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Paróquia - Comunidade de Comunidades - Na Sociedade em Transformação: Em estudo no contexto das reflexões eclesiológicas da CNBB
Paróquia - Comunidade de Comunidades - Na Sociedade em Transformação: Em estudo no contexto das reflexões eclesiológicas da CNBB
Paróquia - Comunidade de Comunidades - Na Sociedade em Transformação: Em estudo no contexto das reflexões eclesiológicas da CNBB
E-book252 páginas3 horas

Paróquia - Comunidade de Comunidades - Na Sociedade em Transformação: Em estudo no contexto das reflexões eclesiológicas da CNBB

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Sobre este e-book

"Este livro apresenta a história da caminhada de renovação paroquial no Brasil, a partir do debate promovido pela CNBB sobre o tema: "Comunidade de comunidades", levando-nos ao entendimento das dificuldades enfrentadas pelas paróquias e das propostas evangelizadoras direcionadas às diferentes realidades. Quer inspirar o leitor em suas práticas pastorais e fortalecê-lo na esperança da formação de comunidades fraternas e solidárias, constituídas por verdadeiros discípulos-missionários de Jesus."
IdiomaPortuguês
Data de lançamento3 de mai. de 2023
ISBN9786555628814
Paróquia - Comunidade de Comunidades - Na Sociedade em Transformação: Em estudo no contexto das reflexões eclesiológicas da CNBB

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    Paróquia - Comunidade de Comunidades - Na Sociedade em Transformação - Rafael Martins Fernandes

    SIGLAS

    PREFÁCIO

    Com satisfação, apresento este trabalho, que é resultado da pesquisa doutoral do Pe. Rafael Martins Fernandes. Ele se dedicou a estudar a eclesiologia da paróquia como comunidade de comunidades, interessando-se especialmente pelas mais recentes publicações da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil sobre o tema.

    Acompanhei, de forma modesta, o amadurecimento destas páginas que, acredito, poderão contribuir para aprofundar o sentido da conversão pastoral da paróquia, diante dos desafios dos contextos, especialmente com o advento da pandemia da COVID-19, que alterou severamente a rotina das comunidades eclesiais.

    Em diferentes aspectos da vida humana, o flagelo exigiu uma ousada criatividade para enfrentar, ainda que de modo insuficiente e limitado, a educação, o mundo do trabalho, a vida familiar e a experiência religiosa. Esta última, já antes da pandemia, conhecia certa resistência sobre a dimensão comunitária da fé, diante do individualismo que enfatizou mais a liberdade e os direitos de igualdade do que a fraternidade social.

    Agora, emerge a urgência de ir ao encontro do essencial da fé, aprofundar o sentido de crer num mundo em permanente transformação, e ser capaz de apresentar propostas consistentes de vida eclesial-comunitária. Tudo está interligado. Em síntese, é preciso recuperar o sentido de ser discípulo em comunidade eclesial, superando uma visão de mero adepto de uma proposta religiosa.

    Teologicamente, a palavra comunidade significa a união íntima ou a comunhão das pessoas entre si, e delas com a Santíssima Trindade. Essa comunhão se realiza, fundamentalmente, pelo batismo e pela Eucaristia. Assim, a comunidade participa da vida trinitária na partilha de vida fraterna, na comunhão de mesa, na profissão da mesma fé e no testemunho da caridade que expressa o amor salvífico de Deus para com toda a humanidade.

    Pode-se compreender, assim, que a comunidade cristã não nasce de baixo, de uma organização social, mas do alto, desejada por Deus, que suscita, no coração humano, a necessidade de as pessoas se unirem como nova família em Cristo. Dessa forma, a comunidade cristã revela o mistério da Igreja, chamada a ser missionária da obra salvífica que Cristo realiza nos diferentes tempos e contextos. Como sinal da salvação na história, a comunidade cristã colabora ativamente com o advento do Reino de Deus.

    A origem da vida eclesial está em Jesus Cristo, que, ao escolher seus Apóstolos, estabeleceu uma nova comunidade, um novo povo de Deus. Essa comunidade é chamada a superar a competição pela colaboração, propor que o amor vença o ódio, e que o perdão seja a identidade da comunidade. Jesus também quis que a inclusão ocupasse o lugar da discriminação e da marginalização, que a verdade imperasse sobre a mentira, e que todo egoísmo fosse aniquilado pelo serviço ao outro.

    A comunidade dos seguidores de Jesus Cristo precisa constituir-se como uma autêntica família de irmãos. Essa nova fraternidade baseia-se na consciência da única paternidade de Deus. Essa percepção vence todo patriarcalismo e todo sentimento de servilismo, pois somente o amor pode pautar-se pelos relacionamentos dos que se sentem amados e cuidados por Deus. Nessa comunidade cristã, valorizam-se a mesa comum e a hospitalidade. O vínculo de unidade não se estabelece pela etnia ou condição social, mas pela filiação de todos os membros por meio do batismo. Por eleição e adoção divinas, todos são vocacionados a amar como Jesus amou, expressando adesão ao Evangelho, que propõe vida em abundância para todos (Jo 10,10). Ninguém é impedido de experimentar essa filiação e fraternidade. A escuta dos ensinamentos dos Apóstolos, a fração do pão na comunhão fraterna e a oração refletem a comunidade que experimenta um novo conceito de vivência religiosa (At 2,42).

    A experiência comunitária de fé cristã, entretanto, também sofreu dificuldades nas origens. A mesa nem sempre foi um espaço uniforme. Nela, a injustiça também pode manifestar-se com a falta de solidariedade e o distanciamento entre poucos que detêm muito e muitos que possuem pouco ou quase nada. Ao redor da mesa, revelaram-se problemas graves de comunhão, como alerta São Paulo (1Cor 11; Gl 2,11-14).

    Apesar dos impasses, o amor se vincula à experiência cristã, e a Igreja apresenta-se como uma nova família. São João Crisóstomo entendia que, na família cristã, estão presentes todos os elementos importantes da Igreja: a mesa da Palavra, a hospitalidade, o testemunho de fé e especialmente a presença de Cristo.¹

    Quando se menciona, hoje, a ideia de comunidade de comunidades, pretende-se recuperar o sentido de comunidade-casa, que os primeiros cristãos viveram. A comunidade cristã é a experiência de Igreja que acontece ao redor da casa. É a Igreja que está onde as pessoas se encontram, independentemente dos vínculos de território, moradia ou pertença geográfica. É a casa-comunidade onde as pessoas se encontram. Isso nem sempre depende de um espaço determinado. Na casa-comunidade, há o chamado para todos formarem a grande família de Deus, daqueles que ouvem a Palavra de Deus e a põem em prática (Lc 8,21). É a comunidade daqueles para quem a Palavra não se converteu em uma teoria abstrata, senão numa presença viva, pessoal e trinitária no amor fraterno e na comunhão sacramental e existencial.² Trata-se de uma pequena comunidade de fiéis que, de alguma maneira, torna presente a Igreja num determinado lugar.

    A comunidade se expressa na comunhão dos seus membros entre si, com as outras comunidades e com toda a diocese reunida em torno do seu bispo. Assim, a Igreja, que prolonga a missão de Jesus, há de ser compreendida, primeiramente, como comunhão (communio), pois sua raiz última é o mistério insondável do Pai que, por Cristo e no Espírito, quer que todos participem de sua vida de comunhão, na liberdade e no amor de filhos e irmãos.

    Como outrora, a comunidade cristã atual precisa fazer um processo que recupere o dado original que funda a experiência de fé no querigma pascal e que se expresse numa profunda koinonia, em função de uma diakonia que dá testemunho da vivência do amor e da evangelização nos novos contextos.

    Inspirada na experiência das primeiras comunidades cristãs, a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil tratou, especialmente, da revitalização da comunidade paroquial em sua 51ª Assembleia Ordinária de 2013. Tivemos o privilégio de compor a comissão que trabalhou nesse projeto. O resultado das reflexões dos bispos foi publicado na Coleção de Estudos da CNBB, com o título Comunidade de comunidades: uma nova paróquia – Documento de Estudos n. 104. De maio a outubro de 2013, a comissão de redação recebeu diversas contribuições, o que propiciou ampla participação por meio de críticas, sugestões e proposições. Após a leitura e análise de cada uma das propostas, foi apresentada uma nova redação ao episcopado brasileiro, em 2014, na sua 52ª Assembleia Ordinária. Então, foi elaborado e aprovado para publicação o Documento n. 100 da CNBB: Comunidade de Comunidades: uma nova paróquia. A conversão pastoral da paróquia.

    Nessa mesma direção, as Diretrizes Gerais da Ação Evangelizadora no Brasil (2019-2023) enfatizaram a necessidade de promover as Comunidades Eclesiais Missionárias como forma de atender melhor às urgências da evangelização. Criar pequenas comunidades na paróquia supõe desenvolver um novo estilo de vida comunitária marcada pelo amor à Palavra de Deus, especialmente através da leitura orante da Bíblia, por meio da qual os membros revisam seus posicionamentos pessoais e comunitários e alimentam sua fé. São grupos formados por poucas pessoas, para viverem uma vida comunitária no sentido evangélico, em que se valorizam a gratuidade e a espontaneidade, a igualdade de propósitos e a comunhão de sentimentos. Essas comunidades mantêm um vínculo estreito com a paróquia nos sentidos organizativo e sacramental. A Eucaristia, cume da experiência cristã, reúne todas as comunidades na paróquia. Dessa forma, a pequena comunidade está em comunhão com toda a Igreja, com a hierarquia, com a doutrina dos Apóstolos e com a unidade na fé.

    As pequenas comunidades tendem a superar os grupos fechados que alimentam o fundamentalismo religioso, o sentimento de superioridade espiritual e a fuga em relação ao mundo. Elas somente serão missionárias se os seus membros se sentirem impulsionados a viver sua fé participando da sociedade plural e testemunhando os valores cristãos. Nessas comunidades, não podem ocorrer encontros e reuniões que não visem, em última instância, a evangelização. A administração dos bens, a manutenção dos espaços, os investimentos e toda a organização da paróquia precisam considerar que ela é Igreja que pretende salvar a todos e acolher a todos, especialmente os mais necessitados.

    Agradeço ao padre Rafael por este estudo, e faço votos de que ele fortaleça o nosso compromisso de renovar a vida paroquial por meio de Comunidades Eclesiais Missionárias. A pandemia destacou a crise do sentido da vida para muitas pessoas e revelou que a crise ética se intensificou. A experiência comunitária cristã, em pequenas comunidades de vida, pode tanto revigorar o ser e o agir das pessoas quanto desenvolver seu compromisso solidário.

    Dom Leomar Antônio Brustolin

    Arcebispo de Santa Maria

    Santa Maria, 25 de janeiro de 2022.

    Festa da Conversão de São Paulo Apóstolo

    INTRODUÇÃO

    A paróquia tem perdido a sua relevância na sociedade, e parece impotente para manifestar uma reação de fôlego que dê perspectivas, em longo prazo, animadoras. O sistema paroquial tradicional, por não conseguir adaptar-se ao ambiente urbano secularizado, tende a ceder espaço para outras formas de organizações eclesiais e religiosas, como as igrejas pentecostais. A atual crise representaria o fim do modelo tradicional de paróquia, que há séculos é a referência para o cristianismo? A Igreja católica não deveria apostar em um novo formato de organização eclesial, mais consonante com os tempos pós-modernos? Essas perguntas têm se repetido entre estudiosos do ramo, e as alternativas para o modelo paroquial tradicional que se apresentam são variadas. De qualquer modo, estamos diante de um estado agonizante da paróquia tradicional, que gera instabilidade e desânimo nas lideranças paroquiais.

    Entre os agentes de pastoral, há quem, por acomodação, ignore a situação de crise eclesial. Outros, por medo, refugiam-se no passado glorioso da paróquia, procurando encontrar ali um abrigo seguro. Olhar para a situação de fragilidade da paróquia com humildade pode ser o primeiro passo para uma autêntica renovação da comunidade eclesial, com o encontro de soluções duradouras para a evangelização nas cidades.

    O episcopado da Igreja latino-americana, há bastante tempo, propõe a conversão da paróquia em comunidade de comunidades. Essa forma de organização tem suas raízes na Conferência de Medellín (1968), e recebeu novas contribuições na Conferência de Aparecida (2007). No Brasil, foi aprofundada em documentos recentes da CNBB, sobretudo no seu centésimo documento, denominado Comunidade de comunidades: uma nova paróquia,³ e nas DGAE 2019-2023.

    Mesmo que o projeto comunidade de comunidades seja prioridade pastoral para o episcopado latino-americano, a sua recepção nas dioceses ainda é tímida e merece ser mais bem aprofundada. Nesse sentido, a presente obra se propõe a analisar o histórico da renovação paroquial brasileira sob a ótica das reflexões do episcopado, procurando verificar a validade e a profundidade do projeto comunidade de comunidades ali afirmado. A base desta exposição será o Documento 100, o debate brasileiro que ocorreu em torno a esse texto, seguido pelas DGAE 2019-2023. Cremos que esses documentos constituem os frutos maduros das reflexões do episcopado brasileiro para a questão da renovação paroquial.

    O Documento 100 traz, em seu subtítulo, a expressão nova paróquia como uma resposta aos anseios das lideranças eclesiais por uma renovação profunda das estruturas pastorais. Quer oferecer uma nova forma de compreensão e de ação pastoral, que esteja em profunda consonância com o Concílio Vaticano II. Logo, será também nosso objetivo compreender qual é a natureza dessa novidade. O novo seria o modo de ser das Comunidades Eclesiais de Base (CEBs) ou comportaria a implantação de uma estrutura paroquial aberta à pluralidade de grupos e de movimentos eclesiais presentes na pós-modernidade? A nova paróquia seria aquela resignada com a perda de espaço no ambiente das cidades, abrindo o caminho para o protagonismo evangelizador de outras organizações eclesiais, como as novas comunidades? A novidade aconteceria pela aplicação de novos métodos pastorais ou se daria, sobretudo, pela revisão das relações humanas?

    Como essa problemática remete a algo anterior às ações pastorais, isto é, diz respeito ao projeto maior de construção da identidade da Igreja no Brasil, esta pesquisa assume uma ótica eclesiológico-pastoral. Sabe-se que a identidade da Igreja é humana e divina. A Igreja é originada pelo desígnio da Santíssima Trindade, foi fundada por Jesus Cristo e caminha na história rumo ao Reino definitivo. Isso é perene e não muda. O que pode ser reformado são as formas históricas de organização eclesial. Nesse sentido, um bom projeto de renovação paroquial é aquele que consegue discernir os elementos identitários da Igreja, que são perenes, daqueles transitórios e ajustáveis às circunstâncias. Tendo como base esse discernimento, pretendemos verificar a novidade expressa pelo episcopado no projeto comunidade de comunidades.

    Dividiremos este livro em duas partes. Na primeira, realizaremos um itinerário histórico da renovação paroquial no Brasil, buscando entender quais são os elementos identitários da paróquia brasileira e a evolução do projeto comunidade de comunidades. Assim, no primeiro capítulo, apresentaremos, em breves traços, como aconteceu a renovação paroquial brasileira no período anterior ao Concílio Vaticano II. O capítulo segundo é destinado à compreensão dos principais traços identitários da paróquia no pós-concílio. Para alcançar essa compreensão, analisaremos a renovação paroquial proposta no Concílio Vaticano II e nas Conferências Gerais do CELAM. Essas conferências constituem um marco referencial para a ação pastoral brasileira. No terceiro capítulo, mergulharemos na realidade atual, para procurar entender a crise da paróquia no ambiente urbano. O quarto capítulo é o mais original, pois busca compreender, a partir de fontes inéditas, quais são as propostas pastorais da CNBB para a paróquia no século XXI. Nesse sentido, será apresentado o debate promovido pela Conferência dos Bispos do Brasil sobre a nova paróquia, o Documento 100 e as DGAE 2019-2023.

    Na segunda parte, pretendemos sistematizar o projeto comunidade de comunidades, a partir da identidade de Igreja concebida como comunhão missionária, identidade colhida pela reflexão histórica dos capítulos anteriores desta obra. Levaremos em conta os fundamentos conciliares da Igreja como comunhão (capítulo quinto). Em seguida, iremos debruçar-nos sobre a proposta latino-americana referente ao modo como a paróquia pode tornar-se efetivamente uma comunidade (sexto). Por conseguinte, trataremos da necessária conversão dos sujeitos da paróquia ao discipulado missionário de Jesus Cristo (sétimo), e abordaremos algumas pistas práticas para a conversão das estruturas paroquiais (oitavo). Ao final do percurso, o leitor poderá alcançar uma compreensão mais aprofundada dos percursos de renovação paroquial realizados no Brasil, bem como verificará a beleza e a consistência da proposta da CNBB, comunidade de comunidades, para a sociedade do século XXI.

    PARTE I

    OLHAR HISTÓRICO E SOCIORRELIGIOSO

    1

    RENOVAÇÃO PAROQUIAL BRASILEIRA ANTES DO VATICANO II

    Ao olhar para o passado, vislumbramos a soma de muitos esforços e empreendimentos de renovação eclesial – vários deles heroicos –, contornando obstáculos geográficos, culturais e políticos impostos à evangelização no Brasil. Conhecê-los, em um primeiro momento, desperta a gratidão por descobrir que estamos incluídos nesse admirável processo evangelizador. Em um segundo momento, o conhecimento desses esforços torna-nos mais conscientes de o quanto as concepções de mundo e de Igreja do passado estão vivas em nossa realidade e condicionam, de algum modo, as nossas ações pastorais. A finalidade prática desse estudo histórico é auxiliar na elaboração de um correto diagnóstico da realidade paroquial brasileira.

    1.1 Dado prévio: tensões internas e externas à paróquia

    Tendo sua origem no século IV, as paróquias foram uma resposta pastoral para o crescimento do cristianismo no Império Romano.⁴ Elas subsistiram, no decorrer dos séculos, como a estrutura pastoral de Igreja mais próxima ao povo. Suas características básicas são o caráter de abertura a todos, a presidência de um presbítero, a celebração dos sacramentos e o acompanhamento religioso das pessoas do nascimento até a morte. É verdade que, devido aos condicionamentos sociais e políticos, as paróquias perderam substancialmente o caráter comunitário da Igreja das casas, dos primeiros tempos de cristianismo (cf. At 2,42-49). As reformas da instituição paroquial, nos seus dezoito séculos de existência, passaram bastante pela busca de equilíbrio entre os aspectos comunitário e institucional, em meio às turbulências nas relações da Igreja com os reinos e estados. A percepção dessas tensões internas e externas à paróquia evita julgamentos precipitados sobre o passado e ajuda a tirar lições para o presente.

    1.2 A formação das paróquias no Brasil

    As instalações das paróquias no período colonial brasileiro seguiram, a seu modo, a rota de expansão do Império português, começando no litoral e dirigindo-se ao sertão. Destacamos quatro elementos do desenvolvimento brasileiro das paróquias: 1º) o regime do Padroado régio português; 2º) o arcabouço de ideias do catolicismo devocional português pré-tridentino (séculos XIII e XIV); 3º) as missões realizadas pelas ordens religiosas, como os jesuítas, os franciscanos e os carmelitas; 4º) as missões de fiéis cristãos leigos, como os rezadores e ermitães, e as atividades leigas das confrarias e ordens terceiras. Tendo a consciência de que o sistema do Padroado é o elemento histórico central de explicação do catolicismo colonial brasileiro, nos deteremos sobre esse sistema.

    O regime do Padroado não é novo na

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