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O livro da Lua: Magia lunar para mudar a sua vida
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O livro da Lua: Magia lunar para mudar a sua vida
E-book561 páginas8 horas

O livro da Lua: Magia lunar para mudar a sua vida

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Sobre este e-book

Uma jornada de autodescoberta em companhia celestial.
Um guia para viver de acordo com a Lua e suas fases, incorporando feitiços e rituais de bem-estar para uma maior consciência e plenitude.
Todos nós conhecemos a Lua. Todos temos uma relação com ela. Todos somos afetados por suas fases. Os povos antigos faziam rituais em sua homenagem, seguiam sua órbita e organizavam o tempo, os feriados, as celebrações e as colheitas de acordo com ela. Mesmo que tenhamos nos distanciado dessa conexão poderosa, os ecos desse sistema ancestral permanecem.
Dependendo do momento em que nos encontramos na vida, do que sentimos ou do que está acontecendo ao redor, a Lua pode iluminar caminhos com diversos rituais e hábitos facilmente incorporados ao nosso cotidiano. O livro da Lua é um guia abrangente para uma vida lunar, que inclui ferramentas e recursos e proporciona a estrutura necessária para utilizar o ciclo lunar e estabelecer um relacionamento com nós mesmos.
Seja você iniciante ou já experiente na prática de magia, Sarah Faith Gottesdiener dá o caminho das pedras para conhecer profundamente nossos ciclos, nossa energia pessoal e nossa essência emocional, resgatando a Lua como um guia vital no caminho de autodescoberta humano.
Para quem busca se sintonizar com os ciclos do corpo, da Terra e dos astros, O livro da Lua traz conhecimento ancestral da energia lunar em rituais energizantes, feitiços de manifestação e tudo que a bruxa moderna precisa saber para ter uma vida mais abundante, completa e fértil.
IdiomaPortuguês
Data de lançamento24 de jun. de 2022
ISBN9786555951240
O livro da Lua: Magia lunar para mudar a sua vida

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    O livro da Lua - Sarah Faith Gottesdiener

    Por que a Lua?

    Imagem: uma lua com um rosto, um terceiro olho na testa e círculos escuros nas bochechas.

    Porque ela é a âncora celestial do mundo. Sua gravidade estabiliza a Terra em seu eixo. Porque ela é ao mesmo tempo previsível e indomável. Tem um ritmo só dela que espelha as estações, e por que encontramos nosso próprio ritmo quando a temos como guia. Porque a sentimos dentro de nós, persuadindo-nos a nos conectar, forçando-nos a recordar. Os primeiros povos obedeciam a sua órbita, e essa linhagem continua dentro de nós. Ela espelha nossos ritmos e ciclos, nossa energia, nossas emoções. Essas observações nos lembram de nossa humanidade e de nossa própria natureza.

    Porque ela representa nosso interior: o oculto, a receptividade, as habilidades físicas. O poder da nossa água. A vitalidade de nosso amor. Todas as nossas complexidades, que não podem ser embaladas e vendidas. Porque La Luna ilumina a noite, ilumina a escuridão do subconsciente, o lugar em que vive a mente profunda. Na astrologia, na psicologia e em algumas tradições mágicas, a Lua representa o subconsciente. O subconsciente é uma fonte de anseios e medos, é onde as histórias e as motivações por trás de nosso comportamento consciente se revelam. Quando decidimos programar nosso subconsciente, nossas crenças mudam. Quando nossas crenças mudam, nosso comportamento muda. Quando nosso comportamento muda, nossa vida muda.

    O trabalho lunar nos ajuda a acessar nossos padrões mais profundos, a refletir a respeito deles e a nos libertar deles. É uma ferramenta que nos ajuda a descobrir nossas verdades e necessidades específicas. Que nos ajuda a entrar em contato e desencadear a sabedoria única que possuímos.

    No passado, o planeta vivia de acordo com a Lua. Nossos calendários eram lunares. Plantávamos de acordo com a Lua, tomávamos decisões em harmonia com as estações e as constelações. Com o tempo, por causa das guerras, da violência e da colonização, a vida sol/sombra — produtiva, binária, externamente focada, competitiva — se tornou dominante. A industrialização afastou muitos humanos da natureza. A vida lunar se enfraqueceu. Em vez de valorizar a nossa intuição, o desconhecido, os ciclos e os mistérios, passamos a considerar tudo isso assustador e, portanto, inexistente. Não se podia controlar o que não se podia explicar, e o que não se podia controlar era demonizado, explorado, removido, trancafiado, morto. Indígenas. Negros. Pessoas queer. Pessoas trans. O feminino. A mulher selvagem. A bruxa.

    Mas ela está de volta. Aquela maldita, aquela bruxa, está de volta. É o tempo das bruxas de novo, e a Lua sempre foi nosso emblema: desde a coroa de Hator, desde os poemas de Safo, desde os primeiros templos de pedra que construímos para venerar a feitiçaria de Hécate. A bruxa na vassoura, voando diante da Lua cheia. O caldeirão na clareira, as sombras da noite dançando, as poções para a cura. Porque a Lua está aqui para nos lembrar de que o sagrado sempre retorna. (Porque nunca se vai de fato.)

    Porque estamos aqui para desmantelar o patriarcado supremacista branco — e precisamos fazer isso juntos. Com nossa mentalidade, nossas conversas, nossas ações e nossas colaborações, uma nova onda de um poder suave, de transformação e magia, vem à tona. Para todas as pessoas que conhecem e desejam um caminho diferente, calcado na compaixão, para todas as pessoas que já se sentiram excluídas, punidas, policiadas, para aquelas que já foram maltratadas ou marginalizadas simplesmente por serem quem são.

    A Lua é uma carta de amor à nossa liberdade. É um lembrete da nossa resiliência diante da subjugação. É uma promessa de reconhecimento do poder inerente da coletividade feminina. De nosso poder suave: um poder coletivo, um poder interno, não um poder sobre alguém. Desenvolver e definir nossa própria magia é uma arte feminista. Acessar nosso poder pessoal e canalizá-lo para o bem de todos é uma arte feminista. Ajudar outros a lidar com seus próprios dons, apoiar-se mutuamente, refletir a beleza alheia é uma arte feminista. A Lua reflete e transforma a luz solar. Nós refletimos uns aos outros e contemplamos nossa transformação coletiva.

    Desde os primórdios, artistas tentaram traduzir sua luz particular em uma linguagem compreensível. De alguma forma, a Lua ainda nos chama à página em branco, ao instrumento, ao cavalete. Ela inspira, talvez porque seu ciclo funcione como um projeto para o processo criativo. Há sonhos, visões, inspiração; estamos na fase da Lua nova. Uma faísca se transforma em chama; arregaçamos as mangas, tiramos material do nada; ganhamos impulso, produzimos; abraçamos a energia da Lua crescente. Com a prática e esforços contínuos vêm o auge e a materialização. Celebramos, compartilhamos, reluzimos com força. Outros testemunham nosso brilho. Estamos sob os efeitos da Lua cheia.

    Porque a magia é real. A magia da Lua é poderosa. Quando seguimos seus ciclos, isso ajuda nossos objetivos e sonhos. Nosso poder é canalizado de forma efetiva quando espelhamos os processos da natureza. Ciclos de repouso e ciclos de colheita levam a momentos de materialização, que se transformam em tempo de limpeza e reflexão. Quando experimentamos nossas próprias definições de sucesso e respeitamos nosso fluxo, ficamos agradavelmente surpresos com os resultados.

    Porque o tempo não é linear, tampouco nossas vidas. Seguir a luz da Lua vai contra o conceito binário de isso ou aquilo. Vai além da dualidade. Encapsula a espiral, reconhece a morte que precede o renascimento. Quando estamos conectados a esse processo natural e somos capazes de navegar por nossos próprios processos corretamente, conseguimos enfrentar as mudanças com maestria.

    O trabalho lunar resulta na exploração de diferentes paradigmas, opções infinitamente produtivas e maior integração e compreensão dos níveis e das camadas dos estados de consciência. Este livro ensinará como utilizar todo o ciclo lunar holisticamente. Você será convidado a explorar as principais fases da Lua e receberá sugestões de como trabalhar com cada uma. Também apresentaremos maneiras de se relacionar com seus próprios ciclos — seja o energético, pessoal ou emocional — através das fases da Lua. Incentivo todos a trabalharem nisso por um tempo, sozinhos, sem muita contribuição ou influência externa. Deem tempo e espaço a si mesmos para entrar em sintonia com seus padrões de fluxo e energia. Criem um relacionamento pessoal com a Lua.

    Este livro foi escrito a partir da minha perspectiva, que é feminista e queer. Sou incapaz de separar minhas crenças políticas das espirituais. O que compartilho aqui vem de minhas experiências ao longo de vinte anos como praticante de magia, professora, aluna, clarividente, leitora de tarô e artista. Minha perspectiva reflete minha formação como mulher cis branca, e todos os privilégios conscientes e inconscientes que essa identidade envolve. Não escrevo pensando que os leitores vão concordar com cada ideia ou frase apresentadas. Parte do trabalho mais importante que podemos realizar é pensar criticamente e explorar o que faz sentido e funciona para nós. Aproveite o que gostar e deixe o resto de lado.

    Este livro foi escrito na esperança de ajudar as pessoas a se lembrarem exatamente de quem são e do que querem, e de mostrar como chegar lá. Minha intenção é fornecer uma variedade de ferramentas para auxiliar você a percorrer com confiança seu precioso caminho. Você tem um poder incrível. Você tem muito valor. Pretendo lhe oferecer um guia lunar para demonstrar o quanto já estamos conectados a nossos ciclos, dons, intuição, ao mundo mágico e à rede do cosmos.

    Imagem: estrelasImagem: as fases da lua alinhadas de crescente a minguanteImagem: uma página repleta de estrelas

    O que é a Lua?

    Imagem: uma lanterna com uma vela acesa dentro.

    A LUA É UM SATÉLITE

    Por milênios, as pessoas olharam para o céu noturno e se fizeram a mesma pergunta. O que é a Lua? As respostas variavam. Às vezes, eram literais; outras, metafóricas e, muitas vezes, espirituais. Com frequência, levavam a mais perguntas.

    A Lua é o único satélite natural da Terra. Johannes Kepler cunhou o termo satélite no começo do século XVII a partir da palavra latina satelles, que significa companheiro ou guarda. Com pelo menos 4,5 bilhões de anos, a Lua tem mais ou menos a mesma idade da Terra. As teorias gerais de como ela foi criada envolvem impactos, embora cientistas ainda estejam tentando compreender a gênese exata de nossa companheira cósmica. A teoria do grande impacto supõe que a Lua foi formada quando um objeto se chocou com a terra. Com o tempo, a matéria que se desprendeu tornou-se o que hoje chamamos de Lua.[1]

    A Lua é o corpo celestial mais próximo de nós. É sempre o mesmo lado dela que encara a Terra. Isso talvez explique o porquê de nos parecer tão familiar, já que sua face constante foi se gravando lentamente em nossa mente. A Lua dá uma volta ao redor da Terra em aproximadamente 27,3 dias, o que chamamos de mês sideral. Como a Terra se move em torno do Sol, acaba levando mais tempo para a Lua completar uma fase e se realinhar a ele, de uma Lua nova até outra. Chamamos isso de mês sinódico, que para nós na Terra parece durar 29,5 dias, aproximadamente a duração do mês do calendário. A órbita elíptica da Lua é percorrida no sentido anti-horário. Às vezes, ela está bastante próxima de nós, outras vezes está mais distante. É por isso que temos superluas e microluas. Um mês, a Lua cheia parece enorme. No outro, parece tão distante quanto um amor que foi embora.

    A Lua é feita de uma variedade de elementos, alguns que têm em comum com nosso planeta. Rochas ígneas, feldspato e ferro podem ser encontrados em sua superfície e em seu interior. Olivina, um mineral presente na Lua, também pode ser encontrado tanto na cauda de cometas quanto no manto superior da Terra.

    A Lua não tem atmosfera. A não ser por lunamotos intermitentes, trata-se de um lugar tranquilo e calmo. As pegadas deixadas por astronautas mais de cinquenta anos atrás permanecerão ali para sempre. A Lua é sensível, igual a você.

    Humanos projetaram diferentes imagens na superfície do satélite, que se transformaram em histórias, mitos e divindades. Seus inúmeros picos e vales dão a aparência de um rosto nebuloso, com um sorriso de Mona Lisa. Alguns interpretaram tais marcas como um coelho, um búfalo, um sapo ou um homem. Elas foram criadas por asteroides e meteoroides que atingiram a poeirenta superfície lunar ao longo de bilhões de anos. Os fenômenos geográficos lunares têm nomenclatura própria, criada por Giovanni Battista Riccioli em 1651.[2] As bacias e planícies da superfície lunar de aparência mais escura são os maria, palavra latina para mares cujo singular é mare. (Os primeiros observadores da Lua acreditavam que essas planícies mais baixas eram de fato mares, mas, até onde sabemos, não há água na superfície da Lua.) Seus nomes são sedutores e evocativos: mar das Serpentes, ou Mare Anguis, mar do Engenho, ou Mare Ingenii, mar Marginal, mar da Serenidade, mar das Crises.

    Os lacus, planícies basálticas menores, são similares aos maria. (Lacus é o termo latino para lago.) Há o lago da Luxúria, próximo ao lago do Esquecimento. O lago do Ódio, ou Lacus Odii, fica na mesma latitude que o lago da Felicidade, ou Lacus Felicitatis. Dramas intensos lado a lado com piscinas de contentamento: assim é a vida no reino lunar.

    Há pontos semelhantes, mas menores, chamados sinus (latim para baía) e palus (latim para pântano). Há uma baía Fervente e uma baía do Arco-Íris, assim como um pântano do Sono e um pântano da Podridão.

    A Lua não é uma esfera. Como a Terra, tem a forma de um ovo. O ovo cósmico figura em muitos mitos da criação. A Lua é cerca de 33% menor que a Terra. Seu diâmetro é ligeiramente menor que a distância entre Los Angeles e Nova York.[3]

    O que estamos vendo quando olhamos para a Lua? Um reflexo do Sol que atravessa o universo. A Lua não tem luz própria. É de um cinza bem escuro, com um toque de verde, por causa da olivina. Ela aparece com um branco brilhante, prateada, amarela, vermelha, às vezes ligeiramente azul, devido ao modo com que a luz se transforma ao atravessar nossa atmosfera. A maioria das pessoas tem lembranças especiais da Lua: uma Lua cheia que pareceu segui-las até em casa numa caminhada solitária em uma noite fria de inverno; olhar para a Lua pela janela do quarto enquanto tentavam dormir, sem sucesso; uma Lua cheia que foi o pano de fundo de uma festa perfeita no verão. Ângulos, reflexos, temperatura, atmosfera, estação e condições climáticas tornam cada aparição única, aprimorando nossa experiência com o elemento-surpresa.

    A Lua é responsável pela força gravitacional da água na Terra. Afeta todas as marés — não apenas dos mares, mas dos lagos e rios também. E não afeta só a água da superfície do globo. Afeta toda a água sobre e dentro da Terra. Isso inclui toda a água contida em plantas e animais, incluindo seres humanos. Somos 60% água, e a Lua influencia toda a água dentro de nós.

    A força gravitacional do Sol também tem efeito sobre as marés, mas a Lua está mais próxima da Terra, de modo que sua influência é muito maior. Sua gravidade afeta tanto a Terra que o próprio planeta pode subir até 30 cm quando a Lua está diretamente acima dele.[4] A Lua estabiliza o eixo da Terra. Sem ela, o planeta oscilaria mais e seu eixo mudaria de maneira imprevisível. Essa relação gravitacional regula as estações. Se a Lua não existisse, as estações seriam irregulares e o clima seria mais extremo. Os dias seriam mais curtos e a vida na Terra seria muito diferente. A única companheira da Terra nos é muito útil.[5]

    A Lua ajuda as plantações a crescerem. Originalmente, a humanidade plantava e cultivava de acordo com a Lua. Muitos ainda fazem isso. A jardinagem lunar usa as fases da Lua, seu trajeto e os signos para semear, plantar e colher. Esse sistema foi desenvolvido milhares de anos atrás e ainda é usado. Há vários dias elementares, que correspondem ao signo do zodíaco em que a Lua está: terra corresponde a raízes, água corresponde a folhas, ar corresponde a flores e fogo corresponde a frutos/semeadura. Os calendários lunares para jardinagem são baseados na astronomia, e não na astrologia. Usam um zodíaco sideral para determinar os melhores momentos de plantar, colher, propagar e semear.[6]

    A evolução humana está parcialmente ligada à Lua. O satélite reluzente ajudou os humanos a enxergarem à noite enquanto viajavam, trabalhavam e cultuavam. A Lua ajudou os humanos a manterem o registro do tempo, o que levou ao desenvolvimento da agricultura, que, por sua vez, levou à formação de sociedades organizadas.

    Reconhecer a Lua como tudo isso nos leva de volta a nosso corpo, a nossa linhagem, a nossa vida. Lembra-nos da inteligência natural de nosso corpo, do ciclo circadiano e de outras respostas e ritmos. Observamos a luz cambiante da Lua refletida nas estações e nos jardins, e nos conectamos às marés dentro de nós.

    A LUA É PARA TODOS

    Ninguém é dono da Lua. No entanto, este mundo é tão extrativista que é uma questão de tempo até ela se tornar apenas mais um lugar para pilhar e destruir. O Space Act (da sigla em inglês para Ato de Estímulo ao Empreendedorismo e à Competitividade Privados no Aeroespaço) de 2015 permite que cidadãos e indústrias americanos se envolvam na exploração comercial dos recursos espaciais. Em outras palavras, qualquer corporação pode extrair os minerais de um planeta, asteroide ou satélite. Qualquer corporação pode perfurar Marte ou drenar os lendários depósitos de água subterrânea da Lua, pois o lucro está acima de tudo.

    Nosso planeta mal é capaz de conter o vazio disfarçado de ganância que o atravessa. Até os homens que pousaram na Lua deixaram lixo nela. Sua superfície continua sendo depredada, com o envio constante de sondas de missões exploratórias não tripuladas. Ao todo, deixamos mais de 180 toneladas de detritos na Lua. Há doze pares de botas que foram jogados no Mar da Tranquilidade e espalhados pelos vários maria lunares, além de câmeras Hasselblad, uma placa assinada por Richard Nixon, mais de quarenta litros de urina, excremento e vômito, inúmeros martelos, cinco bandeiras americanas e muito, muito mais. Como a Lua não tem atmosfera, esses objetos nunca vão se decompor ou se destruir.[7] Hoje, com o turismo lunar no horizonte, não é absurdo imaginar um universo cheio de embalagens de doces, garrafas plásticas e fraldas flutuando do lado de fora da janela de uma espaçonave.

    Esse é o lixo que deixamos na face sagrada do cosmos. É dessa maneira extrativista que somos ensinados a tratar a natureza e a nossa natureza sagradas. É dessa maneira extrativista que somos ensinados a lidar com os relacionamentos. As maneiras extrativistas como tentamos usar e vender magia. A Lua tem nos observado esse tempo todo. Estava lá em cima enquanto Alexandre, o Grande, pilhava; seguia em sua órbita durante os protestos na Praça da Paz Celestial. Sempre foi uma musa, irradiando inspiração sobre poetas, de Rumi a Rilke e Audre Lorde. Viu os búfalos serem abatidos e quase dizimados das planícies da ilha Tartaruga; viu o Caminho das Lágrimas deixar um território praticamente sem seus moradores originais. Uma Lua cheia brilhou sobre os últimos momentos da Rebelião de Stonewall, enquanto garrafas de cerveja voavam como mísseis, cintilando na noite. A Lua ainda brilha sobre nós enquanto os recifes de corais se desintegram, enquanto protestamos infinitamente contra as injustiças, enquanto continuamos atrás de maneiras de amar uns aos outros sem nos destruir. Ela continuará brilhando mesmo em nossa ausência. A grande Lua, mãe dos céus, não pertence a nós. Existe além do tempo humano. Ela não se importa, o que não significa que não devamos nos importar com ela.

    Quem está envolvido em qualquer trabalho espiritual ou relacionado à justiça sabe: fazemos isso por um futuro que não conseguimos vislumbrar. Por um futuro que, sinceramente, talvez nunca vejamos. Sabemos que não devemos subestimar o poder das intenções e das ações de uma pessoa. É uma estrada longa, de partir o coração, mas que também pode ser agradável, bonita e plena em conexões. Parte de nossa responsabilidade é curar as feridas daqueles que vieram antes de nós. Amar uma coisa é querer protegê-la, salvá-la, compartilhá-la. O amor nos oferece uma maneira de continuar vivendo depois que nossos corpos se forem.

    A Lua não pertence a ninguém e pertence a todos nós. Para cada um de nós, é uma bola de cristal cósmica, que nos ajuda a ver, encoraja a fazer uma pausa e convida ao maravilhamento. Mesmo nesta era dos efeitos especiais ultrafuturistas e de simulações excepcionais, a Lua brilhando no céu ainda nos faz perder o fôlego como se tivéssemos nos deparado com nossa celebridade preferida. Ela nos leva a apontar para o céu, deslumbrados, parar o carro, mudar de planos, ficar em casa, sair, reunir desconhecidos e amigos que pensam como nós. Por milênios, a Lua inspirou e guiou os humanos — pirâmides, esculturas, músicas, coleções de moda, religiões e cultos antigos inteiros foram criados para venerar e prestar homenagem à nossa guardiã da noite. A Lua não pertence a ninguém. A Lua é de todos.

    A LUA É NOSSOS ANCESTRAIS

    Estudar a Lua é estudar toda a história da humanidade. Como nos comportávamos e o que valorizávamos está refletido nas várias maneiras como interpretamos a Lua. Através dos tempos, seus poderes foram reverenciados, depois rejeitados, depois utilizados de novo. A passagem dos meses e anos foi registrada por meio de sua observação. Ela foi uma parceira de nossa fertilidade e da fertilidade da terra: nosso alimento, o que nos manteve ancorados à própria vida. Mais tarde, a Lua se tornou uma força maligna, a fonte do poder das bruxas e das mulheres selvagens, instigadora de histeria, algo a ser temido. A história da Lua se sobrepôs à própria história da Lua. Seu conhecimento se tornou popular, transmitido ao longo dos séculos principalmente pela tradição oral, informações disfarçadas de mitos, contos fantásticos, músicas e receitas. Mas a deusa nunca se foi, só ficou na clandestinidade. De modo que só aparecia para aqueles que mais precisavam dela.

    Toda a humanidade sempre olhou para a mesma Lua e se fez perguntas: sobre o significado da vida, o amor, o mistério e tudo relacionado à existência. De Cleópatra a Cher. A Lua cheia foi observada pelas avós das avós de nossas avós, e todas as ancestrais cujos nomes nunca saberemos. Elas se sentavam sob a Lua e choravam, assim como nós. A assimilação pode ter extinguido algumas ou todas as nossas conexões ancestrais: o acesso a nossas línguas maternas, nossos rituais antigos, algumas receitas. A escravidão e a colonização apagaram linhagens, tradições mágicas, a medicina popular e linguagens. A Lua é uma ferramenta que podemos usar para descobrir mais sobre nossa ancestralidade, para resgatar tradições, rituais e outras práticas que nossos ancestrais podem ter utilizado.

    O modo como eles compreendiam a Lua reside na linguagem usada para nomeá-la. A palavra menstruação vem de mensis mês em latim. A raiz protoindo-europeia de moon [Lua] e measurement [medição] — me, ma, men — também inclui to measure [medir], mind [mente] e mental [mental].

    Muitas culturas dão nome à Lua cheia, nomes relacionados a um lugar, uma estação, o que era cultivado, o clima e muito mais. Por exemplo, na América do Norte, os algonquinos chamavam a Lua cheia do equinócio de outono de Lua de milho e a Lua cheia de janeiro de Lua do lobo. Mais tarde, The Farmer’s Almanac [O almanaque do fazendeiro], de forma imprecisa e problemática, popularizou os nomes das Luas cheias dos algonquinos como o nome das Luas cheias de todos os povos nativo-americanos. No entanto, há mais de 573 tribos indígenas na América do Norte. Muitas delas têm nomes diferentes para cada Lua cheia e mês do ano.[8]

    Os nomes das Luas cheias são como cápsulas do tempo do que se considerava precioso na época. Descrevem períodos, lugares e rituais específicos, além de marcar atividades e tradições. Para os cheroquis, março era o mês da Lua do vento, ou a nu yi. Maio era o mês da Lua do plantio, ou a na a gv ti. Ao ler essas descrições, sabemos o que estava acontecendo no sudeste americano. Os nomes dos meses lunares gaélicos eram principalmente nomes de árvores, uma vez que a espiritualidade celta acreditava que elas tinham poderes curativos e mágicos. Janeiro era a Lua da bétula, fevereiro era a Lua da sorveira-brava, março era a Lua do freixo. Algumas Luas cheias chinesas recebem o nome de flores sagradas e reverenciadas: abril é a Lua da peônia, junho é a Lua do lótus, setembro é a Lua do crisântemo. Os nomes podem ser poesia, lembretes de rituais, uma espécie de lar.

    Há infinitos mitos, parábolas e histórias envolvendo a Lua. Um conto iídiche narra a tentativa de dois irmãos de roubar a Lua usando um balde. Eles são malsucedidos e aprendem que não se deve pegar o que não é seu, principalmente considerando que eles já têm sua própria luz.[9] Alguns mitos explicam por que a Lua tem a aparência que tem. No Jataka — que reúne histórias da literatura indiana sobre as vidas passadas de Buda —, Buda é uma lebre que se oferece de maneira altruísta como alimento ao faminto Indra, o rei dos deuses. A bondosa lebre é eternizada no rosto da Lua.[10] Outras histórias dão conta da origem da Terra e das estações. Deméter/Ceres, a deusa dos grãos e da fertilidade para os gregos e romanos, usava uma foice em forma de Lua em suas colheitas. Tlazolteotl, a deusa da Lua asteca, dá à luz si mesma.[11]

    Se você conhece a região geográfica de onde vêm seus ancestrais, pode fazer uma pesquisa. Quais eram suas histórias relacionadas à Lua? Como eles a honravam? Que nomes lhe davam? Tente descobrir o que comiam, que ervas usavam e quaisquer outras tradições ou folclores, caso se sinta tentado a isso. Tradições associadas à Lua são um bom ponto de partida para reunir informações, uma vez que quase todas as culturas tinham um relacionamento com a Lua.

    Isso não quer dizer que você não possa inventar seus próprios nomes e suas próprias histórias.

    Nossos ancestrais vivem dentro de nós. São nossos ossos, cabelos, sangue, talentos e nossa resiliência. Ao honrar a Lua segundo os costumes antigos e modernos, honramos a nós mesmos e a nossos ancestrais.

    A LUA É UM ESPELHO

    A Lua é um espelho. O Sol lança luz sobre ela, que reflete essa luz para nós, iluminando nossa intimidade, nossas sombras e nossos segredos. A Lua é um símbolo que nos ajuda a encontrar significado pessoal e coletivo. E o símbolo que ela vem a se tornar, independentemente de qual seja, descreve apenas a pessoa que lhe atribui tal sentido. O modo como falamos da Lua, o que vemos na Lua, como trabalhamos com a Lua, revela muito sobre nós mesmos. Ela nos livra de qualquer fingimento e nos devolve a nós mesmos, enquanto olhamos para nosso próprio reflexo.

    A Lua espelha nossos processos espirais naturais. Nossa vida não é estática, mesmo que nos preocupemos que possa ser. Entramos e saímos de diferentes fases, contraindo e expandindo, ganhando e perdendo. A Lua morre constantemente. Lança sua sombra para renascer. Às vezes, também precisamos renascer para chegar a uma versão mais verdadeira de nós mesmos. Conforme nos sintonizamos com nossos padrões energéticos, que tantas vezes espelham os da Lua, o autoconhecimento adquirido facilita a transformação. Aceitar todas as coisas impossíveis, desafiadoras e incríveis em nós mesmos constitui a cola dourada da técnica kintsugi quando se trata de abraçar as complexidades imperfeitas da vida. Somos muitas coisas ao mesmo tempo. Nossa dor nos leva ao prazer, nossos erros nos tornam humildes. Essa é uma maneira de buscar a plenitude: conviver com os variados reflexos da Lua.

    Observações são mágicas. Como o Talmude diz: não vemos as coisas como elas são, mas como nós somos. Somos todos espelhos. Quem são os outros, se não espelhos de nossos próprios medos, percepções, esperanças e sonhos? A Lua ilumina nossa necessidade de receber amor. Isso nos força a pensar em como oferecer carinho e compaixão aos outros. Somos convidados a refletir sobre as necessidades alheias, a linguagem que usam para o amor, seus desejos e o que precisam para se sentir seguros.

    A habilidade de refletir é mágica. Em um mundo que enfatiza o poder sobre, refletir é um dom. Pensar antes de falar é sempre uma ideia genial. Reservar um tempo uma vez por dia ou por semana, para refletir, para voltar a nós mesmos, é uma prática que não tem preço. Esse intervalo se torna um lugar para enxergar de verdade.

    Parte da vida lunar é permanecer em constante estado de limpeza dos espelhos de nossa psique, nossas emoções, nossa paisagem interior. Encarar um espelho limpo implica estar no momento presente, livre do pó das histórias distorcidas do passado. Limpar o espelho é ser tão honesto quanto possível: projeções e ilusões devem ser eliminadas. Limpar o espelho é tentar manter nossa perspectiva amorosa e nossas reflexões a serviço da nossa evolução.

    A LUA É NOSSA ÁGUA

    A Lua dita nossas marés internas. Ela atrai toda a água que contemos: nosso sangue, nosso suor, nossas lágrimas; nosso líquido amniótico, nossa saliva, nosso leite. Na bruxaria e no tarô, a água tradicionalmente se relaciona com habilidade psíquica, fluxo, intuição, emoções, espiritualidade, nostalgia e lembranças. Na Antiguidade, sacerdotisas construíam santuários lunares na foz de nascentes, na margem de rios e em cavernas que abrigavam piscinas secretas para proteger e acessar suas águas curativas.[12]

    A água é uma força poderosa em sua versatilidade. Ela afunda navios enormes, acaricia cavalos-marinhos em suas profundezas cerúleas e desce através do solo para oferecer sustento às raízes que se espalham pelo tecido da terra. Muitas pessoas ficam desconfortáveis com a fluidez. Para elas, tudo deve ser preto no branco e esse modo é o único possível. A rigidez é confundida com segurança. A água nos lembra de que somos fluidos. Somos espelhos do oceano, dos rios, da chuva. Quando nos apoderamos da fluidez e a praticamos, a experiência do espectro da nossa existência ganha novas cores.

    Quando ignoramos nossas emoções, quando elas se desequilibram, nossas ações se tornam perigosas. Quando fria demais, a água congela e fica totalmente impenetrável. Quando quente demais, ela escalda. Um suave chuviscar logo se torna uma tempestade, uma fonte morna se transforma em uma caverna fervendo. Quando nossa água tem apoio, fica livre para fluir. Segurança, limites e outros receptáculos apropriadamente escolhidos nos permitem flutuar com tranquilidade sobre os rios de nossa vida. Não desprezamos nossas habilidades psíquicas: agimos em relação a elas da mesma maneira que faríamos com respostas tangíveis ou baseadas na lógica. Atos de cuidado, amor, prazer e beleza que curam outros e a nós mesmos são reverenciados. Os mistérios do mundo são apreciados tanto quanto os mistérios internos.

    Abaixo da superfície está o subconsciente, oferecendo padrões que seguimos e repetimos. No porão do subconsciente há sistemas de crenças antigos, que construímos para nossa própria segurança: nosso ego, repetindo as mesmas histórias reconfortantes. Quando fazemos o trabalho transformador da Lua, enfrentamos as partes de nosso ego que são prejudiciais. São as partes que nos punem na escassez e que nos fazem ter um baixo desempenho. Reencontramos partes de nosso ser forjadas muito tempo antes, talvez nem mesmo por nós. Elas precisam ser examinadas, integradas e, em alguns casos, libertadas.

    Carl Jung afirmou que até que se torne consciente, o inconsciente vai dirigir sua vida, e você vai chamá-lo de destino. Nossos padrões emocionais podem nos apontar o que exatamente precisa ser curado. Através da prática, podemos aprender a nos relacionar com nossas emoções sem permitir que elas nos dominem. Fazendo isso, elas se tornam fonte de informações. Compreendemos que não somos nossas emoções, assim como não somos definidos por um breve momento. Nossa intuição também se relaciona com o subconsciente — nosso entendimento que está sob a linguagem, sob o pensamento crítico ou analítico. No reino de nosso subconsciente também reside o passado: as crenças e experiências que influenciam nossas reações e nossos comportamentos no presente. A Lua é uma ponte entre o subconsciente enquanto passado e a corporificação do presente. O trabalho lunar nos oferece a chave para abrir a porta tanto do subconsciente

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