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Autoconhecimento através dos Chakras: Práticas corporais e vocais para artistas e não artistas
Autoconhecimento através dos Chakras: Práticas corporais e vocais para artistas e não artistas
Autoconhecimento através dos Chakras: Práticas corporais e vocais para artistas e não artistas
E-book499 páginas6 horas

Autoconhecimento através dos Chakras: Práticas corporais e vocais para artistas e não artistas

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Sobre este e-book

Escrito de forma fluida e agradável, o livro nos propõe alavancas de transformação coletivas, aplicáveis em casa, mas sobretudo em sala de aula, constituindo-se como uma ferramenta pedagógica imensamente valiosa. Elaborado dentro de uma perspectiva sustentável, o livro nos atenta, a cada segundo, para uma eco-lógica – seja consigo mesmo, seja com o outro, com a sociedade ou o meio ambiente: e não seria isso, justamente, uma definição possível da palavra "amor"?
IdiomaPortuguês
Data de lançamento10 de jan. de 2024
ISBN9788546226092
Autoconhecimento através dos Chakras: Práticas corporais e vocais para artistas e não artistas

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    Autoconhecimento através dos Chakras - Claudia Mele

    APRESENTAÇÃO

    Parabéns! Você tem nas mãos uma joia, uma preciosidade, um tesouro. Talvez uma lâmpada de Aladim. Quando você esfregar, saborear este livro, o Gênio que o habita vai atender não apenas três, mas todos os seus desejos, suas expectativas. É um livro de Gênio, desses que a gente sonha ter por perto, que quando encontra, não larga.

    Conheci a Cláudia ainda menina, minha aluna na CAL: olhos brilhando, sorriso no rosto, plena em presença e alegria – sempre, em todas as aulas. É assim que eu me lembro dela. Quando, em 1993, os horários dos ensaios de Cândido¹ em que eu estava como atriz, coincidiram com as aulas de uma das turmas da CAL, chamei Claudinha como assistente – ela assumiria parte da aula, no meu lugar. Gosto de pensar nisso, assim: a Claudia no meu lugar, nós duas ocupando o mesmo lugar. Isso, de estarmos num mesmo lugar seguiu acontecendo, mesmo quando não estivemos tão próximas fisicamente – porque a vida vai muito além disso, não é?

    Claudinha seguiu certeira e determinada em direção a uma formação como pedagoga do Corpo. Tornou-se, como ela gosta de dizer, a professora de Corpo na escola de teatro (CAL, Cesgranrio) e a professora de Teatro na escola de corpo (Faculdade Angel Vianna).

    Seguimos em rotas paralelas, mas daquelas que se cruzam antes de chegar ao infinito. Atravessamos juntas seu doutorado – e de novo, a mesma e outra Claudinha: a cada encontro, olhos brilhando, sorriso no rosto, plena em presença e alegria, acrescida de Fé e Confiança.

    Posso dizer que sim, nos encontramos no Infinito. Nossas pesquisas e andanças pela vida nos levaram a pensar o Teatro como um caminho devocional. Ambas interessadas nos estudos sobre a Yoga, o Sistema de Chacras e suas derivações – que Claudinha (Gênio) oferece aqui a quem souber Escutar.

    A joia que você tem em mãos oferece:

    A partir de uma citação de Jerzy Grotowski (para não esquecermos que, artistas ou não, estamos mergulhados na Arte) Claudia apresenta, no capítulo 1, estudos aprofundados sobre a multidimensionalidade do corpo e sobre o Sistema de Chacras, fundamentada, principalmente, no Hinduísmo, para nos fazer refletir sobre Sentir, pensar, intuir (capítulo 2). Pelas mãos do mestre do teatro russo Constantin Stanislávski (1863-1938), traz a noção de trabalho sobre si mesmo, tão necessária nos tempos que correm (literalmente), para desenvolver percepções fundamentais sobre Consciência e Corpos Sutis (em caixa alta para enfatizar importâncias, no sentido mesmo daquilo que importa.)

    No capítulo 3, a generosidade de Claudia se mostra explícita. Chama seu leitor para as Práticas e propõe uma metodologia cujo propósito é auxiliar no desenvolvimento de um trabalho sobre si mesmo. O objetivo aqui é apresentar exercícios que venho aplicando em salas de aulas com alunos de Artes Cênicas (desde 2012) e de Psicologia (desde 2017), e refletir sobre as experiências obtidas. De mãos dadas com o leitor, assim como tem estado com seus alunos, Claudia passa a oferecer uma viagem por cada um dos sete Chacras Básicos (capítulos 4 a 9). Em cada um, a imprescindível (de novo, nos tempos que voam) possibilidade/oportunidade de autoconhecimento e muito mais, que vêm como uma oferta, um presente embrulhado em afetividade, amorosidade e muita sabedoria.

    Claudia parece chegar ao ponto fulcral do seu trabalho, e do livro, quando anuncia a Performance como Cura (capítulo 10). A conexão do seu trabalho com a Espiritualidade está aí confirmada, abençoada. Performance entendida como Ação-no-mundo e Cura, como Bem-estar-em-si (e no Outro).

    O que mais podemos pedir ao Gênio da lâmpada?

    Nara Keiserman

    Artista-pesquisadora da Unirio

    Laboratório e Grupo de Pesquisa Artes do Movimento (CPNq/Unirio)


    Nota

    1. Cândido, ou O Otimismo, de Voltaire, em encenação do Núcleo Carioca de Teatro com direção de Luis Artur Nunes. Estreia no CCBB-Rio de Janeiro.

    A ÁRVORE QUE OLHAVA O CÉU

    A importância de uma coisa não se mede com fita métrica, nem com balanços nem barômetros. A importância de uma coisa há de ser medida pelo encantamento que a coisa produz em nós.

    Manoel de Barros, Memórias inventadas (2006)

    Claudia Mele é uma revolucionária dos afetos que nos presenteia este livro-encantamento para habitarmos o mundo com mais alegria e plenitude. Verdadeira afetivista do corpo, da alma e do coração, Cláudia oferece a nós, leitoras e leitores, um mergulho profundo nos conhecimentos adquiridos por ela em suas pesquisas de Mestrado e Doutorado realizadas na Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro - Unirio. Mais do que isso: generosamente, ela nos propõe que estes conhecimentos possam ser experimentados, vividos, compartilhados e celebrados para produzir alegria nos tempos difíceis que estamos atravessando.

    Mantendo viva a chama da esperança e da fé em uma possível transformação, a autora nos convida a uma expansão das nossas potências de vida, a uma transmutação de nossas fragilidades em forças a serem compartilhadas, e a construir junta/os um paraquedas colorido, como diz Ailton Krenak em Ideias para adiar o fim do mundo, para, assim, atenuar a força da queda.

    De mãos dadas com essa artista, professora e pesquisadora ímpar, atravessamos, na leitura, a experiência da arte/vida de forma intensa e apaixonada. O processo de pesquisa que nos é ofertado nos convida, a cada instante, a olharmos para dentro de nós para perguntarmos: o que realmente vale a pena? O que realmente importa? Pergunta a qual Claudia Mele – e o livro – trazem uma resposta simples: o que importa verdadeiramente é o amor.

    Partindo de uma rica e diversificada trajetória profissional, Claudia nos traz o presente de nos ajudar a criar asas para poder viver esse amor e assim, como diz Manoel de Barros, crescer pra passarinho. Por meio da experiência de uma prática de transformação interna e externa, Claudia nos oferece uma pesquisa em estado de arte, em que, generosamente, nos leva a entender que a felicidade nunca é dada. Ao contrário - e mais ainda nos tempos atuais – a felicidade é um projeto político, uma construção.

    Com um embasamento resultando de uma pesquisa minuciosa e com referências extremamente atualizadas, a experiência da leitura se faz eco dos diálogos compartilhados com aluna/os, professora/es e artistas dentro e fora da Universidade, trazendo uma imensidão de vozes que ecoam, enriquecendo o trabalho. Escrito de forma fluída e agradável, o livro nos propõe alavancas de transformação coletivas, aplicáveis em casa, mas sobretudo em sala de aula, constituindo-se como uma ferramenta pedagógica imensamente valiosa. Elaborado dentro de uma perspectiva sustentável, o livro nos atenta, a cada segundo, para uma eco-lógica - seja consigo mesmo, seja com o outro, com a sociedade ou o meio ambiente: e não seria isso, justamente, uma definição possível da palavra amor?

    Para a autora, trata-se de uma pesquisa-missão, que nos permite realizar uma contribuição para um mundo mais amoroso. Com a clareza intelectual, emocional e afetiva características, Claudia Mele nos propõe um mergulho nas forças das nossas vulner-H-abilidades, ao mesmo que nos oferece um foco atencional para as nossas luzes e sombras.

    Desse processo de mergulho compartilhado, surge a cura. Uma cura não como normalização de subjetividades dissidentes dentro de um mundo doente, mas uma cura como desenvolvimento das potências de vida e de vibração e como possibilidade de abertura para a invenção de outros mundos. No livro, a cura nunca é romantizada, nem normatizada, codificada ou imposta: ao contrário, ela passa por uma decisão individual de ir em direção à poesia e a um mundo mais vibrante em cores e afetos.

    Nesse sentido, o livro é um presente para a área de Artes Cênicas, mas também para a área de Saúde e Educação para toda/os que, nesses tempos difíceis, ficam empenhada/os em ser árvore e, apesar de tudo, manter suas raízes fincadas no chão para poder manter a cabeça erguida em direção ao céu.

    Como diz bell hooks: O amor cura. Nossa recuperação está no ato e na arte de amar.

    Obrigada, Claudia Mele, por ser árvore frondosa nessa floresta que nos faz respirar.

    Tania Alice

    Artista-pesquisadora da Unirio

    Diretora artística do coletivo Performers sem Fronteiras e do Grupo de Pesquisa Práticas Performativas Contemporâneas (CPNq/Unirio/UFRJ)

    CONSIDERAÇÕES PRIMEIRAS

    Muitas vezes, quando a atriz ou ator, o bailarino ou a performer está em cena, ela ou ele é surpreendido/a por um estado em que se vê em um fluxo contínuo de forças, que dilui seu pensamento linear, abrindo a percepção para o aqui e agora, sentindo a materialidade do corpo e do espaço neste momento preciso. Ao mesmo tempo em que se observa no aqui agora, é possível que ele/a abra a percepção para outras dimensões que estão além da localidade e do tempo. Esta/este artista pode perder a percepção dos limites de seu corpo, oscilando em diferentes frequências vibratórias, sendo tomado/a de surpresa por impressões, ideias, ações, expressões. Seu corpo se estende, e ele/ela toca, afeta e é afetado por cada uma das pessoas presentes ali. O tempo se expande e ela prevê o movimento de cada um, mas não de forma linear. Tudo acontece simultaneamente, no plano físico e em outras dimensões. O espaço se torna pele e a pele se torna espaço e seu corpo está ativo, pronto para a ação, e ao mesmo tempo contempla. Sua percepção oscila entre vários níveis, em espirais de fluxo. O/a artista se abre para as micropercepções, o corpo se torna poroso, habitado por e habitando outros corpos e outros espíritos, um corpo e/ou vários corpos com diferentes intensidades, que chamarei nesta pesquisa de corpo multidimensional. Esta experiência pode ser vivida por todos nós, artistas e não artistas e a proposta é que possamos compreender em nossos corpos como isso acontece.

    Este livro é parte da minha pesquisa de doutorado realizada no Programa de Pós-Graduação em Artes Cênicas da Unirio e propõe práticas corporais e vocais que possam trazer a percepção para as diversas dimensões do ser, apresentando uma metodologia que busque o autoconhecimento, a mudança de padrões comportamentais, emocionais e mentais e a abertura para estados criativos. A metodologia exposta é desenvolvida através do estudo dos níveis de consciência, sendo este fundamentado na investigação prático/teórica do pensamento milenar hindu do sistema de chakras e dos corpos sutis, mencionados na filosofia do Yoga. Atrevo-me a essa apropriação respaldada na observação de como o contato e experiências com esses estudos, e com outras práticas espirituais, têm influenciado meu trabalho como artista, com muitos anos de trabalho como atriz, e como pedagoga em aulas de técnicas corporais para o ator.

    Para começar, gostaria de situar o leitor em relação ao ponto de vista que adoto para as reflexões aqui apresentadas, baseadas em uma visão espiritualista, mas também ancorada em estudos científicos. Posso constatar que, no ocidente, com o avanço da ciência e com os movimentos iluministas, sem desmerecer suas descobertas, fomos construindo uma visão de mundo materialista e mecanicista, também influenciada pela Revolução Industrial, que colocou a ciência e a espiritualidade em campos opostos. A ciência moderna originou-se da luta de libertação de dogmas religiosos do cristianismo medieval, produzindo a construção de um pensamento baseado na supremacia da matéria. Fomos perdendo a noção de que somos múltiplos corpos e passamos a focar nos aspectos relacionados ao corpo físico. A Medicina nos ensinou a separar o conhecimento dos aspectos físicos do corpo dos aspectos mentais, o que acirrou a nossa compreensão de mundo dicotômica, que separa o pensar do viver.

    O físico Amit Goswami² acredita que o atual paradigma da ciência materialista também é um dogma, pois não existe evidência científica que possa amparar sua incomensurável pretensão de que tudo seja matéria (Goswami, 2012, p. 36). Goswami afirma que o dogma de que tudo é matéria também nos presenteou com outros dogmas, como o de que a consciência é operacional, mera linguagem; o de que mente é cérebro; de que não há nada para sentir ou intuir, havendo apenas condicionamento genético resultante da evolução darwiniana e necessidade de sobrevivência; de que para o self não há nada além do condicionamento psicossocial e genético; de que não há livre-arbítrio (Goswami, 2012, p. 36). Estes dogmas foram afastando cada vez mais a ciência da espiritualidade, trazendo para nossa compreensão de mundo uma visão dualista e compartimentada.

    A intenção de propor a pesquisa a partir do estudo dos chakras e dos corpos sutis vem amparada no desejo de seguir práticas e reflexões que escapem dos dogmas materialistas acima mencionados, buscando para a compreensão do termo consciência outros aspectos. A consciência é um tema recorrente nas teorias da mente referidas em filosofias orientais espiritualistas, na Psicologia, na Neurociência e na Filosofia, porém, muitas vezes em algumas destas teorias, há a ideia dual de uma consciência intencional reflexiva, que estaria separada do corpo, ou então, que a consciência, como em muitas teorias da Neurociência, estaria contida na matéria, ou seja, seria um subproduto do cérebro. A Consciência, que coloco com C maiúsculo para diferir da outra, é entendida nesta pesquisa, como a substância primordial, a fonte criadora, sinônimo de observador, de Ser, de Deus. É o que está além da mente e matriz de todos os eventos, mas não em uma visão dualista, como se o transcendente estivesse separado do imanente, mas como um unomúltiplo, onde tudo é da mesma natureza, apenas em escalas ou frequências distintas. Desta forma, os níveis de consciência são as escalas que surgem da Consciência.

    O problema do conceito de Consciência está relacionado à forma de entendimento que separa o pensar do viver. A separação entre o pensar e o viver colocou mente e corpo como naturezas distintas, criando a ilusão de que o homem está separado do cosmos. Para as filosofias orientais, como do Yoga, a Taoista, a Budista e a Xintoísta, dentre muitas outras, a Consciência é preexistente e gerou o cosmos; o cosmos é a Consciência em seu aspecto mais denso, e o homem é inerente ao cosmos e à Consciência. Na perspectiva onde há a hegemonia do pensamento lógico linear, a do materialismo científico, o homem se vê separado do cosmos, e acaba compreendendo o mundo através de cisões como sujeito e objeto, corpo e mente, bem e mal, natureza e cultura.

    Proponho pensar a noção de corpo multidimensional como o entendimento das diversas dimensões do ser originadas da Consciência, onde a ideia de separação é apenas umas das dimensões deste corpo relacional. O que são os diversos níveis de consciência? Como o entendimento deles pode estar presente nas práticas pedagógicas para os trabalhos da cena e para o autoconhecimento? É possível, através do trabalho artístico, transformar padrões comportamentais, emocionais e mentais de artistas e não artistas?

    Apresento neste livro os meus estudos como artista-docente, assim como exemplos de experiências dos fenômenos apresentados, sublinhando que o interesse no tema está imbricado com as experiências vividas e é nessa perspectiva que me coloco. Para isso, tomo a liberdade, neste momento, de me apresentar para que o leitor compreenda, através do meu percurso de vida, como as escolhas que fiz e as experiências que tive foram fundamentais para as propostas que trago aqui.

    Já trabalhei como atriz, diretora de teatro, de dança, de cinema, como dramaturga, roteirista de séries, preparadora corporal, terapeuta corporal e professora de faculdades e escolas de cursos como teatro, dança, cinema, educação, arquitetura, psicologia e direito. Sou formada como massoterapeuta no IARJ³ e fiz cursos de técnicas de cura energética, como Thetahealing⁴, Fogo Sagrado⁵, Expansão da Consciência do Instituto Monroe⁶ e Apometria Quântica⁷. O que escrevo neste livro é baseado em todas estas experiências e tem como base principal a Metodologia Angel Vianna e uma prática espiritual de imposição da mão chamada Sukyo Mahikari⁸, que realizo há duas décadas.

    Fui aluna da bailarina e pedagoga Angel Vianna e sua metodologia atravessa todo o meu percurso de vida desde 1987. Seu trabalho propõe um aprofundamento da percepção das sensações, do movimento e do pensamento, possibilitando a abertura para diferentes níveis de consciência. Nas práticas aqui descritas muitos exercícios são inspirados em minhas vivências em sua faculdade/ escola.

    A instituição da Sukyo Mahikari tem como objetivo promover a paz e a harmonia na sociedade, através da purificação espiritual, realizada pela prática de imposição da mão e de princípios universais como gratidão, aceitação e humildade, em todos os aspectos da vida. A intenção é que sejamos canal da luz divina e que, através de nossas mãos, possamos aplicar a luz em nós mesmos e no próximo. Em todos esses anos nesta prática, tive inúmeras experiências que mudaram e aprofundaram a minha compreensão do que é a espiritualidade. Com a prática, fui descobrindo o que é amorosidade.

    Nos cursos de graduação em Teatro da Faculdade Cal de Artes Cênicas e da Faculdade Cesgranrio e no curso de Psicologia da Universidade Santa Úrsula, onde sou professora, tenho apresentado o sistema de chakras como espinha dorsal do trabalho, tendo como foco o autoconhecimento. Nos últimos anos, tenho sentido um interesse cada vez maior em estar em sala de aula e creio que isto se deva à pesquisa que apresento neste livro. O prazer que venho descobrindo nas aulas, com o enfoque no autoconhecimento, tem se alargado para as outras disciplinas em todos os cursos que ministro. Apesar de o foco nesta pesquisa ter partido do trabalho do artista cênico, fui observando que estas práticas podiam e deveriam ser expandidas para pessoas de outras áreas de atuação. Primeiro, porque acredito que o ser criativo pode estar em todos e, portanto, este trabalho também pode ser direcionado para o não artista. Segundo, porque acredito que a compreensão de conteúdos de outras disciplinas relacionadas ao corpo e à consciência interfere e enriquece o entendimento do ser criativo em cena e fora de cena.

    Tenho aprendido uma nova forma de lecionar, muito mais amorosa e atenta às questões de cada aluno. Mais do que formar atores, psicólogos, advogados ou arquitetos, meu desejo é vê-los se transformando, criando autonomia, se encantando com suas descobertas, tendo coragem de enfrentar seus medos, colaborando uns com os outros e descobrindo que a arte pode ser um caminho para a transformação de si, assim como o trabalho sobre si, e de escuta do outro, pode ser um belo caminho para a arte ou para qualquer outro campo de atuação.

    Em relação às pesquisas apresentadas neste livro, acredito que a escolha por dialogar com a Ciência aconteça porque, como um ser bastante racional que sou, as explicações científicas sempre tiveram para mim muito valor. E o contato com aulas de Anatomia, Fisiologia, Cinesiologia e Neurologia, na Faculdade Escola Angel Vianna, enriqueceram muito a minha compreensão deste sistema tão complexo que é o corpo, e alimentaram meu encanto pela Ciência. No âmbito da Espiritualidade, pude acessar experiências do campo do invisível, da energia, a partir de minhas práticas espirituais e de consciência do corpo, que proporcionaram o meu entusiasmo pelo sistema de chakras e dos corpos sutis. Nesta pesquisa, a intenção é que Ciência e Espiritualidade possam dialogar, compreendendo que seus conceitos muitas vezes mais se aproximam do que se afastam. Estes estudos e experiências, aliados à minha experiência no campo artístico, foram abrindo o interesse em associar as ideias destes diferentes campos.

    Os estudos em diferentes áreas têm enriquecido muito a minha ação dentro de sala de aula, dando-me segurança e liberdade para investigar caminhos práticos em que, durante anos, não havia ousado me aprofundar, como, por exemplo, o estudo das energias e estados ampliados de consciência. Apesar de ser professora desde 1993 e praticar técnicas espirituais, como a imposição da mão, desde o ano 2000, somente após o início da pesquisa de mestrado, em 2011, tomei coragem para associar estas vivências. Havia - e em algumas circunstâncias ainda há - muito preconceito em relação a abordar temas espirituais em sala de aula. Isto vem mudando de forma significativa, pois os alunos têm se interessado cada vez mais pela compreensão dos fenômenos ligados ao corpo-consciência, que estão intimamente ligados, segundo a perspectiva aqui escolhida, com a espiritualidade.

    Nos dois primeiros capítulos apresento a anatomia sutil do corpo multidimensional dialogando com artistas, cientistas e espiritualistas. Refletirei a partir de um paradigma que seja inclusivo em relação a todos os modos humanos de experiência, sentimento, percepção, pensamento e intuição. Alguns cientistas citados partem do mesmo pressuposto de Amit Goswami. O paradigma defendido por estes cientistas, compreende, antes de tudo, que a Consciência é o fundamento de todo ser. Dentro desta perspectiva, entendo que nossos corpos, multidimensionais, são Consciência vibrando em diferentes frequências, criando realidades que podem se manifestar, como o próprio nome já diz, nas diversas dimensões.

    Nos capítulos seguintes, apresento uma metodologia para o artista e também para o não artista em que se investiga exercícios para sala de aula e para a vida, que focam em sete dimensões de consciência, relacionadas com cada um dos sete chakras principais. Há a descrição de vários exercícios, com o objetivo de propor práticas que auxiliem na consciência das diversas dimensões do corpo, em conexão com o seu processo criativo e exercício de transformação de si.


    Notas

    2. Amit Goswami nasceu na Índia, filho de um guru hinduísta, e em 1964 doutorou-se em física nuclear pela Universidade de Calcutá. Mudou-se então para os Estados Unidos, onde trabalhou como pesquisador e professor titular de física quântica no Instituto de Física Teórica na Universidade do Oregon, durante 32 anos. Ele conta que foi materialista dos 14 aos 45 anos de idade, quando uma crise o levou à meditação, e ele começou a tentar conciliar a ciência ocidental com a noção oriental de consciência. Tive a oportunidade de participar de um workshop de 20 horas, ministrado por ele, em São Paulo em 2012. Ele é um dos autores referência desta pesquisa.

    3. Disponível em: https://bit.ly/3LQakaN. Acesso em: 04 abr. 2023.

    4. Disponível em: https://bit.ly/3VMphiG. Acesso em: 04 abr. 2023.

    5. Disponível em: https://bit.ly/42Adeag. Acesso em: 04 abr. 2023.

    6. Disponível em: https://bit.ly/44ITd3n. Acesso em: 04 abr. 2023.

    7. Disponível em: https://bit.ly/3NUVu5r. Acesso em: 04 abr. 2023.

    8. Disponível em: https://bit.ly/3nN9WSu. Acesso em: 04 abr. 2023.

    1. SISTEMA DE CHAKRAS E CORPOS SUTIS

    Nós somos dois. O pássaro que bica e o pássaro que olha. Um vai morrer, um vai viver. Preocupados em bicar, e embriagados com a vida dentro do tempo, esquecemos de fazer viver aquela parte de nós que olha. Esta citação, famosa imagem dos Upanishads⁹, da Árvore da vida, dos dois pássaros, um ativo e o outro contemplativo, foi apresentada pelo diretor de teatro Jerzy Grotowski (1933-1999), em duas conferências em 1987, quando abordou o tema do Performer (Grotowski, 2015, p.4). Escolhi começar por esta citação pois se relaciona com o conceito de corpo multidimensional, como também a noção de corpos sutis, encontrada em teorias e tradições espiritualistas orientais e ocidentais.

    Os corpos sutis foram citados em escrituras de várias práticas religiosas e espiritualistas ao longo de toda a história. Pensamentos filosóficos de diversas culturas como o Hinduísmo, a Cabala, o Budismo, o Sufismo, o Xamanismo, a Teosofia, o Espiritismo, além dos conhecimentos dos povos incas e maias e dos egípcios, entendem que somos seres multidimensionais, representados no plano da Terra pelo corpo físico. Todas estas filosofias pensam o ser humano como um conjunto de corpos que compõe múltiplas funções, sendo o corpo físico o que apresenta maior densidade.

    O sistema de chakras, por sua vez, está ligado diretamente à ciência e prática do Yoga. A origem do Yoga, e a primeira menção aos chakras, segundo Anodea Judith (2010), remonta aos Vedas, uma série de hinos que compunha a mais antiga tradição escrita da Índia. Esses textos foram criados com base na tradição oral da cultura dos arianos, e a parte dos Vedas que interpreta a filosofia desta cultura são os Upanishads, que mencionei acima. Nesta filosofia, já se entendia que os chakras são centros de energia que ajudam na comunicação entre os corpos sutis. No Yoga, as teorias do sistema de chakras e dos corpos sutis nunca estiveram separadas.

    Acredita-se que os arianos teriam invadido as civilizações do Vale do Indo, onde se situam hoje a Índia e o Paquistão, durante o segundo milênio antes da era cristã. Nestas civilizações, que remontam há mais de sete mil anos, já se praticava o Tantra Yoga (Lysebeth, 1994). A palavra tantra significa tear e denota o ato de tecer fios separados para formar uma tapeçaria de inteireza. Segundo Judith (2010, p. 31), o sistema de chakras, proveniente da tradição tântrica,

    tece as polaridades do espírito e da matéria, da mente e do corpo, do masculino e do feminino, do céu e da terra, numa filosofia única de muitas linhas filosóficas, remontando à tradição oral que precedeu os Vedas.

    Hiroshi Motoyama (1993), considerado pela Unesco como um dos maiores parapsicólogos do mundo, afirma que o Tantra não é uma filosofia indiana e que há evidências de que, antes da civilização da Atlântida, o tantra já era praticado com o objetivo de obter maior visão e experiência da realidade (p. 12). Desta forma, provavelmente, o estudo dos chakras e dos corpos sutis vem de tempos imemoriais.

    O entendimento teórico, mas também prático, dos corpos sutis, e dos chakras, traz luz para o conceito de corpo multidimensional, compreendido, neste livro, como estes vários corpos, físico e sutis, que, quando em conexão, provocam a expansão e abertura da percepção para sensações múltiplas, que alinham pensamento, sensações, emoções, movimentos e intuições, num caminho que conduz à Consciência.

    Entre o céu e a terra

    Ao dissertar sobre o trabalho do Performer, Grotowski menciona a existência do duplo Eu-Eu. Trazendo a história dos Upanishads, o diretor polonês afirma que o pássaro que bica, seria o nosso Eu agente, aprisionado no tempo/espaço, enquanto o outro Eu, o pássaro que olha, é quase virtual. Desprovido de julgamentos, este segundo Eu é a presença silenciosa, como o sol que ilumina as coisas (2015, p. 4).

    Dois pássaros, unidos sempre e conhecidos pelo mesmo nome, agarram-se à mesma árvore. Um deles come a fruta doce; o outro olha sem comer. (3.1.1). Sentado na mesma árvore, jiva geme, perplexo com sua impotência. Mas quando ele contempla o outro pássaro, o Senhor adorado por todos e Sua glória, ele então se torna livre da tristeza. (Upanishads, 3.1.2)¹⁰

    Na tradição hindu, transmitida a partir dos Upanishads, no centro de cada indivíduo há a centelha divina, Atman, conhecida no Ocidente como Alma. Quando Atman encontra-se limitado por questões morais, mentais e físicas, por estar encarnado em um corpo físico, ele se apresenta como o indivíduo Jiva. Na terceira parte do texto de Mundaka Upanishad, os dois pássaros representam estas duas energias Atman e Jiva, que têm um substrato comum que é Brahman, e que é a realidade de ambos.

    Esse brâmane brilha, vasto, auto luminoso, inconcebível, mais sutil que o sutil. Ele está muito além do que está longe, e ainda aqui muito próximo. Verdadeiramente, ele é visto aqui, habitando na caverna do coração dos seres conscientes. (3.1.7) Brahman não é apreendido pelo olho, nem pela fala, nem pelos outros sentidos, nem pela penitência ou boas obras. Um homem torna-se puro através da serenidade do intelecto; então, em meditação, ele contempla aquele que é sem partes. (3.1.8) (Upanishads)¹¹

    No hinduísmo, Brahman é entendido como a origem e raiz de toda a consciência, o princípio divino, não personalizado e neutro que, nesta pesquisa, se relaciona com a Consciência. Segundo a tradição hindu, o Atman vai se revestindo de corpos de paixões, emoções, sentimentos e desejos, ganhando uma dimensão cada vez mais material até chegar a um corpo físico, tornando-se Jiva, a alma individual de um ser encarnado. Através da meditação, Jiva, o pássaro que bica, pode se abrir para Atman, o pássaro que olha. Ao se desprender dos julgamentos e das paixões o indivíduo Jiva sente a presença de Atman em si, seu outro e verdadeiro Eu e, então, o sutil, o sagrado, é tocado.

    Entre o ser encarnado, pássaro que bica, e o ser espiritual, pássaro que olha – Atman, na sua essência fundida com Brahman – há um caminho ascendente que leva à iluminação. Do mesmo modo, de Atman à Jiva, há um caminho descendente de materialização. E neste percurso, entre o denso e o sutil, podemos passar por inúmeras dimensões e corpos.

    A ideia destes percursos ascendentes e descendentes é desenvolvida em todas as teorias que abordam os corpos sutis e os chakras. E cada uma vai revelar algumas dimensões deste percurso. Geralmente há uma ênfase no movimento ascendente, de contato com o divino através do desapego e da diluição do ego¹². Mas é importante pensar que o movimento descendente também tem sua função. Por mais que o objetivo do indivíduo espiritualista seja ascender em direção ao divino, este mesmo ser está na Terra para aprender a lidar com as sensações, emoções e pensamentos. Pois é justamente através dos seus aprendizados terrenos que ele poderá ascender. Penso na palavra sânscrita Samsara, que significa ciclos de morte e renascimento. A constituição do ego é fundamental para a presença do indivíduo nesta dimensão do plano físico. O objetivo de ascender, para acabar com o sofrimento, relaciona-se com aprender a passar por estes ciclos até não precisar descender mais à Terra. Mas a conexão com a Terra faz parte da manifestação neste mundo e, para isso, é fundamental que este indivíduo se torne Jiva, que se relaciona aos corpos da sensação, emoção e pensamento: o ego. Na história dos pássaros dos Upanishads, como no Budismo ou na Cabala, ou em muitas outras tradições, há uma valorização do movimento em direção ao divino, pois o sofrimento está ligado aos apegos à vida mundana, e a felicidade está no movimento ascendente que leva à iluminação. Talvez este seja um dos motivos, além das políticas de dominação e da moral nas religiões, pelo qual fomos nos distanciando do corpo, do sexo, das sensações e emoções em busca de uma felicidade transcendente. Fomos nos esquecendo que a manifestação na Terra, e a conexão com ela, a relação com os prazeres e dores têm sua função cíclica. Anodea Judith (2010) acredita que a valorização do movimento ascendente, em detrimento do movimento descendente, tem sua raiz nas principais religiões patriarcais que advogam a supremacia da mente sobre a matéria, negando a existência do espiritual nas esferas mundanas. Para a autora, nos textos tântricos, que se baseiam em uma cultura anterior ao patriarcado, não há negação dos chakras inferiores a favor dos superiores. No Tantra, os chakras inferiores proporcionam embasamento para o crescimento espiritual, do mesmo modo que as raízes da árvore crescem para que ela se torne mais alta. Para Judith, os movimentos ascendentes são denominados de corrente de liberação, enquanto os descendentes são a corrente de manifestação.

    Modelo do sistema de chakras

    Partindo do princípio de que a Consciência, e não a matéria, é a base de toda a existência, o físico quântico Amit Goswami disserta sobre os corpos sutis, no seu livro Física da Alma (2005), para explicar como podemos atingir estados de consciência ampliados para acessar a criatividade e a conexão com aspectos mais sutis do ser. Baseado nos Upanishads, o pesquisador indiano nomeia os corpos como físico, vital, mental, intelecto supramental e sublime. O vital relaciona-se às emoções e sensações e o mental ao pensamento e à abertura para a coletividade e amor. O intelecto supramental se encontra fora do tempo e do espaço, e é onde nosso corpo se abre para a intuição, criatividade e conexão com o divino. O sublime é a base de toda a existência, a consciência em sua qualidade última.

    Segundo Goswami, no nosso cotidiano tendemos a acionar principalmente os corpos físico, vital e mental que são condicionados, criam nossos padrões e constituem o ego. Mas eles são acionados, geralmente, de forma não harmônica, desconectados uns dos outros. Desta forma, como a nossa cultura tende a privilegiar o pensamento, em detrimento das sensações e sentimentos, há uma hegemonia do corpo mental. Os momentos de insight, de intuição e criatividade, quando vamos além de nossos condicionamentos, são, segundo ele, saltos quânticos, produzidos pela abertura ao intelecto supramental. Quando alinhamos os corpos físico, vital e mental abrimos a possibilidade para o

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