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O Messias na Páscoa: A tradição judaica por trás da figura do Messias e da Páscoa
O Messias na Páscoa: A tradição judaica por trás da figura do Messias e da Páscoa
O Messias na Páscoa: A tradição judaica por trás da figura do Messias e da Páscoa
E-book594 páginas7 horas

O Messias na Páscoa: A tradição judaica por trás da figura do Messias e da Páscoa

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Sobre este e-book

O Messias na Páscoa é para quem quer explorar as tradições da Páscoa e aprofundar sua compreensão dos vínculos entre a Páscoa, a Última Ceia e a Comunhão. Este livro de referência da Páscoa discute questões bíblicas e teológicas, história judaica e da igreja e tradição rabínica. Também inclui uma Hagadá da família messiânica (guia da Páscoa), além de receitas e lições de Páscoa para as crianças. Recursos adicionais e vídeos instrutivos para celebrar a Páscoa em casa ou na congregação estão disponíveis em messiahinthepassover.com. A Páscoa tem um grande significado para os seguidores de Jesus e oferece uma maravilhosa oportunidade para ensinar adultos e crianças as poderosas verdades da redenção. Os crentes serão fortalecidos sabendo que adoram um Deus que cumpre suas promessas e permanece sempre fiel.
IdiomaPortuguês
Data de lançamento20 de mai. de 2020
ISBN9786599044243
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    O Messias na Páscoa - Darrell L. Bock

    judaico.

    Os primeiros capítulos de Gênesis documentam as interações iniciais de Deus com a humanidade. Ele cria Adão e Eva, desfruta de uma comunhão íntima com eles, os procura quando eles lhe desobedecem no jardim de Éden e lhes promete enviar um libertador para redimir a humanidade e restaurar a criação do caos para a paz. O fio dessa promessa é entretecido em todos os eventos iniciais de Gênesis, como se os patriarcas estivessem recitando a grande libertação que Deus trará mais tarde.

    A Páscoa em Gênesis

    Em Gênesis, o Egito é retratado de forma consistente como um lugar do qual é preciso sair, com a ajuda de Deus, para preservar o povo de Deus.¹ E seu objetivo último é levá-lo para a Terra Prometida. Isso tem levado alguns estudiosos a sugerir que Gênesis foi escrito com o êxodo em mente, como prelúdio para mostrar a eleição de Israel por Deus como seu povo e para demonstrar que ele é o Deus supremo, dois elementos vitais no relato de Êxodo.² Apesar de não existirem menções específicas à Páscoa em Gênesis, há alusões ao êxodo. Portanto, ao embarcarmos nesse estudo da Páscoa na Torá, é importante examinar essas passagens em Gênesis para adquirir uma compreensão mais profunda do contexto da Páscoa do êxodo.³

    Abrão

    A primeira dessas ocorrências em Gênesis é o relato de Abrão. Deus faz uma aliança com Abrão em Gênesis 12.1-3, onde ele o chama para se levantar e partir. Abrão deve seguir Deus até uma terra específica e recebe a promessa de que Deus fará dele uma grande nação e lhe dará um grande nome e de que, por meio dele, todas as famílias da terra serão abençoadas. Em Gênesis 15, Deus especifica a aliança, prometendo dar-lhe um filho e informando-lhe as fronteiras da terra mencionada anteriormente. Esse texto fornece também a primeira dica que aponta para o êxodo:

    [Deus disse a Abrão:] Sabe, com certeza, que a tua posteridade será peregrina em terra alheia, e será reduzida à escravidão, e será afligida por quatrocentos anos. Mas também eu julgarei a gente a que têm de sujeitar-se; e depois sairão com grandes riquezas. [...] Na quarta geração, tornarão para aqui […] (Gn 15.13-16).

    Talvez para demonstrar sua fidelidade soberana às suas promessas ou para indicar o futuro difícil que os descendentes de Abrão teriam que suportar, Deus decide lhe revelar certos detalhes sobre o êxodo. Seus descendentes serão oprimidos e escravizados, serão estranhos numa terra estrangeira durante quatrocentos anos. O próprio Deus julgará a nação que os oprime. Os descendentes deixarão essa terra estrangeira com muitas posses e voltarão para a Terra da Promessa. Não há menção à Páscoa, mas há uma predição de libertação e retorno nacional para a terra, os dois temas principais do êxodo do Egito.

    José

    O prenúncio mais forte do êxodo na Torá se encontra talvez na vida de José. Em Gênesis 37–50, lemos que José é amado pelo pai, rejeitado e odiado por seus irmãos, vendido em escravidão por prata, falsamente acusado e condenado por crimes que não cometeu. Apesar de ser inocente, ele desce para as profundezas do sofrimento numa prisão egípcia. É quando ele se encontra nesse ponto mais baixo de sua vida que Deus inverte a situação de José, tirando-o da cova e elevando-o para uma posição abaixo apenas do próprio faraó.

    Mais tarde, uma fome acomete a região, e José se encontra face a face com seus irmãos, dessa vez com a autoridade e capacidade de matá-los por aquilo que lhe fizeram. Em vez disso, ele demonstra misericórdia. Quando seus irmãos assustados estão em sua presença, José os consola com sua compreensão da mão soberana de Deus, que esteve presente em tudo o que aconteceu. José lhes diz:

    Agora, pois, não vos entristeçais, nem vos irriteis contra vós mesmos por me haverdes vendido para aqui; porque, para conservação da vida, Deus me enviou adiante de vós. […] Deus me enviou adiante de vós, para conservar vossa sucessão na terra e para vos preservar a vida por um grande livramento (Gn 45.5,7).

    Na visão de José, Deus usou suas provações para o bem. Ele destaca três resultados de seu sofrimento: 1) preservação de vida, provavelmente para o Egito e outros; 2) a preservação de um remanescente, a melhor explicação sendo o povo hebraico; e 3) a vinda de uma grande libertação, que, muito provavelmente, aponta para o êxodo do Egito.⁵ Mais tarde, José faz uma reflexão semelhante ao dar suas últimas instruções aos seus irmãos antes de sua morte:

    Vós, na verdade, intentastes o mal contra mim; porém Deus o tornou em bem, para fazer, como vedes agora, que se conserve muita gente em vida. [...] Eu morro; porém Deus certamente vos visitará e vos fará subir desta terra para a terra que jurou dar a Abraão, a Isaque e a Jacó. […] Certamente Deus vos visitará, e fareis transportar os meus ossos daqui (Gn 50.20,24-25).

    Aqui José reafirma a soberania de Deus ao longo de suas provações, que resultaram na preservação da vida de muitas pessoas, tanto dos egípcios quanto dos descendentes de Jacó. Ele também começa a profetizar sobre a visita de Deus ao seu povo num momento futuro para tirá-los do Egito e levá-los para a Terra Prometida. Reconhecemos novamente o padrão redentor do êxodo apresentado em Gênesis quando José apela às promessas pactuais que Deus fez aos patriarcas.

    A ponte Gênesis–Êxodo

    paqad. A conotação é que a presença de Deus estará com Israel, pois ele visitará seu povo com a intenção de ajudar e mudar seu destino. Continuando a leitura, percebemos que a mesma palavra hebraica é usada apenas em pontos-chave da narrativa do êxodo para descrever as ações libertadoras de Deus. É usada em Êxodo 3.16, quando Moisés é instruído a ir até os líderes de Israel e anunciar que Deus se lembrou de seu povo e viu as suas aflições. Em Êxodo 4.29-31, quando Moisés e Arão se dirigem aos anciãos e proclamam que Deus viu paqad, nesses textos chave para demonstrar a relação promessa-cumprimento e para construir uma ponte entre as narrativas patriarcais de Gênesis e o evento da Páscoa redentora em Êxodo.

    ’alah, que José usa para indicar como Deus fará subir do Egito o povo de Israel e também como os israelitas levarão consigo os ossos de José quando forem libertados. A palavra é usada várias vezes na narrativa do êxodo para se referir às intenções de Deus de libertar Israel e de trazer seu povo para a Terra, mais notavelmente em Êxodo 3.8, quando ele se dirige a Moisés na sarça ardente.

    paqad, a única menção aos três patriarcas juntos é incluída no final de Gênesis, que, mais tarde, ocorre em momentos-chave da narrativa de Êxodo (Êx 2.23-25; 3.6-8,16-17; 6.1-5,8).

    paqad’alah; e Abraão, Isaque e Jacó são usados para demonstrar a relação promessa-cumprimento entre as palavras de José no leito da morte e os eventos redentores do êxodo. É seguro dizer que, com suas últimas palavras, José serve como ponte pactual entre a família sob a liderança dos patriarcas e a nação sob a liderança de Moisés. Suas palavras preparam o palco para a forma como Deus realizaria sua redenção, visitaria seu povo para libertá-lo e o transferiria de um lugar de escravidão para um lugar de liberdade.

    A Páscoa em Êxodo

    Os cinco primeiros capítulos de Êxodo traçam a trilha em direção à grande libertação que ocorrerá na primeira Páscoa. Israel cresceu em número enquanto vivia no Egito, e sua situação fica pior quando surge um novo faraó que nada sabe sobre José (Êx 1.8). Seguem grande perseguição e aflição para Israel, e no meio de tudo isso, nasce Moisés. Deus soberanamente escolhe e prepara Moisés desde seu nascimento para servir como figura redentora, por meio da qual Deus cumprirá suas promessas. Os gritos de Israel são ouvidos por Deus, e ele começa a tomar medidas pactuais (2.23-25). Ele fala com Moisés na sarça ardente e lhe dá uma missão divina de ir até o faraó e os anciãos de Israel para proclamar a liberdade de Israel (3.1-22). Quando os anciãos ouvem o relato de Moisés, eles acreditam imediatamente e adoram (4.29-31). O faraó, por sua vez, questiona a identidade, a natureza e o caráter do Deus de Israel e, com o coração endurecido, se recusa a ceder ao pedido de Deus (5.2). Sob o estresse de trabalho forçado intensificado, até mesmo Israel começa a questionar as intenções de Moisés (5.21).

    As quatro promessas

    Quando Moisés, agora confuso e angustiado, busca entendimento junto a Deus, ele responde apontando para o que está prestes a fazer. Em Êxodo 6.6-7, lemos:

    Portanto, dize aos filhos de Israel: eu sou o

    Senhor

    , e vos tirarei de debaixo das cargas do Egito, e vos livrarei da sua servidão, e vos resgatarei com braço estendido e com grandes manifestações de julgamento. Tomar-vos-ei por meu povo e serei vosso Deus; e sabereis que eu sou o

    Senhor

    , vosso Deus, que vos tiro de debaixo das cargas do Egito. (grifos meus)

    As quatro promessas em destaque servem como base para os quatro cálices usados durante a celebração judaica tradicional do Sêder pascal. Fontes judaicas interpretam essas quatro promessas como a espinha dorsal de toda a experiência pascal, sendo que cada uma representa uma fase no desdobramento progressivo da redenção de Israel.⁸ As duas primeiras promessas, que Deus tirará Israel e libertará seu povo da escravidão egípcia, falam sobre como ele transferirá Israel fisicamente do Egito para a Terra Prometida⁹ e como, nesse processo, ele mudará o status de seu povo de escravo para livre.

    ga’al, usado aqui pode ter o sentido de readquirir algo que, alguma vez, lhe pertenceu. Aponta para uma transação entre partes em que o comprador paga um preço e, em decorrência disso, assume a posse daquilo que foi adquirido.¹⁰ Semelhantemente, por meio da Páscoa, Deus pagará um preço (o Cordeiro) para readquirir Israel, seu primogênito (Êx 4.22), assumindo a posse de seu povo e levando-o para a Terra.¹¹

    laqach, usado aqui, ocorre mais de mil vezes no Antigo Testamento e significa tomar, receber, mas muitas vezes sua nuança é determinada pelas palavras com as quais é usado.¹² Aqui, Deus toma Israel como seu povo; ele será seu Deus. Essa promessa aponta para uma relação íntima e especial que Deus e seu povo desfrutarão também após sua redenção.¹³ Fontes cristãs e rabínicas veem o cumprimento dessa promessa no Sinai, quando Deus toma Israel, estabelecendo um contrato pactual, até mesmo um casamento com seu povo, quando este aceita sua Torá.¹⁴

    Quando continuamos a leitura, vemos que há outras duas promessas em Êxodo 6.8, relacionadas diretamente ao fato de que Deus levará Israel para a Terra Prometida e dará a Terra ao seu povo como possessão:

    E vos levarei à terra a qual jurei dar a Abraão, a Isaque e a Jacó; e vô-la darei como possessão. Eu sou o Senhor. (grifos meus)

    Resumindo as seis promessas em Êxodo 6.6-8, as três primeiras (tirar, libertar, redimir) dizem respeito à condição de Israel no Egito antes da travessia do Mar Vermelho, e a quarta promessa (tomar para si mesmo), mais a quinta e a sexta promessas (levar para a terra, dar a terra como possessão) se relacionam à experiência de Israel depois da travessia do Mar Vermelho.

    Obediência fiel e as promessas

    Quando estudamos as promessas divinas, é importante que façamos algumas perguntas: Quando Deus nos dá uma promessa, qual é a nossa responsabilidade? O que devemos fazer com essa promessa? Pare um pouco para refletir sobre isso. A resposta simples é: crer. Devemos crer e ter fé de que Deus realmente cumprirá a promessa que fez. À luz do fato de que o ato redentor da Páscoa se baseia nas promessas de Deus aos patriarcas, a Moisés e a todo o povo de Israel, concluímos que a fé sempre tem sido um elemento-chave na redenção. A partir do momento em que as promessas são mencionadas em Êxodo 6 até a travessia do Mar Vermelho em Êxodo 14, a obediência fiel de Israel está em destaque, ao mesmo tempo em que Deus cumpre fielmente as suas promessas (veja Hb 11.28-29).

    A Páscoa

    A décima e última praga dá início ao crescendo redentor da Torá. Em Êxodo 11, Deus pronuncia seu juízo sobre o Egito, mais especificamente por meio da morte de todos os primogênitos na terra. Deus informa então os detalhes da última praga a Moisés em três seções nos capítulos 12 e 13. Ele descreve como Israel deve observar a primeira Páscoa no Egito (12.1-13), como seu povo deve observá-la em suas gerações futuras (12.14-20; 13.1-16) e quem deve observá-la (12.42-49). Assim, Moisés transmite as instruções de Deus a Israel (12.21-27), e observamos o desdobramento do evento como Deus o descreveu (12.28-41).

    Os israelitas devem escolher um cordeiro macho sem mácula de um ano de idade, levá-lo para dentro de sua casa e examiná-lo do décimo ao décimo quarto dia do primeiro mês. No crepúsculo do décimo quarto dia, cada lar sacrificará o cordeiro, colherá seu sangue numa bacia, mergulhará hissopo no sangue e aplicará o sangue à verga e às duas ombreiras da porta de seu lar, permanecendo dentro da casa pelo restante da noite. Cada família assará o cordeiro inteiro e o comerá às pressas, com pão asmo e ervas amargas, queimando tudo o que restar na manhã seguinte.

    Esse é o verdadeiro momento de Israel. Todas as promessas de libertação dadas ao povo de Deus estão se concentrando nesse momento. O sangue do cordeiro pascal é o eixo em torno do qual seu cumprimento gira. Eles receberam as instruções; agora, o povo precisa exercer sua fé de que Deus cumprirá o que prometeu. Pela fé, eles precisam examinar e abater o cordeiro. Pela fé, eles devem pegar seu sangue e aplicá-lo em suas portas. Pela fé, eles precisam confiar no Senhor. O sangue é testemunho de sua fé nas promessas e no poder redentor de Deus.

    pasachpesach, do qual derivamos a palavra Páscoa, ocorre apenas quatro vezes com esse sentido no Tanakh (Êx 12.13,23,27; Is 31.5). Em outras passagens, a palavra pode ser traduzida como ter compaixão, proteger, ignorar, ou cercar, cruzar. Alguns estudiosos sugerem uma nuança mais protetora nessas passagens e veem Deus como protegendo as entradas dos lares, não permitindo que o destruidor entre.¹⁵ Uma passagem como Êxodo 12.23 passa então a fazer mais sentido, dizendo:

    Pois quando o S

    enhor

    passar para ferir os egípcios, ele verá o sangue na verga da porta e em ambas as ombreiras, e o S

    enhor

    protegerá a porta e não permitirá ao Destruidor que entre em vossas casas, para vos ferir.¹⁶ (grifo meu)

    Essa visão coloca Deus numa posição mais ativa como defensor. Em vez de ignorar e passar pelos lares, ele se posiciona entre a praga e os fiéis, entre o juízo e os remidos, com o sangue derramado servindo como base para sua ação de poupar os homens primogênitos naquela casa. É por isso que acreditamos que o sangue do cordeiro é um retrato profético ou tipo do Cordeiro de Deus vindouro.

    Na manhã seguinte, o faraó se levanta e expulsa Moisés e Israel do Egito. As três primeiras promessas de Êxodo 6 se cumpriram. O preço redentor de Israel está pago com o sangue do cordeiro. Israel é liberto da escravidão e parte imediatamente daquela terra, levando consigo os ossos de José, pilhando a prata e o ouro dos egípcios.

    Quando Israel parte do Egito, o coração do faraó é endurecido, e ele persegue Israel com a intenção de escravizar o povo novamente. Deus leva Israel até o Mar Vermelho, protegendo e guiando seu povo com uma coluna de nuvem durante o dia e de fogo durante a noite. O exército egípcio se aproxima dos israelitas aparentemente vulneráveis, quando Deus intervém e executa um último ato de juízo e libertação. Quando o faraó e o exército egípcio são detidos pela coluna de fogo, Deus miraculosamente divide o Mar Vermelho, permitindo que Israel faça a travessia em terra seca. O faraó persegue o povo pelo mar, as águas envolvem o exército dos egípcios, e o povo de Israel observa como seus antigos opressores são finalmente derrotados; e seus corpos, jogados na praia.¹⁷ Israel se regozija ao desfrutar o primeiro gosto de liberdade e existência como nação.

    A Páscoa na Torá além de Êxodo

    A Páscoa e o êxodo têm se tornado um ponto de referência na história e identidade da nação no restante da Torá. Muitas vezes, quando mandamentos específicos são dados em Êxodo, Levítico, Números e Deuteronômio, o texto se refere a Deus com uma menção qualificadora à maneira como ele tirou Israel do Egito.¹⁸ Esses livros documentam também o desenvolvimento da celebração memorial anual da Páscoa. Diretrizes específicas para quando, onde e como observar a Páscoa são apresentadas e garantem uma atenção continuada, pois impactam grande parte daquilo que lemos no restante das Escrituras.

    A Páscoa em Levítico

    Levítico 23 explica o ciclo anual dos tempos designados por Deus que o povo de Israel deve observar por todas as suas gerações. A lista desses tempos designados inclui o sábado semanal, seguido por quatro celebrações específicas na primavera e três no outono. A Páscoa é a primeira dessas festas anuais. Levítico 23.4-8 diz:

    São estas as festas fixas do S

    enhor

    , as santas convocações, que proclamareis no seu tempo determinado: no mês primeiro, aos catorze do mês, no crepúsculo da tarde, é a Páscoa do S

    enhor

    . E aos quinze dias deste mês é a Festa dos Pães Asmos do S

    enhor

    ; sete dias comereis pães asmos. No primeiro dia, tereis santa convocação; nenhuma obra servil fareis; mas sete dias oferecereis oferta queimada ao S

    enhor

    ; ao sétimo dia, haverá santa convocação; nenhuma obra servil fareis.

    Com os elementos centrais do cordeiro e do pão asmo na comemoração da Páscoa no Egito, existe alguma incerteza sobre a pergunta se a Páscoa e a Festa dos Pães Asmos se referem a duas festas separadas ou à mesma festa fixa. Levítico 23.4-8 parece tratá-las como distintas. No entanto, muitos estudiosos as veem como celebrações distintas que são reunidas e usadas de forma intercambiável desde muito cedo.¹⁹ Uma visão judaica identifica uma distinção de natureza mais gramatical e sugere que o termo Páscoa se refere à oferta específica; e Festa dos Pães Asmos, à festa designada em si.²⁰ O sacrifício pascal será ofertado ao crepúsculo do décimo quarto dia, que, segundo a tradição judaica, ocorre entre três e três e meia da tarde (m. Pesaḥ. 5:1), e então é preparado e comido durante o banquete festivo que segue quando vem a noite do décimo quinto dia. As partes mais antigas das Escrituras mostram uma distinção maior entre as duas festas, enquanto ocorre uma fusão clara em Deuteronômio, que, a partir de então, se torna referência.²¹

    Isso nos ajuda a entender melhor o lugar da Páscoa na formação da adoração nacional de Israel, visto que o primeiro e o sétimo dias serão sábados marcados por reuniões sagradas, sendo que Israel ofertará holocaustos diários durante esse tempo. Além disso, cada uma dessas festas fixas tem um significado material e outro espiritual. As festas estão ligadas a diferentes momentos de colheita agrícola, em que Israel ofertará seus melhores frutos, produtos e animais e agradecerá a Deus por providenciá-los.

    A celebração durante esses oito dias destaca alguns dos grandes temas das Escrituras, incluindo a santificação, o arrependimento, a expiação e a presença de Deus no meio de seu povo. Por meio dessas festas fixas, a nação se reunirá para honrar a Deus por sua abundante provisão espiritual e material, estabelecendo a conexão entre a relação de Israel com Deus e a abundância produzida pela Terra Prometida.

    Essas festas fixas contêm também um significado profético, e veremos como eventos importantes ocorrem durante ou próximos delas no Novo Testamento. A morte, o sepultamento e a ressurreição de Yeshua ocorrem todos em relação à Páscoa, aos Pães Asmos e a Festa das Primícias. O derramamento do Espírito Santo ocorre durante a festa de Shavuot (Pentecostes). No contexto de Levítico 23, a Páscoa é a primeira dessas festas fixas. Ela lembra os filhos de Israel de sua libertação do Egito e aponta para a libertação última do pecado por meio de Yeshua, nossa Páscoa (1Co 5.7).

    A Páscoa em Números

    É interessante que Números 9.1-14 documenta a única menção na Torá à observância da Páscoa por Israel depois do Egito. Essa seção menciona também uma medida adicional de graça para aqueles que estão ritualmente impuros e se veem incapazes de observar a Páscoa no tempo prescrito. Em vez de observá-la no décimo quarto dia do primeiro mês, eles a celebrarão no décimo quarto dia do segundo mês. Essa tradição se tornou conhecida como Pesach Sheni (segunda Páscoa), e, na Bíblia, ela é observada apenas durante o tempo de Ezequias (2Cr 30.1-27). É importante observar também que essa exceção se aplica apenas ao sacrifício pascal no décimo quarto dia, não à observação da Festa dos Pães Asmos de uma semana da duração, que é, provavelmente, a evidência bíblica mais forte que identifica as duas festas como distintas.²² De resto, são vistas como uma

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