A National Business Aviation Association realizou sua convenção anual de 2022 em Orlando, na Flórida, em um dos dois locais grandes o suficiente para receber uma feira com mais de mil expositores e quase 30 mil visitantes (o outro local é Las Vegas). Como de praxe, o show, que aconteceu entre os dias 18 e 20 de outubro último e teve uma exibição de aeronaves esgotada no Orlando Executive Airport (ORL), não decepcionou. Superado o pior momento da pandemia de covid-19, os visitantes compareceram em massa, ansiosos para se conectar com outros profissionais e contratar produtos e serviços.
BENEFÍCIO FISCAL
Neste ano em que a NBAA completou sua 75ª edição, mais uma vez, AERO Magazine esteve presente. É impossível não fazer uma retrospectiva de fatos e sentimentos desde 2019, ano em que vivíamos um boom de vendas, carregado sobretudo pelos Estados Unidos no plano do governo Trump de permitir a depreciação ultra-acelerada de uma aeronave de negócios comprada por norte-americanos em território norte--americano.
O comprador de uma aeronave poderia depreciá-la 100% no mesmo ano da aquisição. Na prática, isso significa que este proprietário corporativo poderia lançar como “despesa” a compra da aeronave e, assim, abater esse valor da base de cálculo de seu imposto de renda. Dois anos e uma pandemia depois, este continua sendo um grande propulsor do mercado norte-americano que, no próximo ano, começa a diminuir para depreciação de 80% no ano da compra e seguirá diminuindo. A indústria perde parte deste vento de cauda, mas o revés vem sendo mais que compensado por mudanças no comportamento do consumidor.
Em março de 2020, ninguém poderia imaginar o que está acontecendo hoje. Naquele momento, o mundo foi “groundeado”, companhias aéreas e infraestrutura aeroportuária estavam sendo utilizadas apenas para resgatar viajantes de volta a seus países. Essa mesma infraestrutura seria mantida viva na esperança de, em breve, transportar vacinas para salvar vidas e por que não, resgatar a humanidade.
Como já se sabe, em 2021, as coisas começaram a voltar lentamente, mas, infelizmente, a aviação regular havia sido severamente atingida. No Brasil, tanto voos como rotas haviam sido reduzidos a níveis mínimos, quase críticos, incompatíveis com as necessidades de empresas de dar a partida a frio em seus negócios por todo o país. Como gerenciar e acompanhar a reabertura de plantas e lojas sem aviação regular? A resposta era a aviação geral ou, como gostamos de falar, a aviação de negócios.
Além dessa racional demanda logística, muitos faziam esta reflexão: “Se tenho dinheiro, por que deveria entrar numa aeronave com dezenas de outros passageiros?”.
EU QUERO, E QUERO AGORA
Esse comportamento aconteceu em todo o mundo, e a busca por aeronaves criou um mercado comprador impensável. O “” havia chegado justamente em um momento em que as cadeias de suprimento estavam esgarçadas. A combinação perfeita de crescimento de demanda e diminuição de oferta criou filas de entrega com esperas de mais de dois anos e, com isso, vieram a valorização e o ágio nas aeronaves usadas. Esse ágio continua acontecendo, aeronaves com até dois anos de operação estão sendo vendidas com preços entre 10% e 15% mais elevados do que os de uma nova com entrega futura. Em alguns modelos, o ágio chega à casa dos 40%.