Grandes metas do Papa Francisco
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Grandes metas do Papa Francisco - Cardeal Dom Cláudio Hummes
NOVO PAPA, NOVO TEMPO
No início de 2013, a Igreja e o mundo foram surpreendidos com a renúncia do Papa Bento XVI. Havia seiscentos anos que um Papa não renunciava. A notícia parecia inacreditável. Mas não. Bento XVI, de fato, havia renunciado. Mas por que renunciou? Ele foi um Papa que brilhou por seu magistério. Grande teólogo e santo homem. Escreveu muito, antes de ser Papa e durante seu papado. Sabe dizer com racionalidade e simplicidade as verdades teológicas mais profundas e complexas. Ao mesmo tempo, sua teologia é enriquecida de expressiva espiritualidade. Por certo, será lembrado como Papa teólogo e extraordinário Mestre da fé. Mas por que renunciou? A razão por ele alegada foi a de não se sentir mais em condições físicas e psicológicas para continuar a conduzir hoje a Igreja. De fato, sua idade já era avançada e o peso do governo da Igreja havia se tornado bem maior nos últimos tempos. Basta lembrar as principais crises e escândalos que assolavam a Igreja, como a crise da descristianização, sobretudo no Ocidente, em grande parte causada pela cultura pós-moderna dominante, a crise de milhões de católicos migrando para outras Igrejas cristãs, a diminuição drástica das vocações sacerdotais e religiosas, o aumento do número de divórcios e de casais de segunda união, os escândalos da pedofilia e do chamado Vatileaks
, os problemas internos da Cúria Romana e do IOR [1] e assim por diante. Em consequência, a Igreja católica era constantemente criticada, quando não denunciada pela mídia internacional, e muitos católicos, diante de tudo isso, estavam perplexos e confusos.
De início, a renúncia do Papa deixou muitos desnorteados. A mídia do mundo inteiro especulava sobre os motivos da renúncia e sobre o futuro da Igreja. Mas, aos poucos, os católicos e a opinião pública em geral deram-se conta de que o gesto de Bento XVI era de muita grandeza. Um gesto que merecia ser aplaudido, pois manifestava, de um lado, grande racionalidade e, de outro, profunda humildade. Só um Papa muito racional e muito santo poderia tomar uma decisão tão grave e, ao mesmo tempo, tão cheia de novos horizontes e esperanças.
Nesse contexto, o Colégio dos Cardeais é convocado para o Conclave a fim de eleger o novo Papa. Despois de um dia e meio de votações, foi eleito o Cardeal Jorge Mário Bergoglio, um latino-americano, argentino, arcebispo de Buenos Aires, jesuíta, com 76 anos de idade, que tomou o nome de Francisco. Uma enorme surpresa do Espírito Santo! O mais surpreendente foi tratar-se de um latino-americano e de haver tomado o nome Francisco. O novo Papa, como explicou aos jornalistas, tomou esse nome inspirado em São Francisco de Assis, que é o santo dos pobres, da paz e da preservação da natureza. O fato de ser um latino-americano significou, por sua vez, um salto enorme para a Igreja, pois assim abria-se caminho para superar a demasiada europeização da Igreja. Abria-se potencialmente a Igreja para grandes novidades e para enormes desafios de inculturação. A partir de então, tornava-se mais fácil fechar velhas portas, histórica e culturalmente ultrapassadas, e tornava-se possível abrir novas portas, mais condizentes com o mundo atual e o futuro. Um novo tempo se iniciava para a Igreja. Os Cardeais, durante os três dias de reuniões antes do Conclave, já haviam pedido uma série de reformas na Igreja. O novo Papa logo manifestou que pretendia atender a esses apelos.
Imediatamente, o novo Papa começou a mostrar sua coerência com o nome Francisco. Diante dos Cardeais e do povo aglomerado na Praça de São Pedro para ver o novo Papa, Francisco apareceu com vestes simples, despojadas e pobres, sem pompa e sem esplendor. Não quis morar no apartamento pontifício do Palácio Apostólico, mas escolheu como residência pessoal um apartamento da Casa Santa Marta, que é um hotel dentro do Vaticano. Explicou que isso lhe possibilitaria maior proximidade com todas as pessoas. Dispensou os paramentos vistosos e adotou paramentos simples para as celebrações litúrgicas. Dispensou o carro de luxo e adotou um automóvel simples e popular para sua locomoção. Enfim, com muitos outros gestos e palavras, começava a reformar a figura do Papa e a forma de exercer o ministério papal, coerente com o pobre São Francisco de Assis. Diante de tudo isso, o povo católico, por seu lado, estava feliz e comovido.
[1] IOR: Instituto para Obras de Religião, também conhecido como Banco do Vaticano. (N.R.)
2
CHORAR OS MORTOS QUE NINGUÉM CHORA
Migrantes e refugiados
O vigor do pastoreio do Papa Francisco se explica em grande parte por seu testemunho, suas atitudes, seus gestos, que autenticam suas palavras e orientações. Logo no início de seu ministério, Francisco, em 8 de julho de 2013, viaja à ilha italiana de Lampedusa. Ali estava acontecendo e perdurando uma gigantesca tragédia humana. A tragédia de milhares de migrantes