Gregório de Matos
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Sobre esta série
Títulos nesta série (5)
- Gregório de Matos - Volume 1: Poemas atribuídos. Códice Asensio-Cunha
1
Esta edição publica o conjunto de poemas coletados no Códice Asensio-Cunha que circularam em Salvador nas últimas décadas do século XVII e na primeira metade do século XVIII sob o nome "Gregório de Matos e Guerra", então a mais importante autoridade poética local. Nesse tempo, os poemas eram continuamente refeitos pelo agenciamento de audição, memorização e remanejamentos pela voz e pela escrita, sendo as versões do Códice Asensio-Cunha apenas uma das muitas possibilidades textuais implícitas na "tradição", o conjunto de todos os manuscritos com o nome Gregório de Matos e Guerra. As variações textuais incidem sobre uma única palavra - caso do primeiro verso do soneto "Um calção de pindoba a meia porra" e da variante "Um calção de pindoba a meia zorra"- ou sobre dezenas de versos, alterando-se radicalmente a configuração do texto. O que importa nesta edição é não contaminar "lições" de um manuscrito com "lições" de outro, com a finalidade de produzir um texto compósito não existente em nenhum manuscrito da "tradição".
- Gregório de Matos - Volume 2: Poemas atribuídos. Códice Asensio-Cunha
2
No início do século XVIII, o letrado baiano Manuel Pereira Rabelo recolheu poemas que circulavam em Salvador na oralidade e em folhas volantes, atribuindo-os a Gregório de Matos e Guerra, que lá vivera entre 1682 e 1694. Para prefaciar a compilação, escreveu um retrato do poeta, que é ficção epidítica do gênero "vida". Em 1840, o Cônego Januário da Cunha Barbosa publicou uma paráfrase dele como prefácio para dois poemas que atribuiu a Gregório e editou no número 9 da Revista do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro. A paráfrase interpreta os lugares-comuns retóricos da ficção como fatos positivos da vida empírica do homem Gregório, convertendo a verossimilhança da vida do personagem do texto do século XVIII na verdade da psicologia de um indivíduo romântico do século XIX. Varnhagen a retomou no Florilégio da Poesia Brazileira, em 1850, classificando o homem Gregório como doente, vadio e protonacionalista. Críticos posteriores vestiram novas roupagens positivistas, deterministas, racistas, climáticas, psiquiátricas, estilísticas, sociológicas, semióticas, neovanguardistas e tropicalistas nessa interpretação romântica, propondo os poemas como etapas para o Estado Nacional Brasileiro, expressão anárquico-antropofágico-riponga-policultural da baianidade, antecipação profética das funções da linguagem de Jakobson, prefiguração colonial da pós-modernidade pós-utópica e mais coisas típicas de uma colônia do Antigo Estado português.
- Gregório de Matos - Volume 3: Poemas atribuídos. Códice Asensio-Cunha
3
Na sátira atribuída a Gregório de Matos e Guerra, o caráter e as paixões do personagem satírico que vitupera vícios e viciosos são inventados retoricamente com categorias e preceitos éticos, jurídicos e teológico-políticos da "política católica" ibérica, sendo repetidos nos poemas como esquemas opositivos de ação verbal: catolicismo X heresia e gentilidade; brancura X não brancura da pele; discrição X vulgaridade; fidalguia X plebe; honestidade X desonestidade; liberdade X escravidão; masculino X feminino; sexo natural X sexo contra naturam. Constituindo-se como semelhança virtuosa das categorias positivas, o personagem satírico compõe os tipos viciosos como semelhanças malvadas das negativas, afirmando ser tipo virtuoso, por isso indignado contra a corrupção da sua Cidade segundo uma afetação retórica de indignação, como ocorre na Sátira 1, 79, de Juvenal: […] si natura negat, facit indignatio versum. Quando declara que a ordem racional do seu mundo está corrompida e que sua indignação faz o verso, o personagem de Juvenal afirma também ignorar o valor da disciplina poética. Com verossimilhança dramática, alega viver num mundo caótico em que expressa sua indignação caoticamente, como se o discurso fosse expressão informal da sua ira. Obviamente, é artifício dizer que "não há artifício" no que é retoricamente dito. A irracionalidade da indignação do personagem é inventada racionalmente, enfim, pela técnica de contrafação do fingimento poético que produz estruturas "indignadas" e "excessivas". No século XVII, vulgares as recebiam como ausência de artifício.
- Gregório de Matos - Volume 4: Poemas atribuídos. Códice Asensio-Cunha
4
As imagens dos poemas líricos e satíricos atribuídos a Gregório de Matos e Guerra são representativas e avaliativas. Põem em cena lugares-comuns retóricos e poéticos conhecidos, particularizando-os com a paráfrase, a estilização e a paródia de matérias não poéticas das instituições portuguesas e da murmuração informal e de matérias de autoridades poéticas do gênero lírico e cômico; simultaneamente, avaliam a representação para o destinatário, composto ora como discreto, ora como vulgar, na maior ou menor erudição e obscuridade dos estilos. Representativa e avaliativamente, as imagens dão-se à recepção como variações metafóricas das significações correntes no campo semântico geral dos autores e seus públicos empíricos, sendo inventadas segundo o padrão retórico da agudeza, conceito engenhoso ou ornato dialético. No soneto lírico-amoroso "À margem de uma fonte que corria/ lira doce dos pássaros cantores/ a bela ocasião das minhas dores/ dormindo estava ao romper o dia", por exemplo, as palavras agudas da elocução vêm para o primeiro plano da representação e, fundindo aspectos sonoros, olfativos e visuais, figuram artificiosamente a beleza da dama que, ao abrir os olhos, faz a manhã nascer: "Não dão o parabém à bela Aurora/ Flores canoras, pássaros fragrantes,/ Nem seu âmbar respira a rica Flora./ Porém abrindo Sílvia os dois diamantes,/Tudo à Sílvia festeja, e tudo a adora/ Aves cheirosas, flores ressonantes".
- Para que todos entendais. Poesia atribuída a Gregório de Matos e Guerra - Vol. 5: Letrados, manuscritura, retórica, autoria, obra e público na Bahia dos séculos XVII e XVIII
5
Na Poética, 1449, 5, Aristóteles fala brevemente sobre o cômico: "A comédia é a imitação de homens de qualidade moral inferior, não em toda espécie de vício, mas no domínio do ridículo, que é uma parte do feio. Porque o ridículo é uma feiura sem dor nem dano; assim, por exemplo, a máscara cômica é feia e disforme sem expressão de dor". O trecho refere o feio em geral, aiskhrón, para especificar um subgênero dele, gheloion, que a latinidade e autores dos séculos XVI, XVII e XVIII chamaram de ridiculum, ridículo. O exemplo da máscara teatral sintetiza dois elementos que definem o feio: a deformação inofensiva, que é tratada ironicamente como gheloion, ridículo; a deformação nociva, tratada agressivamente com psógos, maledicência. Nos dois casos, a definição do cômico como deformação pressupõe o conceito grego e latino do belo-bom como unidade racional sem deformação e mistura. Sensivelmente, a feiura é deformação do belo-bom; moralmente, é vício e, intelectualmente, erro. A matéria geral dos poemas cômicos do Códice Asensio-Cunha é a feiura física, do corpo, e a feiura moral, da alma. A feiura do corpo corresponde a inumeráveis espécies de deformações e misturas; a da alma divide-se em duas, estupidez e maldade. Nos poemas, a feiura física metaforiza a feiura moral de vícios fracos, ridicularizados, e vícios fortes, vituperados com maledicência.
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