AS 1001 FACES DE UM CRUZEIRO
Uau… é bom estar aqui. Uma leve balançadinha não me deixa esquecer que o MSC Seaside navega próximo a Ilha Grande, no Rio de Janeiro, bem devagar, preparando-se para ancorar. Ainda escuto, como um eco, a festa de ontem à noite. Achei bonitas as mulheres, indiferentes aos quilos a mais ou a menos, às ruguinhas a mais ou a menos, poderosas, com seus decotes mais ousados, saias mais curtas, dançando e beijando seus parceiros, mais bronzeados, atrevidos e sorridentes.
Nunca o multiverso me pareceu mais exato. Naquele momento tive certeza de que o navio tinha a estranha capacidade de permitir a cada pessoa viver sua realidade paralela, cruzar um portal. Sair do personagem cotidiano para outro “eu”, muito mais interessante. Desde que o MSC Seaside partiu, na minha imaginação, tornou-se a nave onde cada um mergulhava em seu próprio sonho.
Assim, cada pessoa vivia um navio completamente diferente, como se fossem bolhas personalizadas. Basta ver que o navio para a criança empolgada nos brinquedões de água que desliza nos temerários tobogãs que se projetam ousadamente para fora do MSC Seaside nada tem a ver com o navio do casal recém-casado que só tem olhos um para o outro. O mundo sofisticado e requintado da cabine do privativo Yatch Club, com spa na sacada, não tem ponto de encontro com o grupo de jovens barulhento que se diverte no boliche.
O fascinante da realidade paralela que se vive dentro do navio é que essas bolhas se cruzam o tempo inteiro quase sem se verem. O navio ocupa um mesmo espaço do oceano, mas cada pessoa, cada casal, cada família, cada grupo, vibra em uma frequência diferente, de modo que as realidades individuais jamais colidem. O casal de meia idade vestido de gala desfila sua elegância sem se importar com a mãe de biquíni que passa esbaforida depois de, finalmente, conseguir arrancar os filhos da piscina para ir tomar banho e jantar.
Não dá para mostrar tantas
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