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Os outros da Bíblia: História, fé e cultura dos povos antigos e sua atuação no plano divino
Os outros da Bíblia: História, fé e cultura dos povos antigos e sua atuação no plano divino
Os outros da Bíblia: História, fé e cultura dos povos antigos e sua atuação no plano divino
E-book437 páginas10 horas

Os outros da Bíblia: História, fé e cultura dos povos antigos e sua atuação no plano divino

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Sobre este e-book

Este livro lança um olhar sobre a história bíblica, mas com um foco inovador: a partir das interações culturais dos povos antigos com o Povo de Deus. Eles, os "outros" das narrativas bíblicas – mesopotâmicos, egípcios, cananeus, persas, gregos e romanos –, são o tema central da obra.
Como eram as culturas e as crenças religiosas daqueles povos? Que influências elas podem ter operado sobre a fé do antigo Israel – e mesmo na doutrina da igreja cristã? Há ideias que podem ser consideradas biblicamente corretas na teologia dos pagãos? Como a política dos impérios antigos pode ter sido usada no plano divino para trazer Cristo ao mundo? Essas e outras perguntas são respondidas no livro.
André Daniel Reinke realizou uma ampla pesquisa englobando temas como a geografia histórica, sistemas políticos, cultura geral e, especialmente, o pensamento religioso de cada um desses povos. A partir da compreensão do outro sobre o sagrado, o autor faz uma comparação com a revelação bíblica e com a prática dos antigos hebreus, respondendo então à pergunta central de sua pesquisa: Quais são as convergências, e quais as divergências, entre a fé pagã e a fé bíblica?
Esse livro é uma obra fundamental para que o leitor possa compreender melhor os contextos históricos, culturais e religiosos dos povos que tanto influenciaram a jornada do Povo de Deus e a própria construção da Bíblia Sagrada.
IdiomaPortuguês
Data de lançamento15 de abr. de 2019
ISBN9788566997583

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    Os outros da Bíblia - André Daniel Reinke

    Copyright © 2019 por André Daniel Reinke

    Todos os direitos desta publicação são reservados por

    Vida Melhor Editora S.A.

    Os pontos de vista desta obra são de responsabilidade de seus autores, não refletindo necessariamente a posição da Thomas Nelson Brasil, da HarperCollins Christian Publishing ou de sua equipe editorial.

    Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)

    Angélica Ilacqua CRB-8/7057

    R294o

    Reinke, André Daniel, 1972-

         Os outros da Bíblia : história, fé e cultura dos povos antigos e sua atuação no plano divino / André Daniel Reinke. -- Rio de Janeiro : Thomas Nelson Brasil, 2019.

         352 p.

    ISBN: 9788566997583

    1. Civilização antiga - História 2. Civilização antiga - Religião

    3. Bíblia - Civilização - História I. Título

    19-0325

    CDD 930

    CDU 94(3)

    Thomas Nelson Brasil é uma marca licenciada à Vida Melhor Editora S.A.

    Todos os direitos reservados à Vida Melhor Editora S.A.

    Rua da Quitanda, 86, sala 218 — Centro

    Rio de Janeiro, RJ — CEP 20091-005

    Tel.: (21) 3175-1030

    www.thomasnelson.com.br

    SUMÁRIO

    Capa

    Folha de rosto

    Créditos

    Agradecimentos

    Apresentação

    Prefácio

    Introdução

    Capítulo 1: Deus entre os outros

    Capítulo 2: Os mesopotâmicos

    Capítulo 3: Os egípcios

    Capítulo 4: Os cananeus

    Capítulo 5: Os persas

    Capítulo 6: Os gregos

    Capítulo 7: Os romanos

    Conclusão: Os outros entre nós

    Referências

    Agradecimentos

    Meus agradecimentos vão aos amigos que apoiaram esta publicação. Mais especificamente, a Egon Grimm Berg, diretor executivo da Convenção Batista do Rio Grande do Sul, pelo incentivo na promoção dos cursos livres que ministro no Seminário Teológico Batista (STBRS). A Rodrigo Bibo de Aquino, do podcast BiboTalk, pela parceria na publicação dos episódios Os outros e na edição deste livro. Aos colegas do Programa de Pós-Graduação da Faculdades EST, Arthur Metz e Israel Mazzacorati Gomes, pela leitura crítica e sugestões para o melhoramento do projeto original.

    A todos, meu muito obrigado. Louvo a Deus pelas vidas de vocês.

    APRESENTAÇÃO

    Sem sombra de dúvidas eu sou um entusiasta das conexões e pontes entre pessoas e projetos. O livro que está em suas mãos agora é fruto disso. Tudo começou quando duas amigas saíram de uma palestra com um tal de André e logo me ligaram dizendo: você precisa conhecer o professor André, ele tem um curso que fala dos outros povos mencionados na Bíblia e de como a história deles se conecta com o povo da Bíblia. Elas estavam tão animadas, dizendo que esse conteúdo era a cara do BiboTalk, que fui atrás do tal professor.

    Nos primeiros contatos já pude perceber como o André era acessível e que sua maneira de fazer teologia era muito próxima da nossa. A partir daí começamos a gravar a série de podcasts Os outros e o público recebeu muito bem a nova atração, sendo que os programas logo entraram nas listas de preferidos de muitos ouvintes. No geral, as pessoas comentavam das riquezas de conhecer o contexto em que o povo de Deus se desenvolveu. A visão de muitos cristãos sobre a história bíblica é limitada. Eu mesmo já pensei assim: a Bíblia contém a história do mundo, de todos os povos e raças, afinal, ela narra o começo de todas as coisas. Quando não li sobre o meteoro que matou os dinossauros, fiquei extremamente decepcionado. Brincadeiras à parte, ainda hoje é muito comum em rodas de conversas ou em momentos de perguntas e respostas em acampamentos ou culto de jovens, alguém questionar se os dinossauros realmente existiram. Ou a careta que as pessoas fazem quando explicamos que existiu uma longa história da humanidade antes da revelação bíblica ao povo hebreu.

    De modo geral, os leitores da Bíblia não se dão conta de que ela quer contar uma história, de que suas narrativas estão delimitadas por um tema bem específico: o povo de Israel e seu relacionamento com Deus. É aí que o conteúdo deste livro entra. Somos levados por toda riqueza cultural, política e religiosa dos povos que cercam o povo de Israel nos tempos bíblicos.

    Mas deixa eu voltar para contar como o livro nasceu. Durante as gravações aprendi muito e, depois dos feedbacks positivos do público, vivia pedindo ao André para ele transformar o conteúdo em um livro que daríamos um jeito de lançar. Até que um dia ele me disse que estava escrevendo. Seguimos com o projeto, o próprio André faria a capa e a diagramação, o Ronaldo Lana, voluntário no BiboTalk, iria revisar, alguns amigos fariam recomendações e o JP, também voluntário no BiboTalk, faria o e-book. Projeto planejado, demos início às atividades.

    Quando o André terminou a primeira versão do livro, mandamos para um professor de seminário avaliar. A resposta desse doutor em Antigo Testamento me ascendeu uma luz: o conteúdo deste livro precisa ir tão longe como foi o conteúdo dos podcasts, e só com a BTBooks não daremos conta. Foi quando pensei no Sam, da Thomas Nelson Brasil, e lancei o desafio a ele. O resto é história...

    Rodrigo Bibo de Aquino, diretor da BiboTalk Produções

    PREFÁCIO

    Brumadinho. Fator previdenciário. Ninho do Urubu. Barragem a montante. Laranjal do PSL. Idade mínima para aposentadoria. Leilaine da Silva. Ricardo Boechat. João de Deus. Exoneração de ministro.

    Quem viveu no Brasil na virada 2018/2019 conhece muito bem esses nomes e palavras estampados nas manchetes desse tempo conturbado porque inevitavelmente viveu esses meses com olhos e ouvidos grudados nos jornais nacionais. E por estar imerso nesse ambiente, essas notícias fizeram sentido.

    Mas e se as manchetes com esses termos em destaque chegarem aos ouvidos de um estrangeiro que acabou de chegar ao país, que compreensão ele terá dos fatos? Se já é difícil explicar para alguém distante da nossa vivência e cultura a complexidade do nosso sistema previdenciário, a insanidade de refeitórios e centros administrativos de mineradoras instalados ao pé das barragens das minas, como fazer alguém entender uma cultura que está a milênios de distância no passado?

    Ainda bem que há guias que nos conduzem — quase como a cegos — para tatearmos e assim fazermos alguma ideia do que significou para Abraão deixar sua terra e parentela para ir aonde Deus o estava levando; para termos uma noção do complexo e multi-idólatra caldo (ou seria caldeirão?) dos cananeus em que o povo de Deus foi mergulhado quando entrou na Terra Prometida; para entendermos o que significava alguém nascer na virada das eras (a.C. / d.C.), ou alguém ser um enviado de Deus a percorrer as estradas do Império Romano para levar a notícia mais fantástica que já se anunciou na língua franca difundida alguns séculos antes pelo império dominante anterior, o de Alexandre, o Grande.

    Os outros da Bíblia se propõe fazer exatamente isso: ser esse guia — e um guia excelente por sinal — para todo leitor interessado e atento.

    Na introdução (ainda bem que é curta, porque, bem escrita, dá logo muita vontade de ler o livro todo), o autor apresenta um mapa sucinto, claro e facilmente compreensível do caminho que pretende percorrer na obra. O mapa registra, para começar, onde o autor começou: as dificuldades que seus alunos tinham em compreender o contexto do Mundo Antigo e as ideias equivocadas decorrentes desse desconhecimento. Isso o levou a desenvolver um curso — com o mesmo título desse livro —, ensinado em um Seminário, que foi depois gravado e veiculado em forma de podcast. E ainda bem que o resultado (esperado no caso) agora é o registro desse mesmo conteúdo em livro.

    Os outros de quem o autor fala são os principais povos com os quais o povo de Deus interagiu em sua longa história registrada na Bíblia. O destaque especial nessa descrição vai para as características religiosas desses povos e para como o Deus Criador do universo e de todos os povos deixou as pistas de si mesmo nas culturas humanas. Tão importante quanto essa descrição, é a reflexão que o autor faz sobre a interação do povo de Deus com essas outras formas de religião.

    Ainda na introdução, o autor mostra o método que usa para descrever os outros e fazer a análise do contato deles com o povo de Deus. Ele trata (capítulos 2-7) de cada um desses outros povos em alguns passos bem objetivos: (1) apresentação dos dados e fatos elementares e resumidos sobre geografia, história e formação política do povo em questão; (2) descrição dos elementos gerais de sua civilização; (3) aprofundamento do aspecto religioso e (4) análise da interação do povo em questão com o povo de Deus, por meio de uma comparação, evidenciando pontos de discordância e de convergência.

    Se na introdução recebemos um mapa para a jornada, no capítulo 1 o autor nos dá uma bússola. Caso em algum trecho da caminhada o sinal do GPS não seja suficiente para mostrar o mapa nitidamente, o viajante se orientará segundo um norte: todos os povos ao longo da história tiveram uma percepção do sagrado; todos desenvolveram, de uma forma ou de outra, uma reação ao mistério tremendo e fascinante (nas palavras do estudioso Rudolf Otto).

    Para o autor, o sagrado é algo inacessível, que nos causa assombro quase aterrorizante, mas ao mesmo tempo nos atrai, fascina e encanta. A premissa do trabalho do autor é que os povos de que trata neste texto se sentiram atraídos, fascinados e encantados com o sagrado. Na verdade, cremos — concordo com o autor — que Deus plantou esse desejo do sagrado no coração de todos os povos. E se Deus os criou, se ao longo de todo o processo da história Deus continuou soberano, se Deus tem um propósito com todos os povos e com a interação dos povos que ao longo da história cruzaram com seu povo, que marcas ele deixou na reação deles ao sagrado, em sua expressão da saudade pelo paraíso perdido? Como essa expressão impactou os hebreus em sua experiência religiosa?

    Venha e veja! Embarque na jornada por estas páginas com a certeza de que será uma aventura emocionante, cheia de surpresas e descobertas fantásticas — e talvez até de alguns sustos —, mas ao mesmo tempo repleta de percepções e aprendizado. Será também uma jornada segura, pois o autor define sua posição teológica pessoal como alinhada à ortodoxia protestante conservadora, e mais especificamente ao método hermenêutico histórico-gramatical e fundamenta seu estudo em bibliografia sólida.

    Este é um livro que deve ser lido de duas formas: uma direta, página por página, de capa a capa (sublinhando e fazendo anotações) e outra como estudo, aprofundando cada capítulo ou cada assunto com a ajuda de outros materiais (veja excelentes sugestões na literatura indicada).

    Nossos outros certamente têm caras e jeitões diferentes dos mesopotâmicos, egípcios, cananeus, persas, gregos e romanos, mas são, não obstante, os outros entre nós com os quais precisamos conviver e que nos forçam a crescer em nosso relacionamento com o Criador, o Ser Supremo, o Vencedor sobre a morte, o Salvador escatológico, o Logos, o verdadeiro Senhor, o único e grande Eu Sou.

    A minha tentação é grande em dar aqui alguns spoilers não só do final do filme, mas também de ideias bem formuladas e de fatos e dados bem relatados de todos os capítulos, mas resisto. Simplesmente aconselho você, leitor, a desbravar, capítulo por capítulo, o texto todo e depois concluir, com o autor, que ainda hoje os outros... Ops, descubra por você mesmo.

    – Valdemar Kroker

    Editor de Edições Vida Nova

    Pastor da 1ª Igreja Evangélica Irmãos Menonitas do Boqueirão

    (Curitiba)

    Casado (bem casado) com Simone

    Pai (feliz) de Daniel, Rebeca [+ Ciro] e Priscila

    Avô (babão e bobão) de Joshua e Nathalie

    INTRODUÇÃO

    Alguns anos atrás percebi que meus alunos de Panorama Bíblico do Antigo e do Novo Testamento tinham dificuldades em compreender o contexto do Mundo Antigo, especialmente no que se refere à religião dos povos que aparecem nas narrativas da Bíblia. Esse desconhecimento produzia algumas ideias equivocadas, por exemplo: que os politeístas eram ignorantes ou que suas crenças religiosas eram todas iguais; ou, ainda, que Israel era totalmente diferente de tudo ao seu redor (essa última ideia é curiosa, pois considera o povo de Deus uma espécie de ser extraterreno, imune às influências contextuais). Além disso, também notei que a maioria das referências dos comentaristas bíblicos àqueles povos não está baseada nas autoridades especializadas da historiografia, sociologia ou antropologia, mas na segunda mão de teólogos – isso quando não citam apenas aquelas informações que aparecem explicitamente na Bíblia. Por isso, resolvi fazer o caminho inverso: primeiro, uma análise da religiosidade dos outros a partir das ciências humanas e, depois, a comparação com base na Teologia. Penso que, agindo assim, trataria com mais honestidade cada uma das experiências daqueles povos em sua busca de Deus ou do sagrado.

    Em função desses fatores, resolvi organizar um curso que tratasse dos povos que interagiram com os hebreus no testemunho bíblico. Aprofundei o que já havia estudado na faculdade de História e mergulhei nas culturas dos mesopotâmicos, egípcios, cananeus, persas, gregos e romanos e também na maneira como eles interagiram com o povo da Bíblia — seja na concordância de ideias religiosas e práticas sociais, seja na discordância ou até mesmo no confronto. O resultado foi um curso livre chamado Os outros da Bíblia, ministrado no Seminário Teológico Batista do Rio Grande do Sul, em Porto Alegre. Duas moças, Francieli Ziel e Letícia Arnold, estudantes da Faculdades EST em São Leopoldo, assistiram ao curso, gostaram e indicaram-me para Rodrigo Bibo de Aquino, que eu não conhecia na época. Ele entrou em contato comigo e me convidou para gravar o curso na forma de podcast. Assim surgiu a série Os outros do podcast BiboTalk. Como os ouvintes gostaram e muitos pediram indicação de bibliografia sobre o tema, aventurei-me a escrever o livro. Você tem o resultado em suas mãos.

    Antes de iniciar a leitura, deixe-me tecer algumas considerações. Em primeiro lugar, o livro trata dos outros povos que aparecem na Bíblia; ele não é sobre a história de Israel, embora esta seja citada com frequência. Estou partindo do pressuposto de que você já sabe pelo menos os rudimentos da história bíblica de Israel e de Judá. Se você foi um bom frequentador de Escola Bíblica Dominical, isso já é mais do que suficiente. Caso contrário, ao final deste livro, nas referências, há algumas bibliografias sobre a história de Israel que podem ajudar.

    Vamos a algumas observações técnicas. Como a interação desses povos da Antiguidade se deu ao longo de três milênios, temos um problema de nomenclatura. Isso acontece quando preciso dar um nome ao povo do Deus bíblico ao longo desses três mil anos. No início, tudo bem, mas a confusão começa quando chegamos ao tempo dos reinos divididos de Israel e Judá, depois de 930 a.C. A partir de então, os judeus do Sul, que também eram israelitas, não faziam mais parte do reino de Israel, ao Norte. Para resolver o problema semântico, adotei o seguinte critério: quando trato de hebreus, estou me referindo a todo o povo bíblico descendente de Abraão (pela linhagem de Jacó) até a divisão dos reinos; quando uso israelitas, estou me referindo exclusivamente às tribos que pertencem ao reino de Israel; e quando uso judeus, estou tratando apenas da tribo de Judá. É uma divisão forçada, mas que ajudará a compreender os contextos.

    Outra questão técnica diz respeito à Bíblia que uso para as citações. Adotei a Bíblia de Jerusalém porque ela é uma excelente tradução, além de possuir os livros apócrifos, que historicamente nos interessam muito. Além disso, essa Bíblia usa o nome de Deus como Iahweh, uma forma possível do tetragrama YHWH. Gosto dessa versão porque ela explicita o aparecimento de um nome para Deus nos textos originais, o qual consta nas traduções convencionais como Senhor. Essa questão é importante, pois trataremos do fenômeno dos diversos nomes de Deus mencionados na Bíblia, como El, Elyon ou Shaddai.

    Agora, uma dica. Pensei em colocar imagens sobre as religiões e culturas dos povos vizinhos. Mas eu teria mais problemas que soluções: ou me aprofundava e produzia um segundo Atlas, ou colocava poucas imagens e as tornava irrelevantes. Então, minha sugestão é a seguinte: procure na Internet as referências citadas, como deuses, mitos e sítios arqueológicos. Mas tome cuidado ao pesquisar em blogs, pois geralmente esse tipo de espaço é um tanto sensacionalista ou parcial. Antes de acreditar em qualquer afirmação, confira o currículo do autor, verifique se ele é um acadêmico ou se é apenas um curioso. Se for o segundo caso, ele pode não ser exatamente confiável. Prefira sites ou revistas digitais de universidades, que primam pela cientificidade dos dados históricos.

    Isso me leva à questão das referências de pesquisa para este livro. Como se trata de uma apresentação dos povos antigos e de suas religiões, a minha fonte de pesquisa não foi religiosa. Consultei historiadores, antropólogos e sociólogos especialistas nos estudos da Antiguidade. Eles são relevantes porque tratam das fontes históricas sem o julgamento prévio que costumeiramente encontramos no contexto cristão. De fato, as pesquisas científicas excluem Deus da equação de causalidade — mas elas partem da busca universal pela verdade, e isso nos interessa. Quando não encontrei referência sob essas condições, fui atrás das pesquisas de cientistas da religião e mesmo de teólogos do liberalismo teológico (ou modernismo), pois foram estes que se debruçaram com profundidade sobre as peculiaridades das religiões fora do contexto cristão. Por isso, se você segue o conselho ultraconservador de se manter distante da literatura liberal, não se escandalize com a quantidade de material dessa vertente encontrado na bibliografia deste livro. Foi essa linha teológica que tratou com mais honestidade e transparência as crenças dos povos antigos e os contatos delas com os hebreus. Costumo valorizar essa qualidade técnica, embora a minha posição teológica pessoal esteja alinhada à ortodoxia protestante conservadora, mais especificamente ao método hermenêutico histórico-gramatical.

    Vale falarmos também sobre a estrutura do livro. No primeiro capítulo, trato rapidamente de teoria da cultura e da religião para entendermos como Deus age nas culturas. Depois, apresento os povos que interagiram com o povo hebreu, em ordem cronológica de contato — mesopotâmicos, egípcios, cananeus, persas, gregos e romanos. Por fim, na conclusão, retomo a matéria teórica para ampliar nosso entendimento sobre os outros que encontramos no mundo contemporâneo e com os quais precisamos interagir.

    Cada cultura foi apresentada da seguinte forma: primeiro tratei, de forma bastante resumida, da geografia e formação política e histórica do povo em questão; depois, trouxe elementos gerais de sua civilização; e, por fim, aprofundei-me no aspecto religioso. Depois do conhecimento da cultura em si, fiz a comparação com os hebreus e com a revelação bíblica, mostrando onde houve elementos de discordância, mas também onde tais elementos concordaram. O encontro entre esses povos não foi sempre uma experiência de confronto — muito pelo contrário. O motivo para ter apresentado primeiro a cultura pagã e depois sua interação com a cultura hebraica teve um objetivo didático: para que o leitor, ao longo dos capítulos, aprenda a perceber de forma independente as semelhanças e diferenças antes mesmo da minha análise. Penso que isso representa um treinamento hermenêutico para futuros encontros com dados históricos sobre os povos da Antiguidade.

    Por fim: não procuro dar explicações definitivas, e algumas vezes deixo por isso mesmo, como uma grande interrogação. Isso acontece porque esta obra é o resultado de um deslumbramento diante do grande mistério da revelação de Deus, para cuja glória muitas vezes não encontro explicações razoáveis.

    Capítulo 1

    DEUS ENTRE OS OUTROS

    O salmista afirma que os céus contam a glória de Deus, e o firmamento proclama a obra de suas mãos (Salmos 19:1). Acredito nisso desde a infância, quando assistia à série Cosmos, apresentada — pelo ateu! — Carl Sagan. Muitas pessoas se maravilham diante da imensidão do cosmos e, para boa parte delas, tal fascínio remete a Deus. Desse fascínio nasce a percepção do sagrado. Deus dá testemunho de si mesmo na criação.

    O apóstolo Paulo fez um paralelo semelhante para a plateia eufórica de Derbe em sua primeira viagem missionária. Ele e Barnabé estavam sendo alvos da tentativa de adoração por conta dos milagres que tinham operado. Imagine o horror que sentia o apóstolo. Mas ele não perdeu a perspectiva de que, apesar do erro daqueles pagãos, eles tinham algum tipo de revelação divina. Paulo anunciou que Deus não deixou de dar testemunho de si mesmo fazendo o bem, do céu enviando chuvas e estações frutíferas, saciando de alimento e alegria os corações (Atos 14:17). Deus abençoa os povos com os recursos que garantem a vida e, com isso, manifesta a sua presença.

    O apóstolo ainda apresentou Cristo aos gentios como criador do mundo e de tudo o que nele existe, visível ou invisível — incluindo tronos, soberanias, principados e autoridades (Colossenses 1:16-17). Jesus é Senhor deste mundo, todo poder lhe foi dado no céu e sobre a terra (Mateus 28:18), razão pela qual ordenou o ide e fazei que todas as nações sejam discípulos (v. 19). O anúncio do Evangelho só é possível porque Cristo foi adiante de sua Igreja e preparou o caminho, ou seja, já tomou posse do que era seu.

    Diante dessas verdades cabem as seguintes perguntas: se Deus fala por meio do universo e da natureza, se Cristo está presente como Senhor em todo o mundo, teria Deus deixado pistas de si mesmo nas culturas humanas? Teria plantado algum testemunho de si nas crenças religiosas dos povos?

    Para Calvino (1509-1564), a verdade, quando aparece, provém do Espírito Santo e não deve ser desprezada, não importando a fonte. [1] A ideia de que toda verdade provém de Deus não era original do teólogo de Genebra; foi elaborada antes por Agostinho de Hipona (354-430), para quem Deus, a Verdade, é a origem de tudo o que é verdadeiro. [2] Se há alguma verdade, ela provém de Deus, não importa que tenha sido falada pela boca de um pagão ou impressa nas colunas de um templo idólatra. Esse é o poder da Palavra de Deus, do Verbo, que revela sua presença mesmo em meio as maiores obscuridades do mundo. Não foi esse o assombro do profeta Ezequiel quando teve a visão do trono divino, não na Cidade de Davi, mas junto ao rio Cobar (Ezequiel 1:1), entre centenas de templos pagãos do Império da Babilônia?

    Sim, os pagãos possuem noções de sagrado. Eles desenvolveram percepções sobre a divindade (Deus, ou deus, ou deuses), que por vezes são muito diferentes daquelas apresentadas na Bíblia, mas em outras são coincidentes. É sobre essas discordâncias e concordâncias entre as religiões pagãs e a revelação bíblica que pretendemos refletir aqui. Mas primeiro vamos examinar hipóteses de como essa noção de sagrado surge nas culturas.

    O sagrado como mistério tremendo e fascinante

    O teólogo Rudolf Otto (1869-1937), estudioso das religiões comparadas, elaborou uma interessante teoria para explicar como ocorre o entendimento do sagrado nas mais diversas religiões. O sagrado, para ele, embora possa ser parcialmente compreendido pela racionalidade, na verdade envolve noções que vão além da capacidade intelectual, entrando na esfera do sentimento, como um estado psíquico intenso de devoção e arrebatamento. Por isso, ele afirmou que o sentido do sagrado é o irracional. Não é questão de ser algo incoerente ou estúpido (como a irracionalidade é compreendida popularmente); o sagrado está além do que podemos racionalizar sobre Deus, penetrando em uma esfera misteriosa, fugaz ao pensamento, mas que pode ser sentida. [3]

    Quando o religioso se depara com o sagrado, tem uma reação existencial: ele se vê como criatura, sentindo-se um nada diante daquele que é tudo, absoluto e inacessível. Rudolf Otto, então, definiu o sentimento do sagrado como a resposta àquilo que se mostra um mistério tremendo e fascinante. Em primeiro lugar, o sagrado é mistério não apenas no sentido de algo estranho ou inexplicável: ele é inconcebível, pois transcende qualquer categoria que possamos imaginar. [4] Segundo, o sagrado é tremendo, pois provoca mais do que temor: causa assombro diante do formidável, arrepiante ou receoso. É uma majestade que dá a sensação de absoluta superioridade diante da qual o admirador vira a completa nulidade — mais do que isso, a nulidade que se sabe pecadora. [5] Finalmente, o sagrado é fascinante, um contraste curioso com o elemento distanciador do tremendo, mas que se harmoniza com ele: o sagrado é atraente, arrebatador, encantador. [6]

    Resumindo, o sagrado é algo inacessível, que nos causa assombro quase aterrorizante, mas ao mesmo tempo nos atrai, fascina e encanta. Em minha opinião, essa é a melhor descrição do que a Bíblia chama de temor do Senhor. No Antigo Testamento, esse mistério tremendo e fascinante aparece claramente nas descrições das visões de Ezequiel, assim como na manifestação gloriosa de Deus no final do livro de Jó. No Novo Testamento, isso está no próprio Filho, que nos ensina a oração do Pai nosso, que começa com a ternura da paternidade, sendo, contudo, seguida de santificado seja o vosso nome. O Pai carinhoso também merece seriedade e dignidade. Nunca nos esqueçamos de que Deus é fogo consumidor (Hebreus 12:29). É paradoxal, assim como a manifestação de Cristo no Apocalipse, quando percebemos que aquele que andou entre nós cheio de graça e de verdade, como Cordeiro sacrificado, é ao mesmo tempo o Leão que ruge, o cavaleiro que tem gravado na coxa o título Rei dos reis e Senhor dos senhores. Esse temor inspira a devoção do corpo e a dedicação da vida — e nada menos do que isso.

    O sagrado e o profano

    Enquanto Rudolf Otto manteve sua noção de sagrado relacionada ao sentimento de assombro irracional (que se contrapõe ao racional), o mitólogo Mircea Eliade (1907-1986) propôs outra contraposição para definir a sua essência: para ele, o sagrado é o que se opõe ao profano. Não se trata de um profano em sentido de maldito, como às vezes entendemos, mas de cotidiano, corriqueiro, comum. [7] Assim, o sagrado é aquilo que se mostra totalmente diferente do profano, como uma hierofania – uma revelação do Totalmente Outro. A manifestação do sagrado pode ocorrer em qualquer coisa cotidiana do universo: uma pedra, uma árvore ou uma montanha, as quais, a partir dessa hierofania, tornam-se pedra sagrada, árvore sagrada ou montanha sagrada. [8] Esse tipo de relação com a natureza é típica das sociedades tradicionais antigas, demonstrando que o homem de então era uma espécie de homo religiosus. [9]

    Mas há uma ressalva aqui: o sagrado somente é sagrado para quem passou pela experiência da hierofania; outras pessoas veem o lugar ou objeto sagrado como um elemento igual a qualquer outro do mundo — ou seja, apenas profano, comum, cotidiano. Se um cristão sentiu algo diferente diante do Muro das Lamentações em Jerusalém, ele teve uma hierofania. Para outra pessoa, é apenas uma parede de pedra que, apesar disso, ganhou outra dimensão para ele. O caráter do sagrado não está na coisa em si, mas na experiência da pessoa religiosa.

    O sagrado não é sagrado nas culturas desde sempre. Ele surge no momento em que alguém coloca uma marca em determinada coisa. Essa coisa marcada, a partir de então, representa uma ruptura em relação ao restante do mundo, o qual é comum e sem maiores atrativos. O que aconteceu nesse momento de marcação do sagrado? Ocorreu uma fundação do mundo, uma criação de um deus ou de deuses e que se tornou padrão para orientação futura dos homens. [10] O local marcado como sagrado ficou diferente, pois ali houve uma manifestação divina especial.

    A essa altura, você deve estar pensando: isso é coisa de homens pré-históricos. Não é. Todas as religiões possuem algo parecido, e isso também aparece na Bíblia. Por exemplo: Jacó teve uma percepção muito clara a respeito do sagrado quando sonhou e viu uma escada pela qual anjos subiam e desciam, ligando céu e terra (Gênesis 28:12-19). No mesmo local em que sonhou, ele erigiu uma estela, entendendo que Deus estava ali. Deu até um nome a ela: Betel (Casa de Deus). Moisés viu a sarça ardente e Deus lhe disse: tire as sandálias, pois o lugar em que estás é uma terra santa (Êxodo 3:5). Também o povo de Israel se viu aterrorizado diante da montanha fumegante do Sinai, logo após o êxodo, por ocasião do pacto com Deus (Êxodo 19:16). Quando viu o anjo da morte sobre Jerusalém, Davi erigiu um altar no mesmo local onde o templo viria a ser construído décadas depois (1Crônicas 21). Há um elemento de santidade, de excepcionalidade, ligado ao conceito de lugar sagrado. Esses encontros dos personagens bíblicos com Deus confirmam esse sentimento.

    Mas as noções de sagrado não se restringem a objetos e locais. Assim como o espaço, o tempo não é visto como homogêneo. Ele também tem seus intervalos e momentos de hierofania, de irrupção do sagrado em meio ao profano. O tempo considerado sagrado é celebrado em festas religiosas, as quais interrompem um tempo longo e ordinário, sem significado religioso (profano), no qual o homem vive seu cotidiano. [11] Há uma diferença fundamental entre o tempo religioso e o tempo profano. O primeiro está relacionado com o momento fundador de origem do mundo, a criação. Ele celebra um ato fundador, um início de tudo. Além disso, o tempo sagrado é cíclico, reencontrando a cada novo ano a santidade original. Ele se repete todos os anos. [12] Por isso, toda cultura celebra uma renovação, época em que o tempo se regenera, os pecados passados são expulsos e o mundo se renova de acordo com o arquétipo primordial, definido pela divindade no ato cosmogônico de criar o universo. O principal exemplo desse tipo de celebração cíclica é o Ano Novo, que, apesar de sua laicidade no mundo contemporâneo, tem origem religiosa.

    Enfim, o homo religiosus — o homem arcaico, ou a humanidade religiosa antes da modernidade e da dessacralização do mundo — era profundamente marcado pela experiência do sagrado em sua vida. Ele percebia a realidade como palco da ação de Deus (ou de deuses) e a si mesmo como objeto dessa ação. O mundo fazia sentido, e esse sentido estava impregnado do sagrado.

    Agora precisamos tratar se é bom ou ruim, ou ambas as coisas, o modo como essa sacralidade se manifesta na percepção das culturas.

    Cultura e criação

    Os modos como os homens e as mulheres percebem o sagrado produzem a religião, que, por sua vez, é parte do imenso caldo formador de uma cultura. Nesse caso, entramos em um terreno controverso, especialmente quando tratamos de culturas não cristãs. A reação diante do mistério tremendo e fascinante que um pagão porventura manifeste tem origem em algo divino? Ou algo diabólico? Os dois? Ou teria uma dimensão neutra? Essa questão é essencial para compreendermos a relação bíblica do povo de Deus com os demais povos em seu contexto histórico. Por isso, precisamos entender um pouco sobre a cultura e como ela é formada.

    O teólogo e historiador Justo González, autor da ótima História ilustrada do cristianismo, escreveu um belíssimo livro intitulado Cultura & Evangelho, no qual analisou justamente o papel da cultura no plano divino. O entendimento das culturas tem implicações diretas, por exemplo, na ação missionária da Igreja, especialmente nas missões transculturais. [13] Nessa obra, González apresentou uma definição de cultura que nos interessa. Para ele, cultura é, em essência, o modo pelo qual um grupo humano qualquer se relaciona entre si e com o ambiente circundante. Por isso, ela tem o que bem poderíamos chamar de um elemento externo e outro interno. [14]

    Ou seja, um determinado grupo humano responde a desafios externos, relacionados ao meio ambiente em que vive, ao mesmo tempo que constrói um convívio interno, desenvolvendo uma língua reconhecível aos indivíduos do próprio grupo.

    Por ser um teólogo cubano, ele faz um jogo muito interessante com as

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