pega duas de suas amigas desprevenidas, que veem nela uma válvula de escape para aqueles dias mais cinzas e monótonos. Também a atriz poderia intuir através delas a vida que tinha tido. Em troca, o peso da fama a persegue há quarenta anos e somente uma coisa parece evidente: esta viagem desperta velhas paixões e altera as vidas de todos aqueles que ela visita.

“O que a Núria Añó nos apresenta no seu libro é um pedaço de vida real, dissecado com o fino bisturi de sua escrita. Há na obra um grande trabalho feito sobre a linguagem e sobre o estilo. O romance não é fácil, nem pela temática nem pelo estilo, mas é muito interessante e constitui, ao meu ver, uma das grandes promessas da narrativa catalã contemporânea.” -revista L'Ull crític, 15-16.

IdiomaPortuguês
EditoraBadPress
Data de lançamento17 de set. de 2021
ISBN9781547589388
Nuvens baixas
Autor

Núria Añó

Núria Añó (1973) is a Catalan/Spanish novelist and biographer. Her first novel "Els nens de l’Elisa" was third among the finalists for the 24th Ramon Llull Prize and was published in 2006. "L’escriptora morta" [The Dead Writer, 2020], in 2008; "Núvols baixos" [Lowering Clouds, 2020], in 2009, and "La mirada del fill", in 2012. Her most recent work "El salón de los artistas exiliados en California" [The Salon of Exiled Artists in California] (2020) is a biography of screenwriter Salka Viertel, a Jewish salonnière and well-known in Hollywood in the thirties as a specialist on Greta Garbo scripts.Some of her novels, short stories and articles are translated into Spanish, French, English, Italian, German, Polish, Chinese, Latvian, Portuguese, Dutch, Greek and Arabic.Añó’s writing focus on the characters’ psychology, most of them antiheroes. The characters in her books are the most important due to an introspection, a reflection, not sentimental, but feminine. Her novels cover a multitude of topics, treat actual and socially relevant problems such as injustices or poor communication between people. Frequently, the core of her stories remains unexplained. Añó asks the reader to discover the deeper meaning and to become involved in the events presented.Literary Prizes/ Awards:2023. Awarded at International Writers’ and Translators’ House in Latvia.2020. Awarded at International Writing Program in China.2019. Awarded at International Writers’ and Translators’ House in Latvia.2018. Fourth prize of the 5th Shanghai Get-together Writing Contest.2018. Selected for a literary residence in Krakow UNESCO City of Literature, Poland.2017. Awarded at the International Writers’ and Translators’ Center of Rhodes in Greece.2017. Awarded at the Baltic Centre for Writers and Translators in Sweden.2016. Awarded at the Shanghai Writing Program, hosted by the Shanghai Writer’s Association.2016. Awarded by the Culture Association Nuoren Voiman Liitto to be a resident at Villa Sarkia in Finland.2004. Third among the finalists for the 24th Ramon Llull Prize for Catalan Literature.1997. Finalist for the 8th Mercè Rodoreda Prize for Short Stories.1996. Awarded the 18th Joan Fuster Prize for Fiction.

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    Nuvens baixas - Núria Añó

    Nuvens baixas

    Núria Añó

    Traduzido por Damiana Rosa de Oliveira

    Nuvens baixas

    Escrito por Núria Añó

    Copyright © 2019 Núria Añó

    Título original Núvols baixos © 2009

    www.nuriaanyo.com

    Todos os direitos reservados

    Distribuído por Babelcube, Inc.

    www.babelcube.com

    Traduzido por Damiana Rosa de Oliveira

    Design da capa © 2019 Núria Añó. Fotografia de Birgit Eilenberger. Desenhos Gordon Johnson

    Babelcube Books e Babelcube são marcas comerciais da Babelcube Inc.

    Tabla de Contenido

    Title page

    Copyright

    Nuvens baixas

    Sobre a escritora

    Outras obras da autora

    O olhar do filho

    A escritora morta

    O Salão dos Artistas Exilados na Califórnia

    Sobre a tradutora

    Nuvens baixas

    Núria Añó

    Marianne estava sentada na poltrona quando a campainha tocou. Seus pés mais lentos que de costume, como se fizesse muito tempo que usasse tênis e já não se lembrasse que hoje usava sapatos, esse salto de três dedos com um aspecto lustrado ou, quantos passeios terá dado com esse sapato, e olhem só, agora nem percebe como chegou até aqui, já que o acabamento da ponta estava apertando os dedos dos pés. E como olhou as horas, se poderia observar esse relógio de parede por um tempo, até dar a impressão de que a mulher que acabou de indicar para que entrasse chegou atrasada. Não saberia dizer, mas quarenta anos sem se ver… tão ruim anda essa comunicação? O que acontece agora, que a visitante perde tempo cumprimentando os membros desta família, como se não se lembrasse dela, pensa Marianne enquanto dobra as costas e baixa a barra de sua saia. Simultaneamente, ela aproxima uma mão da porta, e qualquer um veria que faz o gesto de entrar, mas é parada do outro lado do vidro. Quantas palavras doeriam economizar ali, que sim, a viagem, que você está muito bem conservada, e a palma de sua mão deslizando pelo vidro; de repente tinha que decidir se entraria ou não. Pois ela já se atrapalhou, e era isso que a Marianne não queria, sei lá eu, aqui está sentada uma mulher que esperava por um dia não ouvir o nome de sua doença, mas agora estava feito. Nem sequer se recompondo poderia lutar contra essa palavra, mas como se dizia, o braço da atriz se mostra de novo muito próximo ao vidro, a fazem retroceder com suas besteiras. Ela merecia o Óscar por não sei qual filme. C’est la vie , expressa a outra, aproximando sua mão da maçaneta. Se já teve oportunidade de lidar com os homens mais desejados, porque esconder isso, expõe a filha desta anciã, só isso ainda mexe com o meu coração. Verdade? Para mim não mais, pontua a atriz. Depois disso a porta se abre e pode-se ver a outra de pé. Já era hora, exclama Marianne dando um passo para frente. Era mais que hora, conclui Gabriele com um abraço.

    E por que não fica aqui? — indica a filha de Marianne. Em um momento arrumaria o quarto para ela. Gabriele aparece sentada em um cantinho quando o ouve, sua mão estreita a de Marianne como se sobrassem palavras, mas em seu lugar seus olhos muito atentos mostram um brilho especial. A atriz interrompe o momento e torce levemente o pescoço para informar de que já está em um hotel. Em um hotel? Como assim? — exclama a filha — quando poderia ficar aqui os dias que precisasse! Assim mesmo, Gabriele volta para a mão de Marianne, a leva até o seu rosto, uma mão que beija. Vou ficar só três dias, expressa a atriz voltando a se virar, como sabe sempre ficam coisas para fazer, projetos. Sim, Marianne tem uma ideia do que isso significa. Para ela os projetos desapareceram, como o vapor de uma panela de pressão, algo visto e não visto. E fala só para a filha: vou arrumar o seu quarto. Ou o neto: uma merda que vai dar meu quarto, dá o seu quarto para ela. E a filha: calem a boca, não dá nem para ouvir! A atriz então cruzou as pernas para o lado para afirmar que o hotel já estava pago. Arthur morreu, diz de repente Marianne. Eu sei, continua Gabriele, mas já faz anos isso. Sim, responde em voz baixa, olha pela janela e suspira. Se ver luz na garagem, diga ao Arthur que entre, a vida se passa ali, apenas nos vemos. Logo a Gabriele se levanta do sofá e acrescenta: mas agora não mora mais naquela casa. Ah, não? — disse a outra.

    Domingo ao entardecer, poderia fizer Gabriele enquanto desce e olha para cima. Ainda que no último degrau duvida por um momento, sem se dirigir para o hotel. Entretanto, o seguinte passo foi decidir ir em uma decisão oposta. Seu rosto descoberto, como se tivesse previsto um tempo melhor do que faz realmente. Provavelmente porque esta cidade guarda lembranças magníficas, como se o passar dos anos conseguisse apagar muitos dias cinza do calendário, e agora tivesse que subir para respirar pelo nariz enquanto observa esta cidade diferente de suas lembranças da adolescência. Não sei, provavelmente onde ela esperava casas, encontra edifícios muito altos e, onde eram espaços abertos, agora é tudo amontoado, como se nesta terra não houvesse terra suficiente para edificar. Acontece é claro que ela não é arquiteta, e nem queria ser. Em vez disso era uma atriz, ainda que agora caminhe em direção sabe Deus do quê. Ou bem se surpreenda dando voltas ou esperando em algum semáforo, como se essa cidade já não fosse a mesma, mas em seu lugar só houvesse muitas ruas novas. Contudo, levanta a mão e já acode algum taxista, caramba, não tinha previsto se perder assim.

    Gabriele! — expressa Sílvia ao abrir a porta, já que sempre fala pelos cotovelos e agora só abre a matraca na metade do abraço: tinha que ter me avisado antes. A seguir, a atriz entra e pendura o casaco no cabideiro da entrada, entrando na sala. Elas se cumprimentam quando diz se tivesse planejado, não teria vindo. Sim, finalmente Sílvia a convida para se sentar e a ela se senta, ambas muito próximas nesta mesa onde as duas já cruzam os braços, uma com o rosto para baixo. O que foi? — interroga Gabriele levantando o queixo. Nada, responde a outra. A mesma que se levanta e tira duas taças do armário, logo serve um licor sem pressa. Ninguém diria isso, questiona a atriz baixando o olhar. Sílvia começa a chorar, não sei, que mal momento para chorar, ainda bem que tem um lenço no avental. Exclama: pensava que não ia se lembrar de mim. E por que se lembraria? Você teve sorte na vida e teve tudo o que quis, casada e divorciada duas vezes, e com que homens! Mil vezes melhores que o meu, só que aqui tudo continua igual, como um relógio parado. Você fez bem indo embora, te disse uma vez e te repito agora: aqui só tem miséria. Não me lembro disso, expressa a atriz depois de um gole. Assim mesmo Sílvia esboça um leve sorriso, logo bebe. Está melhor, pergunta Gabriele. Melhor, repete a outra, você está bem, está confortável, quer comer alguma coisa? Por sua vez, a atriz responde que sim e nega com a cabeça, o que resulta estranho é que a Sílvia capte no ato esta comunicação não verbal e me entreguei no primeiro movimento de cabeça. Mas onde ia, ah, sim, o marido da Sílvia já aparece por algum lado: o que vejo aqui! As pessoas não acreditam em milagres, mas agora cairia para trás se não acreditasse! — e abraça Gabriele. Aparenta estar um pouco nervoso, não esperava estar tão próximo a esta mulher que um dia tinha vivido aqui, a três ou quatro ruas para baixo de onde ele morava. Como são as coisas, ele não se lembra dela, por sua vez a tem imortalizada por não sei qual filme, mas em mais de uma ocasião ela serviu de inspiração para bater uma enquanto a esposa dormia. Ou por acaso sua mulher não dormia? Um homem com quem disse estar estritamente vinculado à Gabriele. De um modo íntimo, por mais que hoje a olhe a um palmo de distância, e choraria diante dela pela crueldade da passagem do tempo. Nem com uma espada e muita má índole conseguiria tal coisa. Sílvia — diz o marido — fica aí que eu cuido do jantar. E o que se intui pelo olhar surpresa dela, como se nem desse crédito ao que acabava de ouvir, e tivesse que comprovar com seus próprios olhos como ele abria os armários e como, olhando para o lado, a atriz pega de novo o seu casaco do cabide e faz uma pergunta: nos vemos amanhã?. Sílvia também pensa uns segundos, indicando: liga no meio da manhã.

    Por que a Gabriele não ficou para jantar? — pergunta o marido para a Sílvia. Você acha, recrimina Sílvia, que alguém como ela ia comer quatro hortaliças meio cruas e um bife queimado? Também não se pode chegar do nada num domingo e esperar que a convidem para jantar. Já sabe o que a gente tinha para hoje, retoma Sílvia. Ela deve estar acostumada a comer sei lá o quê, caviar, e nós somos um casal que administra um único salário. Se pelo menos você tivesse me deixado trabalhar quando era o momento, agora teríamos outra situação e poderíamos ter convidado a Gabriele para jantar em algum restaurante. Mas como nos encontramos, ficaria difícil fechar o mês. Vamos ver onde vai ficar, continua a mulher, ainda espero que não sejam muitos dias, para o seu próprio bem, não queria que visse como a sua amiga está cada dia mais derrotada, não deve ter ideia, imagina se me vê aqui com os netos! Não sei por que veio. A primeira coisa que me disse, quando viu uma mulher velha cumprimentando da cabine telefônica mais próxima, dizia, no momento exato em que eu também levantava a mão e pensava que a terra poderia me engolir, e logo ela me disse que vinha visitar a Marianne, quando na realidade eu era a sua amiga, ela era mais velha que a gente, ela já tinha casamento marcado quando a gente ainda ia para a escola. Mas se quer a Marianne, conclui, enquanto se aproxima um copo de água, aqui a tem de corpo presente.

    Gabriele está no seu quarto de hotel, o telefone na mão. Quem quer que seja não responde. Assim pois terá que seguir com o que fazia, um jantar que decide comer aqui, na intimidade das luzes do quarto e as cores incessantes que saem da televisão. Por mais que abra ou feche os olhos, está no meio de uma cidade que faz muito tempo não pisava. Uma eternidade. Responde, responde, volta a sussurrar ao telefone. E por fim essa voz que ela procurava manter do outro lado sem reclamar. Vou te passar o telefone deste hotel — diz a atriz ao seu representante com um cartão nas mãos. Se não me encontrar, deixe um recado na recepção. Quando vai comprar um celular — o jovem a interrompe. Você me levaria mais a sério se eu tivesse um?, responde Gabriele. Olha como me deixa louco. A atriz aproxima o telefone da orelha, como se fosse importante qualquer coisa que fosse lhe dizer. Ao mesmo tempo, olha para cima. Precisamente desejaria ouvir tantas coisas, e agora só ouve sim, não, depende. Gabriele é uma mulher moderna, que olha para a cama e reproduz um gesto de desgosto com o canto da boca, como se levasse dentro dela muita raiva contida, mas por sua vez, é capaz de prolongar a conversa enquanto emite uma risada galanteadora. O riso se apaga do rosto assim que desliga o telefone. Então, desce um pé da cama, pega sua agenda da bolsa e observa o futuro por um monte de páginas em branco. Branco, como a camisola que alguém vestiu na Marianne pela cabeça. Ou como o algodão com que a Sílvia tira duas camadas de esmalte das unhas com acetona, para ganhar tempo. Tempo que, para Marianne, transcorre deitada em uma cama alheia, onde está presa com uma correia de tecido para que não fuja, nem caia, nem se mova. Uma mulher que em algum instante lúcido percebe a confusão que causa e chora. Bem assim, Gabriele.

    Já se ouve o neto da vez, o menor, que foi só chegar e já começa a gritar de alegria. Vem com a sua irmã de nove anos. Pela idade, ela poderia cuidar do pequeno, a escola não fica longe. Sílvia os deixa entrar. Ambos tomam café da manhã na casa dos avós tão simpáticos, os quais sempre tem algo que contar. A filha da Sílvia também entra e comenta que marcou uma consulta com o médico para o menino, está com tosse e muito muco. Vou pedir para que dê uma boa olhada nele, ai vou chegar atrasado. Sim, a Sílvia e o marido conhecem de sobra esse ai. Mais uma se vai. O resto fica nessa mesa onde se acaba mais uma caixa de leite. Já vou indo, diz um, e logo outro e vão se levantando da cadeira. O que importa, os netos preenchem os corações de juventude, como uma primavera depois de um longo estado de hibernação, onde os braços de alongam como os de um espantalho para abraçá-los. Como o marido de Sílvia os alongaria para estreitar a cintura da Gabriele, se ela deixasse. Um homem que já teve uma oportunidade ontem, e hoje poderia recolher todos os pedacinhos com a vassoura e a pá. Não, ele não faz o estilo da Gabriele. As suas mãos não suportariam um trabalho diário duro que poderiam chegar a competir com as mãos acetinadas desta mulher que ontem levava uma mão ao seu ombro, enquanto lhe dava um beijo no rosto. É que se hoje contasse no trabalho, ninguém acreditaria. Além disso, teria que dizer frases como: sim, é ela, Gabriele Bates! A que fez tal e qual filme, como é possível que agora não se lembre de mim, diga o nome de algum filme dela. Não de um tão novo, vamos ver se eu me lembro. E assim ficariam quando apareceria, com a boca entreaberta, como se aquele título parecesse um filme velho. E logo depois, de novo. Venha, agora a seguir, que o trabalho é muito seu, e não entende de pausas. Nem sequer quando alguém chega em casa, descansa. Sempre outro turno acontece depois do seu. O que ocorre é que um dia o marido da Sílvia levantava quilo e quilos de peso na máquina, e logo percebeu que preferia isso do que estar em casa.

    A Gabriele chegou no parque que a Sílvia tinha falado, quem, só de vê-la levanta o braço à distância, por mais que se encontre sozinha aqui, com um neto que desce do carrinho. A atriz se aproxima do menino e lhe diz algo com um sorriso, mas pelo visto o pequeno só esperava que o soltasse e marcha rumo ao parquinho. Gabriele se acomoda no banco. Usa uma blusa azul intenso com uma espécie de babado nos punhos, que aparecem sob o casaco claro. Nem a calça justa ou os sapatos de salto podem competir com alguma das peças das quais usa, pensa Sílvia, enquanto oprime os dedos dentro da bolsa. Este é o menor, acrescenta a avó, mas a minha filha tem outras duas mais, uma de nove anos que é muito estudiosa e o maior de dezessete, um sem-vergonha, criaram os três por partes, como se não se atrevesse de repente, e vai vendo, este tal como devo guardá-lo todo o dia, por precaução, se de fato já vai para a escola, mas quando tinham visto que tossia, me disseram que o levasse, como se não tivesse nada mais que fazer, por fim, eu me alegro que esteja aqui. Eu também, responde Gabriele, na realidade é admirável que tenha netos, eu não posso ter filhos, sempre tinha um projeto ou outro, e mais adiante, quando tudo aquilo foi se acalmando, já não podia tê-los, tinha ficado tarde.

    Por um momento, o neto abraça a avó. A seguir ela aproveita para ajeitar o cachecol dele. Uma criança que se enrola na saia desta mulher. A Gabriele acaricia a cabeça dele, ainda que de novo ele corra para o escorregador, subindo a escada lentamente, pisando forte como se não quisesse cair. Uma criança imune a quedas, porque a avó grita: cuidado, filho! Então, Sílvia se volta para a Gabriele, e de repente, interroga na voz baixa: não usa brincos? Com o mesmo tom de voz, surge a resposta; quando você me viu com brincos? Não sei, retoma Sílvia, que volta

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