Por Trás Das Máscaras
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Por Trás Das Máscaras - Ana Carolina Thomeu E Gabriela C. Rutter
Por Trás das Máscaras Ana Carolina Nascimento Thomeu Toffoli
&
Gabriela Costa Rutter
Ana C. Thomeu & Gabriela C. Rutter
2
Por Trás das Máscaras Índice
Sumário
Leitor..................................................................................................... 9
Olívia ................................................................................................... 10
....................................................................................................... 15
William ................................................................................................ 17
Olívia ................................................................................................... 20
Oliver .................................................................................................. 24
Stefano ............................................................................................... 27
Olívia ................................................................................................... 30
....................................................................................................... 35
Teresa ................................................................................................. 38
Matheus.............................................................................................. 42
Olívia ................................................................................................... 47
Ricardo ................................................................................................ 53
Olívia ................................................................................................... 59
Bianca ................................................................................................. 65
Ulisses ................................................................................................. 70
Igor...................................................................................................... 73
Olívia ................................................................................................... 76
Vinícius ............................................................................................... 80
Matheus.............................................................................................. 83
Olívia ................................................................................................... 87
3
Ana C. Thomeu & Gabriela C. Rutter
Pulga ................................................................................................... 90
....................................................................................................... 92
Carlos .................................................................................................. 98
Olívia ................................................................................................. 101
Alice .................................................................................................. 105
William .............................................................................................. 108
Stefano ............................................................................................. 113
Olívia ................................................................................................. 117
Diogo ................................................................................................ 121
Oliver ................................................................................................ 123
Bianca ............................................................................................... 127
Sabrina .............................................................................................. 132
Cesar ................................................................................................. 136
Paulo ................................................................................................. 139
Ricardo .............................................................................................. 144
Olívia ................................................................................................. 150
Dryca ................................................................................................. 154
Paulo ................................................................................................. 157
Matheus............................................................................................ 162
Sabrina .............................................................................................. 174
Olívia ................................................................................................. 179
..................................................................................................... 186
Ulisses ............................................................................................... 190
Olívia ................................................................................................. 196
4
Por Trás das Máscaras
Otávio ............................................................................................... 203
Stefano ............................................................................................. 206
Ricardo .............................................................................................. 215
Olívia ................................................................................................. 222
Matheus............................................................................................ 226
..................................................................................................... 235
Stefano ............................................................................................. 243
Olívia ................................................................................................. 250
Alice .................................................................................................. 255
Bianca ............................................................................................... 261
William .............................................................................................. 268
Olívia ................................................................................................. 273
Cesar ................................................................................................. 277
Carlos ................................................................................................ 282
Matheus............................................................................................ 288
Otávio ............................................................................................... 297
Olívia ................................................................................................. 301
Stefano ............................................................................................. 305
Alexandre.......................................................................................... 314
Alice .................................................................................................. 321
Olívia ................................................................................................. 327
William .............................................................................................. 333
Ricardo .............................................................................................. 339
Matheus............................................................................................ 346
5
Ana C. Thomeu & Gabriela C. Rutter
Olívia ................................................................................................. 354
Cesar ................................................................................................. 359
Olívia ................................................................................................. 363
Otávio ............................................................................................... 368
6
Por Trás das Máscaras Dedicatória
Dedico este livro a todos que de alguma forma me encorajaram a escrever, especialmente aos meus grandes amores, Rafael e
Eduardo que me inspiram todos
os dias e à minha querida amiga Gabriela pela incrível parceria nessa obra. – Ana C. Thomeu
Este livro é dedicado a todos os meus amigos e familiares que me ajudaram a fazer com que esse sonho se realizasse em especial minha amiga e Ana Carolina sem a qual esse livro não existiria. – Gabriela C. Rutter.
7
Ana C. Thomeu & Gabriela C. Rutter
8
Por Trás das Máscaras Leitor
Esta história foi escrita por Ana Carolina e Gabriela, duas amigas apaixonadas por escrever e por documentá-rios criminais.
Juntando essas duas paixões, criamos uma história alucinante que certamente prenderá sua atenção.
Mais do que apenas um romance, o roteiro que criamos é uma brincadeira de gato e rato entre as duas escri-toras.
Diferente de tudo o que você já viu, apenas Gabriela sabe quem é o assassino em série.
Ana, pelos olhos da detetive particular, Olívia irá verdadeiramente investigar até chegar ao fundo desse crime.
Você está preparado para essa experiência única?
Então, aproveite a leitura!
9
Ana C. Thomeu & Gabriela C. Rutter Olívia
– Vocês acreditam que o assassino arrancou os olhos da vítima e colocou dentro de uma caixa de alianças?
– contei em tom de empolgação a William e Sabrina, dando em seguida um gole em meu refrigerante.
William franziu a testa me encarando horrorizado com seus olhos verdes.
– Você pode nos poupar dos detalhes sórdidos? É
só dizer o corpo foi encontrado.
– ele sugeriu.
Eu ri de sua expressão aflita. Em vinte anos de amizade, eles ainda não haviam se acostumado com meu gosto peculiar por rituais macabros, vísceras e sangue.
– Ahhh, por falar nisso, olha essa foto da Ágata e o Arthur vestidos de morcegos para o Carnaval na escola. –
mostrei a eles meu celular.
– Lindos, amiga. – respondeu Sabrina tentando disfarçar o espanto por eu relacionar um crime bárbaro a uma foto dos meus filhos.
Chocar meus amigos era um divertimento pessoal em nossos encontros semanais.
Meu telefone vibrou e pude ver o nome Susana Van Basten na tela.
Susana pegou meu contato com seu marido, que era conhecido de meu esposo, Carlos. Carlos havia co-mentado com ela que eu era investigadora particular. Há 10
Por Trás das Máscaras duas semanas, ela me procurou, pois seu filho, Otávio, de doze anos estava desaparecido. A polícia havia tratado o sumiço do garoto com descaso desde o princípio e por isso ela resolveu contratar os meus serviços. Ouvi dizer que sua agência soluciona muitos casos.
ela me explicou in-flando meu ego. Então relatou que ele havia saído de casa para ir à escola às 7h15 da manhã do dia 20 de fevereiro, mas não chegou no horário em que chegava normalmente.
Minhas investigações concluíram que ele esteve na escola naquele dia. Foi visto por funcionários e colegas e sua presença foi registrada nas cinco aulas daquela manhã por professores diferentes. Otávio morava há um quilôme-tro de onde estudava e normalmente levava cerca de quinze minutos no trajeto. Minha intuição é que seu desaparecimento se dera nesse intervalo.
Atendi o telefone e pude ouvir a voz aflita da mãe do garoto do outro lado da linha.
– Olívia, encontraram um corpo. Eles querem que eu vá fazer o reconhecimento.
Despedi-me de meus amigos e dirigi até a residên-cia de minha cliente. Susana morava em uma mansão no Morumbi. Assim que avistou meu carro, ela abriu a porta e saltou para dentro. Mesmo usando óculos escuros eu pude notar que ela havia chorado. Tinha bolsas debaixo dos olhos e sua maquiagem estava levemente borrada.
A mulher passou o cinto por cima de sua blusa de oncinha e o prendeu.
11
Ana C. Thomeu & Gabriela C. Rutter O corpo que havia sido encontrado estava locali-zado à margem da rodovia Ayrton Senna. Depois de uma viagem longa e silenciosa, avistamos uma pequena aglo-meração na estrada. Reconheci um sujeito magro de cabelos grisalhos supervisionando o trabalho da perícia. Era o detetive Ulisses Pissani que havia sido meu chefe durante os anos em que trabalhei na polícia. Apesar da ideia de encontrá-lo não ser nada agradável, eu tinha um trabalho a fazer. Desci do carro e com Susana ao meu lado estendi a mão para cumprimentá-lo.
– Que honra vê-la novamente! – ele exclamou enquanto acariciava as costas de minha mão com o dedo polegar.
Tentei disfarçar minha expressão de desgosto com a presença dele.
Ser minimamente simpática com ele me permitia passe livre na cena do crime, então assim o fiz.
Susana segurou minha mão antes que nos aproxi-mássemos do cadáver. Sua palma estava fria e suada.
Quando ela se deparou com o corpo começou a chorar in-controlavelmente. Não é ele
ela repetia aos prantos. Entendi que ela chorava de alívio, mas também de desespero.
O desaparecimento de seu filho estava longe de ser des-vendado. No entanto, algo me chamava atenção naquela cena, a semelhança física do garoto com Otávio. Os dois garotos aparentavam a mesma faixa etária, tinham traços orientais, cabelos pretos e curtos. O menino não tinha 12
Por Trás das Máscaras documentos com ele, mas estava usando o uniforme de um colégio particular de renome.
– Você acha que o assassinato desse menino pode estar relacionado com meu Tavinho? – perguntou Susana chorosa.
– Talvez. – respondi desconcertada.
Por orientação minha, Susana esperou no carro enquanto eu descobria os detalhes da cena. Aquele caso poderia ou não estar relacionado com Otávio, ainda assim o crime já havia despertado meu interesse.
Stefano Cunha, o policial que acompanhava o detetive Pissani, havia me informado que um pano de chão com marcas de óleo de carro estava sobre o rosto do garoto quando ele foi achado.
O menino tinha o rosto coberto por hematomas que também eram encontrados em seus pulsos, mãos e abdômen, sinais de que havia lutado com seu agressor antes da morte.
Coloquei minhas luvas para analisar melhor. Segurei sua mão a fim de enxergar debaixo das unhas do rapaz.
Percebi que poderia haver material genético, que eu cuidadosamente colhi com um cotonete, guardando-o num pequeno saco plástico. Em seu pescoço havia marcas de esganadura. Com os dedos polegar e indicador afastei as pál-pebras do garoto a fim de poder ver seus olhos, que estavam vermelhos, havia também sangue ressecado saindo por suas narinas, indicando possivelmente hemorragias.
13
Ana C. Thomeu & Gabriela C. Rutter Contrastando com seu uniforme que denunciava que aquele garoto vinha de uma família rica, seus calçados eram velhos e estavam furados. Aquilo me intrigou e me envolveu ainda mais naquela investigação. Me perguntei o que isso significaria. Encontrei vestígios de carpete azul nas costas de sua blusa do uniforme, eu os coletei com uma pinça e guardei em outro saco plástico. Colhi também algumas gotas de sangue que manchavam sua roupa, apesar de achar que eram do próprio garoto, devido à hemorragia nasal que ele apresentava.
Notei que havia marcas de terra da estrada até o ponto onde o corpo estava, indicando que ele havia sido arrastado. Seu uniforme também estava sujo de terra.
Stefano me entregou o telefone do médico legista que cui-daria do caso.
Eu mal conseguia acreditar que estava investigando um caso de assassinato com tantas nuances interessantes. Meu coração palpitava de animação.
14
Por Trás das Máscaras
Quando herdei esse lugar, não imaginava que o usaria para essa finalidade, mas até que ele é bem útil: um galpão no meio do nada, com um porão sinistro! Típico de filmes de terror. Adoro! Combina muito com minhas fantasias. É tão difícil acordar todas as manhãs, com a mesma rotina chata, as mesmas pessoas e os mesmos falatórios.
Posso sorrir para todos e dizer sempre que está tudo bem, mas de uns tempos para cá, algo em mim mudou. Não consigo mais suprimir toda a loucura e desejo que está em meu peito e confesso envergonhado que pequei, um pecado horrendo e prazeroso.
Oh céus! Como queria mudar as coisas! Mas será que mudaria mesmo? Temo que faria a mesma coisa se tivesse outra oportunidade.
Gosto de coisas belas que transmitam tranquilidade, ao mesmo tempo que gosto do êxtase que esse pecado pode me fornecer. É tão complexo esse sentimento de ter alguém implorando pela vida, ter o poder sobre ela; poder ser o vilão e ao mesmo tempo o salvador.
Tudo começou com um impulso, uma noite de bebedeira que culminou no meu primeiro crime. É indescritível a sensação de euforia que passava pelo meu corpo. Eu sempre disse que os jovens precisam ser atentos, que devem respeitar seus pais e serem gratos pela vida que 15
Ana C. Thomeu & Gabriela C. Rutter possuem, mas todo dia quando voltava do trabalho passava na frente do mesmo lugar e sempre via aquele menino oriental que tinha tudo para ser bem-sucedido na vida, todo dia no mesmo lugar as mesmas pessoas batiam nele.
Nunca o ajudei, nem queria. Talvez fosse seu as-pecto frágil e um pouco feminino que me incomodava, ou o fato dele nunca revidar e aparentemente não contar para ninguém, afinal era algo rotineiro. É claro que, devido à minha profissão, nem sempre tinha a sorte de ver essa cena rotineira, mas quando via era como se o mundo estivesse funcionando como deveria.
No entanto, um dia tudo mudou. Até agora não consigo entender o porquê de tudo mudar dessa forma, naquela tarde, no mesmo lugar de sempre com as mesmas pessoas, ele revidou. Simplesmente o oriental mirrado pegou uma garrafa e quebrou na cabeça de um dos meninos, chamando a atenção da vizinha que chamou a polícia, afu-gentando todos.
Como disse anteriormente gosto das coisas funcionando corretamente, da vida caminhando normalmente com uma rotina eterna e perfeita, mas naquela maldita tarde nada mais seria o mesmo.
Fiquei tão desnorteado com tudo aquilo que aproveitei a minha folga e saí para beber até mais do que deveria, já que minha rotina estava destruída não fazia sentido voltar para casa. Estava bêbado, mas não o suficiente. Queria algo mais...
16
Por Trás das Máscaras William
Às vezes me pego pensando o que será que passa na cabeça da Olívia: deixar um emprego estável, para se enfiar nessa carreira de investigadora particular. Ela é tão inteligente para lidar com os casos que aparecem em seu escritório e parece completamente cega quando se trata de pessoas próximas. Aquele encontro que tivemos junto com Sabrina... fiquei me perguntando por que ela não parava de falar daquele maldito crime. Sabrina me olhava claramente desconfortável, sem mencionar a falta de delicadeza da parte dela. Ela sabe o quão sensível eu sou quando ela fala desses assuntos. Ainda não superei o que aconteceu com minha esposa e filho. Não posso esquecer aqueles olhares acusatórios diante de mim como se estivessem me julgando e condenando como culpado, mesmo eu falando com todas as minhas forças que aquilo foi um acidente.
Ainda que ela soubesse que me incomodava profundamente, não conseguia deixar de conversar com ela. Essa nossa amizade já existia mesmo antes de nos relacionar-mos romanticamente e mesmo depois do término, não podia deixá-la.
Mesmo ela sendo tão durona e casada, me sinto na obrigação de estar do lado dela ou talvez seja eu quem precisa dela ao meu lado. Acho que ela é talvez a única pessoa em quem eu posso confiar!
17
Ana C. Thomeu & Gabriela C. Rutter Ela já cansou de me aconselhar a procurar ajuda médica, mas não posso me imaginar fazendo isso. Temo ter minhas informações vazadas para algum jornal sensacionalista. Já basta o inferno que vivi anos atrás com a morte da minha esposa. Não consigo me imaginar perto daqueles abutres.
Naquela noite quando cheguei do escritório, me deparei com meu belíssimo apartamento na cobertura, vazio como sempre. Não sei o que eu queria encontrar quando chegasse. Sabia que seria assim. Às vezes evitava de chegar em casa cedo para não precisar me deparar com essa cena. Soltei a gravata e abri o paletó, desmoronando no sofá. Não é uma cena muito elegante e esperada, pois não agia assim na frente de outras pessoas.
Ainda entediado e mal-humorado, liguei a televisão.
Estava passando um jornal sensacionalista que informava sobre o corpo de um garoto encontrado na margem da rodovia.
O apresentador berrava xingando, a polícia que não evitou que o crime acontecesse, bem como os políticos.
Mas minha atenção se desviou para outra coisa. Ao prestar atenção na imagem da cena do crime reconheci aquele cabelo amarrado em um rabo de cavalo, castanhos com pontas loiras, só podia ser a Olívia, mas o que ela fazia ali?
Não entendo como os policiais podem deixá-la com passe livre para ver esses lugares. Já imagino que ela vá descrever isso a semana inteira. Aprendi que certas coisas, não 18
Por Trás das Máscaras tem como ser evitadas, quanto mais rápido aceitá-las menos problema teremos.
19
Ana C. Thomeu & Gabriela C. Rutter Olívia
Cheguei em casa exausta. Entrei pé ante pé em meu quarto onde Carlos já estava no quinto sono roncando mais do que uma betoneira.
Tirei os sapatos e fui até o quarto dos gêmeos. Eu nunca conseguia dormir sem antes dar um beijo neles.
As paredes do quarto eram brancas, pintadas com milhares de estrelas coloridas. Nós é que havíamos pintado.
Quer dizer, mais Carlos do que eu. Naquela altura do campeonato, minha barriga parecia pesar uns trezentos quilos e eu mal conseguia me mover. Senti falta dos momentos quando eu estava grávida, da nossa vida juntos, antes das dívidas aumentarem e Carlos se enfiar nesse vício maldito.
Suspirei de culpa ao olhar os pequenos dormindo. Eu não trocaria a vida que tenho agora pela que eu tinha antes.
Meus filhos eram tudo pra mim! Mas eu queria o Carlos antigo! Isso com certeza eu queria.
Arthur estava dormindo todo encolhido, agarrando seu travesseiro e chupando o dedo. Ele só chupava o dedo quando dormia. Tirei o dedo dele da boca e dei-lhe um beijo na testa.
Ágata já dormia toda espalhada na cama, de modo que havia se descoberto de tanto se mexer. Estava uma noite fria, então eu puxei as cobertas de volta, dei-lhe um beijo de boa noite e os encarei por alguns segundos da 20
Por Trás das Máscaras porta do meu quarto. Aquele sentimento conflitante que as mães sentem toda noite. Um amor que preenche tudo e um medo que domina até os pensamentos que não conhecemos.
Entrei em meu quarto, tirei as roupas e vesti minha camisola. Me aconcheguei na cama. Não importava quão pesado fosse o sono em que Carlos se encontrava, ele sempre acordava quando eu me deitava na cama.
– Chegou agora? – ele perguntou com a voz enro-lada sem se virar para me olhar.
– Sim, acabei de chegar. – respondi brincando com um cacho de seus cabelos pretos.
– Tá bom, amanhã falamos. Te amo! – ele disse.
E eu mal tive tempo de responder de volta antes que meus olhos compulsoriamente se fechassem e eu caísse num sono pesado. Era tarde da noite e no dia seguinte eu acordaria cedo.
Quando o despertador tocou na manhã seguinte eu tive vontade de atirá-lo pela janela. Eu havia dormido somente 5 horas. Minha cabeça pesava e meus pés não pareciam querer se mover. Depois de recorrer três vezes à função soneca, acordei para ver Carlos no pé da cama já se vestindo.
– Bom dia! – cumprimentei com a voz rouca.
– Bom dia! – ele me cumprimentou encostando os lábios nos meus. – noite ocupada, hein?
– Você nem imagina o quanto! – contei enquanto bo-cejava.
21
Ana C. Thomeu & Gabriela C. Rutter
– Eu vi você na tevê, já sei que teremos torradas e assuntos macabros para o café da manhã.
Eu ri. Gostava do jeito que Carlos não se incomodava com os detalhes sangrentos. Às vezes, quando ele estava de bom humor, até arriscava perguntar-me coisa ou outra. A única vez que ele ficara bravo foi quando eu, aci-dentalmente, trouxe o assunto na frente das crianças. Eles tinham um ano à época. Eles podem até não entender, mas uma hora irão.
lembro dele me repreendendo. Acho que ele tinha razão. Daquele dia em diante passei a ser mais cuidadosa.
– Seu irmão ligou ontem. – ele me disse desgostoso enquanto eu entrava debaixo do chuveiro.
– Oliver?
– Você tem algum outro irmão? – ele respondeu fe-chando os botões da camisa.
– O que ele queria?
– Não falou, disse que te ligaria hoje.
Carlos preparou nosso café. Ambos gostávamos de café preto. Ele tomava sem açúcar e eu colocava três colheres. Enquanto isso eu misturei o chocolate ao leite das crianças e fui acordá-los.
Carlos foi trabalhar de metrô e eu deixei as crianças de carro na escola antes de ir ao trabalho.
Passei na padaria em frente ao meu escritório e comprei um sonho, como fazia todas as manhãs. Comprei também um saco de minipãezinhos de queijo para Natasha.
22
Por Trás das Máscaras Eu a cumprimentei com um aceno e coloquei o sa-quinho com as guloseimas em cima da sua mesa.
Natasha tirou o fone e me olhou desconfiada.
– Não me diga que tem caso de assassinato. – ela pediu.
– Tá bom, não vou dizer. – respondi sentando à minha mesa e mandando um beijo para ela.
Eu sempre solicitava Natasha demais quando o assunto era assassinato, por isso nessas ocasiões eu levava um mimo para ela não ficar com raiva de mim e ela já sabia disso.
Ao final da tarde, liguei para o médico legista que Stefano me dera o número. Matheus Guimarães
. Chamei o homem ao telefone, me apresentei e ele me disse que ainda estava trabalhando na autópsia. São muitos hematomas, preciso analisar com mais cautela.
ele explicou.
Foi quando, inesperadamente, o laboratório do DNA que eu havia pedido análise me retornou. O material foi analisado e verificado com o sistema da polícia. Nenhum nome correspondente. Merda!
pensei.
– Mas sabemos que é o DNA de um homem.
– Ótimo! – respondi ironicamente enquanto recitava os olhos – como se houvesse poucos homens filhos da puta nesse mundo pra eu investigar.
23
Ana C. Thomeu & Gabriela C. Rutter Oliver
Desde que voltei dos Estados Unidos tentei endirei-tar minha vida. Juro que tentei, mas não esperava que fosse tão difícil; parece brincadeira, mas o peso de minhas decisões e ambições me levaram ladeira abaixo.
Sempre pensei que com o meu rosto bonito eu conseguiria conquistar tudo o que eu quisesse. Persegui esse sonho inútil de me tornar ator. Tantas pessoas me bajula-vam, diziam o quão bonito eu era e que teria tudo o que eu quisesse, mas o que eu consegui foi uma dívida enorme e um fracasso profissional. Nunca vou me esquecer das coisas que tive que enfrentar naquele país, da fome que passei e das humilhações que me submeti e para nada. Fiz algumas coisas para poder aplacar minha fome e conseguir pagar a passagem de volta para casa, mas não me orgulho delas. Fui obrigado a gravar alguns filmes pornôs.
Não do tipo que se encontra em qualquer site de busca, mas aqueles que só os velhos pervertidos se submetem a assistir.
Tive que me vender e cá estou em casa e sem nada, com 42 anos e nunca consegui conquistar absolutamente nada. Me sinto cada vez mais fracassado e mesmo que tenham se passado 12 anos que voltei de lá, nunca mais fui o mesmo.
24
Por Trás das Máscaras Isso preocupou imensamente minha família. Minhas irmãs que tanto amo sabiam que algo tinha acontecido, mas nunca perguntaram. Acho que não teria coragem de contar mesmo que elas me matassem. Olívia foi a que mais me apoiou, arrumou um emprego para mim em uma cons-trutora, um trabalho simples que consegui graças ao Carlos, mas me afundei cada vez mais na bebida e novamente perdi o emprego.
Ontem cheguei ao fundo do poço, com três meses de aluguel atrasado, gastei minhas últimas economias na bebida novamente e agora corro o risco de ser despejado.
Sei que minha irmã fez mais o que deveria para me ajudar, mas fui obrigado a recorrer a ela novamente. Liguei para ela, confesso que estava embriagado, mas, para a minha surpresa, foi Carlos que atendeu. Ele me disse que ela não estava, fiquei sem saber o que pensar, será que ela não estava mesmo ou estava me evitando de propósito?
Se até ela virar as costas para mim, não sei o que poderei fazer. Provavelmente vou enlouquecer de vez, não tenho coragem de incomodar Elis com essas coisas, a coitada se mata de estudar e trabalhar para pagar sua faculdade, sei que não é justo com a Olivia também.
Respirei fundo, peguei uma mochila coloquei as minhas roupas dentro