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O Pombo Eo Mendigo
O Pombo Eo Mendigo
O Pombo Eo Mendigo
E-book533 páginas8 horas

O Pombo Eo Mendigo

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Sobre este e-book

Esta é uma historia com personagens pensantes independente de ser gente ou bicho, não preocupando com fatos improváveis e impossíveis, tudo é permitido nas histórias fantasiosas, não é! Pode um pombo raciocinar? Ter suas próprias ambições? Questões a discutir ou questionar! Continuando, e uma linda história a nos mostrar que cada um tem seu lugar próprio neste mundo e nesta linda e comovente fábula urbana, onde tudo e permitido dentro deste ambiente misterioso . Esta historia acontece numa grande praça, com personagens comuns dentro do cotidiano de numa grande cidade, lá existe um pombo e um mendigo, tipos comuns em toda e qualquer praça cheia de pessoas, envolta por casas, prédios e comércios com galerias e vielas intermináveis, uma verdadeira bagunça, ou organizada civilização moderna e atual. Mostraremos nossos personagens, apresentaremos a vida de cada um e suas particularidades, para melhor entender esta história de frustrações e desejos contidos.
IdiomaPortuguês
Data de lançamento4 de mai. de 2015
O Pombo Eo Mendigo

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    O Pombo Eo Mendigo - George Loez

    O pombo e o mendigo

    O POMBO EO MENDIGO

    E OUTRAS HISTÓRIAS

    George Loez

    SUMARIO

    DESCRIÇÕES.........................................................................

    PREFACIO...............................................................................

    O POMBO............................................................................ ...

    O MENDIGO........................................................................

    APRESENTAÇÃO

    OUTROS PERSONAGENS..................................................

    OUTROS PERSONAGENS (parte2).......................................

    A COBIÇA.............................................................................

    O OUTRO LADO.................................................................

    O FRIO INVERNO................................................................

    ADESCOBE RTA....................................................................

    DANDOASAS A IMAGINAÇÃO.......................................

    MUDANÇAS DE ROTINA....................................................

    E AVIDACONTINUA.............................. ............................

    O PASSADO.............................................................................

    FALANDO EM PASSADO...................................................

    O DIADE ALCEU....................................................... ...........

    O MESMO ACONTECIA.....................................................

    TRANSMIGRAÇÃO...............................................................

    O PRIMEIRO VÔO................................................................

    COISAS NOVAS... ..................................................................

    ALGO DE MUITO ESTRANHO ACONTECENDO...........

    ALGO ESTRANHO NO AR...................................................

    71CONVERSAENTRE POMBOS............................................

    SENSO DE DIREÇÃO...........................................................

    O INICIO DE UM NAMORO................................................

    OUTRO ENCANTAMENTO...................................................

    MENINOS DE RUA......................................................... ...

    ESTRANAS ATITUDES...........................................................

    O PSICANALISTA................................................................

    MENINOS DE RUA(parte2)............................ ......................

    O pombo e o mendigo

    O NATAL E PARATODOS..................................................

    ENCONTRO PERIGOSO.....................................................

    OANJO DA GUARDA........................................................

    ESTRANHAE HORRIPILANTE IGUARIA.......................

    O ATROPELAMENTO........................................................

    ESTRANHAE HORRIPILANTE IGUARIA(parte2)............

    CERTA SAUDADE...............................................................

    QUEM ESTANO MEU LUGAR...........................................

    QUEM ESTANO MEU LUGAR(parte2).............................

    OADEUS APADRE MIRO..................................................

    UM LUGAR DIFERENTE...................................................

    SANGUE EUROPEU.............................................................

    O NAMORO.........................................................................

    DETALHES DA CATEDRAL................................................

    UMANOVALINHAGEM............ ........................................

    ESQUECENDO O PASSADO................................................

    APAIXÃO ESTANO AR.....................................................

    MAIS UM ARENDIZADO....................................................

    ESQUECENDO O PASSADO.(2- parte)...............................

    AS PRIMEIRAS PALAVRAS.................................................

    A APROXIMAÇÃO...............................................................

    AAMINESIA...................................... ....................................

    O SALVAMENTO.................................................................

    APRESENTANDO A FAMILIA............................................

    COM OUTROS OLHOS......................................................

    ALCEU EO POMBO..............................................................

    AS INTERROGAÇOES DE UM POMBO

    CONTINUANDO AS INVECOES.............................

    ENFIM O ACHADO.............................................................

    MAIS ALGUMAS PERGUNTAS.. ........................................

    O CASAMENTO...................................................................

    MAIS UMAUNIAO FELIZ...................................................

    George Loez

    APRESENTANDO AO PAPAI...........................................

    ASUSPEITA DE CARLITOS..............................................

    MAIS UM DIA...................................................................

    VENDOASI MESMO........................................................

    ANOVADESCOBERTADE CARLITOS.........................

    UM PAPO COM DIEGO.....................................................

    NOTICIAS DE PADRE MIRO............................................

    ACARTA............................................................................. ...

    SARGENTO JOSE................................................................

    O HERDEIRO DE ISAC........................................................

    UM NAMORO PARA DURAR...........................................

    NUNCAE TARDE PARA MUDAR... ....... ...........................

    AVISITA DE GUSTAVO.....................................................

    PRAZER EM CONHECER...................................................

    O GRANDE MILAGRE.......................................................

    UMANOVAVISI TA..............................................................

    O REECONTRO..................................................................

    UMANOVA CHANCE...........................................................

    NO DIASEGUINTE...................... .......................................

    AESPERADA VISITA...........................................................

    OS PEREGRINOS.................................................................

    APRAGADOS PIOLHOS......................................... ............

    O GRANDE PLANO............................................................

    TERMINANDO A CONVERSA............................................

    ARAINHADOS POMBOS..................................................

    AFESTANO CEU.................. ................................................

    UMACERTA SAUDADE....................................................

    AVOLTADO REI..................................................................

    AS NOVAS AMIZADES.. ...................................................

    DE VOLTAAO BANCO........................................................

    A MUDANÇA......................................................................

    O SEGUNDO ENCONTRO..................................................

    O pombo e o mendigo

    O PERDAO..........................................................................

    O ULTIMO SOPRO DE ESPERANÇA.................................

    O SEGUNDO ENCONTRO(parte 2).......................... .........

    OS MILAGRES DA VIDA....................................................

    DONA NILZA......................................................................

    O RESULTADO.....................................................................

    AOPERAÇAO.. ...................................................................

    A DESPEDIDA......................................................................

    TODOS JUNTOS (fim das histórias dos outros personagens)

    (SEGUNDO CAPITULO)................................ ....................

    O ÚNICO A SABER...............................................................

    AS INTERROGAÇOES........................................................

    AS RESPOSTAS.....................................................................

    O ÚNICO ASABER, (parte 2)..............................................

    O PARADEIRO DO REI.........................................................

    MUITO MAIS QUE SUSPEITAS.........................................

    O ESCLARECIMENTO.......................... ...............................

    SIMILARIDADES (notas do autor)......................................

    APERDADO AMOR.............................................................

    AS FAÇANHAS DE ALCEU................................................

    AS FAÇANHAS DE ALCEU (parte 2)...................................

    MESMOATO DE CORAGEM.............................................

    GUERRADAS RAÇAS..........................................................

    O SALVAMENTO.............................................. ...................

    PENSANDO NO PASSADO..................................................

    MAIS UMA LEMBRANÇA.................................................

    UM OUTRO NOME...............................................................

    PALAVRACHAVE FAMILIA..............................................

    HERDEIROS REAIS..............................................................

    NOVOS MEMBROS NO REINO.........................................

    QUEM PROCURAACHA..................................... ................

    VITOR HUGO......................................................................

    George Loez

    EDNA.....................................................................................

    O PASSADO BUSCANDO O PRESENTE.........................

    FILHOTES CRES CIDOS......................................................

    O SEGUNDO ENCONTRO.................................................

    AMESMA PESSOA..............................................................

    PERSONALIDADES DIFERENTES.......................... ........

    CONHECENDOA CASA.....................................................

    OUTRAVISITAA MANSAO.............................................

    REVENDO ROBSON............................................................

    ALGUMAS SUSPEITAS................. ....................................

    CURIOSIDADES DE IRMA.................................................

    A REVELAÇAO.................................................................

    AREVELAÇAO(parte 2)................................................... ....

    MIL E UM PENSAMENTOS..............................................

    EXAMES CONCLUSIVOS...................................................

    O RESULTADO....................................................................

    O GRANDE ENCONTRO.....................................................

    O ENCONTRO COM DIEGO.............................................

    PARECENDO VER UM FILME DE SI MESMO.................

    TROCADE EXPERIENCIAS..............................................

    APENAS C OINCIDENCIAS.................................................

    EXPLICAÇOES....................................................................

    ESCLARECMENTOS............................................................

    UM POMBINHO DE ESTIMAÇAO.....................................

    O RETORNO..........................................................................

    JUNTOS NOVAMENTE......................................................

    LEMBRANÇAS DACASA.................................... ................

    NOVO NOME NOVA MORADA.........................................

    VISITANDO A PRAÇA..........................................................

    UMACONVERSANA VARANDA......................................

    UM GRANDE TRAUMA...................... .................................

    RECONHECIMENTO FOTOGRAFICO..............................

    O pombo e o mendigo

    NÃO SAIADA CABEÇA......................................................

    AVIDASE COMPONDO....................................................

    O ENCONTRO COM EDNA.. ...............................................

    O FILHO DE VITOR HUGO...............................................

    ASUCESSORAAO TRONO.................................................

    UMACONVERSACOM OS FILHOTES...........................

    ASUCESORADO TRONO (parte 2).....................................

    APARTIDADE RAMALHO...............................................

    O REENCONTRO DE VELHOS AMIGOS..........................

    AULTIMAGRANDE TRAGEDIA.....................................

    FIM.............. ...........................................................................

    MORALDA HISTORIA......................................................

    GLOSSARIO................................................ .........................

    George Loez

    Agradeço ao existir por me proporcionar vivenciar este momento.

    Agradeço a Deus por me auxiliar a todo o momento.

    Agradeço meu pai e a meu irmão por s e- rem as pessoas que sempre me apoiaram em minha vida. Agradeço a minha esposa que sempre

    confiou que eu seria capaz de escrever.

    Agradeço a mim mesmo por não ter d e- sistido em nenhum momento de um sonho.

    2

    O pombo e o mendigo

    Ministério da Cultura Biblioteca Nacional Registro n°627.905

    George Loez 4

    O pombo e o mendigo

    DESCRIÇÕES

    Ave: Vertebrado com o corpo coberto por penas, com membros anteriores transformados em asas cuja reprodução e realizada por oviparidade.

    Pombo: Nome comum a todos columbiformes

    Columbiformes: Ordem das aves de bicos intumescidos na sua base, de asas arredondadas e tarsos emplumados, aves semi - domesticadas, de grande convívio social, vivem em bandos, se alimentam de sementes e pequenos insetos e invertebrados, de fina plumagem, hábitat natural, florestas e cidades, se abrigam em baixo dos telhados, geralmente em casas de antiga constr u- ção onde fazem seus ninhos embaixo dos telhados.

    Humanidade: Natural do homem, que vem do gênero humano, conjunto de homens, animal racional bípede e mamífero, ocupa o primeiro lugar na escala zoológica.

    Mendigo: Aquele que pede esmola para viver, nível inferior na sociedade capitalista, pessoa que vive na indigência, total mis é- ria material e espiritual, carente, privado de bens materiais, de vestimenta precária, seu habitat natural são as marquises e em baixo de pontes e dormindo em bancos de praça, sem endereç a- mento fixo vive vagabundo errante como um nômade.

    Praça: Lugar público, geralmente cercado de arvores e jardins, em seus meio, bancos de praça chafarizes e alguns adornos e grandes monumentos.

    George Loez

    Catedral: Templo Cristão, construção de grande porte para re u- niões cristãs, Igreja episcopal de uma diocese.

    Céu: Lugar de espaço ilimitado acima da terra, de tom azul claro no dia coberto por algumas nuvens, e negro durante a noite, g e- ralmente iluminado pela lua e estrelas.

    Terra: Planeta em que existe sua parte solida onde se habita o ser humano e outras milhares formas de vida vegetais e animais, e partes liquidas como os mares e rios e lagoas, riachos e aflue n- tes, todo um conjunto do globo terrestre.

    Transmigrar: Passar de uma para outra região, passar de um co r- po para o outro (a alma) fazer mudança de domicilio, mudar- se de um lugar para outro.

    Voar: Meio de locomoção no ar, sem contato com solo, distancia que uma ave percorre no ar com movimento, sustentar-se ou mover-se no ar por meio de asas.

    Andar: Meio de locomoção no solo, caminhar, por o corpo em movimento através das pernas e pés.

    Alimento: tudo que sustenta ou nutre o ser vivo, o que fomenta.

    Ganância: ambicionar em demasia, cobiçar, desejar veemente algo.

    Inveja: Desejo violento de possuir o bem alheio e cobiça. Cobiça: Desejo.

    6

    O pombo e o mendigo

    APRESENTAÇÃO

    Umdia não sei ao certo qual foi em minha vida, mais no ano de1990, após o falecimento de meu irmão, eu com 18anos de idade me alistei como soldado na escola preparatória de cadetes do ar.

    Nas aulas teóricas sobre armamentos, me sentia entediado com o conteúdo da matéria, não dando muita importância ao conteúdo da aula, me veio uma vontade de escrever, então comecei a e s- crever uma história sobre um pombo e um mendigo, depois complementei com outras histórias de personagens ligados ind i- retamente a eles e ao habitat onde viviam, criando assim um conjunto de varias vidas interligadas por uma linha tênue quase invisível chamada destino imaginário.

    Não sei bem ao certo porque veio esta história em minha mente mais depois de muitos anos quis reaviva-la por achar que valia apena escrevê-la, em 2009.

    Resolvi nas horas vagas dar inicio a um sonho que estava de n- tro de minha cabeça, após quatro anos consegui terminá-la, ag o- ra no ano de 2012 realizo meu sonho e graças a vocês leitores espalho esta ideia para muitas pessoas, dividindo meu sonho. Na minha cidade existe uma grande praça central, quando ad o- lescente adorava ir aquela praça observar as pessoas que ali e s- tavam e também os pombos, era um bom passa tempo.

    PREFACIO

    O POMBO EO MENDIGO

    Era uma vez...

    Entre todas as manhas que já antecederam a esta, era mais uma manhã na praça central da cidade, transeuntes passando pra lá e pra cá com seus pensamentos e preocupações matinais, pe s- soas conversando a seus celulares, e telefones públicos instal a- dos ali, idosos jogando cartas para espantar o tédio de mais um dia de aposentadoria.

    Jovens em seus skates deslizando pelo centro da praça mistur a- do entre as bicicletas e patins. Mães passeando com seus carr i- nhos de bebes e crianças brincando no parque, pessoas tomando café na lanchonete da praça, outros na fila do carrinho de pip o- ca, alguns outros no carrinho de algodão doce, mais um dia normal dentro do cotidiano do lugar.

    Jovens alimentando os POMBOS que brigavam entre si pelos farelos e grãos jogados pelas pessoas que ali se encontravam. MENDIGOS descansando nos bancos da praça a esperar uma compaixão maior de algum passante que os enxergassem e lhes dessem uma esmola ou dividissem com eles algum alimento. Dentre todas estas repetidas manhas dominicais haveriam dias bem diferenciados para dois personagens desta história.

    UmPOMBO e um MENDIGO, caraterísticas e pensamentos igualavam estes dois personagens:

    Ainveja, ambição, cobiça e insatisfação pessoal.

    8

    O pombo e o mendigo

    (Personagens pensantes desta linda historia) não preocupamos com fatos impossíveis, tudo é permitido em um CONTO DE FADAS OU HISTÓRIAS FANTASIOSAS.

    Pode um pombo raciocinar?

    - Questionar?

    - Indagar?

    - Ter suas próprias ambições?

    - E porque não!

    Nunca fomos pombos para saber! Então para simplificar e não haver mal entendido nenhum, que seja todas estas qualidades do nosso personagem POMBO um instinto mágico.

    E uma linda história a nos mostrar que cada um tem seu lugar próprio neste mundo.

    Não desprezemos nosso lugar na vida, somos peças de um grande quebra cabeça, temos nossos lugares definidos, não p o- demos trocar as posições no jogo, em nosso destino.

    Quero colocar para os leitores desta linda fábula urbana que questionem seus pensamentos sobre si mesmos, procuremos ser o melhor se puder ser, sem cobiçar a vida alheia, podemos s e- guir exemplos e passos de personagens reais da vida que de

    qualquer forma se deram bem e saíram bem sucedidas nas suas realizações pessoais, não almejando vidas alheias, mas sim f a- zendo sua própria história.

    Dentre todos os personagens dedicaremos a atenção a todos, porque todos montam este cenário tão cotidiano na vida, e vem a nos ensinar que é parte desta linda existência dentro de uma grande metrópole.

    Esta historia de personagens comuns numa grande cidade d e- senvolvida em todos os sentidos das necessidades humanas em uma grande sociedade.

    Umpombo e um mendigo, tipos comuns em toda e qualquer praça de uma grande cidade cheia de pessoas, envolta de casas,

    George Loez

    prédios e comércios com galerias e vielas intermináveis, de construções emparelhadas e empilhadas como um grande lab i- rinto de dominós, uma verdadeira bagunça encaixada, ou a tal organizada civilização moderna e atual, que expande desenfre a- damente diante do crescimento populacional. Onde não prec i- samos mais nos salientar em detalhes arquitetônicos, urbanistas e geográficos deste conto fantástico. Mostraremos nossos pers o- nagens, apresentaremos a vida de cada um e suas particularid a- des individuais, para melhor entender esta história de frustrações e desejos contidos.

    E segue a história...

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    O pombo e o mendigo

    O POMBO

    Era uma manhã destas da vida, um bando de pombos sobrev o- am exuberantes sobre a praça central, uma linda praça de exte n- sões memoráveis com suas estátuas e ornamentações gigante s- cas, fontes, e seus inesquecíveis bancos de praça junto a grandes arvoredos e gramados exuberantes.

    Com seus voos sincronizados e bem ensaiados pelos seus in s- tintos naturais, pousavam mais uma vez entre humanos carid o- sos que ofertavam suculentos restos de guloseimas e grãos. Uma imensa família de famintas aves, e seus burburinhos i n- termitentes pelo êxtase e desejo de sanar a fome interminável, estavam ali todos os dias.

    Estamos falando dos pombos, da grande família de pombos que vivia nos arredores, e falando sobre pombos!

    Algumas pessoas diriam que são todos iguais, que quem viu um pombo viu todos, mais não e bem assim que acontece, basta prestar bastante atenção nos relatos a seguir.

    Dentre estes pombos existia (Alceu) um destes pombos majest o- sos e robustos que sobressaíram sobre os demais, por sua corp u- lência e vistosa plumagem e grande ousadia dentro do bando se destacava; nenhum outro jamais ousou enfrenta-lo, e se assim algum já pensou em tal ato não teve a coragem de agir perante o olhar dominante de Alceu.

    Qualquer outro pombo com certeza ao ver Alceu queria de toda forma ter nascido idêntico àquele exuberante modelo de ave. As fêmeas deste grupo desejavam de pronto ter com aquele li n- do espécime vários pombinhos, ele j teria conquistado todas as pombas daquele bando, aonde se criava entre os demais uma grande inveja e total indignação.

    George Loez

    Daquele bando, não havia uma pomba que não o seguisse, m a- chos e fêmeas o acompanhavam aonde quer que fosse. Aonde voava ou pousava como na vida de um rei, estavam todos os seus súditos a acompanha- lo.

    Este grande rei dos pombos também tinha seu palácio, sua su n- tuosa moradia e de todo seu bando que era abaixo do grande telhado da catedral. Aonde todo o final de tarde se via adentrar um gigantesco agrupamento de pombos a procurar seu descanso. Era um grande salão abaixo do telhado, onde amontoava toda aquela família de aves agitadas a procurar seu espaço, ninhos e ninhos de pombos a se aglomerar em estrondoso alvoroço. Quais famílias de outros pombos nestes cantos da cidade não almejariam morar no suntuoso palácio como aquele de Alceu, perto de toda a facilidade de sobrevivência da cidade grande, com todas as mazelas que se tem de um grande reinado.

    E Alceu estava dentre os privilegiados este era o nome do m a- jestoso pombo; era o dono supremo de todas as regalias que um pombo poderia ter a melhor casa, a melhor praça de aliment a- ções, privilégios de um rei.

    Mais neste mundo de meu DEUS, não e todo mundo que se se n- te satisfeito com as coisas que se tem ou que conquista, sempre há um desejo de ter sempre mais, não importando quanto se tem, há ganância e ambições desmedidas e incontroláveis, enlouqu e- cendo os sedentos destes desejos de posses infinitas.

    Sobre a cidade caía à noite e todos se preparam para descansar, e Alceu se ajeitava para dormir o sono dos nobres o sono dos mortais, dorme no seu majestoso palácio suspenso, acima das árvores, das estátuas dos bancos de praça, acima dos homens que apouco o alimentava e seu imenso bando de seguidores.

    12

    O pombo e o mendigo

    O MENDIGO

    Bem abaixo do suntuoso palácio de Alceu, vivia na praça o o u- tro grande personagem desta história, no banco daquela praça morava um homem que mendigava todos os dias alguns troc a- dos e alguns alimentos diários, sempre ganhados pelo magn e- tismo daquele olhar de piedade e sú plica.

    E assim conquistava todos os dias sua sobrevivência e recursos para a existência diária. Vivia ali no seu majestoso trono, dom i- nando toda aquela extensão de jardins estátuas e monumentos gigantescos, munido de seu inseparável cobertor bolorento de tão velho e sujo e seu saco de provisões feito de linhaça que continham em seu interior alguns pertences conquistados nas ruas.

    Sua fisionomia parecia a de um homem de Neandertal, tinha tantos pelos na face, além de cabelos compridos e grudados uns nos outros como se fosse um verdadeiro rastafári, a cor de sua pele não identificava a que tipo de raça pertencia, pois era c o- berta pela fuligem de asfalto de todos os dias, dando assim um tom diferenciado, já que não tinha aonde e nem como tomar banho.

    Às vezes, quer dizer quase nunca, se aventurava e mergulhava na fonte principal, mais isto era uma situação atípica pelo de s- costume ao asseio, contando as mínimas vezes que lhe dava este misto de coragem para se higienizar. Vestido de um capote longo e antigo e esfarrapado que não tirava nem nos dias de longo i n- verno nem em dias de calores absurdos como no verão.

    Assim era Carlitos como o apelidaram, de andar torto locomovia igual a Charles Chaplin capengando pela praça, com sua antiga bengala conquistada sei lá onde, e que lhe era sua fiel comp a- nheira, e era sua principal arma em defesa contra uns moleques abusados que viviam a importuná-lo, não podiam velo, meninos

    George Loez

    estes que viviam por vadiagem perdidos no próprio destino a furtar os turistas desatentos, metendo a mão nos bolsos dos o u- tros para roubar suas carteiras, ou tentando tirar proveito da fr a- gilidade e desatenção de alguma senhorinha que passava distra í- da segurando suas bolsas ao ombro ou aquelas requintadas ca r- teiras descansadas embaixo do braço.

    Mas voltemos a Carlitos que modéstia parte girava sua bengala como um mestre espadachim, com sua imensa cartola, caract e- rística que o fazia conhecido por todos, pois se via de longe quando Carlitos a colocava, e quando a tirava era apenas para virar um acessório a receber moedas e pequenas notas doadas, e acreditem Carlitos já teve a sorte de receber até moedas estra n- geiras naquela cartola.

    De dólares a libras esterlinas, acreditava que lhe trazia grande sorte, e como tinha ciúmes daquela cartola! Alias, não apenas da cartola como também de tudo que lhe pertencia. Mas todos se compadeciam de Carlitos, o senhor Geraldo era dono da banca de jornal e revistas, e era ele que toda manhã antes de abrir a banca, ia religiosamente todos os dias até o banco de praça onde Carlitos dormia para deixar algumas moedas e lanches para o mendigo se alimentar e começar o dia.

    Carlitos era boa praça, lhe agradecia sempre com um belo sorr i- so, mesmo que desfigurado pela perda de alguns dentes em lo n- gos anos de descaso e descuido bucal, a precariedade de Carlitos se via não apenas pelas vestimentas esfarrapadas mais pela ap a- rência corporal, não era magro e também nem gordo, de fala baixa e enrolada, só o entedia mesmos pessoas do dia a dia d a- quela praça que o conheciam há muito tempo, dormindo e res i- dindo naquele pedaço de mundo, dona Lia da lanchonete central, fazia também sua boa ação para aquela pobre alma, no final da tarde, quando ia acabando os salgados da prateleira do balcão, ela já ia separando alguns que sobravam para seu amigo da s

    14

    O pombo e o mendigo

    ruas, pois sentia muito se faltasse algum dia com o amigo, como aconteceu uma vez foi para casa de coração partido e prometeu nunca mais faltar alimentação para seu amigo.

    Mais Carlitos, bem este não era seu nome verdadeiro, e acredito que nem mesmo ele sabia como se chamava de verdade, com certeza foi esquecido em alguma parte não muito certa de seu passado e que era totalmente ignorado por todos que viviam ao seu redor.

    Nem seu Zé sabia militar aposentado que corria em torno da praça todas as tardes, sempre parava no seu percurso para pros e- ar um pouco com aquele amigo de trajes estranhos e fala quase inteligível, seu Zé o entendia bastante naquele vocábulo estr a- nho, sua parada com Carlitos era diária e de certa forma dur a- doura, pois esquecia minutos sentados perto de Carlitos na troca de ideias que só eles entendiam.

    George Loez

    APRESENTAÇÃO

    OUTROS PERSONAGENS

    Dona Lia como sempre era chamada também era uma das frequentadoras mais antigas daquela praça, tinha seu ponto c o- mercial muitos anos antes mesmo de Carlitos pensar em se ho s- pedar e se sentir soberano, o rei do pedaço, se sentia assim sob e- rano apenas quando ousavam sentar ou invadir seu espaço de aconchego, desde que chegou ali se intitulou dono do banco da praça, implicava mais com quem ele notasse que queria como ele escolher aquele canto para sobreviver.

    Na mesma praça havia uma mulher interessante muito magrinha e de trajes exóticos, vestia um estilo de trajes ciganos, vivia no outro estremo da praça, mulher de traços perfeitos mais marca n- tes, de toda uma vida de sofrimentos, morava Lídia como era chamada, apresentava a frente da face uma imensa franja a ta m- par lhe metade do rosto como um charme inigualável, sobrevivia de pequenas bijuterias que fabricava com sementes arames e fios de cobre comprados em algum ferro velho da região, aprendiz a- dos de andanças por este mundo de meu Deus.

    Acompanhada de seus amigos hippies, sem parada certa vivia a vida acreditando na paz e amor numa vida de liberdade, isentos de qualquer compromisso que lhes fizessem perder a longa jo r- nada pra qualquer lugar. Numa destas viagens conheceu Osmar um rapaz branquelo alto que vivia com a cabeça nas nuvens, pensando em filosofias de não violência em uma sociedade a l- ternativa, que com toda sutileza de um belo e extravagante r a- paz, conquistou Lídia e lhe deu uma herança que carregaria para o resto da vida, Era um filho que carregara sozinha até os te m- pos de agora.

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    O pombo e o mendigo

    Pulguinha como era apelidado por sua mãe, acompanhava por todos os cantos, uma criança loira com traços europeus, com certeza herdada de algum ancestral distante por parte de seu pai, com aqueles cabelos loiros e muito lisos.

    Lídia morava em baixo de um monumento suspenso na extrem i- dade da praça, um espaço minúsculo mais muito organizado, residência singela mais cheia de amor, tinha que lutar com todo otimismo do mundo, para vencer os obstáculos cotidianos.

    E aparecia por ali na praça toda a quarta outra bela criatura que parecia mais um anjo caído do céu, digo assim por causa de seu lindo cabelo loiro cumprido até abaixo do ombro, era de um rosto muito meigo e traços delicados, de um corpo esbelto que fazia qualquer marmanjo admira-la de cima a baixo, mas mesmo com este corpo de mulher era apenas uma menina que gostava de sentar a praça a esperar seu ônibus para poder chegar ao seu cursinho de inglês, e que trazia sempre consigo uma pequena sacola carregada de grãos de milho, para dar para seus amigu i- nhos que conquistara, eram os inúmeros pombos que viviam

    naquele local, com a constância de alimenta-los sempre aquele horário do dia, os pombos alvoraçados já sabiam o horário exato que Renata chegava naquela praça.

    Naquele mesmo horário chegavam outras pessoas a praça para descansar ou conversar, distrair se divertir ou apenas pensar na vida, Jorge menino esperto moreno de olhos arregalados que vivia a andar de skate naquela região, fizera amizade com Ren a- ta logo de cara, encantado, sempre se aproximava a vendo al i- mentar aquelas pequenas aves, ele se aproximava tanto da garota que um belo dia ela mesma lhe ofereceu a sacola de milhos para que ele a ajudasse a alimentar aquelas pequenas criaturas.

    Ele não hesitou o convite aceitando de pronto e pegando um punhado de milho da sacola para jogar para os pombos, no c o- meço fazia isto para ficar perto de Renata, depois achou intere s-

    George Loez

    sante esta atitude de ajudar a alimentar os pombos e trazia junto consigo sua própria sacola cheinha dos grãos.

    E agora com um grande compromisso de todas as quartas iria ele com seu skate encontrar com a linda amiga para passar a l- guns instantes de sua vida a alimentar à família de Alceu.

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    O pombo e o mendigo

    .

    OUTROS PERSONAGENS (parte 2)

    Não poderia deixar de falar sobre Izac policial de trânsito que

    trabalhava numa rua lateral a praça, rua de grande moviment a- ção de veículos indo e vindo freneticamente, ajudava em sua profissão atravessar pedestres ansiosos que precisam daquela passagem para irem atrás de seus compromissos habituais do dia a dia, passam apressados, e aquele policial de postura séria e olhos observadores que faziam parar aquela multidão de carros e pessoas, faz sempre os sinais para que pessoas e carros passem no momento certo, sobre uma autoridade maior, a de (guarda de transito) não havia um que o enfrentasse ou desrespeitasse n a- quela faixa de rua. Ali era Izac que comandava!

    Uma destas pessoas que admirava e respeitava Izac ,era dona Maris, senhora que todas as tardes passava naquela faixa de p e- destres, esperando a sua proteção ao atravessar para o outro lado da praça para assistir a missa de todos os dias, a missa celebr a- da por padre Miro.

    Padre Miro e uma das pessoas mais respeitadas daquela praça, ele também tinha um carinho enorme por aquela praça e seus frequentadores, ele sentia como se a praça fosse o jardim da Catedral, com suas árvores e flores, gente e seus monumentos. Era curioso como as pessoas cumprimentavam padre Miro, com um respeito de um verdadeiro santo, até nosso querido Carlitos o saudava com um beijo nas mãos, que era aceito com muito carinho pelo padre, quantas e quantas vezes não arrastava o Ca r- litos para a igreja para assistir a palavra de Deus.

    Mas logo depois decidiu não impor mais tal convite porque Carlitos descobrira sem querer uma mina de ouro, começaram

    os fiéis daquela igreja a encher Carlitos de moedas, eles se api e- davam do pobre mendigo.

    George Loez

    Um fiel uma vez ao ver Carlitos, depositou varias moedas em sua cartola, vendo isto outros mais o fizeram, Carlitos não e n- tendera aquilo mais achou uma oportunidade incrível de ganhar com fartura suas esmolas de cada dia.

    Carlitos começou a ser inconveniente, atrapalhando todo o a n- damento do culto religioso, então padre Miro teve que convidar Carlitos a sair da igreja e não voltar tão sequencialmente como andava fazendo, no começo foi difícil tirar Carlitos da igreja, mais aos poucos ele foi aceitando a imposição do padre e voltou sua atenção apenas para o banco da praça.

    Mas não deixou padre Miro de ajudar Carlitos, sempre oferecia a ele roupas novas doadas pelos fies, que Carlitos aceitava e depois rejeitava deixando as novas roupas em algum lugar da praça. Padre Miro também lhe chamava para tomar as sopas que sempre eram distribuídas ao lado da sacristia por um grupo de missionários que ali frequentavam.

    Carlitos não se fazia de rogado ia todas as vezes que o convid a- vam, era esperto quando a fome batia, não deixava uma oport u- nidade passar. Só não aceitava mesmo eram as roupas novas que lhe doavam, não desfazia daquela que já era parte integrante do seu corpo; o casaco tipo blazer e calça esfarrapada que usava há tempos e tempos, tinha para com elas um amor sem igual, me s- mo que sujas e surradas pelo próprio tempo, Carlitos não larg a- ria daquele vestuário jamais e nem de sua antiga bengala. Mas vamos concordar mendigo que se prese não muda de roupa a s- sim de uma hora para outra, se não, não seria o Carlitos.

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    O pombo e o mendigo

    A COBIÇA

    Amanhece o dia, as pessoas começam a dar formação ao que será um gigantesco formigueiro de gente, desorientadas e sem direção definida! E esta era a visão de Alceu, que de cima do adro da catedral, via impressionado o movimentar daqueles s e- res gigantes que conviviam com sua espécie, dividindo território (os humanos).

    Todos os outros pombos estavam acordados, esticando suas asas em um espreguiçar matinal, começava um burburinho do novo dia, apreensivas para descer a praça e saborear deliciosos grãos de milho e migalhas de tudo quanto era coisa.

    Valença era a pomba mais próxima de Alceu uma espécie de primeira namorada, sempre estava sendo cortejada por ele, com esta aproximação todos respeitavam a pomba como se fosse mesmo uma rainha, quando iam descer para o café matinal, A l- ceu lançava um olhar para ela, como chamando para acomp a- nha-lo, e desciam não apenas os dois, mais todos os outros pombos seguiam o rei.

    Os seres humanos que estavam na praça olhavam para aquela família de pombos admirados, pois era um esbarrar de corpos e atropelos para ver quem comeria mais migalhas e mais milhos. O corpulento Alceu estufava seu peito e abria suas asas empu r- rando quem quer que fosse impedindo que se aproximassem de seus deliciosos grãos, mais o alvoroço era enorme, uma vez ou outra o café da manhã era invadido por alguma criança que se lançava no meio dos pombos para tentar pega-los ou querendo brincar com eles, tinham que voar rapidamente e mais rapid a- mente ainda voltar aos grãos, isto dava uma canseira em nosso rei, ele simplesmente tinha pavor daquelas pequenas espécies de humanos que não lhe davam sossego.

    George Loez

    Depois de se fartarem iam para as copas das árvores descans a- rem seus corpos cansados, ou dar um acerto a plumagem, Alceu também era um destes pombos preocupados com sua plumagem, sempre estava a cuidar de sua aparência, neste dia ele estava cheio de galanteios para Valença, estufando o peito e girando em torno da bela pomba que não se aguentava dentro de si mesma. Neste dia aconteceu algo diferente com Alceu, aquele pombo nunca tinha ficado daquele jeito parado, aconteceu assim do nada, como se tivesse visto um fantasma, Alceu congelou! Valença ainda tentou mexer com ele mais em vão. Indagara a bela pomba:

    Porque tão distante meu lorde?

    Não e nada meu amor! Responde ele mais distante ainda.

    Como não! Estou horas a conversar, sem que tenha uma resposta sequer!

    Já disse que não e nada, tire estas ideias malucas da cabeça!

    Ela não discutiu, saiu dali e se despediu sem que ele percebesse, ela tinha se afastado, e continuou a olhar impressionada para aquele ser que tanto lhe chamara à atenção a vida inteira.

    E que o pombo nunca tinha reparado direito num certo ser h u- mano, naquele ser humano no banco da praça. Ele observava no momento exato que seu Geraldo entregava as bolachas do café da manhã para Carlitos. Umpacote inteirinho de bolachas i m- pressionou Alceu! Que estava acostumado com migalhas e p e- quenos grãos que eram oferecidos pelos homens, mais nada d a- quele tamanho, também convenhamos como poderia engolir uma bolacha inteira daquelas um pombo do tamanho de Alceu, teria que ter ao menos o triplo do seu tamanho original, ai sim poderia comer dezenas daquelas bolachas, um pacote inteirinho delas para saciar a sua gula de pombo.

    Derrepentemente fora despertado por um revoar ao seu lado, era o bando a se lançar para o chão em busca de um monte de

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    O pombo e o mendigo

    milhos ofertados por um ser humano caridoso; agora era Renata que tinha chegado à praça para cumprir com sua obrigação do dia. Presentear aos que ela tratava com carinho e grande obrig a- ção de amiga. Alceu a havia reconhecido e mergulhara de pronto atrás do bando que se espalhava em meio ao monte de milho jogados ao chão, lá estava ele a saborear aqueles grãos, e neste momento tinha esquecido o acontecido que tanto o tinha intr i- gado, a imagem de Carlitos ganhando seu café da manhã das mãos de Geraldo.

    George Loez

    O OUTRO LADO

    Carlitos terminava de tomar o café da manhã com um ultimo resquício de higiene que lhe sobrava, foi à fonte e lavou suas mãos de qualquer modo, as secou na própria calça e foi em dir e- ção à lanchonete de dona Lia para filar alguns pedaços de salg a- dos que os clientes apressados deixavam cair por ali mesmo, não que fosse igual a um cachorro que pegasse tudo no chão sem noção de higiene nenhuma, mas era maior a sua fome que qua l- quer ideia de higienização, pegava mesmo, já que não tinha d i- nheiro para este tipo de luxo de conseguir comprar um salgado na lanchonete.

    Saía logo depois com um ar de ir a algum lugar importante e retornava ao seu trono, abria sua velha cartola no chão e prep a- rava aquela cara de suplica que só ele sabia fazer, e assim com e- çavam a aparecer às primeiras moedas das mãos dos transeuntes mais caridosos.

    Carlitos este dia estava mais quieto como se esperasse por algo, paralisou seu olhar acima de um monumento e ficou a observar um casal de pombos namorando, acredito que naquele momento ficou a pensar porque não tinha uma companheira para que ele pudesse flertar, depois assistiu de camarote os pombos descerem um a um ao encontro dos milhos espalhados no chão, admirou aquelas pequenas aves como nunca tivera feito na vida, ficou a ver como elas repetidamente abaixavam seus bicos no chão em movimentos repetitivos que pareciam não ter fim.

    E observava que enquanto elas comiam mais milhos eram jog a- dos e enquanto mais eram jogadas mais pombas chegavam su r- gindo de todos os cantos daquela praça, de tons variados em preto e branco ou inteiramente branco como se fosse um maço de alvo algodão.

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    O pombo e o mendigo

    Acho que em todo este tempo Carlitos não tinha ainda reparado tanto naquelas aves que dividiam com ele aquele lindo e imenso espaço de sobrevivência, e naquela mesma tarde começou a r e- parar a bela moça que chegava com um pequeno saco cheio de milho para novamente joga-los para os pombos, viu também um menino chegar perto da bela jovem e após cumprimenta-la c o- meçar também a ter o mesmo ato de jogar milho para os pequ e- nos pombos, como se tivessem hora marcada, estavam sobrev o- ando o local para se aglomerarem em torno do casal.

    Mas Carlitos tinha mais o que fazer, ele fora para o banco ver se conquistava mais alguns centavos para comprar um habitual pão com manteiga e cafezinho, que era umas das principais refeições de Carlitos, esta era a única coisa que conseguia comprar com as moedas depositadas na cartola, cochilava nosso amigo que aco r- dava ao som das moedas caindo umas em cima das outras, abria seus olhos e agradecia sempre com um sorriso no rosto ou um muito obrigado balbuciado em uma língua inteligível, Carlitos era um prato cheio para qualquer fonoaudióloga de plantão. Nestes momentos de cochilo, e que alguns moleques de rua esperavam para aprontar com o nosso amigo, ainda mais Gust a- vo menino franzino e comprido que gastava seu tempo juntando elos de latas de cerveja e guaraná para jogar para Carlitos, este quando abria os olhos no momento a agradecer a esmola perc e- bia que na verdade eram os garotos que passavam na correria por ali e lançava os anelos das latas, Carlitos levantava e disp a- rava a correr aos berros atrás dos pestinhas que o importunavam, mas que pela idade e agilidade de moleques que eram, sum iam entre as pessoas e jardins impossível que ele os alcançasse, nu n- ca os alcançou realmente. E como sempre voltava Carlitos com a cara amarrada para o banco da praça a esperar mais um ato de solidariedade, algum passante que o enxerga-se e compadecesse de le.

    George Loez

    ABRE SE ACORTINA EO QUE POR TRÁS SE NÃO UMAJANELAE AVISÃO E DE UM GRANDE MUNDO LÁ FORA.

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    O pombo e o mendigo

    O FRIO INVERNO

    Nunca tinha feito uma noite fria como aquela, convenhamos que passar uma noite em um banco de praça não e para qualquer um, teve noites de se congelar o orvalho da madrugada nas f o- lhas dos arvoredos de todos daqueles jardins.

    Como podia Carlitos suportar o frio da madrugada, se e tão d i- fícil dormir em um quarto com todo o requinte de um colchão macio, cobertores e edredons em noites frias de inverno rigor o- so, mais isto não e a realidade da maioria das pessoas. Algumas vezes, pelo menos em um dia da semana apareciam por lá caridosas almas para acudir Carlitos, sempre relacionadas a algum grupo religioso qualquer, distribuíam sopas para os d e- sabrigados, não tinha uma única vez que nosso amigo rejeitasse uma sopa ofertada.

    Por mais que fosse quente e acolhedora toda aquela maravilh o- sa sopa, não durava a noite toda aquela sensação de calor que ela proporcionava, pois eram longas horas para quem vivia ao rele n- to, até os pequenos pássaros se aninhavam uns aos outros para encarar o frio.

    Carlitos não tinha com quem se aninhar a não ser com o seu velho cobertor, companheiro de longas datas, não sei como co n- seguia dormir, parecia uma lagarta no casulo antes da mutação, assim ficava nosso sobrevivente das noites de inverno. Quieto e paralisado como uma estátua esculpida, e acreditem dormia c o- mo um anjo (tranquilo) parecia não sentir muito o imenso frio que invadia a praça e toda aquela noite.

    George Loez

    Até no palácio de Alceu se sentia o frio aterrorizante da madr u- gada, e olha que Alceu e todos os outros pombos do bando se amontoavam uns sobre os outros virando um só, com toda de s- treza que a natureza lhes dera, enfiavam o pescoço por debaixo de suas asas, abaixavam seus corpos emplumados escondendo seus finos e frágeis pés do inverno congelante, eram longas as madrugadas frias.

    Alceu era um que ficava no meio daquela aglomeração de po m- bos, tinha esta regalia de ficar rodeado daqueles pequenos co r- pos aquecidos. Ficavam estáticas imóveis umas coladas nas o u- tras como centenas de pinos de boliche a esperar a noite passar, a esperar o nascer de um sol tímido de inverno que os conforta s- sem aquecendo um pouco seus corpos frágeis.

    Carlitos acordava bem cedo em meio a garoa baixa e nebulosa, não conseguia enxergar a um palmo de distancia no meio daqu e- la nuvem branca que custava a se dissipar, mas o sol tímido l u- tava mais uma vez para deixar tudo como antes, claro e transp a- rente.

    Alceu acordava mais cedo ainda, como todo pombo que se preze preparava para o voo matinal, antes porem existia toda aquela preparação de coçar e ajeitar a plumagem, esticar as asas, obse r- var o território e o céu a ser explorado para o bale sincronizado, o grande revoar dos pombos.

    Voar como a mais treinada esquadrilha da fumaça, audácias de fazer inveja ao mais renomado piloto da força aérea. Como se orientavam aquelas aves em movimentos mais que perfeitos sem ao menos encostar uma nas outras respeitando o limite de esp a- ço e tempo, dentre cada movimento desenvolvido e bem estud a- do, era muito bem calculado os milímetros de distancia por aquele agrupamento de verdadeiras maquinas voadoras. Embaixo na praça, apareciam os primeiros trabalhadores, com e- çavam a agitar os homens da cidade grande, nada de sincroni s-

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    O pombo e o mendigo

    mo, apenas pessoas seguindo seus destinos envoltos em seus casacos, blusas e cachecóis de lã, para vencer uma fria manhã antes de chegar ao trabalho.

    A DESCOBERTA

    Naquele dia fatídico de tanto frio que fazia parecia que mais que estavam todos entediados de suas vidas, Carlitos mais co n- gelado do que nunca, ficava a olhar para o infinito pensando Deus sabe em que! Até que novamente começou a admirar aqu e- la algazarra de pombos, e Alceu como de costume não se dest a- cava apenas no mundo dos pombos começou a se destacar aos olhares humanos pela sua robustez e plumagem, sempre havia alguém a observar aquela majestosa ave, agora quem olhava o pombo era Carlitos invejando o, querendo estar no lugar daquela ave que cortejava e vivia sendo sempre cortejado, e começou a pensar que poderia ser aquela pomba em especial estar naquele lugar privilegiado, sim sentia a necessidade de uma m udança depois de muito tempo vivendo daquele jeito. Carlitos sentia que tinha que mudar algo na sua monótona repetitiva vida de todos os dias, mais não era uma ilusão de um grande emprego em uma multinacional que ele queria, ou de morar numa bela mansão.

    Não! Carlitos queria simplesmente ser uma daquelas aves a voar livremente por todos os lugares, não e que não se sentisse livre naquela vida de andarilho, mas queria alcançar distancias mai o- res, estar rodeado de outros pombos sobrevoando cidades e campos.

    Foram de súbito interrompidos seus pensamentos! Por um t o- que em seu ombro, olhou assustado para o lado, para ver quem o importunava e era uma daquelas almas bondosas a lhe oferecer um belo sanduíche, mesmo tendo se assustado foi pegando o

    George Loez

    suculento alimento, e começou a abocanha-lo com uma esgan a- ção de quem não comera há dias.

    Neste mesmo instante havia outro ser a observar Carlitos, era Alceu que entre uma bicada e outra a catar os petiscos jogados ao chão, enxergou algo maior do que aquelas pequeninas mig a- lhas, viu o suculento sanduíche de Carlitos, e se impressionou. Como era gigantesco aquele sanduíche aos olhos do pombo, na verdade era proporcionalmente quase do seu tamanho, como desejou ser maior que seu tamanho atual para devorar de uma só vez aquela gigantesca iguaria, e começou a notar não apenas a alimentação de Carlitos, mas também o próprio Carlitos, e cob i- çou de todo seu intimo ser aquele ser imenso sentado naquele banco de praça. Invejou toda aquela estranha plumagem hum a- na, achou que com certeza seria muito aconchegante a vida, lhe pareceria muito mais fácil viver.

    Poderia Alceu andar por todos os cantos daquela cidade sem temer ninguém, não seria mais aquele pequeno ser com medo de tudo e de todos a viver nos ares para se sentir protegido, ag ora era ele a contemplar e cobiçar a vida alheia.

    Agora sim era de fato que estes nossos queridos amigos se de s- cobriram, invejaram e cobiçaram ao estremo a vida um do outro, duas formas de vida totalmente diferentes e totalmente iguais em suas insatisfações pessoais, a vida continuava da mesma forma para eles, cada um seguia seu rumo na história. Alceu alçou voo junto com os outros do bando

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