A volta do parafuso
De Henry James
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Sobre este e-book
Henry James
Henry James (1843-1916) was an American author of novels, short stories, plays, and non-fiction. He spent most of his life in Europe, and much of his work regards the interactions and complexities between American and European characters. Among his works in this vein are The Portrait of a Lady (1881), The Bostonians (1886), and The Ambassadors (1903). Through his influence, James ushered in the era of American realism in literature. In his lifetime he wrote 12 plays, 112 short stories, 20 novels, and many travel and critical works. He was nominated three times for the Noble Prize in Literature.
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A volta do parafuso - Henry James
EDIÇÕES BESTBOLSO
A volta do parafuso
Henry James (1843-1916) nasceu nos Estados Unidos. Além de romances e obras de teatro, o autor deixou inúmeros ensaios sobre viagens, críticas literárias, cartas e três obras autobiográficas. Seu estilo elíptico e de contrastes quase imperceptíveis, com longos parágrafos meticulosamente compostos nos quais todos os elementos são indispensáveis, é capaz de extrair beleza e verdade do cotidiano. O autor passou os últimos anos de sua vida em absoluto isolamento, interrompido apenas em 1904, quando regressou brevemente aos Estados Unidos depois de vinte anos de ausência. Henry James recebeu a cidadania britânica no decorrer da Primeira Guerra Mundial. Devido ao seu caráter ambíguo, o clássico A volta do parafuso é muito estudado no meio acadêmico. A obra já foi adaptada para o teatro, televisão e cinema. A BestBolso também publicou A taça de ouro do mesmo autor.
Tradução de
JOÃO GASPAR SIMÕES
1ª edição
RIO DE JANEIRO – 2015
CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO NA PUBLICAÇÃO
SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ
James, Henry, 1843-1916
J29v
A volta do parafuso [recurso eletrônico] / Henry James; tradução João Gaspar Simões. - 1. ed. - Rio de Janeiro: Bestbolso, 2017.
recurso digital
Tradução de: The turn of the screw
Formato: epub
Requisitos do sistema: adobe digital editions
Modo de acesso: world wide web
ISBN: 978-85-7799-566-0 (recurso eletrônico)
1. Ficção americana. 2. Livros eletrônicos. I. Simões, João Gaspar. II. Título.
17-41641
CDD: 813
CDU: 821.111(73)-3
A volta do parafuso, de autoria de Henry James.
Título número 389 das Edições BestBolso.
Primeira edição impressa em maio de 2015.
Texto revisado conforme o Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa.
Título original norte-americano:
THE TURN OF THE SCREW
Copyright da tradução © by Difel, Lisboa.
www.edicoesbestbolso.com.br
Design de capa: Luciana Gobbo com imagem iStockphoto.
Todos os direitos desta edição reservados a Edições BestBolso um selo da Editora Best Seller Ltda. Rua Argentina 171 – 20921-380 – Rio de Janeiro, RJ – Tel.: 2585-2000.
Produzido no Brasil
ISBN 978-85-7799-566-0
Sumário
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Posfácio à leitura de Henry James
A história nos deixara bastante espantados, ao redor da lareira, mas, afora o óbvio comentário de que era horrível, como deveriam ser todas as histórias contadas na véspera de Natal numa casa velha como aquela, não me lembro de ouvir qualquer outra observação até que alguém disse ser aquele o único caso em que uma aparição se dirigiu a uma criança. Tratava-se de uma história sobre uma assombração, devo dizer, também numa casa velha como aquela em que estávamos reunidos no momento. A aparição, de natureza tenebrosa, surgira para um garotinho que dormia no quarto com a mãe e que a acordara cheio de terror, para que, antes que ela pudesse acalmá-lo e fazê-lo dormir novamente, visse a mesma entidade que o assustara.
Foi esse comentário que provocou, não de imediato, mas algumas noites depois, uma resposta de Douglas. Uma resposta que teve consequências interessantes sobre as quais escrevo. Alguém contava uma história não muito impressionante, e eu percebi que Douglas não estava prestando atenção. Tomei isso como um indício de que ele teria algo a dizer, e que teríamos apenas que esperar o momento em que ele o faria. Esperamos, de fato, duas noites, e na segunda, antes de nos recolhermos, Douglas disse o que estivera pensando por tanto tempo.
– Concordo que a aparição do fantasma de Griffin, ou seja lá o que for, ter se dirigido primeiro a um garotinho tão novo é o que dá um toque de horror ao conto. Mas essa não é a primeira vez que ouço uma dessas histórias fascinantes envolvendo crianças. Imaginem, se com uma só já sentimos tamanho calafrio, o que nos causaria um caso em que há duas crianças?
– Bem, é claro – exclamou alguém –, que nos causaria dois calafrios! E, também, que estamos ansiosos por ouvi-lo.
Ainda consigo ver Douglas ali, parado de costas para o fogo, encarando seus interlocutores com as mãos nos bolsos.
– Até hoje, ninguém além de mim ouviu falar nisto. É uma história pavorosa!
A informação, é claro, foi repetida diversas vezes, para dar mais valor ao caso, e o nosso amigo, com hábil tranquilidade, preparou o golpe de mestre, voltando os olhos para nós e dizendo:
– Vai além de tudo o que já ouvi, não sei de nada que se compare.
– Em puro terror? – lembro-me de perguntar.
O homem pareceu querer dizer que não era assim tão simples, que, para falar a verdade, ele não sabia como classificar. Esfregou os olhos e, franzindo o cenho, disse:
– Em horror... horrendo!
– Ah, que maravilha! – exclamou uma das senhoras.
Douglas não lhe deu atenção. Olhou para mim, mas era como se, em vez de me ver, estivesse encarando a criatura sobre a qual falava.
– Em feiura sobrenatural, horror e tormento.
– Bem – disse eu –, então trate de se sentar e conte tudo!
O homem voltou-se para o fogo, deu um pontapé numa brasa e fitou-a por um instante. Depois, virou-se outra vez para nós e disse:
– Não posso começar, preciso primeiro mandar alguém à cidade.
Diante disso, ouviu-se um queixume unânime e muitas censuras que o fizeram explicar, de modo preocupado:
– É uma história escrita. Está fechada numa gaveta e não sai dali há anos. Posso mandar uma carta com a chave ao meu criado e, logo que a encontre, ele pode mandá-la pelo correio.
Ao propor isso, estava se dirigindo a mim em particular, como se pedisse auxílio para não hesitar. Acabara de quebrar um bloco de gelo que se formara durante muitos invernos, e devia ter lá suas razões para ter guardado segredo por tanto tempo. Os outros ficaram contrariados com o adiamento, mas o que me encantou foram justamente seus escrúpulos. Insisti para que enviasse a carta no primeiro correio e que prometesse ler a história assim que chegasse; depois perguntei-lhe se a experiência em questão acontecera com ele. A resposta veio imediatamente:
– Não, por Deus, não!
– Mas a narração é sua? Foi você quem escreveu?
– Registrei apenas as impressões que tive. Guardei-as aqui – disse, batendo no peito, sobre o coração. – Nunca as esqueci.
– Então o manuscrito...
– Está escrito com tinta velha, quase apagada, e com a mais linda caligrafia. – Ele preparou a artilharia novamente: – Uma caligrafia de mulher. Ela faleceu há vinte anos e mandou-me essas páginas antes de morrer.
Estavam todos atentos agora, e, é claro, houve quem interpretasse o comentário de forma maliciosa ou, pelo menos, tentasse tirar alguma conclusão. Mas, assim como deixou a interpretação de lado sem um sorriso, também não demonstrou irritação.
– Era uma pessoa encantadora, mas dez anos mais velha do que eu. Era a preceptora de minha irmã – disse, tranquilamente. – Nunca conheci mulher mais agradável em sua posição, e era digna de ocupar qualquer outra, não importa qual fosse. Isso foi há muito tempo, e a história aconteceu ainda antes. Eu estava em Trinity* e encontrei-a em minha casa quando fui passar as férias, no segundo ano. Passei muito tempo lá, aquele foi um ano lindíssimo, e, nas nossas horas livres, passeávamos juntos e conversávamos no jardim. Nessas conversas, ela me parecia ser muito esperta e simpática. Ah, sim; não precisa dos risinhos: eu gostava muito dela e ficava feliz em pensar que ela também gostava de mim. Se não gostasse, nunca teria me contado, pois não confiara isso a ninguém. Não o digo porque ela declarou isso, mas porque eu sabia que ela nunca havia contado antes. Tenho a certeza, era bem óbvio. Vocês entenderão quando ouvirem a história.
– Por que era uma história assombrosa?
Fitando-me, ele continuou:
– Vocês entenderão. – E repetiu: – Você entenderá.
Fitei-o também.
–Compreendo, ela estava apaixonada.
Ele riu pela primeira vez.
– Muito perspicaz! Sim, ela estava apaixonada. Isto é, estivera apaixonada. Era perceptível, não era possível que ela contasse a história sem deixar transparecer. Eu percebi, e ela notou que eu tinha percebido; mas nenhum de nós falou nisso. Lembro-me bem da hora e do lugar em que ouvi a história, era um canto do jardim, gramado e sob a sombra de grandes faias, numa longa e quente tarde de verão. Não era paisagem para calafrios; mas, oh... – Ele abandonou a lareira e deixou-se cair na poltrona.
– A encomenda chegará na quinta-feira de manhã? – perguntei.
– Provavelmente não virá antes do segundo correio.
– Portanto, depois do jantar...
– Todos virão se encontrar comigo? – Ele encarou um por um. – Ninguém vai fugir? – Seu tom era quase esperançoso.
– Todos virão!
– Eu ficarei... – e eu também! – exclamaram as senhoras, cuja viagem de volta para a cidade estava marcada.
A Sra. Griffin, no entanto, precisava de mais explicações.
– Por quem estava ela apaixonada?
– A história lhe dirá – decidi responder.
– Ora, não posso esperar a história!
– A história não dirá – corrigiu Douglas. – Pelo menos, não de modo claro ou literal.
– Pior ainda, essa seria a única maneira de eu perceber.
– Por que não conta, Douglas? – perguntou alguém.
Douglas levantou-se novamente.
– Sim, direi. Mas amanhã, agora preciso ir me deitar. Boa noite. – E, rapidamente, levando um castiçal, ele nos deixou, ainda um pouco perplexos. De onde estávamos, na sala, podíamos ouvir seus passos subindo a escada. Então, a Sra. Griffin disse:
– Pois bem, embora eu não saiba por quem ela estava apaixonada, sei bem quem estava apaixonado por ela.
– Ela era dez anos mais velha do que ele – disse seu marido, o Sr. Griffin.
– Raison de plus nessa idade! Mas a discrição dele não deixa de ser simpática.
– Quarenta anos! – acrescentou o Sr. Griffin.
– E ele finalmente deixou escapar.
– E o que ele deixou escapar – falei – vai resultar num efeito e tanto, na quinta-feira à noite.
Todos concordaram comigo que, por causa daquilo, não conseguiríamos dar atenção a mais nada. A última história, embora incompleta, como se fosse apenas o prefácio de um folhetim interessante, fora contada. Apertamos as mãos, castiçalizamos
, como disse alguém no grupo, e nos dirigimos para a cama.
No dia seguinte, soube que a carta com a chave fora enviada para o apartamento de Londres. Mas, apesar da difusão desta notícia, ou talvez por causa dela, deixamos nosso amigo em paz até depois do jantar, na hora marcada, que combinava mais com a espécie de emoção que buscávamos. Douglas apareceu, pontual e tão comunicativo quanto poderíamos querer, com um bom motivo para aquele estado de espírito. Novamente, nos encontramos com ele na sala, diante do fogo, da mesma maneira que estávamos quando tivemos nossas pequenas surpresas da noite anterior.
Parecia que a narrativa que ele nos prometera requeria, para ser compreendida, algumas palavras de prólogo. Direi, para esclarecer o assunto, que essa narrativa que apresento é extraída de uma transcrição fiel feita por mim mesmo, muito mais tarde. O pobre Douglas, antes de morrer, quando já tinha seus dias contados, confiou-me o manuscrito que recebera três dias depois de enviar a carta ao mordomo e que, naquela mesma sala, com grande afetação, começara a ler para nosso pequeno e animado grupo, na noite do quarto dia. As senhoras que estavam de partida e que haviam declarado que ficariam não ficaram, graças a Deus: conforme haviam previamente estabelecido, partiram. Iam cheias de curiosidade, confessaram, em virtude das alusões que Douglas fizera sobre o caso. Isto apenas fez com que a audiência final fosse um grupo mais compacto e seleto, vibrando juntos de excitação.
Sua primeira fala, criando um prólogo, estabeleceu que a narrativa se iniciava depois que a história já tinha começado, por assim dizer. Era preciso, portanto, entender que sua amiga, a mais nova das filhas de um pobre pastor de aldeia, aos vinte anos, viajara a Londres, ainda um pouco receosa, para iniciar sua carreira de professora. Viera responder pessoalmente a um classificado, pois tivera uma breve correspondência com o anunciante. Ao se apresentar numa casa em Harley Street, a qual a impressionara pela grandeza e imponência, verificou que o suposto patrão era um homem solteiro, na flor da idade, com uma aparência que uma alvoroçada e impaciente jovem da paróquia de Hampshire nunca vira diante de si, a não ser em sonhos ou em romances.
Era fácil de definir, pois, felizmente, há sempre alguém parecido: bonito, altivo, agradável, despreocupado, alegre e afável. Como era de se prever, impressionou-a com sua galanteza e magnificência, mas o que a deslumbrou ainda mais, e lhe deu a coragem que depois ela demonstrou, foi o fato de ele ter lhe apresentado as coisas como se pedisse um favor, como se aquilo se tratasse de um obséquio pelo qual seria extremamente grato. Imaginou que ele fosse muito rico, mas igualmente extravagante. Divisou-o como que iluminado pela mais alta elegância, pela mais bela aparência, pelos hábitos mais dispendiosos