Encontre milhões de e-books, audiobooks e muito mais com um período de teste gratuito

Apenas $11.99/mês após o término do seu período de teste gratuito. Cancele a qualquer momento.

Cidade Patrimônio Cultural: A Voz do Morro em Ouro Preto
Cidade Patrimônio Cultural: A Voz do Morro em Ouro Preto
Cidade Patrimônio Cultural: A Voz do Morro em Ouro Preto
E-book231 páginas2 horas

Cidade Patrimônio Cultural: A Voz do Morro em Ouro Preto

Nota: 0 de 5 estrelas

()

Ler a amostra

Sobre este e-book

A cidade patrimônio cultural da humanidade é também de seus moradores? A instigação levou à pesquisa sobre patrimônio, aqui investigado como memória social construída com pedra, histórias, saberes e personagens, em constante re/des/construção.
Urbanismo, produção cultural, economia criativa e políticas públicas são áreas exploradas e analisadas por meio de diversas vozes. O livro é embasado na escuta, na literatura antropológica e traduzido para uma narrativa com experiência prática na área cultural.
A obra quer provocar no leitor reflexões sobre as cidades complexas e pretende levá-lo a pensar em ações de educação, arte e cultura como engrenagens de mudança nas estruturas sociais.
IdiomaPortuguês
Data de lançamento11 de mai. de 2022
ISBN9786525017921
Cidade Patrimônio Cultural: A Voz do Morro em Ouro Preto

Relacionado a Cidade Patrimônio Cultural

Ebooks relacionados

Ciências Sociais para você

Visualizar mais

Artigos relacionados

Avaliações de Cidade Patrimônio Cultural

Nota: 0 de 5 estrelas
0 notas

0 avaliação0 avaliação

O que você achou?

Toque para dar uma nota

A avaliação deve ter pelo menos 10 palavras

    Pré-visualização do livro

    Cidade Patrimônio Cultural - Ivi Felix

    11487_Ivi_Felix_capa.jpg

    Cidade patrimônio cultural

    A Voz do Morro em Ouro Preto

    Editora Appris Ltda.

    1.ª Edição - Copyright© 2021 dos autores

    Direitos de Edição Reservados à Editora Appris Ltda.

    Nenhuma parte desta obra poderá ser utilizada indevidamente, sem estar de acordo com a Lei nº 9.610/98. Se incorreções forem encontradas, serão de exclusiva responsabilidade de seus organizadores. Foi realizado o Depósito Legal na Fundação Biblioteca Nacional, de acordo com as Leis nos 10.994, de 14/12/2004, e 12.192, de 14/01/2010.

    Catalogação na Fonte

    Elaborado por: Josefina A. S. Guedes

    Bibliotecária CRB 9/870

    Livro de acordo com a normalização técnica da ABNT

    Editora e Livraria Appris Ltda.

    Av. Manoel Ribas, 2265 – Mercês

    Curitiba/PR – CEP: 80810-002

    Tel. (41) 3156 - 4731

    www.editoraappris.com.br

    Printed in Brazil

    Impresso no Brasil

    Ivi Felix

    Cidade patrimônio cultural

    A Voz do Morro em Ouro Preto

    Às raízes nutridoras que foram pai e mãe, ao fruto e flor que é minha filha.

    AGRADECIMENTOS

    Agradeço à cidade de Ouro Preto e seu patrimônio natural e cultural, que me permitiram estar imersa em séculos de histórias e personagens, em um espaço que inspirou meu crescimento. Nesse lugar eu encontrei ouro em forma de pessoas com quem partilhei minha jornada e por quem sinto gratidão e admiração.

    Tânia dos Anjos foi companheira diária e teve a importante missão de contribuir na gestão prática da minha casa e vida, permitindo minha maior dedicação profissional.

    Zefa Mattos é uma grande personalidade ouro-pretana. Uma madrinha que abriu portas, conectou pessoas, e minha existência ficou mais divertida e segura com sua amizade.

    Agradeço a excelente bagagem educacional construída em muitos anos de estudo, estimulados e financiados por mãe e pai e depois por grandes universidades públicas e entre tantos mestres.

    Sou grata à experiência profissional que venho trilhando e pelos incríveis profissionais com quem trabalhei, aprendendo, errando e construindo.

    Obrigada, equipe da Editora Appris, por colaborar em espalhar as sementes.

    Meu amigo Hugo Gripa emprestou seu olhar antropológico e contribuiu com gentis sugestões do manuscrito para virar livro.

    Agradeço ao meu irmão, sócio e amigo, e à minha filha, que me dá norte, sorte e vontade de ser e fazer melhor.

    À grande energia que nos nutre com boas ideias, força e fé. Amém! Axé!

    O passado é lição para se meditar, não para se reproduzir.

    (Mário de Andrade)

    APRESENTAÇÃO

    Falar em cidade patrimônio cultural em relação a Ouro Preto remete-nos a uma figura de linguagem chamada perífrase. Acontece quando utilizamos um termo ou expressão para designar um ser ou lugar tendo como parâmetro características, atributos ou fatos que o tenham celebrizado. O mesmo ocorre em Rio de Janeiro, cidade maravilhosa e em Paris, cidade luz. A cidade patrimônio cultural faz parte de um ideário coletivo e, não raro, as pessoas com quem converso, mesmo nunca tendo ido a Ouro Preto, evocam suas igrejas, ouro, ladeiras, a mineiridade dos hábitos e da comida, Aleijadinho, Tiradentes, repúblicas de estudantes e Carnaval. Essa cidade imaginada, primeira a ser tombada como monumento no Brasil, representativa da identidade brasileira, parece pertencer a todos. Porém, a cidade patrimônio cultural da humanidade também pertence a seus moradores? Do Centro¹ ouvia os estudantes se referirem aos nativos ouro-pretanos, pessoas nascidas e criadas no lugar, de maneira distante e excludente. O bairro Morro Santana, visto do Centro, soa como elemento dissonante, com suas ocupações recentes e desordenadas nas encostas, compondo a paisagem que emoldura o centro histórico tombado. Tive contato com trabalhos de alunos do bairro com títulos sugestivos, como: Sou do Morro, eu também sou patrimônio e Da laje da minha casa eu vejo Ouro Preto, será que ela me vê?², que me apontaram para indícios significativos e me conduziram às oficinas de educação patrimonial ministradas em uma escola municipal. Buscava o entendimento de uma perspectiva desse lugar, o morro, considerado bairro da periferia quando posto em relação espacial ao centro, mas que extrapola o geográfico e confere o sentido do que está à margem, nas franjas.

    A cidade e suas dinâmicas têm sido meu laboratório e onde tenho focado interesses e práticas profissionais. Com este livro, pretendo compartilhar minhas observações sobre ações educativas e culturais e sobre como elas podem ser importantes ferramentas para pensar a cidade de forma mais integrativa. Em uma década, Medellín, na Colômbia, trocou o título de cidade mais violenta do mundo pela reputação de um modelo de zoneamento urbano revolucionário. O urbanismo tem papel fundamental na busca por tornar nosso viver e conviver algo de maior qualidade e de modo mais igualitário. Pensar em ações que favoreceram isso é obrigação do poder público, que deve garantir educação de qualidade, transporte, segurança, saneamento básico, equipamentos culturais para sanidade de todo esse organismo. Tanto quanto é dever de cada um de nós sermos agentes para construção e manutenção desse tecido urbano. Creio que o principal pano de fundo para prática antropológica é o olhar focal das relações humanas, mas buscando, ao mesmo tempo, um amálgama que revele as questões mais universais entre os seres vivos. Portanto espero que, a partir das particularidades reveladas no Morro de Santana em Ouro Preto, cada leitor seja levado às suas próprias reflexões sobre seu entorno.

    PREFÁCIO

    A missão pretendida neste trabalho é corajosa e caminha pelo universo boasiano, na busca de legitimar a voz daqueles que habitam os morros da cidade patrimônio da humanidade. Alteridade?

    Prefaciar este trabalho é mergulhar numa história de paixão em que a autora, paradoxalmente, se vê diante de perguntas metodológicas questionando-se entre pressupostos éticos e êmicos, frutos da sua entrega e do seu contato com a cidade morada e objeto de sua pesquisa. O caminho da dialética, apresentado em arranjos narrativos, dá-nos a mostra de que este trabalho é permeado pelo afeto. Afeto que se descortina no decorrer das relações sem afastar, sob nenhuma hipótese, a competência conquistada, cravada e esculpida nos capítulos e parágrafos que se seguem, tendo na relação humana a bússola que indica o rastro do Patrimônio Cultural; esta é a palavra-chave que conduz o objeto deste estudo por meio de distintos vieses, conceitos e vivências. Para tanto, nas próximas páginas, estaremos diante de uma reflexão de suma importância, inclusive dando a Aloísio Magalhães um lugar de destaque necessário e justo, pois a ele devemos a institucionalização da amplitude do conceito de patrimônio no Brasil. É a partir desse marco que o Iphan enseja a participação popular na gestão e na conscientização do patrimônio. Desta feita, tal amplitude conceitual passa, necessariamente, pela escuta e pela legitimação dos sujeitos que comporão as narrativas e as suas realidades. Ou seja, gestores, programas, instituições, eventos e moradores comporão uma teia de significações e ressignificações do patrimônio material, imaterial, físico e simbólico.

    Simbólico? Salvemos Ouro Preto, assim Manuel Bandeira exortou o mundo em 1949, já dizendo à época que os monumentos veneráveis não correm perigo. Ora, quais seriam? As igrejas, a arquitetura central, o casario colonial, as pontes e chafarizes?

    Sete décadas depois, Cidade Patrimônio Cultural - A Voz do Morro em Ouro Preto mostra-nos, a partir de nortes antropológicos, tal qual venerável é o Morro. O Morro que há exatos 300 anos ardia em chamas tiranas na tentativa de conter os revoltosos da Sedição de Vila Rica (1720-2020). Mera alegoria? Talvez. Não fossem as ruínas que provocam a necessidade permanente de gestos sediosos clamando por visibilidade. Afinal, o que seria esse título Patrimônio da Humanidade e de que valeria aos moradores da periferia?

    Periferia essa que surge no Morro, no cume das montanhas de Vila Rica na transição do século XVII para o XVIII, onde ainda se encontram as primitivas capelas coloniais de devoção e arquitetura portuguesa, assim como as ruínas abandonadas de um passado de exploração e luta. Sítios que não ganharam ênfase nos relatos dos viajantes europeus ainda nos novecentos e que, da mesma forma, foram pouco ou nada citados pelos modernistas em seus poéticos e protecionistas manifestos na primeira metade do século XX. Mas esses mesmos sítios esquecidos, agora sob o prisma de um novo ciclo econômico, passam a ser ocupados pela força motriz dos imigrantes rurais que viviam na extensa área dos mais de 1.200 km² da ex-capital de Minas e atual Ouro Preto. Em busca de emprego no distrito sede e sem condições para pleitear habitação na área tombada do centro histórico, eles passam a ocupar as áreas periféricas no alto da cidade. A partir de então, tais moradores abrigam-se no esquecimento histórico-urbanístico e, esquecidos, encontram-se à margem da categórica e simbólica divisão sociopolítica oriunda da Guerra dos Emboabas. Guerra que dividiu a cidade em duas partes: a dos bandeirantes paulistas e a dos reinóis portugueses, respectivamente e pejorativamente tratados como Jacubas e Mocotós. Tal divisão, tão acirrada, tem com a criação da Vila Rica, em 1711, um fato no mínimo curioso: a permanência de duas matrizes, templos religiosos. Uma de devoção Paulista e outra de devoção Portuguesa, inclusive culminando em regras de que a Semana Santa, nos anos ímpares, é coordenada pelas igrejas do lado paulista enquanto, nos anos pares, pelas igrejas do lado português, costume que prevalece até os dias atuais. Onde estariam incluídos esses novos moradores que não eram nem jacubas e nem mocotós? Eram filhos do extenso território ouro-pretano e começavam a trocar os instrumentos de produção agrícola das áreas rurais pelo chão da fábrica, seguindo o advento do ciclo do Alumínio na cidade. Temos a partir de então um novo território, novas ambiências, novas formas de viver, novos grupos étnicos.

    Eu vou lá em Ouro Preto. Essa frase, abordada neste trabalho e comumente utilizada pelos nativos da periferia, faz eco com o sentimento de baixa autoestima evidenciado em outra expressão corriqueira: Ouro Preto é uma péssima mãe, mas uma ótima madrasta. Expressões simbólicas que evidenciam o sentimento do não pertencimento. Ora, a abordagem etnográfica deste trabalho mostra-nos o quão fortalecedora pode ser uma ação educativa de reflexos estruturais e que desperta a combatividade e a resistência aos processos aculturadores e dominantes. A identidade patrimonial é avivada no ethos dos alunos sensibilizados a partir do caminho preconizado por Aloísio Magalhães e que faz emergir nos jovens interlocutores do morro a máxima Sou do Morro, eu também sou Patrimônio.

    Essa é e deve ser a voz que vem do morro da cidade Patrimônio.

    Chiquinho de Assis

    Ouro Preto, 17 de agosto de 2020

    Dia Nacional do Patrimônio Cultural

    Artista, mestre em Etnomusicologia, atua na criação de políticas públicas no legislativo e executivo municipais.

    LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

    Table of Contents

    Pelos sinuosos caminhos da vida

    1. DISCURSOS SOBRE O PATRIMÔNIO

    1.1 Antropologia e Patrimônio

    1.2 Cidade monumento. Produção colonial e início das práticas de preservação patrimonial

    1.3 Criação da identidade Brasil. Um projeto político do Estado Novo com influências modernistas

    1.4 Os bens culturais e a gestão de Aloísio Magalhães

    2. CIDADE PATRIMÔNIO CULTURAL

    2.1 Minha gente, salvemos Ouro Preto!

    2.2 Programas de financiamento

    2.3 O turismo cultural e a cidade

    2.4 Ouro Preto, cidade das artes

    2.5 A cidade patrimônio da humanidade é também dos moradores?

    3. ETNOGRAFIA NO MORRO SANTANA

    3.1 Da gênese da cidade às mais recentes ocupações

    3.2 Sou do Morro, eu também sou patrimônio

    3.3 O convívio com as crianças

    3.4 Consumo cultural

    3.5 A voz do Morro na cidade

    CONCLUSÃO

    REFERÊNCIAS

    Índice Remissivo

    Pelos sinuosos caminhos da vida

    As escolhas e a bagagem teórica impressas neste livro são reflexos de minha trajetória acadêmica e profissional e da minha relação com Ouro Preto. A cidade me tomou em encantamento. Por sua arquitetura, paisagem natural, clima, histórias e pessoas, este lugar que me causa deslumbramento ao dobrar a esquina. Morei na cidade por 11 anos e 11 meses, período em que iniciei minha fase adulta, estudei, trabalhei, tive uma filha, colecionei amores, amigos e memórias. Em 2004, fixei residência por seis meses para realizar pesquisa sobre políticas culturais, base para meu trabalho de conclusão do curso de graduação em Produção Cultural, pela Universidade Federal Fluminense, com orientação do professor doutor em História, José Maurício Saldanha Alvarez. Apresentei trabalho com recorte de um período de embate entre dois candidatos políticos. Um deles, conforme

    Está gostando da amostra?
    Página 1 de 1