Reimaginando a igreja: Para quem busca mais do que simplesmente um grupo religioso
De Frank Viola
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Reimaginando a igreja - Frank Viola
1963.
PARTE 1
COMUNIDADE E AJUNTAMENTO
CAPÍTULO 1
REIMAGINANDO A IGREJA COMO UM ORGANISMO
A comoção inicial de uma verdade é proporcional à profundidade com a qual se acreditou na mentira. Não foi o fato de o mundo ser redondo que agitou as pessoas, mas o fato de o mundo não ser plano. Quando, através das gerações, uma teia de mentiras bem embaladas é gradualmente vendida para as massas, a verdade aparenta ser completamente irracional e seu porta-voz, um lunático desvairado.
— Dresden James
O ministério do Espírito Santo tem sempre sido o de revelar Jesus Cristo, e revelá-lo para tudo conformar a ele. Nenhum gênio humano pode fazer isso. Não podemos obter nada do Novo Testamento como resultado da pesquisa, da investigação ou da razão humanas. Tudo é a revelação de Jesus Cristo conduzida pelo Espírito Santo. Nosso é apenas o buscar continuamente vê-lo pelo Espírito a fim de que saibamos que ele – não um modelo de papel – é o Padrão, a Ordem, a Forma. Tudo se resume numa Pessoa: os propósitos e os meios. Tudo então [na igreja primitiva] era o movimento livre e espontâneo do Espírito Santo que tudo fez de acordo com o Padrão – o Filho de Deus.
— T. Austin-Sparks
ONovo Testamento usa muitas imagens para descrever a igreja. Significativamente, todas elas são entidades vivas: um corpo, uma noiva, uma família, um novo homem, um templo vivo feito de pedras vivas, uma videira, um campo, um exército, uma cidade, etc. Cada imagem nos ensina que a igreja é um organismo vivo em vez de uma instituição. Poucos cristãos hoje discordariam desta afirmação. Mas o que isto significa na prática? Nós realmente acreditamos nisto?
A igreja a respeito da qual lemos no Novo Testamento é orgânica
. Quero dizer que em vez de ter sido construída por instituições humanas, controlada por uma hierarquia humana, formada por rituais sem vida e sustentada por programas religiosos, ela nasceu de uma vivência espiritual e por esta vivência espiritual se mantinha.
Digamos, para usar uma ilustração, que eu quisesse criar uma laranja em laboratório. Essa laranja criada em laboratório não seria orgânica. Mas se eu plantasse a semente de uma laranja no solo e ela produzisse uma laranjeira, essa seria orgânica. Da mesma maneira, quando nós mortais, marcados pelo pecado, tentássemos criar uma igreja seguindo a mesma fórmula usada para começar uma empresa, estaríamos desobedecendo ao princípio orgânico da vida da igreja. Uma igreja orgânica é uma igreja gerada naturalmente quando um grupo de pessoas se encontra realmente com Jesus Cristo (sendo desnecessários os apetrechos eclesiásticos), e o DNA da igreja é livre para trabalhar, sem impedimentos.
Dito de maneira bem objetiva: a vida de uma igreja orgânica não é um teatro com um roteiro; é uma comunidade reunida que vive segundo a vida divina. Em contraste, a igreja institucional moderna opera segundo os mesmos princípios que orientam o mundo corporativo.
O DNA da igreja
Todas as formas de vida têm um DNA – um código genético. O DNA confere a cada forma de vida uma expressão particular, específica. Por exemplo: as instruções para a construção de seu corpo físico estão codificadas em seu DNA. Em grande parte, é ele quem determina seus traços físicos e psicológicos.
Se a igreja é realmente orgânica, significa que ela também tem seu próprio DNA – um DNA espiritual. Mas onde descobrimos o DNA da igreja? Acredito que podemos aprender bastante a este respeito olhando para a própria pessoa de Deus. Nós cristãos somos os únicos que proclamam um Deus triuno.¹
Nas palavras do Credo de Atanásio: O Pai é Deus, o Filho é Deus e o Espírito Santo é Deus, porém não são eles três deuses, mas um só Deus.
O cristianismo clássico ensina que Deus é uma comunhão de três pessoas, ou uma Trindade
, como chamam os teólogos. O teólogo Stanley Grenz diz:
A natureza triuna de Deus significa que Deus é social ou relacional – Deus é a Trindade Social
. E, por esta razão, podemos dizer que Deus é comunidade
. Deus é a comunidade do Pai, do Filho e do Espírito, os quais desfrutam de perfeita e eterna comunhão.²
Por muitos anos, tive ensinamentos precisos sobre a Trindade. Mas eles nunca tiveram nenhuma aplicação prática em minha vida. Eu os considerava altamente abstratos e sem utilidade prática. Mais tarde, descobri que entender a atividade interior da Trindade era achave para tudo compreender na vida cristã, inclusive a igreja.³ Como disse Eugene Peterson: A Trindade é a mais completa e integralizadora moldura de que dispomos para entender e participar da vida cristã.
⁴
A teóloga Catherine LaCunga concorda com esta afirmação e diz: A doutrina da Trindade é, em última análise, uma doutrina prática com consequências radicais para a vida cristã.
⁵ Na mesma linha, Miroslav Volf escreve que O Deus triuno encontra-se no princípio e no fim da peregrinação cristã e, portanto, no centro da fé cristã
. ⁶
O ensino bíblico acerca da Trindade não é uma exposição abstrata sobre Deus, mas uma instrução concreta sobre a natureza de Deus e sobre como ela opera na comunidade cristã. Como tal, não deveria ser relegada à condição de mera nota de rodapé do Evangelho. Mas deveria, de maneira oposta, moldar a vida cristã e orientar a prática da igreja.⁷
Ao longo do Evangelho de João, Jesus faz várias afirmações que lançam luz sobre sua relação com o Pai possibilitando-nos entender algo deste mistério. Ele diz: Pai… [tu] me amastes antes da criação do mundo
(Jo 17.24). Ele também diz: é preciso que o mundo saiba que eu amo o Pai
(14.31). Apenas por estes dois textos já percebemos a existência de um amor mútuo que fluía no íntimo do ser triuno de Deus desde antes da criação do mundo.
Nos capítulos iniciais de Gênesis, descobrimos haver também em Deus um dinamismo interno de comunhão: Façamos o homem à nossa imagem, conforme a nossa semelhança
(Gn 1.26). Aqui vemos o Deus triuno discernindo seus próprios caminhos e planejando.
O Evangelho de João aprofunda ainda mais o ensinamento acerca da natureza de Deus. Ele afirma que o Filho vive pela vida do Pai (5.26; 6.57). O Filho compartilha da glória do Pai e a manifesta (13.31-32; 17.4-5). O Filho vive no Pai e o Pai vive no Filho (1.18; 14.10). O Filho vive em completa dependência do Pai (5.19). O Filho reflete o Pai em suas palavras e atitudes (12.49; 14.9). O Pai glorifica o Filho (1.14; 8.50, 54; 12.23; 16.14; 17.1, 5, 22, 24) e o Filho exalta o Pai (7.18; 14.13; 17.1, 4; 20.17).
No íntimo do ser triuno de Deus nós descobrimos amor mútuo, comunhão mútua, dependência mútua, honra mútua, submissão mútua, mútua habitação e autêntica comunidade. Há em Deus uma eterna, complementar e recíproca intercomunicação da vida divina, do amor divino e da divina comunhão.
Maravilhosamente, esta relação foi transposta da esfera do divino para a do humano. Houve uma passagem do Pai para o Filho e do Filho para a igreja (Jo 6.57; 15.9; 20.21). Um deslocamento do Deus eterno nos céus para a igreja na terra, o corpo do Senhor Jesus Cristo. A igreja é uma orgânica extensão do Deus triuno. Ela foi concebida em Cristo antes da fundação do mundo (Ef 1.4-5) e nasceu no dia de Pentecostes (At 2.1ss). Concebida adequadamente, a igreja é a comunidade reunida que compartilha da vida de Deus e a expressa na terra. Dito de outra maneira, a igreja é a imagem terrena do Deus triuno (Ef 1.22-23).
Por ser orgânica, a igreja possui uma expressão natural. Da mesma maneira, quando um grupo de cristãos segue seu DNA espiritual, seu ajuntamento acontece de um modo que corresponde ao DNA do Deus triuno – pois eles possuem a mesma vida que o próprio Deus possui. Embora nós cristãos não sejamos em nenhuma hipótese divinos, temos sido privilegiados pela condição de participantes da natureza divina
(2Pe 1.4). Portanto o DNA da igreja é marcado pelos vários traços que encontramos no Deus triuno, a saber: amor mútuo, comunhão mútua, dependência mútua, honra mútua, submissão mútua, mútua habitação e autêntica comunidade. Em outras palavras, os rios que formam a igreja têm sua nascente em Deus. Como Stanely Grenz disse: O alicerce fundamental de nossa compreensão da igreja é a relação desta com a própria natureza do Deus triuno.
⁸
O teólogo Kevin Giles faz eco a este pensamento quando diz que a Trindade é o modelo sobre o qual a eclesiologia deveria ser formulada. Pois a vida interior da divina Trindade provê um padrão, um modelo, um eco ou ícone para a existência comunal cristã no mundo
.⁹ Dito de modo mais direto, a Trindade é o paradigma que torna possível à igreja expressar-se naturalmente. Shirley Guthrie desdobra este conceito descrevendo a natureza relacional de Deus:
A unicidade de Deus não é a unicidade de um indivíduo retraído e distinto; mas é a unidade de uma comunidade de pessoas que se amam mutuamente e vivem juntas em harmonia… Elas são o que são apenas na relação de umas com as outras… Não há uma pessoa solitária separada das demais; nem acima ou abaixo das demais; não há uma pessoa que seja primeira, segunda ou terceira em importância; não há uma que domine e controle, nem há aquela que seja dominada e controlada; não há posições de privilégio, nem conflitos sobre quem detém o mando; não há necessidade de se assegurar a independência e autoridade de um à custa dos outros. Há apenas comunhão e relacionamento de iguais os quais compartilham tudo o que são e possuem em sua intimidade; cada um vivendo com e para o outro em abertura, autodoação amorosa e apoio; cada qual livre, não dos demais, mas para o demais. É assim que Pai, Filho e Espírito Santo se relacionam no interior do ser de Deus.¹⁰
Olhe mais uma vez para o Deus triuno e veja o que está faltando. Há uma ausência de liderança do tipo que sempre tem alguém no comando. Há uma ausência de estruturas hierárquicas.¹¹ Há uma ausência de atitude passivo-espectadora. Há uma ausência de autoevidenciação competitiva. E há uma ausência de rituais e programas. (Há quem argumente em favor de uma certa hierarquia trinitária. Mas esta visão é bíblica e historicamente insustentável. Veja as páginas 291-92 para conhecer mais detalhes).
Liderança personalista, hierarquia, atitude passivo-espectadora, busca competitiva de autoevidenciação, programas religiosos, etc. são criações de seres humanos caídos. E, o que é pior, vão de encontro ao DNA do Deus Triuno e ao DNA da igreja. Tristemente, no entanto, depois da morte dos apóstolos, estas práticas foram adotadas, batizadas e trazidas para a família cristã.¹² E hoje elas se tornaram características centrais da igreja institucional.
Quatro paradigmas para a restauração da igreja
Eis aqui quatro paradigmas para se reimaginar a igreja hoje:
Mimetismo bíblico. Aqueles que advogavam este paradigma defendem a ideia de que o Novo Testamento contém um meticuloso projeto que deve orientar a prática da igreja. Eles acreditam que necessitamos simplesmente extraí-lo das páginas da Bíblia e imitá-lo apenas. Porém, como argumentarei neste livro, o Novo Testamento não contém tal projeto a ser reproduzido, tampouco uma lista de normas e prescrições para os cristãos seguirem.¹³ Como assinala F.F. Bruce, especialista em Novo Testamento: Ao aplicarmos o texto do Novo Testamento a nossa própria situação, não temos que tratá-lo como os escribas do tempo de Jesus tratavam o Antigo Testamento. Não devemos transformar instruções que visavam orientar os adoradores em uma situação específica em leis [universais] a serem obedecidas em todas as épocas.
¹⁴
Adaptabilidade cultural. Os que advogam este paradigma apressam-se em apontar para a realidade de que a cultura humana muda com o passar do tempo. A igreja do primeiro século adaptouse a sua própria cultura. Hoje a cultura é muito diferente. Portanto, a igreja deve adaptar-se à cultura como ela se configura hoje. Os defensores desta visão dizem que em cada época a igreja se reinventa a fim de adaptar-se à cultura vigente.
Este paradigma baseia-se na ideia da contextualização
, que é o método teológico através do qual se busca traduzir a mensagem bíblica para outros ambientes culturais. Ela é certamente necessária quando se busca aplicar princípios das Escrituras a contextos sócioculturais distintos. É graças à contextualização que hoje não usamos sandálias e togas, não falamos grego e não usamos mais cavalos como transportes.
Contudo, algumas pessoas levantam tão alto a bandeira da contextualização que as Escrituras acabam sofrendo uma hipercontextualização, perdendo assim sua completa relevância para o tempo presente. Pois hipercontextualização abocanha o texto bíblico de tal maneira que ele termina desaparecendo por inteiro. E então acabamos por abraçar a única alternativa que nos resta, que é a de criarmos a igreja conforme nossa própria imagem e semelhança. F. F. Bruce faz o seguinte alerta contra os perigos da hipercontextualização:
A reformulação do Evangelho em outro idioma é necessária a cada geração – assim como é necessária sua tradução para novas línguas. [Mas] quando esta reformulação é exagerada, o Evangelho de Jesus Cristo desaparece e o produto resultante é aquilo que Paulo teria chamado de outro evangelho que, na realidade, não é o evangelho
(Gl 1.6-7). Quando a mensagem cristã é tão extensivamente acomodada à mentalidade predominante que chega a se tornar mais uma expressão desta mentalidade, ela já não é mais a mensagem cristã.¹⁵
Tenho ficado fascinado com a descoberta de que cada um dos muitos partidários do paradigma da adaptabilidade cultural que conheço acredita que há práticas da igreja primitiva que são normativas e que, portanto, transcendem tempo e cultura. Por exemplo, a maioria dos cristãos que defendem este paradigma acharia ofensiva a sugestão de abandonarmos o batismo com água e substituirmos o pão e o vinho da Santa Ceia por batata-frita e refrigerante. (Os menores de dez anos talvez fossem exceção neste caso!).
A pergunta crítica que se impõe aqui é a seguinte: quais práticas do Novo Testamento são apenas descritivas e quais são normativas? Ou, colocando a mesma questão de modo diferente: quais práticas do Novo Testamento estão vinculadas à cultura do primeiro século e quais são expressões da natureza e identidade imutáveis da igreja?
Os perigos da hipercontextualização são reais e não poucos líderes cristãos, ainda que inconscientemente, são culpados por incorrer neste erro. Temos de ser cautelosos para, inconscientemente, não nos aferrarmos a princípios bíblicos apenas quando nos convém, abandonando-os quando em nome da contextualização
se dá o contrário.
O fato é que, praticamente todos os cristãos derivam da Bíblia suas ideias acerca da vida cristã e da igreja. (Ironicamente, aqueles que alegam não o fazer, quase sempre terminam se voltando para os ensinamentos de Jesus ou de Paulo para fundamentar ou condenar uma determinada ideia ou prática). A igreja primitiva não era perfeita. Se você duvida disso, leia a Primeira Epístola de Paulo aos Coríntios. Portanto, romantizar os cristãos primitivos como se eles fossem irrepreensíveis é um equívoco. Por outro lado, a igreja do primeiro século foi fundada por Jesus e os apóstolos. E na medida em que espelha os ensinamentos deles, ela tem muito a nos ensinar. Ignorá-la como se fossem irrelevantes para o nosso tempo é um erro grosseiro. Nas palavras de J.B. Phillips:
A grande diferença entre o cristianismo de hoje e aquele acerca do qual lemos nas cartas [do Novo Testamento] é que, para nós, aquele cristianismo é primordialmente uma performance enquanto para eles foi uma experiência real. Estamos aptos a reduzir a religião cristã a um código, ou, no melhor dos cenários, a uma regra do coração e da vida. Para aqueles homens, porém, o cristianismo significou a total invasão da vida por uma nova e substancialmente outra qualidade de vida.¹⁶
Cristianismo pós-igreja. Este paradigma se enraíza na tentativa de se viver o cristianismo sem se pertencer a uma comunidade identificável que regularmente se ajunta para adoração, oração, comunhão e edificação mútua. Seus proclamadores alegam que amizade pessoal e interação social espontânea (como tomar um cafezinho quando quer que sintam desejo) encarnam fielmente o sentido de igreja
presente no Novo Testamento. Eles acreditam numa igreja fantasma que é amorfa e nebulosa.
Tal conceito encontra-se desconectado do que se está registrado no Novo Testamento. Com efeito, as igrejas cristãs do primeiro século eram comunidades localizáveis, identificáveis e visitáveis que se ajuntavam regularmente em um determinado lugar. Por esta razão, Paulo podia escrever-lhes cartas com alguma ideia de quem estaria presente para ouvilas (Rm 16). Ele também tinha uma boa noção de quando eles se reuniam (At 20.7; 1Co 14) e dos tipos de lutas que enfrentavam em suas vidas comunitárias (Rm 12-14; 1Co 1-8). Além de não possuir fundamentação bíblica, o paradigma do cristianismo pós-igreja aparenta ser uma expressão contemporânea que busca por intimidade sem compromisso.
Expressão orgânica. Ao longo deste livro, argumentarei em favor deste paradigma. Estou convencido de que o Novo Testamento é um registro do DNA da igreja em ação. Quando lemos o livro de Atos e as cartas, estamos assistindo a genética da igreja de Jesus Cristo se expressando em diversas culturas durante o primeiro século. Pelo fato de a igreja ser verdadeiramente um organismo espiritual, seu DNA jamais se modifica. Ela é a mesma entidade biológica ontem, hoje e amanhã. Como tal, seu DNA sempre apresentará estes quatro elementos:
1. A primazia de Jesus Cristo na igreja em oposição à primazia de qualquer outra pessoa. (Uso o termo primazia
para me referir à ideia de que Cristo é tanto a autoridade última quando a fonte primeira da igreja). ¹⁷
2. O lugar e a função de cada membro do corpo.
3. Uma teologia que reflita a teologia contida no Novo Testamento dando-lhe expressão visível na terra.
4. Raízes profundas na comunhão do Deus triuno.
A trindade é o paradigma que nos informa o modo como a igreja deveria funcionar. Ela nos mostra que a igreja é uma comunidade amorosa, igualitária, mutual, cooperativa e não hierárquica.
F.F. Bruce disse certa vez: "Desenvolvimento é o desdobramento de algo que já existe, mesmo que apenas implicitamente; ruptura envolve o abandono de um princípio ou de uma base em função de outra."¹⁸ Tudo o que possibilita a igreja refletir o Deus triuno é desenvolvimento; tudo o que a impede de fazê-lo é ruptura.
George Barna e eu argumentamos em nosso livro Cristianismo que muito pouco do que é praticado na moderna igreja institucional tem raízes no Novo Testamento. Em vez disso, práticas inventadas por seres humanos que séculos atrás foram espalhadas têm tanto formado como redefinido a igreja. Ora, tais práticas minam a primazia de Cristo, dificultam o ministério e a funcionalidade de cada cristão no corpo de Cristo, violam a teologia do Novo Testamento e negam a comunhão do Deus triuno. Como declara Emil Brunner: "A delicada estrutura da comunhão fundada por Jesus e ancorada pelo Espírito Santo não poderia ser substituída por uma instituição sem que todo o caráter da ecclesia fosse fundamentalmente mudado."¹⁹
Apesar deste fato, mesmo carecendo de mérito bíblico, muitas destas práticas têm sido justificadas por cristãos. Por quê? Por causa do incrível poder da tradição religiosa. Considere por um momento as seguintes passagens das