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Matchs Do Bendito Cúpido
Matchs Do Bendito Cúpido
Matchs Do Bendito Cúpido
E-book290 páginas3 horas

Matchs Do Bendito Cúpido

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Sobre este e-book

MATCHS é algo do qual Wallace entende bem, mas, quase sempre ao tentar conhecer algum novo garoto, entra em uma nova encrenca, a verdade é que por ter tantos sentimentos e ter sua cabeça na lua, seja difícil agir como uma pessoa normal, mas desistir da felicidade e do amor não é uma opção, além de acompanhá-lo em seus 14 encontros com garotos totalmente diferentes, também acompanhara sua caminhada entre o prazer, reflexões pessoais e sociais, sexualidade, felicidade, dor, amadurecimento e reencontro com um alguém inesperado, que o trará uma nova perspectiva sobre sua vida. Prepare lágrimas e risos e sente em sua melhor poltrona, não irá querer perder uma só cena destas aventuras e desventuras.
IdiomaPortuguês
Data de lançamento13 de jan. de 2023
Matchs Do Bendito Cúpido

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    Pré-visualização do livro

    Matchs Do Bendito Cúpido - Wallace De Matos

    Uma tensa, talvez hilária, ou mesmo trágica, MAS verdadeira autobiografia em MATCHS

    MATCHS

    DO BEN>DITO

    CUPIDO

    Escrito e Projetado por:

    WALLACE DE MATOS

    Copyright © 2022, Editora Flyve

    Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida de qualquer forma, seja por meio eletrônico ou mecânico, ou arquivada em qualquer tipo de arquivo sem a autorização expressa por escrito da editora.

    PUBLISHER

    AUXILIAR EDITORIAL

    Lucas de Lucca

    Edmilton Azevêdo

    DIRETORA EDITORIAL

    REVISÃO

    Daihany de Morais

    Vinícius Fernandes

    ASSESSORA EDITORIAL

    CAPA E DIAGRAMAÇÃO

    Marina Solé Pagot

    Editorial Félix

    Esta obra segue as regras do

    Novo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa.

    Flyve.LTDA – CNPJ: 33.825.711/0001-54

    Avenida Afonso Pena n° 155 sala 801

    Centro - Uberlândia - MG

    CEP: 38400-128

    sac@editoraflyve.com

    www.flyve.com.br

    O CERTO É QUE

    Todos procuram pelo artefato a abrir sua própria felicidade e o sentido de existência; também é comum que alguns dese-jem apenas viver sua vida o máximo que puder, sem ter que se preocupar com esses ‚detalhes‛. Cada um de nós acaba, por fim, dando prioridade ao objetivo que lhe é mais importante, mas digamos que estamos em busca destes detalhes (de felicidade e existência). Acredito que seja natural pensar que venha em combo esta realização e, para conquistá-la, percebo que não há cupom promocional, os juros são abusivos (e há muitas parcelas de paciência e resiliência). Em outras palavras: nada é tão fácil, mas, com um pouco de coragem, talvez possamos chegar a algum lugar, ou mesmo, ainda que com medo, possamos enfrentar nossas escolhas. É possível conquistar o que tanto sonhamos. A verdade é que são infinitas as questões até chegarmos ao dito ‚final feliz‛, até porque a mente humana idealiza algo novo o tempo todo. Porém, construir um ponto em que se sinta feliz com o que se tornou talvez possa ser o momento em que se define a sua satisfação de ter vivido tudo aquilo que desejou fazer, tudo aquilo que passou; ver agora que ter sua liberdade era, na verdade, o que lhe trouxe o prazer da satisfação, porque, mesmo diante de tudo o que não pode ser, você nunca deixou de ser você mesmo, você viveu sua vida. Dessas vivências de cada um é criada uma história.

    Sabendo disso, diga-me: você sabe qual é a sua? Se há dúvida em si, talvez haja aqui o ponto para começar a refletir sobre isso. Quando mais novo, acho que a primeira vez que sonhei em ser algo queria ser um bombeiro; a segunda, um cientista; a terceira, um aventureiro; e a quarta nunca havia pensado em ser, mas acredito ser a melhor parte de quem sou hoje.

    Esta não é uma história apenas de amores e sabores, há nela pontos que podem refletir situações um pouco desconfortáveis ao leitor, como sexo, conflitos/agressão, depressão e preconceito. Mas tenha certeza de que ela trará muito mais emoções, experiências intrigan-tes, espontâneas e reflexões únicas, nas quais tenho certeza de que você também encontrará um sentido profundo e esperançoso.

    ‚Fazia algum tempo que não acontecia isto: de meus pensamentos pararem e se silenciarem. Sentado no banco do vagão, ergo o olhar acima da porta automática, observando o mapa da linha das estações. Ainda falta muito para chegar ao meu destino. Sinto-me um pouco estranho, talvez pelo costume de sair quase sempre em companhia. Ligo a tela do celular, falta pouco para o meio-

    -dia; a bateria mostra que logo irá descarregar, mas não estou à espera de nenhuma ligação ou mensagem e sei como chegar ao evento. Não há com o que me preocupar, resta esperar o desembarque, ainda assim, sinto certa in-quietação, não sabendo o que seria<‛

    DIEGO

    Geralmente, a primeira pergunta de um encontro às cegas é:

    ‚O que você procura?‛; os mais educados até querem saber seu nome antes de questionar suas habilidades sexuais. Não que achasse errado nada que me perguntassem, mas muito era sobre situações que eu ainda era muito novo para entender bem. Hoje (oito anos depois), vejo que é algo comum da fase pré-adolescente não sabermos de tudo, até porque é nessa fase que nos descobrirmos e nos construímos. Nosso estilo de roupas, identidade, desejos, amizades, gêneros musicais (que passaríamos quase o resto da vida a baixar de forma pirata) e, também, quem se dá ao luxo (se é que posso dizer assim) de conhecer o que chamamos de primeiro amor. Ah, este parece que marca como ferro quente em camisa branca, ou como molho de tomate. Sorte, dizem.

    Até pode tentar limpar com tudo que tem e o máximo que puder, mas ainda haverá uma ‚nitidez‛ aparente.

    O tamanho da mancha varia pela quantidade que se

    derramaram ‚sentimentos‛, a quantidade de paixão em que se afogou. E, neste meu caso, conheci bem o fundo dos sete mares. Não se preocupe. Se ainda não se sentiu assim, chegará a sua hora e saberá que foi pego quando não vir escapatória.

    Aos quinze anos, então, estava a prontidão deste acontecimento, como uma ovelha indo ao abate sem saber, apenas comendo minha grama e aproveitando a luz do sol da janela da sala de aula. Minha lã está quentinha e macia ‚para o corte certeiro‛, até a cena em câmera lenta.

    Boquiaberto estava, e borboletas começavam a voar com facas em meu estômago na entrada de alguém pela porta da sala, e qual seria o problema em sentir-se assim? De ter essas novas sensações e descobri-las assim como quaisquer outras situações que descobrimos em nosso crescimento?

    O consenso dizia que um garoto deveria se apaixonar por uma garota, o sexo oposto da reprodução humana, dito a ciência como ‚o caminho natural das coisas‛, mas nunca havia me interessado por ninguém, só pensava em descobrir mais sobre o mundo a minha volta, novas aventuras, novos lugares, novas coisas a aprender. Meus planos para aquele dia era apenas assistir Cavaleiros do Zodíaco ao chegar em casa, irritar um pouco minha irmã, desenhar no fim de tarde talvez, e não naquela manhã de aula ser atingido por algo no peito. N-n-não< estou< conseguindo respirar< Mas o porquê disto agora?

    — Eae? Me chamo Diego.

    Este seria um dos meus primeiros grandes problemas: me apaixonar por quem seria mais tarde um dos meus melhores amigos.

    2.

    AH, sIM, os PRóxIMOS CHUTES

    Como se tornou amigo do seu amigo? E como o subiu de cargo a melhor amigo? É, eu sei, é difícil explicar exatamente em detalhes algo que acontece naturalmente. Se me perguntasse, diria que uma amizade seria como uma explosão de cosmos em átomos no enorme espaço sideral, onde duas galáxias se juntam e se tornam uma melhor, uma Galáxia 2.0 Plus (Te parece familiar? Acho que era alguma versão antiga de algum celular ToF da Samsung).

    Diante da minha vida, nunca fui muito ativo em atividades físicas e esportes, mas, ao me juntar a um novo grupo de amigos da classe da escola, comecei a treinar futsal com eles, e, mesmo que fosse considerado o ‚perna de pau‛, sempre me chamavam para todos os treinos; mesmo quando eu não estava muito a fim, levantavam meu astral ou me forçavam a ir. No começo foi até bom. Fisicamente falando, melhorei bastante, até porque antes só passava horas e horas sentado, jogando nos emuladores de Gameboy e Nintendo D S. Após algum tempo treinan-do, senti ter mais aptidão, menos dores de coluna e até meus neurônios pareciam trabalhar melhor. Foram dias inesquecíveis, com toda a sensação de euforia em estar com eles, meus melhores amigos. E um deles era o Diego, sempre divertido, bacana, altruísta e que tinha uma força de vontade e brilho como nunca havia visto em outro alguém; sua companhia era como estar ao lado do ‚otimismo em pessoa‛. Me sentia confortável com isso, mas nem

    todos se agradavam ou pensavam da mesma forma; a real é que ele era um pouco, ou bastante, impulsivo, de forma que havia sempre algumas rixas, tanto no nosso grupo de amigos como dentro da quadra (e outras vezes fora também), mas nossa amizade dispensava presunções; eu não via algo para reclamar de sua companhia, sempre estava contente e, mesmo quando não estava bem, sempre pro-punha algo para deixar a mim ou qualquer outro melhor.

    E é claro que, com o passar do tempo, nos tornamos bons amigos, e estava feliz por isso; mesmo sentindo algo a mais, o elo que tínhamos era suficiente para mim, e era isso o que me importava. Mas, como toda surpresa vem a calhar, em um dia comum estávamos conversando em meu quarto (sobre assuntos aleatórios, como sempre).

    O que não tinha ideia é que, deste dia em diante, as coisas para ambos nunca seriam as mesmas.

    3.

    UP, FIns DE SEmAnA

    Minha adolescência parecia com um daqueles filmes juvenis de verão: cheia de emoções e dramas que acaba-vam sempre se resolvendo ao final do dia. Estava radiante e muito feliz em quase todos os momentos; falando assim faz parecer que tinha uma vida perfeita, mas todo adolescente tem problemas, isso é fato. No meu currículo vital estava: confusão de sentimentos, hormônios, ansiedade, puberdade, espinhas, pensamentos inconstantes e excitações em momentos totalmente inconvenientes. Porém, sobre quase tudo o que sentia, não conversava com ninguém, acho que porque me sentia confuso, nem mesmo eu sabia o que me acontecia direito. Sempre me dei bem com meus familiares, parentes, amigos, vizinhança.

    Todos eram legais comigo, sem exceção; o porém era que sempre me senti ‚diferente‛ e não conhecia alguém que me passasse segurança para dizer tudo o que sentia. Ao Diego, todos já entendem o porquê de eu não dizer sobre o ‚Wallace que via o mundo de uma forma extraordinária e que gostava de garotos, ou, ao menos especificamente, de um garoto‛. Sentia-me em uma caixa, mas não queria viver nela para sempre.

    Voltando aos fins de semanas, havia ido com ele naquele mesmo. Foi bom ir a uma região longe de toda a cidade, tumulto e tecnologia. Assim até parece irônico dizer, mas sempre gostei da natureza, do cheiro de folhas molhadas, do som dos pássaros voando fora de gaiolas,

    dos tropeços nas pedras (esta parte não) e um pouco de calmaria. Era como tirar férias de dois dias. O ônibus até o sítio parava em um ponto bem distante da casa do parente dele, ou seja, o resto do caminho era com Uber ou a pé. Havia uma estrada de terra com árvores ao redor.

    Após andar por uns trinta minutos, percebi que não era algo tão próximo, porém não estava cansado, estava apenas concentrado no silêncio entre nós dois.

    — Wallace< tu já transou?

    Por mais que fôssemos amigos, fiquei extremamente sem graça, até porque nunca levantamos assuntos sobre sexo; logo imaginei meus vídeos escondidos no computador em casa, com certeza eram bem diferentes dos que ele assistia (nos meus só tinha garotos, a diferença predominante).

    — N-não, cara.

    — E você se masturba? — As coisas internamente estavam indo do mal ao pior constrangimento possível.

    — Ah, cara, às vezes. — Para não morrer o assunto e tentar ficar menos tenso, continuo:

    — E você?

    — Todo dia.

    Fiquei sem saber o que responder.

    — Cara, me diz uma coisa< Você é gay?

    Trêmulo e quase que sem ar, continuo olhando para frente para não mostrar minhas reações.

    — Não, cara — respondi.

    — Ah, beleza. Mas você me faria um favor?

    O favor a seguir ficou em cenas inexplícitas; neguei por sei lá quantas vezes. Sabia que não estava confortável nem para o que pediu, nem com ele, nem para aquele momento, nem daquela forma. Mas uma hora esquece-mos a lógica, e os sentimentos tomaram conta do corpo;

    e eu sabia, lá no fundo, que isso mudaria tudo. Acho que foi aqui que deixei a criança que era para trás.

    Alguns episódios se repetiram e, mesmo não falando nada do que eu sentia, e por que não? Acho que não queria perder sua amizade, por mais que fosse estranho dizer isso. Quando sabia que meus sentimentos eram diferentes, ainda preferia tê-lo próximo a dizer algo que colocas-se um elefante entre nós. Aquela antiga forma de pensar de que preferimos ‚deixar como est{ a estragar toda a obra‛, mas uma grande lição que aprendi é que as coisas mudam, faça algo ou não, queira eu ou não.

    Alguns meses depois nos distanciamos de um jeito que não entendi o porquê, mas talvez minha indecisão de dizer algo era nítida, talvez ele soubesse, talvez não (evite, sempre que puder, essa palavra da sua mente); esse mesmo talvez vai tirar suas melhores chances de viver e ser quem você é. Não estou retratando autoajuda nisto, mas, se for aprender algo que irá mudar a sua vida em cem por cento, mesmo que algumas decepções possam acontecer, é: faça suas escolhas, mesmo com medo; não terá uma segunda chance e, se tudo der errado, ao menos tentou fazer algo que desejou fazer. Queria ter tido esse conselho.

    4.

    VoltAS E VOltAS

    Sem dar certo no ramo do amor, decidi, de forma involuntária, me concentrar em outras coisas: novos projetos, livros, filmes, trabalho. Entre algumas idas e voltas no bairro perto de casa, passava quase sempre próximo à casa dele, até pensava em dizer um ‚oi‛, saber se estava bem, e já era hora de deixar essa questão resolvida, por que não hoje? Detalhe que quase esqueço: conheci toda a família dele desde a época que tínhamos acabado de nos conhecer na escola e criei um laço de amizade com todos, e eles tinham um grande carinho por mim, até perguntavam o porquê de eu não ir mais à casa deles (por mensagem), e eu logo não sabia bem responder, dizia que estava um pouco corrido por conta da rotina, mas o verdadeiro motivo já sabíamos. Como já estava ali por perto mesmo, passei à casa deles e, se ele não estivesse, diria ao menos um ‚oi‛ ao pessoal.

    — Diegooo!!!

    Não havia campainha, o jeito era chamar pelo seu nome, mesmo sabendo que poderia não estar.

    Ouço os passos de alguém subindo as escadas, até vir e abrir o portão.

    — Oi, Tony, nosso desaparecido, decidiu nos ver?

    A irmã mais nova dele aparece ao portão.

    — Olá, Camile. Perdão, realmente estava tão ocupado (arrumando uma desculpa mental, mas não saindo

    nada), mas senti falta de ver vocês. — Eu a abraço como cumprimento. — Como vão as coisas com vocês aqui?

    — Ah, estão mais ou menos, você não soube do Diego, não é?

    — Como assim, aconteceu alguma coisa?

    — Ele está no hospital<

    Não me recordo bem das palavras seguintes que dissera, porque um zumbido começou aos meus ouvidos e um calafrio tomava o meu corpo.

    5.

    O QuE DIZEr?

    Após a notícia, talvez correr até onde ele estava seria o certo.

    Sair às pressas jogando meus objetos que estavam comigo no chão e parar de me importar com o mundo ao meu redor, mas nada disso aconteceu. Fui até o hospital onde ele estava. Chegando lá, a irmã dele entrou primeiro no quarto, acho que parei alguns instantes antes de entrar, não sabia como iria encontrá-lo nem mesmo o que diria. Acho que tremi um pouco antes de continuar meus próximos passos.

    O quarto estava um pouco escuro, havia um prato ao lado da maca, sobre a mesa de cabeceira. Estava sentado na cama, comendo algo; talvez por conta do nervosismo, só me dei conta alguns segundos depois de que Bruno (o melhor amigo atual dele) também estava ali. Não sabia muito o que dizer, e, com o Bruno ali, engoli a seco o diálogo de algumas páginas que eu pensava falar, afinal, o que realmente eu tinha a dizer naquele momento?

    — Olá, cara.

    — Toninho, você aqui, faz tempo que não nos falamos.

    Não sei se era o momento de responder algo ou de perguntar a ele; de agir com tristeza pela situação ou com alegria em vê-lo, me sentia um caos dentro de uma garrafa de vidro pronta a se quebrar.

    — Sim, cara, estava estudando, trabalhando, o de sempre, mas o importante aqui é: como você está?

    Houve pausa.

    — Ah, vou ficar bem, já, já volto para casa. Não se preocupe.

    Esse ‚não se preocupe‛ foi difícil de engolir; não sei se o caos em mim aumentou ou explodiu. Com ele? Não, comigo mesmo.

    Comecei a refletir se talvez não estivesse só pensando em mim todo este tempo dos últimos meses. No que queria, no que não estava dando certo para mim, no meu trabalho, curso, responsabilidades< No meu umbigo. Não tinha ideia de como ele realmente estava, nem mesmo como se sentia naquele momento. Eu dizia que havíamos nos afastado pensando ele ser o culpado, mas e se fui eu que me afastei? E se não o ajudei quando mais precisou?

    É, chegamos juntos às respostas agora. Concluí que não conseguiria perguntar o que havia acontecido com ele. O

    caos dentro de mim virou oceano pronto a transbordar e, antes que não conseguisse mais aguentar, disse que iria para casa tomar um banho e me trocar, pois havia acabado de sair do trabalho, e que depois o veria de novo.

    Lá fora, vi seus pais conversando na praça, quase que não os reconhecia por suas feições, nunca tinha os visto daquela forma.

    — Seu Pedro — cumprimentei me aproximando.

    Ele me abraçou (como sempre o fazia).

    — Toninho, meu garoto.

    Dona Andreza também me abraçou.

    — Veio ver o Diego?

    — Sim — respondi sem muito ânimo.

    Seu Pedro se sentou no banco, abaixando a cabeça.

    — Meu garoto, Toninho, fez isso, e por motivos idiotas de jovens. Fizeram lavagem estomacal nele< Eu o vi duro, quase como pedra, quase o perdi<

    Choro ao lembrar como Seu Pedro e Dona Andreza se compadeciam a mim. O oceano já estava cheio o suficiente dentro de mim, ao juntar as peças. Diego havia mesmo tentado o que eu havia imaginado quando estava dentro do quarto, o suicídio. O motivo, depois descobri ao ouvir algumas conversas, e quer saber qual? O que é contrário a dor, mas que rima com a mesma palavra e também pode trazê-la? Não tem por que fazer mistério, talvez já ima-ginasse desde o começo, eu que demorei para perceber: amor< Por amor a uma garota.

    Seu Antônio me olhou firme, seus olhos estavam vermelhos, e eu não sabia se era por sentimento de raiva ou medo.

    — Toninho, ele precisa de toda nossa atenção, da sua também, principalmente agora. Precisa de um amigo que o apoie, que o ajude a sair desta. Posso contar com você para nos ajudar neste momento?

    Já tinha prontamente a resposta antes mesmo de pedir, porque nunca diria não por ele, ou a ele.

    6.

    Férias

    Por coincidência, entrei de férias do trabalho na mesma época em que ele teve alta. Para dar apoio à sua recupera-ção, passei a visitá-lo quase todas as tardes, e as coisas se complicavam cada vez mais, de uma maneira ou de outra. Os remédios controlados receitados a ele causavam diversas reações, o deixava com muito sono ou provoca-vam momentos de confusão, irritação e falas transitórias, em que não se sabia se: 1 – ele estava mesmo lúcido; 2

    – não

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