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Convulsão protestante: Quando a teologia foge do templo e abraça a rua
Convulsão protestante: Quando a teologia foge do templo e abraça a rua
Convulsão protestante: Quando a teologia foge do templo e abraça a rua
E-book265 páginas4 horas

Convulsão protestante: Quando a teologia foge do templo e abraça a rua

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Sobre este e-book

Muitos dos que acompanham as criativas e contundentes manifestações contra a violência e a desigualdade social e em favor dos direitos humanos, em especial na cidade do Rio de Janeiro, cuja eloquência e impacto alcançam a mídia em todo o planeta, não fazem ideia de que, por trás desse movimento, está um pastor cujo ministério sofreu uma guinada espetacular.

Em "Convulsão protestante", Antônio Carlos Costa relata por que decidiu dar uma reviravolta em sua carreira ministerial e lançar-se na desconhecida e imprevisível jornada em favor da massa empobrecida deste país.

Engana-se quem espera do autor um texto panfletário, de pena viciada pelos usos e abusos da retórica marxista. Antônio é um pensador e articulador atento ao texto bíblico que, em dado momento, foi confrontado por Deus a agir.

"Convulsão protestante" ajudará o leitor a compreender por que o crescimento acelerado do cristianismo em nosso país não resultou em uma sociedade mais justa e digna para todos.
IdiomaPortuguês
Data de lançamento1 de jan. de 2015
ISBN9788543300931
Convulsão protestante: Quando a teologia foge do templo e abraça a rua

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    Convulsão protestante - Antônio Carlos Costa

    justiça.

    C A P Í T U L O  1

    A cosmovisão cristã e a dignidade humana

    EMBORA TENHA SIDO REDIGIDA antes do ano 70, a carta de Tiago trata de questões que podem ser aplicadas à vida de toda comunidade cristã do século 21. A atualidade dos problemas que aborda chama a atenção de qualquer leitor atento, o que nos leva à conclusão de que há certas leis sociológicas, frutos da propensão humana à maldade, que teimam em se repetir. Em vista de seu caráter pérfido, essas leis devem ser enfrentadas por todos, especialmente os que ocupam cargos de liderança, como Tiago. A passagem a seguir, extraída de sua carta, aborda conflitos sempre presentes na Igreja e na sociedade.

    Meus irmãos, como crentes em nosso glorioso Senhor Jesus Cristo, não façam diferença entre as pessoas, tratando-as com parcialidade. Suponham que na reunião de vocês entre um homem com anel de ouro e roupas finas, e também entre um pobre com roupas velhas e sujas. Se vocês derem atenção especial ao homem que está vestido com roupas finas e disserem: Aqui está um lugar apropriado para o senhor, mas disserem ao pobre: Você, fique em pé ali, ou: Sente-se no chão, junto ao estrado onde ponho os meus pés, não estarão fazendo discriminação, fazendo julgamentos com critérios errados?

    Ouçam, meus amados irmãos: Não escolheu Deus os que são pobres aos olhos do mundo para serem ricos em fé e herdarem o Reino que ele prometeu aos que o amam? Mas vocês têm desprezado o pobre. Não são os ricos que oprimem vocês? Não são eles os que os arrastam para os tribunais? Não são eles que difamam o bom nome que sobre vocês foi invocado?

    Tiago 2.1-7

    Vivemos dias de graves ameaças internas à saúde da Igreja: cultos de adoração viraram espetáculos de entretenimento, pregadores procuram livrar congregações cristãs do contato com o Deus real, e a mentalidade de mercado rege a relação do púlpito com os bancos. Por isso é importante ressaltar que, no primeiro século da era cristã, pastores como Tiago investiam tempo na demonstração das implicações práticas da verdade, procurando aplicar a doutrina de modo claro e objetivo, dando nome às contradições da Igreja e procurando, desse modo, evitar que ela mesma se transformasse em obstáculo para a difusão do evangelho.

    Os termos que Tiago usa para se dirigir aos destinatários da carta revelam sua perplexidade e aversão a erros que vinham sendo cometidos no seio da Igreja. O modo como Tiago se dirige à Igreja, contudo, deve ser observado com extrema atenção. Ele faz um juízo caritativo das falhas morais daqueles cristãos. Tiago denuncia o pecado, mas jamais o apresenta como sinal de que não havia uma Igreja. Existia, sim, uma verdadeira comunidade cristã, embora estivesse vivendo uma inexplicável contradição. Essa é uma lição que deveria ser aprendida pelos que se veem como profetas e reformadores sociais e que, em não poucas ocasiões, movidos pela paixão pela causa, perdem a eficácia por terem se tornado amargos e carentes do respeito dos que os ouvem. Existe um mal que domina muitos: o orgulho de fazer o bem, que pode nos levar a pregar de modo arrogante.

    Não é tarefa fácil para quem está na linha de frente, diante da miséria e da injustiça, saber lidar com a indiferença, tanto da parte da sociedade quanto da Igreja. Há uma tendência a julgar tudo como ilusório, irreal, falso. Daí surge a necessidade de as pessoas que se encontram na ponta sempre regularem no coração o que a boca vai dizer. Há um modo cristão de fazer as coisas e, no que se refere à nossa forma de falar, devemos refletir o alto conceito que a Bíblia transmite sobre o homem. Chama-nos a atenção o fato de Tiago se dirigir de modo doce aos leitores da epístola: Meus irmãos…. Não há compromisso com a verdade que justifique a estupidez no ato de pregar. Ao chamá-los de irmãos, Tiago pavimenta o caminho para o que haverá de dizer. Se o educador quer atingir o âmago dos ouvintes, precisa aprender a tomar o caminho do coração. Aquele que nos ouve pode não aceitar o que tencionamos ensinar em virtude de como falamos. Comunicar a verdade de modo irritante ou ofensivo é injustificável.

    Na sequência, Tiago adverte: Meus irmãos, como crentes em nosso glorioso Senhor Jesus Cristo, não façam diferença entre as pessoas, tratando-as com parcialidade. Ser crente em Jesus significa ter nele. A palavra é um desses vocábulos cujo sentido varia de acordo com o contexto em que aparecem na Bíblia. Ela pode ter, por exemplo, o significado simples de mera fé na existência de Deus. Pode significar também algo que está além de crer que Deus existe. Não são poucas as passagens das Escrituras que atribuem à palavra o sentido de firme confiança nas promessas de Deus. Você pode crer, portanto, que Deus existe sem confiar na sua promessa de perdão e vida eterna que são oferecidos em Cristo.

    Um dos significados de fé que se destaca dos que já foram mencionados é este: fé é o conjunto de crenças evangélicas, isto é, a totalidade da doutrina. Aquilo que muitas vezes é chamado de cosmovisão cristã,¹ ou, em outras palavras, a forma de ver o mundo segundo os padrões cristãos. Sim, o evangelho nos apresenta uma visão de mundo que parte de pressuposições firmes e inegociáveis — encontradas, em alguma medida, também em outros sistemas de pensamento.

    Há, contudo, conceitos essencialmente evangélicos, que só encontramos na mensagem de Cristo. O cristianismo declara, por exemplo, que há um único Deus, pessoal e perfeito em seu ser e atributos. Com Cristo, aprendemos a chamá-lo de Pai. O Deus cristão perdoa os homens, sem exigir deles a prática de tolices para que sejam perdoados: não há passagens do Novo Testamento que estimulem, por exemplo, pessoas a subir de joelhos escadarias de igrejas, fazer peregrinação a locais sagrados ou lambuzar de óleo a porta de um escritório para o trabalho prosperar. O Pai, revelado por Cristo, não pede ao homem que pratique o que torna sua vida inviável a fim de chamar a atenção da divindade. O conceito cristão de Deus é de tirar o fôlego.

    Ninguém jamais exaltou a Deus como Cristo. De igual modo, ninguém jamais exaltou o homem como Cristo. No cerne da antropologia de Jesus encontra-se seu elevado conceito da vida humana. Parte da mensagem do evangelho visa a lembrar à humanidade que não existe ser humano descartável. O escritor cristão C. S. Lewis destacou isso ao afirmar: Não existe gente comum. Você nunca falou com um simples mortal.² Servir ao homem se iguala a servir àquele que o criou e que espera ser buscado e encontrado na vida do que sofre.

    Ideias têm consequências

    O evangelho, como conjunto de ideias, produz necessariamente consequências práticas para a totalidade da vida humana. Seus efeitos são inevitáveis. Assim, há o que poderíamos chamar de modo de vida cristão, que não significa apenas ser gente boa. Ser cristão não é sinônimo de ser do bem. Certamente, o cristão ama e quer o bem. Mas ser cristão é, essencialmente, ver a vida de determinado modo e ajustar a conduta pessoal a essa forma de enxergar o mundo que o cerca.

    O cristianismo, portanto, pode ser usado para justificar determinados procedimentos, vistos como corolário de sua mensagem. O cristão, por exemplo, sempre deverá ser a favor de regimes políticos democráticos. Em razão de seu alto conceito sobre a vida humana, o cristianismo jamais tolerará que o ser humano seja governado sem o seu consentimento. Mais que isso, em razão de seu realismo, de sua completa falta de romantismo quanto à natureza humana, a fé cristã sempre condenará todo regime totalitário. O poder tem a tendência de servir ao poder. Seu caráter corruptor é implacável. Como escreveu o politólogo francês Bertrand de Jouvenel:

    Um homem sozinho pode governar uma imensa massa porque forjou um instrumento que lhe permite ser o mais forte em relação a qualquer um: é o aparelho do Estado. O conjunto submetido constitui um bem do monarca, por meio do qual ele sustenta seu luxo, alimenta sua força, recompensa as fidelidades e persegue os fins que sua ambição lhe propõe.³

    Para o evangelho, o poder tem de ser diluído, de modo que ninguém seja investido de demasiada autoridade. Numa sociedade sob influência do cristianismo, mecanismos políticos serão sempre criados para arrancar do poder os corruptos, os usurpadores e os incompetentes. Nada melhor para isso que os regimes democráticos, baseados no império da lei, nos quais há eleições livres, voto universal e controle social sobre o Estado.

    Fato lamentável da história da humanidade é o reiterado uso do cristianismo para justificar o que não se harmoniza com a essência da própria mensagem. A Bíblia, que afirma que todos os homens foram criados à imagem de Deus (Gn 1.26-27), já foi usada para justificar o racismo, a escravidão e a opressão da mulher.

    O que Tiago faz no texto que reproduzimos anteriormente é condenar um dos possíveis e contraditórios usos das Escrituras. O evangelho não deve jamais ser usado como justificativa para tratamento excludente, baseado em puro preconceito, por meio do qual a dignidade humana deixa de estar fundamentada na origem divina do homem, para ter como alicerce sua condição social ou raça. Tiago condena fazer diferença entre as pessoas. A tradução Almeida Revista e Atualizada (RA) usa a expressão acepção de pessoas. A palavra no original grego que foi traduzido nessa passagem por diferença ou acepção, prosopolepsia, significa, literalmente, receber o rosto. Receber o rosto é fazer julgamentos e estabelecer diferenças baseadas em considerações externas, tais como aparência física, status social ou raça.⁴ Significa favoritismo, parcialidade. E isso é perder de vista parte de um artigo de fé fundamental da antropologia bíblica, que declara a dignidade de todo ser humano, em razão da imagem de Deus da qual homens e mulheres de todas as eras e etnias são portadores. Como ressalta o teólogo britânico John

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