A rua da bananeira
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Sobre este e-book
Construída a partir das memórias do narrador, que vai se lembrando de fatos e acontecimentos da Rua da Bananeira, a narrativa incorpora elementos da cultura popular brasileira: quadrinhas, simpatias, benzeções, chás e plantas medicinais, brincadeiras, cantigas, ditos populares…
Divertida e cheia de mistério, a história, narrada em linguagem coloquial, é uma amostra - também na ilustração - de um universo quase desaparecido, ou submerso no processo de urbanização no Brasil.
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A rua da bananeira - Adriano Messias
POR CAUSA DE...
A folha da bananeira
de comprida foi ao chão.
Mais comprida foi a fita
que laçou meu coração.
Esta seria mais uma história de crianças e avós, de bairros e cidades, se não fosse por causa de uma bananeira. E por causa de uma casa rosa. E por causa de uma avó que dava cambalhotas e de crianças que jogavam bola na rua.
A avó desta história não é uma avó que gosta de tricô. E as crianças não têm as faces rosadinhas.
Nossa história começa assim:
RUA DA BANANEIRA, 90
A folha da bananeira
de comprida amarelou.
A boca do meu benzinho
de tão doce açucarou.
Dona Gertrudes abriu a vidraça de uma de suas janelas em uma certa manhã.
Agora você vai imaginar uma casa rosada, afastada da rua uns cinco metros, com um jardim confuso na frente. Depois eu falo do jardim. A casa tem duas grandes janelas embaixo e duas janelas menores em cima: é um sobrado.
As janelas são de madeira e se abrem toda manhã para a luz do sol entrar e se fecham toda noite fria para que a moradora se aqueça.
A entrada da casa, logo após a passarela torta do jardim, fica no final de um alpendre com pilastras coloridas e umas escoras de madeira muito antigas, nas quais Dona Gertrudes dependura uns vasos de folhagens.
Pela lateral se chega atrás da casa, onde moram alguns bichos, dos quais eu também falarei depois. E há uns canteiros de hortaliças, coisa pouca, porque é ela quem gosta de cuidar de tudo e às vezes não tem muita vontade de pegar na enxada. Dor na coluna.
Dentro da casa é assim: vestíbulo – coisa que não se usa mais hoje –, sala grande, sala pequena, quarto de hóspedes, banheiro com lavabo, cozinha e copa conjugadas.
No andar de cima ficam os aposentos de dormir: um bem grande, com banheiro e banheira antiga e branca, e janelona que dá frente para a rua, com floreira cheia de jasmins. O quarto de Dona Gertrudes tem cama com dossel, quadros com gente alegre e gente triste, lavabo de porcelana e penteadeira lotada de perfumes que já não cheiram muito.
Ao lado existe um outro quarto onde ela mantém uma cama para visitas e uma estante com livros de capas todas iguais