Formação para a vida: a vontade de potência no pensamento educacional de Nietzsche
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Formação para a vida - Vitor Zonzini
CAPÍTULO 1 - CRÍTICA DE NIETZSCHE AOS ESTABELECIMENTOS DE ENSINO
1.1 – O INCONFORMISMO CONTRA SEU TEMPO: A FORMAÇÃO DE NIETZSCHE
Nietzsche é um dos pensadores mais importantes e emblemáticos da história da filosofia. Sua filosofia tem um aspecto ácido, capaz de causar desconforto em seus leitores, o filósofo não mede o peso de suas palavras ao apontar as duras verdades da vida, aquelas que muitos de nós desejamos ocultar. Não por coincidência, é conhecido popularmente como o filósofo das marteladas, pois sua intenção é destruir toda falsa moral que moldou a cultura do Ocidente. Suas críticas abrangem várias temáticas como religião, ética, metafísica e até mesmo a própria filosofia; neste trabalho mostraremos um ponto central da primeira fase da filosofia nietzschiana: a educação.
Podemos dizer que Nietzsche é um filósofo que vive sua própria filosofia, ou seja, seu pensamento filosófico constrói-se de acordo com sua vida, tal fato explica a originalidade desse exímio autor. Portanto, antes de adentrar propriamente em suas críticas sobre a educação das instituições de ensino alemãs, mostraremos sua formação como filólogo, seu encontro com a filosofia e o modelo de educação que estava sendo construído em seu tempo, alvo dos escritos do jovem Nietzsche. Esses acontecimentos moldaram e formaram seu caráter, contribuindo para um olhar maduro e crítico perante a situação do ensino de sua época, o que mais tarde, possibilitará ao autor escrever suas primeiras obras de cunho educativo. É importante ressaltar que não se trata do relato de fatos isolados da vida e da obra de Nietzsche, aqui, a pretensão é mostrar como sua formação contribuiu com sua visão de mundo e seu desenvolvimento como filósofo.
Desde muito cedo Nietzsche mostrava-se estudioso e dono de um intelecto invejável, demostrava um grande interesse e paixão pelos livros e pela música; fatores que mais tarde influenciariam seu pensamento (DIAS, 1993). Em 1858, com apenas quatorze anos, é enviado para o internato de Pforta com o intuito de seguir os mesmos passos do pai Karl Ludwig: tornar-se um pastor. De acordo com Rosa Maria Dias (1993), Pforta era reconhecido por seu ensino rígido de caráter humanista, com grande peso no ensino da língua e da literatura alemã, além da tríade mais importantes das línguas: hebraico, grego e latim. O objetivo desta educação era preparar o aluno para a vida religiosa.
Nos primeiros anos Nietzsche dedicou-se rigorosamente aos estudos, acreditava que ali encontraria uma formação completa. Sua sede de conhecimento aumentava: Lê com a avidez de um erudito, estuda sem descanso. A sede de conhecimento não lhe dá sossego
(DIAS, p. 21, 1993). Todavia, essa busca incessante pelo saber começa incomodá-lo, aos poucos percebe que todo conhecimento adquirido até o momento era desligado da vida. Na realidade, possuía a ambição de uma educação que caminhasse junto com a vida, que se relacionasse com aspectos mais profundos da vida humana. Notava que a via do conhecimento era incompatível com a vida, mas acreditava que não deveriam continuar separadas.
Aos poucos, porém, passa a refletir sobre essa sua busca ávida de conhecimento: o que havia lucrado com ela? Começa então a se dar conta de que todo o saber que acumulara se achava dissociado da vida. Descontente, sonha com um tipo de educação que não se afaste da vida. Admite que a árvore do conhecimento e a árvore da vida não são a mesma, mas recusa a ideia de que devam estar separadas. Resolve então voltar-se para si mesmo, para seus gostos particulares (DIAS, 1993, p. 21).
Nota-se que, desde sempre, preocupou-se em pensar em um conhecimento que fosse além do que era proposto, carregava em si um projeto de um grande filósofo inconformado com seu próprio tempo. Cada vez mais fechava-se em seu mundo particular, apreciando a música e seus poetas preferidos. Rosa Maria Dias aponta um fato interessante que contribuiu para essa reclusão intelectual de Nietzsche. Em Pforta apresenta a dissertação denominada Carta a um amigo em que lhe recomendo a leitura de meu poeta preferido ‘sobre Hölderlin¹’. Quando Nietzsche a escreveu era um dos poucos que conhecia e estudava Hölderlin, considerado hoje um dos grandes poetas do século XIV. No meio acadêmico não era bem-visto, como mostra a anotação de seu professor sobre sua dissertação: ‘Desejaria dar ao autor o amigável conselho de se guiar por um poeta mais sadio, mais claro, mais alemão’
(JANZ apud DIAS, 1993, p. 21). Tal fato mostrou para Nietzsche que seus gostos se diferenciavam do dos professores, que estes não sabiam valorizar o que fosse diferente da cultura da universidade. Então era necessário proteger seus ideais contra a defasada intelectualidade de seu tempo.
A apressada atitude de um professor avesso à novidade e vítima de um preconceito faz com que Nietzsche adquira muito cedo a convicção de que suas preferências não eram as mesmas de seus professores, de que era preciso preservá-las contra o espírito mesquinho de seu tempo (DIAS, 1993, p. 21).
Mesmo com as discordâncias que ocorreram no internato, em 1868 Nietzsche descreve sua experiência em Pforta mostrando que desde sempre foi responsável pela própria educação, a rigidez disciplinar do ensino do internato fez refugiar-se em si mesmo. Em contradição a isso, buscou seguir seu próprio gosto, fugir desse engessamento e criar alternativas como, por exemplo, quando fundou com dois amigos a Germânia, sociedade cuja proposta era discutir questões ligadas à arte, à música e à literatura e incentivar a produção de textos, poemas e composições musicais
(DIAS, 1993, p. 21). Entretanto, apesar das críticas, reconhecia que recebeu uma boa formação, que lhe permitiu estudar as línguas grega, latina e hebraica e a literatura da Antiguidade; aprende a se conhecer e a saber para que serve uma boa escola
(DIAS, 1993, p. 23).
Eu mesmo, em grande parte, fui encarregado de minha própria educação. Meu pai [...] morreu prematuramente: faltou-me a direção firme e refletida de uma inteligência masculina. Quando, ao sair da infância, entrei no colégio de Pforta, só conhecia um sucedâneo da educação paterna: a disciplina uniforme de uma escola bem organizada. Mas essa rigidez quase militar, que, destinada a agir sobre a massa, trata o indivíduo de maneira fria e superficial, só fazia com que eu me refugiasse em mim mesmo. Contra um regulamento cego, preservei minhas aspirações e meus gostos particulares, vivi no culto secreto de algumas artes, esforcei-me em quebrar o rigor de uma rotina inflexível, entregando-me à busca exacerbada do saber universal e de suas alegrias (SCHLECHTA, VERLAG apud DIAS, 1993, p. 23).
Quando deixa Pforta já tinha em mente a possibilidade de seguir carreira na filologia, porém encontrava-se confuso sobre seu futuro. Como não queria estudar somente filologia, decide seguir o que sua família esperava dele: tornar-se pastor igual ao falecido pai. Assim, em 1864 ingressa na Universidade de Bonn para estudar teologia, mas permanece somente um ano e decide abandonar o curso, contra a vontade de sua mãe (DIAS, 1993). Mesmo indeciso, com medo de tornar-se apenas um profissional superficial, decide estudar filologia graças ao apelo de seu professor e mestre Friedrich Ritschl, que logo percebeu o extraordinário talento de Nietzsche para a filologia. Disse ele a Nietzsche: ‘Se quiser ser um homem forte, torne-se mestre de um único objetivo, insista no seu trabalho’. Nietzsche ouve o conselho e submete-se à disciplina que a filologia lhe impõe
(DIAS, 1993, p. 25).
Em 1865 Ritschl é nomeado para ser professor de filologia em Leipzig e Nietzsche decide segui-lo. É nessa cidade que ocorre um fato decisivo, que mudará o rumo da vida do futuro filósofo: descobre o livro O mundo como vontade e representação de Arthur Schopenhauer². Inspirado pelo filósofo pessimista, Nietzsche faz um trabalho sobre Teógnis³ e apresenta para Ritschl, que apenas confirma o que já sabia, a brilhante capacidade de Nietzsche: Acreditara em Nietzsche, e tinha razões para isso: nunca havia lido algo semelhante escrito por um aluno.
(DIAS, 1993, p. 25). Sua formação como filólogo ia possibilitando a descoberta de um novo caminho que seguiria nos próximos anos: se tornaria um educador. Em Leipzig obteve o conhecimento de como um verdadeiro mestre deveria se portar, sobretudo, de que tipo de mestre se tornaria. Nietzsche era um espírito singular, não gostaria de tornar-se um simples professor de filologia, que apenas transmite conteúdo aos alunos. Muito além disso, sua ambição visava transformá-lo em um mestre prático, que despertasse o senso crítico e reflexivo nos alunos, fomentando um ensino rico em vida: Pretendia, isso sim, incentivá-los a um olhar singular sobre determinada ciência, conduzi-los de modo a poderem criar uma humanidade rica e transbordante de vida
(DIAS, 1993, p.26). Sua exímia capacidade de filólogo, combinada com seu crescente interesse filosófico, formariam um grande professor e mestre, com um olhar crítico sobre o ensino de sua