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Vigilância, Justiça e o Culto a Deus: Um Chamado para a Igreja nos Escritos dos Profetas Menores
Vigilância, Justiça e o Culto a Deus: Um Chamado para a Igreja nos Escritos dos Profetas Menores
Vigilância, Justiça e o Culto a Deus: Um Chamado para a Igreja nos Escritos dos Profetas Menores
E-book291 páginas4 horas

Vigilância, Justiça e o Culto a Deus: Um Chamado para a Igreja nos Escritos dos Profetas Menores

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Sobre este e-book

Neste livro, estudaremos as esplêndidas mensagens pregadas pelos profetas menores. Através destes escritos, fortaleceremos nossa fé na crença de que nenhum "profeta-bíblico" falou por vontade própria. Todos profetizaram inspirados pelo Espírito de Deus (2 Pe 1.19-21). Sobre eles, existia um selo da autoridade divina. Por isso, a Igreja atual pode ser muito acrescentada com o estudo dos textos proféticos. Como um legado, encontramos princípios espirituais eternos para nosso aperfeiçoamento na fé.
IdiomaPortuguês
EditoraCPAD
Data de lançamento19 de mai. de 2021
ISBN9786559680085
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    Pré-visualização do livro

    Vigilância, Justiça e o Culto a Deus - Israel Thiago Trora

    Bibliografia

    CAPÍTULO 1

    Profetas Menores: Grandes Mensagens em Pequenos Textos

    Os profetas menores foram herdeiros de uma tradição profética em Israel. Eles ensinaram de modo conciso verdades imprescindíveis para a nossa edificação. Para conhecê-los melhor, é interessante examinarmos a tradição profética na Bíblia no afã de identificar as funções que eles exerceram na sociedade judaica veterotestamentária. Diferente dos sacerdotes, que ensinavam por meio do estudo da Lei, os profetas desenvolveram sua didática em forma de profecia. Ao entregarem os oráculos divinos, os profetas menores exortaram o povo, denunciaram os erros, anunciaram o juízo, convidaram as pessoas para o arrependimento, assim como previram dias de restauração. A ferramenta básica do ensino de um profeta era a profecia.

    A Profecia

    A profecia é um assunto fascinante na Bíblia. Já no primeiro livro da Bíblia, encontramos uma palavra profética dada pelo próprio Deus ao homem (Gn 3.15). Esse versículo pode ser considerado o primeiro texto profético da Bíblia, pois o relato histórico de Gênesis vislumbrou um acontecimento futuro que veio a realizar-se apenas no Novo Testamento. Esse é o primeiro texto bíblico em referência direta à obra da redenção de Cristo. Na Bíblia, a profecia surgiu com Deus, pois o Criador tudo sabe (Jó 42.2). Ao comunicar ao homem a profecia da semente da mulher que pisaria na cabeça da serpente, o Criador apresentou uma palavra de salvação que se tornou a base embrionária do esquema divino da redenção humana (Rm 3.24,25). A profecia é tão importante na Bíblia que contribuiu para delinear os acontecimentos póstumos à Criação.

    Podemos afirmar, sem sombra de dúvidas, que o sistema profético da Bíblia tem sua origem em Deus e não se trata de uma ferramenta puramente humana. Deus falou à humanidade por meio dos profetas (Lc 1.70; Hb 1.1). Cristo afirmou que os profetas existiram durante todo o desenrolar da história bíblica no Antigo Testamento (Lc 11.50,51). Enoque foi um profeta (Jd 14). Noé atuou como profeta na medida em que pregou a justiça e anunciou o juízo (Hb 11.7). Os patriarcas foram reconhecidos como profetas (Gn 20.7; Sl 105.9-15). No Pentateuco, encontramos uma passagem clara sobre o derramamento do Espírito do Senhor na congregação de Israel (Nm 11.24-26). Nessa ocasião, os homens foram presenteados com a profecia. Esequias Soares esclarece:

    O ministério dos profetas começou no deserto de Sinai quando Deus ordenou a Moisés que constituísse uma congregação de 70 anciãos para que o ajudasse na liderança do povo. Esses homens profetizaram quando receberam o Espírito Santo e o grande legislador dos hebreus explicou que qualquer pessoa poderia profetizar: tomara que todo o povo do Senhor fosse profeta, que o Senhor lhes desse o seu Espírito! (Nm 11.29). Moisés disse que a manifestação divina depois dele seria diferente daquela vista no Sinai.¹

    No texto supracitado, algumas questões saltam aos nossos olhos: a) os homens profetizaram quando receberam o Espírito do Senhor; b) os profetas, nesse contexto, não eram os líderes principais, mas surgiram como fonte de apoio. A congregação que recebeu o Espírito Santo era composta de 70 anciãos separados para auxiliarem a liderança mosaica. Aqui está a essência e o propósito do ministério profético. Em seu âmago, o profeta no Antigo Testamento era um homem cheio do Espírito levantado para auxiliar a liderança principal. A entrega da profecia era o resultado de uma ignição mística interior, fruto da ação do Espírito de Deus em sua vida.

    O propósito da profecia em sua causa originária foi suplementar ao ensino da justiça e da verdade, sendo uma importante fonte de apoio no exercício de uma liderança religiosa que deveria conduzir as pessoas para uma espiritualidade centrada em Deus. No antigo Israel, com o estabelecimento da monarquia, podemos dizer que reis e sacerdotes exerceram uma liderança política e religiosa institucional, respaldados por uma autoridade legal; no entanto, os profetas não possuíam essas insígnias ou medalhas institucionais. Eles eram homens de Deus que atuavam de modo paralelo às lideranças legalizadas. Quando estas se mostravam mortiças espiritualmente, surgiam os profetas como verdadeiros defensores da justiça e da santidade.

    A Identidade dos Profetas: Um Ministério Aberto para Todos

    Moisés foi considerado um grande profeta de Israel (Dt 34.10). Arão também foi chamado de profeta (Êx 7.1; Dt 18.18) e Miriã foi identificada como uma profetisa (Êx 15.20). Enquanto os cargos de reis e sacerdotes eram exclusivos dos homens, o gênero não importava no ministério profético. Deus usava tanto homens quanto mulheres. Embora seja possível perceber que há uma predominância dos homens no ministério profético, as mulheres na Bíblia não estavam excluídas desse ofício. Além de Miriã, Débora também foi profetisa (Jz 4.4), assim como Hulda (2 Rs 22.14; 2 Cr 34.22). O profeta Isaías foi casado com uma profetisa (Is 8.3). O Novo Testamento também faz menção da profetisa Ana, filha de Fanuel, da tribo de Aser (Lc 2.36).

    Os profetas foram pessoas levantadas por Deus com o propósito de cumprir uma missão especial. Entregar a mensagem divina ao povo era a grande responsabilidade que caracterizava a vida de um profeta. Ao contrário dos sacerdotes e levitas que tinham seus ministérios regulamentados pela lei visando a uma organização do culto judaico, os profetas não atuavam respaldados em regulamentos. Esse ministério de caráter urgente fazia parte da atuação dinâmica de Deus entre o seu povo.

    Os sacerdotes não estavam excluídos do ministério profético. Ninguém estava. Há casos de profetas-sacerdotes na Bíblia, tais como Samuel, Ezequiel, Zacarias e, possivelmente, Habacuque. Na verdade, o ministério profético não possuía características segregacionistas. Esse ministério estava aberto para todos. Enquanto apenas alguns poderiam chegar à realeza e ao sacerdócio, todos poderiam profetizar. Esse fora o desejo de Moisés (Nm 11.29).

    Homens e mulheres, reis e sacerdotes, padeiros, agricultores, pastores, independentemente da profissão, do gênero, da idade, todos poderiam profetizar. Enquanto era preciso atingir os 30 anos de idade para iniciar oficialmente a função sacerdotal, uma criança poderia ser profeta. O ministério sacerdotal exigia uma série de requisitos, tais como hereditariedade (descendência de Arão), gênero (masculino), formação (estudo da Lei), idade (30 anos) e aparência (não ter defeito físico). Para ser profeta, bastava apenas ser vocacionado por Deus.

    Entre os profetas, temos representantes da nobreza e da pobreza, homens e mulheres, adultos, jovens e crianças, pessoas das mais variadas profissões, gente com estudo e sem estudo. Amós, por exemplo, era um simples boieiro, Miqueias era um pequeno colono, e Oseias provavelmente exerceu a função de agricultor ou padeiro. Esses homens, guiados por Deus, deixaram por um tempo seus afazeres e foram aos centros comerciais e às cidades do Sul, em Judá, e do Norte, em Israel, no afã de entregarem os oráculos divinos ao povo.

    Havia uma escola de profetas, porém essa especialização não era substituta da vocação. Aqueles que eram vocacionados passavam por um processo de estudo no afã de aperfeiçoarem o ministério recebido da parte de Deus. A escola de profetas não era um item obrigatório para ser um profeta; apenas representava uma alternativa para a capacitação. A fala de Amós foi emblemática nesse ponto. Ele declarou que não era profeta, nem filho de profeta. Com essas palavras, estava indicando que não havia estudado para ser profeta e nem tinha em sua casa a tradição do profetismo; porém, apesar disso, fora chamado por Deus (Am 7.14,15). Afinal de contas, o chamado divino sempre foi a condição capital para ser profeta, independentemente de possíveis pré-condições que a sociedade tentasse estabelecer. Os profetas do Antigo Testamento trazem-nos a lição de que nosso Deus jamais se prenderá às regras humanas. Na história de Israel, Ele levantou profetas segundo suas escolhas, e não conforme os critérios humanos, que, geralmente, se mostravam superficiais e enganosos.

    Entre os profetas, encontramos pessoas simples e também indivíduos de famílias importantes. A posição social era importante para os homens, mas não era um fator determinante para Deus, não tinha peso de escolha, nem tampouco era causa de exclusão. O que realmente importava era o chamado divino. Deus usava profetas nobres e pobres segundo a sua soberania.

    A Relação do Profeta com a Lei do Senhor

    Moisés foi um profeta diferenciado, visto que atuou como líder político e religioso de Israel. Ele acumulou em seu comando ambos os poderes, pois viveu em um Israel teocrático que estava no processo de constituição como uma nação. Com o estabelecimento da monarquia em Israel, os poderes políticos (civis-militares) e religiosos foram separados. A partir dessa separação de poderes, o sacerdote passou a dedicar-se às questões religiosas, e os reis, às questões políticas. Então, onde ficaram os profetas? Quem eles eram e o que faziam?

    Embora não fossem regulamentados pela Lei, isso não quer dizer que os profetas fossem contrários a ela, o principal instrumento judaico normatizador. Pelo contrário, é possível percebermos que a mensagem deles possuía um alinhamento profundo com a Torá. Os profetas atuavam para resgatar os princípios da aliança de Deus com seu povo, mandamentos que estavam sendo esquecidos e negligenciados no decurso da história. Seus posicionamentos não contradiziam a Lei. Eles foram os intérpretes da religião judaica. Desenvolveram ideias teológicas com maturidade crescente e demonstraram percepções profundas pelo poder do Espírito de Deus. No Novo Testamento, Cristo agiu assim. Enquanto os homens prendiam-se às regras humanas, Cristo enxergou a essência dos princípios divinos e eternos por trás das leis.

    Direcionados pelo Espírito, os verdadeiros profetas conseguiam discernir a essência do propósito de Deus para o seu povo. Eram indivíduos diferenciados, com profunda visão espiritual e zelo religioso. Possuíam uma posição independente, sem qualquer tipo de relação com os poderes políticos e religiosos vigentes. Em alguns momentos, os profetas entravam em rota de colisão com esses poderes instituídos, denunciando a corrupção, a hipocrisia, a injustiça e o descaso para com a Lei por parte dos reis e sacerdotes, os homens que estavam empoleirados no poder institucional. Por causa dessa independência pessoal, o profeta falava com liberdade e autoridade, convicção e precisão.

    A Piedade do Profeta

    O profeta falava em nome de Deus por meio da célebre frase: Assim diz o SenhorSua palavra tinha peso, porque era corroborada pelo Senhor. Ele falava em nome de Deus movido pelo Espírito. Em sua origem e essência, era uma pessoa comum, alguém marcado pela piedade e dotado de um chamado espiritual; por isso era considerado pelas pessoas como o homem de Deus (Dt 33.1; 1 Rs 13; 2 Rs 4.9).

    A piedade possibilitava ao profeta um relacionamento íntimo com Deus, colocando-o na direção do Espírito, levando-o à dobradura de sua vontade, e não apenas à curvatura dos seus joelhos. Essa piedade individual atuava como um escudo contra o ritualismo ou racionalismo, pois o homem que sente a presença de Deus no seu íntimo não se satisfará com a pompa de um ritual religioso superficial, nem com a vaidade de um discurso lógico bem construído. O que um homem piedoso realmente deseja é a presença de Deus. Não se trata de religiosidade, mas de espiritualidade incandescente. Com a alma acesa pelo Espírito, o profeta estava sensível para ouvir a voz de Deus e retransmiti-la ao povo.

    O profeta era comumente consultado para saber qual era a vontade de Deus (1 Sm 9.9). As pessoas reconheciam que o verdadeiro profeta detinha um conhecimento além do saber humano, pois Deus revelava-lhe fatos que ainda estavam para acontecer. Deus havia condenado práticas adivinhatórias cananitas (Dt 18.9-14), mas permitiu que os profetas fossem consultados. Por quê? Não se tratava de uma consulta meramente movida por adivinhação futurística, mas de instrução prática para a vida. A suposta previsão vinha acompanhada de um teor potente de orientação, seguido por ações práticas em sincronia com os princípios estabelecidos na Lei do Senhor. Ainda assim, nem sempre as pessoas estavam dispostas a obedecer-lhe. Quando a mensagem não era agradável ou palatável aos ouvidos, os profetas sofriam com o desprezo das pessoas ou até mesmo com a perseguição dos homens poderosos que ocupavam os cargos autoritativos da sociedade judaica.

    O Significado do Vocábulo Profeta

    No hebraico, a palavra mais frequentemente usada para profeta no Antigo Testamento é nabi. Ela aparece mais de trezentas vezes no Antigo Testamento.² É bem provável que o significado do termo tenha a ver com proferir, anunciar uma mensagem.³ A ideia do vocábulo é extravasar palavras com uma mente fervorosa, influenciada pelo Espírito Santo. A autoridade do profeta estava na consciência de que ele falava em nome de Deus (Jr 15.19).

    A versão grega do Antigo Testamento, a Septuaginta, utilizou o termo grego "profetes". Esse termo passou a ser utilizado também no Novo Testamento para referir-se ao profeta, aquele que fala em nome do Senhor. De acordo com os vocábulos bíblicos utilizados, o profeta era definido como um porta-voz, um representante da mensagem divina. Era alguém que portava uma missiva divina. Tratava-se de um homem santo, escolhido e separado para comunicar conteúdos relevantes da parte de Deus para o povo.

    O vocábulo grego traduzido pelo português passou a ter um significado mais atrelado à ideia de predizer o futuro. Contudo, quando olhamos o ministério dos profetas, veremos que essa significação mostra-se insuficiente, pois o profeta tanto predizia o futuro quanto advertia sobre o presente ou relembrava até mesmo o passado. O conteúdo da palavra profética não estava circunscrito ao futuro ou a uma respectiva época em especial, pois nitidamente podemos perceber que os profetas caminharam entre as recordações do passado, os desafios do presente e as promessas do futuro. Eles transitavam entre realidades pretéritas, atuais e porvindouras.

    Tendo em vista essas considerações, convém destacarmos que o melhor significado para a palavra profeta é mensageiro de Deus. O profeta era um embaixador de Deus. Através do registro preservado na Escritura, verdadeiramente vemos que a voz dos profetas era a voz de Deus.

    O Profeta como Intérprete dos Fatos Passados e Presentes

    O profeta precisava conhecer a realidade da vida nacional. Samuel, por exemplo, reunia os jovens profetas em comunidades e ministrava-lhes conhecimentos da história e da religião (1 Sm 10.10-13; 19.18-20). O profeta era um homem com conteúdo. Precisava estar familiarizado com o passado histórico da nação, assim como precisava ter o discernimento para interpretar o presente, valorizando os princípios espirituais elementares entregues por Deus a Israel. O profeta só teria êxito em sua missão se estivesse bem familiarizado com a história do seu povo; além do mais, precisava ter uma leitura social aguçada. Por isso, os profetas menores citam em suas profecias o passado histórico de Israel.

    Oseias, por exemplo, ao denunciar a ingratidão daquele povo, relembrou-os de tudo o que Deus havia feito por Israel, ao tirar-lhes do Egito, ao transformar escravos em guerreiros, dando-lhes terra, nome e nação entre os povos (Os 11.1-4). Amós fez o mesmo ao relembrá-los das grandes obras que Deus havia feito pelo povo desde o Egito (Am 2.10; 3.1). É possível percebermos que a temática Egito é constantemente mencionada pelos profetas menores (Os 12.9; Am 9.7; Mq 6.4; 7.15; Ag 2.5). Essa lembrança histórica não poderia ser esquecida pelo povo de Deus.

    O povo de Deus, ao longo do tempo, sofreu muitas transformações. O profeta tinha a responsabilidade de acompanhar e perceber essas mudanças trazendo para as demandas inéditas uma palavra atual da parte de Deus a fim de orientar o povo. Com o tempo, Israel deixou as raízes agrícolas de lado e tornou-se mais urbano e comercial. Essa grande mudança pode ser percebida no livro de Miqueias. Em sua época, por exemplo, houve um grande êxodo rural em que diversos camponeses mudaram-se para as principais cidades do Sul e do Norte em busca de riquezas. Naquele tempo, os reinos do Norte e do Sul prosperavam.

    Ao chegarem a essas cidades, os camponeses eram vítimas de exploração e de injustiças, cometidas por uma classe de ricos inescrupulosos que se mancomunaram com os sacerdotes, reis e profetas. Miqueias detectou esses pecados e confrontou-os pelo poder do Espírito de Deus (Mq 3.8). Portanto, como fruto das novas relações comerciais, novos problemas foram surgindo, entre eles a avareza, o apego excessivo às condições materiais e, principalmente, o crescimento da injustiça. Os antigos valores de ajuda mútua e senso de solidariedade foram substituídos pelo egoísmo e indiferença diante dos necessitados. O homem de Deus precisava detectar esses pontos falhos na sociedade para posicionar-se entregando a mensagem divina.

    O profeta, acima de tudo, era uma espécie de intérprete ou cientista social, que estava munido de uma visão teológica sobre a vida. Era alguém que lia os movimentos da sociedade. Diferente do cientista social atual, que baseia toda a sua análise nos critérios científicos de estudo, a interpretação profética do Antigo Testamento fazia uso de uma ótica divina, sobrenaturalmente concedida por Deus e fundamentalmente embasada na Lei do Senhor. O profeta no Antigo Testamento observava os movimentos da sociedade, decodificando as atitudes dos homens com as lentes do Espírito de Deus. Para cada questão social, era preciso apontar uma direção divina. Por isso, o profeta deveria estar sempre atualizado com as demandas de sua época, direcionando o povo segundo os princípios da aliança de Deus.

    A Difícil Tarefa de Comunicar a Profecia

    O profeta deveria entregar a mensagem divina no afã de ser imediatamente considerada; caso contrário, seria ativado o julgamento e a ira divina. Quando o povo arrependia-se, o julgamento divino era suspenso. Entretanto, em alguns momentos o coração das pessoas endurecia, e os pecados cometidos aliados à indiferença precipitavam as pessoas à perdição. Assim, em volta do profeta, às vezes existia um contexto de resistência, reprovação e rejeição, de modo que o simples ato de entregar uma profecia constituía uma demonstração de coragem e compromisso com Deus. Sobre esse assunto, cabe-nos uma explicação histórica.

    No início, os profetas atuavam como assessores religiosos das autoridades, exercendo um papel de conselheiros reais, e por isso eram amplamente respeitados e temidos. Samuel e Natã, os primeiros profetas influentes pós-Moisés, agiram como orientadores da realeza (2 Sm 12.1; 1 Rs 1.8,10,11). Na transição da teocracia para a monarquia, os profetas de Israel gozavam de muito prestígio. É possível encontrarmos o profeta Samuel reprovando a atitude do rei Saul ou até mesmo o profeta Natã entregando uma penosa mensagem ao rei Davi após o seu adultério (1 Sm 15.10-23; 2 Sm 12.1-13). Os reis tremiam diante da palavra profética.

    No entanto, com a cisão do reino após a morte de Salomão, os profetas nortistas foram os primeiros a enfrentar grandes perseguições. Como o Norte foi governado ininterruptamente por dez dinastias compostas em sua totalidade por reis ímpios, um sistema apostático foi oficializado em Israel, principalmente nos tempos do rei Acabe. Assim, em Israel iniciou-se uma nova realidade para os profetas: o tempo da perseguição. Muitos profetas foram mortos, e outros tiveram que se esconder (1 Rs 18.4). A adoração a Baal foi normatizada provocando seu enfrentamento pelo corajoso profeta Elias. Desde então, os profetas passaram a ser caçados, pois a profecia bíblica colidia com os interesses da nobreza, com a dissimulação dos sacerdotes e a manipulação dos falsos profetas (Jr 1.18,19; 5.30,31; Is 58.1-12).

    A perseguição aos profetas não ficou circunscrita aos nortistas, mas também aconteceu com os sulistas. Um exemplo clássico foi o profeta Isaías, perseguido no reinado de Manassés. Segundo a tradição judaica, ele foi serrado ao meio depois de ser encontrado escondido em um tronco de árvore oco. O profeta Sofonias, cujo nome significa o Senhor esconde, nasceu nessa época e provavelmente recebeu esse nome em referência ao fato de Deus ter-lhe preservado da fúria de Manassés, escondendo-o do rei ímpio.

    As Escrituras apontam que alguns profetas sofriam internamente antes de transmitir a mensagem. Em alguns casos, o próprio corpo psicossomatizava as angústias. Em outros casos, o profeta sofria uma verdadeira crise pessoal. Nem sempre o próprio profeta entendia os caminhos de Deus expressos em sua profecia. Por exemplo, profetizar uma derrota militar para sua própria nação não era uma tarefa fácil. Essa era uma mensagem não palatável. Os judeus não toleravam escutar profecias assim. A reação negativa seria uma consequência quase que automática.

    A função do profeta era ser um mensageiro de Deus, assemelhando-se à função do "kérix", ou arauto, que, naquela época, era o responsável por entregar a mensagem de um rei. Nem sempre a mensagem soava bem diante das pessoas. Apesar disso, o profeta precisava ser fiel à mensagem, pois seu compromisso era com Deus, e não com os homens. O profeta precisava zelar pela integridade dos conteúdos de sua profecia.

    É bem verdade que nem sempre o profeta entendia o porquê de sua própria profecia. Apesar de esses homens serem visionários e possuírem uma visão espiritual acima da média, sabemos que eles também tinham suas próprias limitações. Suas percepções nem sempre compreendiam os caminhos da onipotência. Conforme vimos, a crise instalava-se quando o profeta sentia-se perdido em relação ao agir de Deus. Ainda assim, era preciso andar pela fé e entregar fielmente a visão/revelação. O profeta não podia guardar ou adulterar a mensagem. Ele era a voz contemporânea de Deus que exortava o povo no afã de formar uma sociedade moral e justa. Não poderia ser omisso. Seu papel era fundamental demais diante de Deus e dos homens.

    O Profeta no Reforço do Ensino da Lei e da Justiça

    Os sacerdotes e os levitas eram os responsáveis oficiais pela parte do ensino (Lv 10.11; Dt 33.10; Ez 22.26); todavia, essa função era constantemente ignorada pelos seus representantes legais, visto que estavam demasiadamente ocupados com as tarefas recorrentes e diárias das atividades litúrgicas e cultuais da religião judaica. Deus levantou os profetas para suplementar o ensino negligenciado pelo sacerdócio.⁵ Percebemos aqui que o profeta, enquanto recurso emergencial da parte de Deus, também atuava no reforço de um ensino que tinha sido relaxado pelos sacerdotes.

    O ensino regular dos sacerdotes era tão importante quanto às admoestações dos profetas. Ensino

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