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365 dias com os mestres de espiritualidade
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365 dias com os mestres de espiritualidade
E-book339 páginas4 horas

365 dias com os mestres de espiritualidade

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Sobre este e-book

Das cinzas do século XX, assolado por guerras, privações e desespero, o pensamento cristão emergiu com força de renovação. Nunca se transmitiu tanta sabedoria e força, nunca a fé foi tão importante. Este livro apresenta uma compilação dos considerados mais originais e impetuosos mestres de espiritualidade da época novecentista. Foram pensadores, líderes, santos. Da coletânea de sua sabedoria, este livro apresenta 365 trechos sobre variados assuntos, para reflexão diária.
IdiomaPortuguês
Data de lançamento30 de jun. de 2015
ISBN9788527615709
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    365 dias com os mestres de espiritualidade - Editora Ave-Maria

    Guerriero

    1º de janeiro

    É muito belo constatar que exatamente no primeiro dia do ano se queira apresentar, praticamente como um único manifesto programático, àquele que nos traz paz, nossas obras, nossos dias, as tensões por que passamos, nossas esperanças de todo ano [...].

    O Senhor é a nossa paz.

    Sabemos que Ele esteve no seio de Maria. Ele é nossa paz, e nós, se quisermos gozá-la, devemos nos movimentar, porque a paz apenas no plano etimológico é sedentariedade, quietude, é permanecer na inércia. É fácil dizer: estou sentado, estou em paz. Entretanto, para encontrar a paz, é necessário mover-se; é necessário sofrer, sacrificar-se. Para encontrar a paz, é preciso estar na luta; é preciso declarar guerra a si mesmo.

    É mais ou menos como os pastores, que, à noite, deixam a sedentariedade da permanência ao lado do rebanho. Estavam talvez próximo de um zimbro, em um palheiro, e, quando perceberam o anúncio do anjo, levantam-se: Vamos até Belém e vejamos o que se realizou e o que o Senhor nos manifestou (Lc 2,15). Depois de tê-lo visto, Lucas diz: contaram o que se lhes havia dito a respeito deste menino (Lc 2,17).

    Viram e conscientizaram-se. Ouviram e foram levar aos outros depois: [...] e na terra paz aos homens objeto da benevolência (divina) (Lc 2,14).

    Tonino Bello

    2 de janeiro

    Pacíficos são... Aqueles que amam a paz... Aqueles que procuram fazer reinar a paz no meio dos homens... Estes serão chamados filhos de Deus... Não é à toa que tu lhes chamas assim, meu Senhor Jesus... Aqueles que fazem reinar a paz no meio dos homens, que procuram estar em paz com todos são os que sabem quem são os homens: uma só família na qual todos são irmãos, da qual Deus, como Criador, é o Pai, uma família da qual este Pai, em sua infinita bondade, quer bem mais do que qualquer outro pai ou mãe da terra podem querer para a família; este Pai quer semear o amor entre seus diversos filhos mais do que a terna mãe o queira para os próprios filhos; é uma família na qual, consequentemente, Deus quer fazer reinar a paz e o amor, a concórdia e a mais afetuosa ternura entre todos os irmãos, ou seja, entre todos os homens... Aqueles que se recordam disso e que, por conseguinte, querem uma verdadeira paz entre todos os homens, todos os irmãos e todos os filhos de Deus, fazem jus ao título defilhos de Deus, porque mantêm presente na memória a sua origem e reconhecem quem é seu Pai.

    Charles de Foucauld

    3 de janeiro

    Ó Príncipe da paz, Jesus Ressuscitado, olhe de modo benigno para toda a humanidade. Ela só espera a sua benignidade e o alívio para suas chagas. Como nos dias de sua passagem terrena, em que sempre preferiu os pequeninos, os humildes, os sofredores, continue a procurar os pecadores.

    Faça que todos o invoquem e o encontrem, para ter em seu caminho, a verdade, a vida. Conserve-nos a sua paz, ó Cordeiro imolado pela nossa salvação: Agnus Dei, qui tollis peccata mundi, dona nobis pacem! Afaste do coração dos homens o que pode colocar em risco a paz, e confirme-os na verdade, na justiça, no amor aos irmãos; ilumine os governantes dos povos, afim de que, ao lado do desejo de cuidar do bem-estar de seus irmãos, garantam e defendam o grande tesouro da paz; desperte a vontade de todos para superar as barreiras que dividem, para fortalecer os vínculos da mútua caridade, para estar dispostos a compreender, para compadecer-se, para perdoar, a fim de que, em seu nome, os povos se unam a fim de que, finalmente, triunfe nos corações, nas famílias e no mundo a paz – a sua paz.

    João XXIII

    4 de janeiro

    Pela fé podemos receber a herança de Jesus: Eu lhes deixo a paz, eu lhes dou a minha paz. Paulo, em Filipos, encarcerado em um cárcere escuro e isolado, com o corpo fustigado e ensanguentado, os pés encadeados, o espírito cansado, cantava alegremente os cânticos de Sion à meia-noite. Os primeiros cristãos, enfrentando os leões famintos na arena ou a dolorosa pena no tronco, alegravam-se por ser julgados dignos de sofrer pelo amor de Cristo. Os escravos negros, sentindo o cansaço do calor opressor e apresentando os sinais dos golpes dos chicotes desferidos sobre seus lombos, cantavam triunfantes: Logo irei depor este pesado fardo. Estes são exemplos vivos de paz que vão além de qualquer compreensão.

    Nossa capacidade de enfrentar de maneira construtiva os sonhos infringidos é, em última análise, determinada por nossa fé em Deus. A fé genuína nos infunde a convicção de que, além do tempo, está um espírito divino e, além da vida, está a Vida. Por mais tristes e catastróficas que possam ser as circunstâncias presentes, sabemos que não estamos sozinhos, porque Deus habita conosco nas mais apertadas e opressoras celas da vida. E também, se morremos lá, sem ter alcançado a promessa terrena, Ele nos guiará por aquela misteriosa estrada chamada morte e, finalmente, para aquela indescritível cidade que nos preparou.

    Martin Luther King

    5 de janeiro

    No século que deixamos atrás de nossas costas, a humanidade foi duramente provada por uma sequência interminável e horrenda de guerras, conflitos, genocídios,purificações étnicas, que causaram inenarráveis sofrimentos: milhões e milhões de vítimas, famílias e países destruídos, inúmeros prófugos, miséria, fome, doenças, subdesenvolvimento, perda de recursos irreparáveis. Nas raízes de tanto sofrimento, existe uma lógica de subjugação, nutrida pelo desejo de dominar e de desfrutar os outros, por ideologias de poder ou de utopismo totalitário, por nacionalismos insanos ou antigos ódios tribais. Talvez para conter a violência brutal e sistemática, provocando até mesmo o extermínio total ou a escravização de povos inteiros e regiões, foi necessário estabelecer uma resistência armada.

    O século XX nos deixa como herança sobretudo esta admoestação: as guerras são frequentemente causa de outras guerras, porque alimentam ódios profundos, criam situações de injustiça e espezinham a dignidade e os direitos das pessoas. Elas, em geral, não resolvem os problemas pelos quais são combatidas e, portanto, além de serem assustadoramente danosas, provam também ser inúteis. Com a guerra é a humanidade quem perde . Só na paz e com a paz é possível garantir o respeito à dignidade da pessoa e de seus inalienáveis direitos.

    João Paulo II

    6 de janeiro

    Vamos a Belém!: esse convite dos pastores adquiriu, exatamente na minha pátria, um eco luminoso, como em poucas outras expressões bíblicas. Os povos de estirpe germânica sentiram-se pessoalmente interpelados por essas palavras. Tiveram a possibilidade de identificar-se com os pastores. Eram eles mesmos: até conseguiram repisar as marcas. Hoje, nós o fazemos com muito mais dificuldade. Estamos por demais afastados da simplicidade dos pastores, mas talvez possa consolar-nos o fato de que também os Magos do Oriente – dignos de uma civilização e de uma mentalidade superiores, por meio das quais também podemos, de certo modo, nos reconhecer – no fim encontraram o caminho do presépio.

    Mas para onde propriamente esse caminho nos conduz? O povo comum e os poderosos não ouviram a voz do anjo porque dormiam. Os pastores eram, ao contrário, homens despertos e alertas. Esta é a expectativa do coração, a sensibilidade (não ainda obtusa) diante da voz de Deus: eis aí o que une os Magos do Oriente – homens exigentes – aos pastores e lhes permite encontrar o caminho.

    Assim, eis uma interrogação: será que nós estamos verdadeiramente despertos? Somos livres, estamos prontos a nos movimentar? Não estamos, ao contrário, tremendamente doentes de esnobismo, de um ceticismo presunçoso? Pode ouvir a voz do anjo aquele que, a priori, tem certeza de que o anjo não pode verdadeiramente existir? Mesmo que a ouvisse, não poderia nem mesmo entendê-la. E o que dizer daquele que se habituou a julgar sempre de cima para baixo?

    Entendo sempre mais porque nunca Santo Agostinho tenha indicado na humilitas, na humildade, o núcleo do mistério cristão. Nosso coração não está aberto, tampouco verdadeiramente livre. Não obstante, permanece uma consolação: há também um caminho percorrível por espíritos refinados e exigentes. Estes também podem tornar-se pastores, desde que tenham algo em comum entre eles: a vigilância e a liberdade do coração.

    Bento XVI

    7 de janeiro

    O primeiro milagre de Cristo, no Evangelho de São João, foi realizado durante um banquete de núpcias. Se a casualidade não faz parte da perspectiva cristã, também não se pode encontrá-la na Escritura. O milagre de Caná está inserido naquilo que existe de essencial na vida da Igreja: a expiação, a Eucaristia. Seu significado particular consiste na elevação da vida matrimonial à condição de ekklesia . A água, que, no Antigo Testamento, é sinal de purificação e de penitência, transforma-se em vinho, sangue da terra dos mistérios antigos, matéria cósmica do sacramento da Eucaristia, penhor de vida eterna. E é esta presença de Cristo nas núpcias que faz da realidade conjugal uma realidade eclesial e confere aos esposos um carisma sacramental. Cada um tem o próprio dom de Deus (1Cor 7,7), revela Paulo a propósito dos esposos e das virgens; é por efeito desse carisma que as paixões podem transformar-se naquele fruto da vinha, que, segundo o Senhor, anuncia a chegada do Reino de Deus.

    Pavel Evdokimov

    8 de janeiro

    É uma longa e serena constância que conhece a expectativa: expectativa gratuita. Quem nos faz ficar assim? E, no entanto, somos como as corças do salmo, que têm sede de ver a sua face... que o buscam. Quão gratificante é para o crente buscar a Deus, ter sede dele, de sua face! E é de lá onde começa a busca, a expectativa; lá se inicia a oração; e é lá que esta permanece desde o início da expectativa até o conhecimento gratuito de Deus. Também nessa gratuidade, a presença é profecia, porque manifesta a realidade do amor de Deus, que é gratuito, pura graça, só graça. Que tipo de justificativa podemos dar diante dos gestos de amor de Cristo por Madalena, por Zaqueu, pelo jovem rico, pelo filho pródigo? Nenhuma. Só a gratuidade do amor, que não busca nem mesmo nossa reciprocidade... E na oração até essa falta de reciprocidade é respeitada. É Deus que busca primeiro a nós; é Deus que nos ama acima de tudo; é Deus ainda que primeiro nos chama... Você não me procuraria se eu já não o tivesse encontrado, diz o Senhor.

    Enzo Bianchi

    9 de janeiro

    Pedimos a oração ao Senhor como algo concreto, arriscando tudo, colocando diante dele tudo de que dispomos, ainda que esse tudo seja muito pouco: toda a nossa pouca força, todo o nosso pouco amor, todo o nosso pouco tempo. Pedimos tudo o que desejamos em um pedido humano guardado no coração, mesmo que o façamos em um dia em que nos arrastamos com dificuldade, em que a hemicrania nos embruteça, em que tenhamos o tempo contado.

    Para pedir o que queremos verdadeiramente, devemos fazer o que podemos verdadeiramente. Isso já é suficiente. Pedimos a oração, mesmo se isso tudo não é quase nada.

    Devemos orar não o que diz um velho canto: Orar é a felicidade, é uma alegria suprema.... Não é dizer a própria oração ou uma oração qualquer.

    Orar é cessar de fazer qualquer outra coisa; é, antes de tudo, desenraizar-se daquilo que se faz para falar com Deus.

    Orar não é separar-se dos outros, desligar-se daquilo que se deve fazer, mas olhar efetivamente para Deus, falar com Ele face a face, sem lhe virar a cabeça ou voltar-lhe as costas para procurar, ao mesmo tempo, ver alguém ou alguma coisa.

    Madeleine Delbrêl

    10 de janeiro

    Não podemos ficar muito ansiosos por atingir nosso progresso nos caminhos da oração, porque deixamos a estrada para trás e estamos viajando por caminhos que não podem ser indicados e medidos. Portanto, deixe que Deus tome os cuidados de acordo com seu grau de santidade e contemplação. Se você busca por si mesmo medir seus progressos, perde tempo fazendo uma introspecção fútil. Busque apenas isto: purificar seu amor a Deus hoje e sempre, deixando-se sempre levar por sua vontade; ame-o da maneira mais exclusiva e completa, mas também da forma mais simples e pacífica, com total fé e sem compromissos.

    Thomas Merton

    11 de janeiro

    Senhor Jesus,

    em você a terra e o céu

    se encontraram.

    Tu és a Aliança em pessoa,

    o Filho eterno

    que fez seu

    o tempo dos homens,

    e abriu para nós

    o tempo da glória.

    Dê-nos a graça de crer em ti

    e segui-lo

    na verdade das obras

    e dos dias do nosso caminhar,

    para confessar suas obras com nossos lábios

    e com o coração, como o Senhor

    fez com nossa vida.

    E fazei que, de vós,

    saibamos ser

    testemunhas críveis,

    com humildade e doçura

    com a força

    contagiosa e irradiante

    do amor.

    Bruno Forte

    12 de janeiro

    É necessário mostrar nossa esperança para com Deus.

    Deus foi o primeiro a dar-nos esperança. Esperou que o último pecador, que o mais mísero dos pecadores tivesse feito algo para salvar-se...

    Aquele que repousa na minha mão, como o bastão na mão do peregrino, este me agrada, diz Deus.

    Aquele que se abandona ao meu braço como um lactante e sorri, e não se preocupa com nada, e olha o mundo através dos olhos da mamãe e da nutriz, e o olha apenas através desses olhos, este me agrada, diz Deus.

    Gosto de quem se abandona. Eu não quero bem a quem não se abandona. E deixo isso muito claro.

    Quem se abandona é o único que não se abandona. A fé que prefiro, diz Deus, é a esperança.

    Charles Péguy

    13 de janeiro

    O amor de Deus concede graças mil vezes maiores que as ações humanas; se você dá a Deus a mínima migalha, Ele a devolverá em ouro. Se você só se propõe a ir em direção ao Pai, Ele virá ao seu encontro. Bastam poucas e simples palavras: Acolha-me, Senhor, tenha piedade de mim, e Ele se lança ao seu pescoço e o abraça. Eis o amor que o Pai celeste tem por seus filhos indignos. Graças a esse amor, Ele se alegra com o menor gesto que façamos para a Salvação. Você pode pensar várias coisas como: que glória pode ser para o Senhor e que benefício posso ter, se oro um pouco e depois novamente me deixo distrair; você também pode fazer uma pequena boa ação, como ler uma oração, prostrar-se inúmeras vezes, invocar suspirando com o coração o nome de Jesus Cristo, elevar o pensamento desejando o bem, dedicar-se à leitura de qualquer coisa edificante, abster-se de um alimento ou suportar uma ofensa em silêncio... Para você, tudo isso pode parecer insuficiente para a sua salvação, inútil: mas não é verdade! Nenhuma dessas pequenas ações é vã ou continuará não atendida pelo onipotente olho de Deus.

    Narrativas de um peregrino russo

    14 de janeiro

    Resguardem-se de perder de vista a divina presença por qualquer ação que vocês façam. Não façam nunca qualquer trabalho ou qualquer outra ação sem ter primeiro elevado o pensamento para Deus, a Ele direcionando, com santa intenção, as ações que pretendem realizar.

    O mesmo que fazem com a ação de graças devem fazer no fim de todas as suas ações, examinando se tudo foi realizado e cumprido segundo a reta intenção determinada desde o princípio e, caso encontrem-se em falta, peçam humildemente perdão ao Senhor, com o firme propósito de corrigir suas faltas.

    Não há motivo para se desencorajar e mergulhar na tristeza se suas ações não lhes tenham saído de acordo com a perfeição com que se deu a intenção: o que queremos? Somos frágeis, somos terra, e nem todo terreno produz os mesmos frutos segundo a intenção do cultivador. Contudo, devemos nos humilhar diante de nossas misérias: humilhemo-nos sempre, reconhecendo que somos um nada sem a divina ajuda.

    Pio da Pietralcina

    15 de janeiro

    Eis o fundamento das virtudes: a , que é o fundamento, é lembrada acima de tudo: o homem é um servidor. [...] A humildade é a inscrição concreta da fé no cotidiano [...]. Da fé e da humildade nasce a paciência, que é a humildade posta em ação. Como esta exprime a fé, a paciência é, assim, animada pela esperança. É o contrário do abatimento, que provém do desejo de ter tudo e logo; é o reconhecimento pelas migalhas que caem da mesa do festim messiânico; é, sobretudo, uma confiança total quando Deus se retira, quando seus caminhos parecem incompreensíveis. Os padres evocaram frequentemente apaciência de Jó: Jó recusa os raciocínios dos teólogos patenteados, mas, mesmo respondendo a Deus, não o nega, permanece nele, sabendo que Ele o busca por meio da própria experiência do mal radical.

    E tudo culmina no amor, que constitui o contrário da dominação. Aquele que ama dá a própria vida por seus amigos; não busca o domínio, mas servir. Esvaziando-se de si para dar lugar a Deus, discerne a pessoa além de seus personagens, aquela que sabe exorcizar em silêncio e faz irradiar a vida verdadeira.

    Olivier Clément

    16 de janeiro

    À ceia do Senhor, como nó central, convergem em feixe os fios da antiga história da Salvação, porque a Páscoa hebraica aí depõe seus símbolos proféticos, que aqui desatam seus segredos e transformam-se na nova forma, também simbólica e profética, mas alimentada por outra realidade bem diferente, mediante a qual se fez o memorial perene de nossa redenção. Esta se realizou com o sacrifício da Cruz e a gloriosa Ressurreição e nos foi permitido participar de sua virtude e ter dela a promessa. Da mesma forma, na ceia do Senhor novos feixes de fios partem, que invadem o mundo e a história, e ramificam-se e chegam para cada vivente, quando amamos a cada um de nós. A linguagem bíblica é mais clara que qualquer outro discurso nosso: o Antigo Testamento e o Novo Testamento ali se entrecruzam, e ao outro cede às intenções divinas; assim são as intervenções divinas no sublime e no formidável desígnio das relações entre Deus e o homem, mediador, plenamente presente, Jesus Cristo.

    Paulo VI

    17 de janeiro

    O crente sabe que existe alguém cujo olhar não é limitado por nenhum horizonte. Aquele que tudo abrange e tudo compenetra. Quem vive na certeza desta fé sente na consciência não poder mais contentar-se com o próprio saber, por mais vasto que seja. Ele deve esforçar-se por conhecer o que é justo aos olhos de Deus. É exatamente este o motivo pelo qual somente uma atitude apoiada na religiosidade constitui uma conduta verdadeiramente ética.

    Certamente existe uma busca e uma tendência natural para com o justo e com o bem e, em determinados casos, talvez se consiga também encontrá-lo, mas só na busca da vontade divina é possível chegar realmente ao escopo. Uma vez que um indivíduo foi atraído para a órbita de Deus, retraindo-se no próprio íntimo e abandonando-se a Ele na união amorosa, seu problema estará resolvido para sempre. Basta que se deixe dirigir e guiar pelo Espírito de Deus – que já o move ostensivamente – para que ele tenha sempre e, sobretudo, a certeza de agir de forma reta.

    Teresa Benedita da Cruz

    18 de janeiro

    O cristão é um homem que não ignora que a própria história acontece na história de Jesus Cristo, porque – como revela a palavra dirigida a ele e por ele recebida pelo poder vivo do Espírito Santo – esta lhe foi manifestada como o acontecimento decisivo que fundamenta sua existência de cristão, porque a ele foi concedido o dom de reconhecer a si mesmo, em meio a todos os outros homens, como um daqueles pelos quais e em cujo posto Cristo realiza sua obra.

    O cristão é um homem de cuja vida Jesus Cristo se apoderou como sujeito de sua história; é o homem para o qual Jesus Cristo é o Senhor aceito, reconhecido e confessado: a ele foi concedida a graça de participar não só de maneira potencial, mas também atual, da história de Jesus Cristo. É assim que Jesus Cristo e sua história acontecem e permanecem como fundamento da existência cristã: e isso é o bastante. O cristão provém dele, de sua história, do conhecimento dela: é ali que ele olha retrospectivamente; é aquele o solo sobre o qual ele se apoia e vai em frente. É aquele o ar que respira. Esta é a palavra que ressoa para ele antes, depois e entre todas as outras palavras. Ela é a luz – a única luz, a mais incomparavelmente luminosa – que o ilumina.

    Karl Barth

    19 de janeiro

    Por todos os caminhos, Deus conduz o homem para o conhecimento daquilo que nele é santo. Às vezes, isso ocorre por meio de muito sofrimento. Às vezes, pensamos que o homem está definitivamente perdido; então o abandonamos à própria sorte, assim que o vemos submerso no pântano e na imundície. Sua queda parece-nos o ponto final, de onde não existe retorno. Entretanto, no grande sofrimento, a camada de lama se desfaz. De forma improvisada, exatamente nessa imundície, brilha algo inesperado. É o anjo da guarda que aborda o homem e com seu poderoso braço direito o conduz em direção a um novo caminho santo. Também nos céus haverá mais alegria por um desses pecadores que se arrependem do que por noventa e nove justos que não necessitam de arrependimento (Lc 15,7). Este é um caminho que ultrapassa grandes sofrimentos.

    Pavel Florenskij

    20 de janeiro

    Veja com que multiplicidade se explica a vida religiosa da Igreja! Quantos sacramentos existem, quantas devoções, como é ilimitada a fileira dos santos. Veja como os dogmas são complicados, quantas doutrinas, como são diversos os modos e os caminhos da vida religiosa que a Igreja recomenda, louva e requer. A essência do Cristianismo, simples por si só, desdobrou-se em uma profusão imensa, na qual o indivíduo se perde. No entanto, não podemos, se somos espíritos vigilantes, com uma ingênua modéstia de pequenos burgueses, escolher isso ou aquilo por acaso, da forma que nos agrade, e deixar ficar o resto, comodamente, sem lamentar, se nem mesmo podemos realizar e cuidar de tudo de maneira genuína e interior [...].

    Mas como encontrar a unidade entre a semelhante interminável plenitude e a plenitude da unidade? Evocamos a experiência do coração e olhamos para o coração de Cristo. Se na fé e no amor aceitarmos o próprio coração, se nos confiamos àquele incompreensível centro ao qual damos o nome de Sagrado Coração, já teremos experimentado algo da verdadeira solução desse problema. Se não existisse a unidade originária, que é anterior a todo problema de conciliação entre unidade e plenitude multíplice, se não fôssemos já concedidos por Deus como pessoas que são orientadas para a unidade, nisso que chamamos nosso coração, então cada tentativa de conciliação seria já inútil. Ou nos perderemos na multiplicidade ou seremos sufocados na unidade. Mas por que existe o coração criado por Deus? Porque o homem detém uma unidade recebida como dom e pode sair na multiplicidade sem se extraviar? Pode o homem no fundo recolher a si mesmo e ao mundo em unidade, sem se perder e sem ser asfixiado? O pressuposto é de que ele se confie àquela unidade de plenitude absoluta que chamamos Deus; a essa unidade

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