O menino do dedo invisível
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O menino do dedo invisível - Álvaro Modernell
olhares.
Joaquim,
antes de ser Kim
Joaquim veio ao mundo sem o dedo invisível. Um menino forte, saudável, com 51cm e pesando cerca de quatro quilos. Era o primeiro rebento da nova geração da família Borba, primogênito de seus pais e primeiro neto de seus avós. Seu nome foi escolhido devido à origem da família, imigrantes portugueses vindos do distrito de Évora, região do Alentejo.
Eles chegaram ao Brasil de navio, no início do século XX, pelo porto de Rio Grande, no Rio Grande do Sul, e se instalaram na região Sul, como muitos de seus conterrâneos. Eram tantos, que até hoje se nota a influência lusitana na arquitetura, nos costumes e na culinária da região.
Porém, pouco depois da construção de Brasília, em 1966, seus avós, já acostumados ao Brasil, mas ainda inquietos e motivados pela busca do novo, mudaram-se para a Capital Federal.
Foi lá que, muito tempo depois, Joaquim nasceu e viveu sua infância e adolescência, brincando nos pilotis das superquadras projetadas por Lúcio Costa e pedalando à sombra das mangueiras espalhadas pela cidade.
Antes de completar dois anos, Joaquim já falava muito e adorava que puxassem conversa com ele. Algumas frases, os adultos tinham certa dificuldade para entender. Mas o que importava? Mês a mês, parece que os adultos evoluíam e passavam a compreendê-lo melhor. Joaquim era paciente e repetia várias vezes até alguém perceber o que ele queria dizer. Só silenciava quando sua avó se sentava ao piano. Ele adorava ouvi-la tocar.
A música e a literatura eram presenças constantes no lar de Joaquim. E sempre havia alguém lendo ou ouvindo música e muitas vezes também escrevendo ou tocando algum instrumento. A família transpirava o gosto pelas artes.
Joaquim corria, brincava, chorava, fazia birra, via televisão, mexia no celular, jogava bola, gostava de histórias. Fazia tudo o que crianças da sua idade fazem.
Poderia se chamar João, Edison, Marcelo, Renato. Mas foi registrado como Joaquim. E era assim que ele gostava de ser chamado, pelo seu nome. Nada de apelidos.
Brasão da família Borba
A tabuada
Omenino do dedo invisível já estava naquela escola há algum tempo. Muitos já o conheciam, mas o ano estava apenas começando e a nova professora ainda não o conhecia bem.
Joaquim era bom aluno, não tinha problemas com o fato de ter um dedo invisível e muito menos de relacionamento com os colegas.