Sofrósina
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Sofrósina - Adriano Calmon De Jesus
INTRODUÇÃO
O avião aterrissa em Buenos Aires. Não
tenho ideia do que vim fazer aqui! Estou perdido
procurando algo que ainda não sei o que é. Eu
queria simplesmente escapar antes que minha
sanidade acabasse.
Todo dia era a mesma coisa: 6:00 da manhã
minha mãe me acordava, mas eu simplesmente não
levantava da cama. Grogue de sono, perdido em
pensamentos que iam embora antes de estarem
concluídos, sucedidos por devaneios de urgência
maior (poucos dos quais me lembrava após 5
minutos), me perguntava se vale a pena continuar
a fazer as mesmas coisas, se não é melhor deixar
tudo de lado e aproveitar a vida.
Hedonista? Sim!
Seria mais feliz? Talvez...
Muita gente toma essa decisão? Não.
Por que não??
É fácil encontrar uma pessoa com muito
dinheiro estressada, preocupada em manter seu
patrimônio, sua posição social, a imagem que
desconhecidos têm dele; porém tente achar um
pescador em qualquer praia fora da área urbana
que não sorria com facilidade e frequência. É muito
mais difícil satisfazer quem está acostumado com
lençóis de seda do que alguém que dorme ao
relento olhando as estrelas. Todos poderiam viver
de modo muito melhor, em contato com a
natureza, mas em vez disso, só conseguimos formar
formiguinhas desesperadas em ganhar dinheiro,
correndo de um lado para o outro sem aproveitar a
vida. O mundo tinha potencial, poderia ser um bom
lugar para morar..., mas não, a ganância e as
necessidades inventadas por egos inflados
arruínam tudo. Por que não podemos viver em
comunidades voltadas ao bem comum e à
satisfação geral? Fácil: porque alguns sempre
querem se achar superiores aos outros, ter mais
que os outros, não se contentam com a lua e as
estrelas acima de suas cabeças, querem tê-las em
seus bolsos.
Mas esse pensamento também sumiu tão
abruptamente quanto apareceu...
Eu ainda estava de olhos fechados, na cama,
e minha mãe grita dizendo que eu vou chegar
atrasado
para
aula.
Me
levanto,
não
instintivamente, mais para manter a rotina e me
adequar ao que é considerada uma vida normal do
que para satisfazer minha vontade. Enquanto ainda
cambaleava de sono e procurava pensar no que
tinha que fazer, sempre me vinha à cabeça a ideia
de que eu sou apenas um no meio de 7 bilhões,
qualquer coisa que eu faça não terá grande
importância, depois de 100 anos de minha morte é
provável que ninguém se lembre de meu nome...,
mas o tempo passava, e eu tinha que me adiantar
se não quisesse chegar atrasado na aula.
Não sei se escolhi a faculdade certa, minha
primeira opção era muito concorrida e eu não
consegui entrar, acabei me contentando com o que
era meu plano b
. Na verdade, estava apenas
sendo levado pela correnteza. Todos que eu
conhecia estavam na faculdade, eu também
deveria estar, certo? Era o que meus pais achavam,
uma das poucas coisas com a qual concordavam.
Era o que as pessoas que eu conhecia esperavam de
mim: conseguir um diploma e depois um emprego.
Pois bem, a faculdade acabou, consegui meu
diploma, mas não tenho emprego a vista, então
pensei: antes de ser incorporado ao sistema e me
transformar em engrenagem quero refletir sobre o
que devo fazer com minha vida. Um pouco de
pesquisa na internet de temas do meu interesse
(yoga, contato com a natureza) e achei o Ecovillage
Yoga Farm em Buenos Aires.
Não conheço a Argentina, não tenho nada
melhor para fazer. Por que não ir? Entrei em
contato com as pessoas que administram o local,
informei do meu interesse e os dias da minha
estadia. Comprei as passagens depois de muita
pesquisa por um bom preço. Um mês depois aqui
estou eu.
CAPITULO 1
Finalmente havia chegado ao meu destino.
Desço do avião e os pensamentos negativos me
esperavam ansiosamente. Estou sozinho em um
país estranho, não domino a língua, mandei meu
último e-mail para o centro de yoga há 2 semanas.
Quem vou encontrar lá? Como será o local? (As
fotos não mostravam muita coisa). Será que essa
viagem é a prova que enlouqueci de vez?
Me acalmo e vou para a fila da alfândega.
Agora já estou aqui, melhor aproveitar minha
estadia. Depois do que parece uma eternidade
chamam a pessoa na minha frente. Ela vai até o
guichê e responde uma série de perguntas: quanto
tempo fica, aonde, quanto trouxe de dinheiro, se
conhece alguém no país, se tem seguro viagem, se
tem alguma doença.... Na minha vez eu vou até o
outro guichê (já que o primeiro ainda estava
ocupado), o atendente pede meu passaporte,
pergunta para onde estou indo, carimba o visto e
me despacha!
Acho que tenho uma cara muito confiável,
de rapaz sério, sem más intenções. O que é ótimo
nessas situações, mas péssimo para conseguir
companhia feminina. As mulheres preferem os que
estão mal-intencionados, ou pelo menos essa é
minha experiência. Dois amigos meus me contaram
a mesma história: ainda jovens, com namoradas
mais jovens que queriam perder a virgindade,
perguntaram se elas tinham certeza, que eles
poderiam esperar o momento certo, que o
relacionamento deles era forte... o namoro de