Querido Estrangeiro
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Querido Estrangeiro - G Mendes Bruno
QUERIDO
ESTRANGEIRO...
G . M E N D E S B R U N O
RIO GRANDE DO NORTE
2018
1
Copyright 2018 By Bruno Mendes Galdino
Todos os direitos reservados, incluindo o direito de
reprodução no todo ou em parte, em quaisquer meios.
Edição publicada mediante suporte da Plataforma de
publicação clube de autores. Eixo de publicação por meio
virtual de autores incitantes, de forma pratica e autônoma.
Garantindo melhor disposição do processo de publicação
editorial.
TITULO
Querido Estrangeiro
SUBTITULO
Querido Estrangeiro
PREPARAÇÃO
Autônoma
DIAGRAMAÇÃO
Cunho próprio
G. MENDES BRUNO. 2018.
QUERIDO ESTRANGEIRO Ed.1 /BRUNO
MENDES / MOSSORÓ / RIO GRANDE DO NORTE /
BRASIL. – CLUBE DOS AUTORES. 2018
170 p. ;21 cm.
Ficção/ Relações familiares. / Drama.
(2018)
Rua Cristina Gomes Paulino. 126. Casa
59628825 – Dom Jaime Câmara
Mossoró – RN
Tel. 996092856Redes Sociais
Bruno Mendes Xaxa – On Facebook
@Brucexaxa – On Instagran
www.clubedeautores.com.br
2
1
DA FAZENDA AO PORTO
2
O HOSPEDE
3
ESTRANGEIROS, LOBOS E FACÍNORAS
4
DENTRE BOAS E MÁS VISITAS
5
O NETO
6
QUEM OU O QUE É VOCÊ
7
O NOSSO SEGREDO
8
A GANÂNCIA CONSOME... ASSIM COMO
FOGO
9
AFOGUEI-ME EM LAGRIMAS TÃO
SALGADAS QUANTO MINHAS
LEMBRANÇAS
3
10
A REDAÇÃO
11
QUANDO OS VENTOS MUDAM, O MAU
CHEIO AUMENTA
12
A POSSESSÃO, O FIM E O LEGADO
4
5
6
Da fazenda ao porto...
ra adorável o modo como a brisa cruzava os
pinheiros rumo a cidade todas as manhas,
E certo que havia brisa enquanto houvesse dia
e mar, no entanto, as brisas matinais carregavam-se
de um sentimento diferente em um trajeto
característico. Cruzavam os pinheiros a beira da
praia, serpenteando pelo trigo, curvando-se ao
entrono da igreja e enfim repousando sobre as
colinas, refrescando os arredores da fazenda
Ducampis. Porto Pardo ficava bem ao norte no
continente, em uma ilha de uma peculiar
prosperidade. Caminhar por aquelas bandas era
sempre um prazer a qualquer um que admirasse a
natureza, uma sensação revigorante era sentida em
um lugar diferente dentre o pequeno pedaço de terra
que abrigava a cidade, rodeado de pedras e agua.
Citar as colinas a norte da ilha era como citar
o que de mais belo ali poderia haver, rodeada de
7
trigo, dourados a nascer do sol, alaranjados ao
romper do crepúsculo, certamente ninguém poderia
esquecer o quão belo se tornara quando permeado
pela brisa vinda do mar todas as manhas. Há quem
dissesse
que
não
haveria
outro
momento
semelhante, afinal, seria o momento responsável por
um fato bastante raro para qualquer habitante.
Poucos costumavam vê-la perambular por ali, ou
simplesmente sentar-se na própria varanda, a Sra.
Saralinn de fato não assumia papéis públicos a muito
tempo, e se tratando de uma senhora solitária em
uma colina exuberante, todas as manhãs não
deixavam de ser perfeitas para uma caminhada em
busca de amoras por sua colina. Sim, como disse, a
colina e toda a região das arvores até o fim da ilha
para o norte seguiam como parte de sua posse.
Vestidos em cores neutras, um chapéu longo que
cobria grande parte de seu rosto, e um ou dois cestos
grandes empunhados a cada dia, a última Ducampis
havia relutado em se relacionar com outras pessoas.
Sua decisão de reclusão já tomava anos consecutivos
e ninguém em todo o Porto Pardo seguia a quebrar
tal tradição, como consideravam, sua simplória
rotina.
Bem. não poderia generalizar este fato, logo,
dentre todos os vizinhos e demais habitantes havia
sim uma exceção. Poucos dos que cruzavam a velha
estrada dos peixes presenciavam tal cena. A velha
8
carroça rumando a velha porteira e seu condutor de
cabelos grisalhos e agasalhos um tanto desgastados
e sempre cinza, guiando sua égua, esta, em um
estado semelhante ao seu condutor, um tanto anciã.
Barnabe sem dúvidas tratava-se de um bom amigo,
dos teimosos e ignorantes, que desconsideram
pedidos encarecidos em fúrias. Houve uma
discussão dias atrás, quando em um pedido
encarecido Saralinn exigiu que sua porteira não
fosse de nenhuma forma transposta por tal carroça e
égua. Haviam muitos problemas a se encontrar no
olhar da senhora solitária, o que fizera Barnabe, o
senhor alto de cabelos brancos e olhos claros não
cogitar tal pedido, jamais deixaria sua única amiga
em todo o Porto P, apenas por um ato de ignorância.
Sua decisão sempre beirava o correto e o claro. O
amigo era viúvo assim como a Sra. e deste modo
compartilhavam
os
mesmos
sentimentos
e
argumentos a medida que entornadas as xicaras de
chá tardes afinco, sentados paralelos em cadeiras de
madeira que pareciam ser do século passado, mas
que ainda balançavam resistentes como se
estivessem ali a pouco tempo. Muitas vezes a idade
não é importante, pois em muitos casos esta não é
precisa..." Conheci muitos jovens caducos, enquanto
invejei muitos senhores e senhoras cheios de
juventude" .... disto o senhor sempre frisara a cada
conversa vespertina curiosamente entre risadas e
9
tapinhas discretos da única mulher que a cidade
relutara a trocar algumas palavras.
Feiticeira, bruxa, louca, coisas de crianças,
apelidos consequentes a sua exclusão. As crianças
relutavam em correr pela colina, ninguém ousara
cruzar a velha cerca de madeira que rodeava todo o
terreno, desde o início da colina aos rochedos a beira
do mar. A Sra. Saralinn conservava motivos
suficientes quanto a escolha que havia deixado para
si a anos atrás, e a maioria das pessoas que ao menos
rondavam a estrada dos peixes que beirava a sua
porteira não aceitavam a ideia que poderia ser
fundamento para tamanho isolamento. As pessoas
veem o que elas querem ver, disso pode-se ter
certeza... poucas semanas atrás surgira como um
boato a possibilidade de estar havendo algo mais
profundo entre ambos amigos de chá. No entanto foi
apagado pelos gritos indiscretos de Barnabe em uma
feira de domingo, quando citado o velho Ducampis,
citou ser Saralinn sua irmã de laços, e não restando
mais dúvida de sua amizade ninguém mais se
importou. Algo comum em uma cidade pequena.
Não havia muito o que se fazer em Porto P, por mais
que fosse uma ilha não haviam praias ou se quer rios
cortando o lugar, havia somente tudo o que uma
cidade poderia necessitar. Escola, prefeitura,
mercado, padaria, banco e muitos e muitos boatos a
solta.
10
Durante as conversas sempre regadas a chá,
havia sempre o que discutir, Barnabe se tornara uma
espécie de jornal ambulante que inteirara a Sra.
fazendeira de tudo que ocorria pela cidade durante a
semana, visto que suas conversas sempre seguiam
em domingos tardios, quando o sol se prepara para
sumir dentre o horizonte. É sempre comum antes de
servir o chá trazerem dois lampiões para pôr um cada
lado, logo, a noite chegava. Em um destes encontros
não diferentes dos outros um certo argumento tomou
o foco da conversa, conversavam de início quanto
aos projetos do prefeito, mas, interrompendo o tom
sarcástico ao qual discutiam este assunto, o velho
amigo citou a possibilidade inevitável de necessitar
esta, de uma companhia em seus últimos momentos
de vida. ela não costumava divulgar sua idade, assim
como muitos outros fatos sobre sua vida. No entanto,
era clara a rapidez como se dispunha a devastação
do tempo.
- Ora como ousa insinuar tamanha bobagem.
Eu não estou morta. – Ressentiu a anciã.
- Desculpe-me senhorita, mas a vida possui
prazo certo. Estamos nos findando devagar a cada
dia, e não há outra opção senão nos entregarmos a
braços mais jovens, já que os nossos já não
sustentam nosso próprio corpo.
11
Não queria discutir com o velho amigo, visto
que o senhor como em grande maioria beira a
verdade em suas palavras e de nenhuma forma
poderia divergi-las, dias anteriores à tarde em que se
encontravam, a exclusa fazendeira sentiu tremer
uma de suas mãos enquanto fervia o chá. Não houve
tempo ou reação possível a se prestar para que o belo
jogo de xicaras de sua mãe não se espatifasse no
velho chão de madeira construído por seu pai. A
velhice havia chego em um tempestivo arremato, e a
isso só lhe restava lembrar do quão difícil fora cuidar
de sua finada mãe ao fim de seus dias. Fica claro
senhoras e senhores leitores, não havia só um
ressentimento e ou vergonha para com sua sujeição
a procedimentos sobre os cuidados de um jovem,
mas, em palavras simples, havia medo pelo que
presenciou para com a sua mãe em últimos
momentos de vida.
- Quando chegar o momento eu irei decidir.
– Repousou a xicara sobre a mesa.
- Receio que não irá... minha velha
amiga...porque motivo não abandona a teimosia?
- Estou aceitando a ideia da sujeição.
Apenas quero aguardar o momento certo.
- Está sendo teimosa. Não há mais tempo a
se aguardar. Este é o momento.
12
- Como ousa Sr. Barnabe, está insinuando
que estou caduca?
- Desculpe-me se a feri. Somente percebo os
sinais que me aparecem a cada dia. – O amigo
mostrou-lhe a xicara ao qual tomavam chá,
derramando o conteúdo sobre a varanda. Poderia
soar como algo ofensivo, inconstante de fato,
entretanto soou constrangedor e em parte
angustiante. Quando não havia chá algum, mas
somente agua fervente.
Está claro o quão perdido se encontrava o
destino da senhora Ducampis e de toda a fazenda,
pois de laços sanguíneos já não haviam se quer vivo,
dentre parentes ou vínculos distantes. Em certos
momentos do dia o velho amigo concordara com a
sensação repentina de solidão que tomava sua amiga
grande parte da semana. Difícil sobreviver a uma
desventura imprevista, imagina contrapor estas,
consecutivas vezes. Havia sem dúvida uma ferida
escondida dentre as ruinas de seu coração, entretanto
a senhora solitária da fazenda era teimosa demais
para admitir. Dentre os argumentos mais proferidos,
aquele que caracterizava sua morte como algo
trivial, fora o que mais Barnabe ouviu semanas após
o constrangimento durante o chá.
13
- Ora... não pense que vou continuar ouvindo
estas bobagens. Trate de substituir este discurso. –
De uma maneira bruta, porem educada.
- O Sr. nunca saberá o que é seguir sozinha
diante os últimos dias de vida. A solidão não faz
parte de sua vida, e não fará. Não está sozinho meu
amigo.
Seria claramente um conforto visível, caso o
velho amigo houvesse citado a solidão como parte
de sua vida, mesmo que todo mundo tenha ao menos
por alguns minutos este sentimento descontente, no
entanto, para o amigo de chá não havia nada
parecido. A poucos anos antecedentes àquela tarde
de chá, este havia ganho um presente que o fizera
mudar por inteiro, e não sendo nada caro ou de
sequer valor material o presente o tomou de uma
maneira peculiar. Veio em um cesto carregado por
uma sobrinha distante. Era pequena, rosada e
chorava como nunca, seria a segunda garota que o
amarrou pelo coração e o fez chorar. Barnabe
conheceu pela primeira vez a sua neta, após uma
trágica noticia, pois ainda que morasse sozinho em
Porto P, conservara uma história repleta de fatos
felizes e decepcionantes, ainda mais, uma esposa,
uma filha e a partir daquele verão, uma neta.
Como havia dito a chegada da criança o
preencheu com sentimentos e sensações distintas de
14
uma só vez, quando mediante a felicidade de ter a
neta entre os braços pela primeira vez, não houve
estrutura para conformidade quanto ao falecimento
de sua querida filha em um acidente com o marido.
Devo dizer que ninguém gostaria de estar em seu
lugar no momento mais indesejado de sua vida,
como certa vez foi dito...quando um filho se vai, é
como se parte do corpo de sua mãe e de seu pai, fosse
decepado, da maneira mais violenta e dolorosa
possível. Em termos resumidos, eis o motivo pelo
qual a Sra. Ducampis o havia distinguido como não
adepto a solidão. Ainda que houvesse dor dentre os
dias que seguiram a chegada da criança, Dorothy
cresceu forte e alegre a todo instante, assim como a
mãe fora anos e anos atrás.
Considerando o duelo pelo podium de
melancolia durante a tarde do chá, não seria de
prioridade descrever o resto da conversa, talvez,
prosseguir para outra parte da ilha, seria de melhor
proveito. Seguir talvez para a estrada dos peixes,
rumo a cidade, quando Dorothy deixou o seu pai/avô
a conversar na fazenda Ducampis e seguiu sozinha
pelo caminho a cantarolar versos inventados, usando
a paisagem como elementos da música. Em rimas
nada coerentes.
- Barcos e correntes, e o sol já está quente,
gravidas e ventres, bebes nascem contentes.
15
A pequena adorava o modo como as arvores
e os arbustos dançava quando vento vindo do cais os
balançava e ainda mais a bela brisa, que aliás parecia
ser a única a notar, quanto sinuava dentre os galhos
e contornava a torre da igreja a repousar sobre a
colina na fazenda. Só Deus sabia o quão grande seria
sua vontade de correr pela cantina e deitar sobre os
arbustos sentindo a brisa, mas, não teria coragem de
admitir, ainda que para o seu pai, o medo que
conservava pela senhora que ali habitava. Uma
criança, era de se esperar que como as outras,
sentisse um certo receio quanto a senhora amiga de
seu pai, a senhora que as crianças nomeavam como
a bruxa solitária.
Dorothy não fazia muita questão de espalhar
este boato, mesmo que houvesse medo, na verdade
a cada vez que caminhara pela estrada dos peixes ela
esperava que um redemoinho ou tornado a levasse
dali, parece loucura, mas, a maior fã do magico de
oz habitava aquela ilha. Além do nome, conservara
o mesmo sentimento por animais, flores e livros.
Esperava ansiosa a cada caminhada em companhia
de um leão medroso, um homem de lata e um
espantalho sem coração. Passos contentes todos os
dias da semana, todas as semanas dos meses, todos
os meses do ano, e além disso a cada momento em
que ainda se mantinha na estrada dos peixes, era
como caminhar por uma via magica de sonhos.
16
Pensamentos distrativos o bastante para que naquela
manhã não diferente das outras se distraísse e quase
fosse atropelada por uma bicicleta rápida o bastante
para causar algum hematoma. Pois o piloto, sempre
era a estrela de muitos outros acidentes semelhantes,
o Sr. Epaminondas realmente não havia nascido para
ser o carteiro, afinal, a grossas lentes que mantinha
a frente dos olhos, não diminuíam em nada o
desastre de suas viagens pelas estradas da ilha.
Liguemos um fato a outro. A pequena Dorothy em
sua caminhada matinal encontrou outro elemento da
história que obviamente tornara a ilha de Porto
Pardo um lugar repleto de figuras e historias
peculiares. Há quem diga que este homem, magrelo
e quase cego, sabia de tudo e de todos por tais
bandas, logo, era o carteiro, em outras palavras, o
guardião dos segredos de muitos.
- Ow, desculpe-me senhorita Dorothy, juro
que hoje eu tentei ser cuidadoso. – Sua simpatia era
notável, mas, sua maneira desastrosa de concluir as
tarefas era a lembrada por todos. – Hoje tenho
muitas correspondências e por este motivo tenho de
correr.
- Sem problemas Sr. Epaminondas. –
Retrucou em um tom risonho. – Só tenha cuidado,
se seguir rua abaixo muito rápido vai acabar caindo
no mar. O cais está logo ali.
17
- O que disse? O cai está logo afrente? Esta
não é a rua das mirandas?
- Não mesmo. É a estradas dos peixes Sr.
Precisa voltar um pouco. – Não segurou a risada, a
garota caiu em um ataque de risos. Mas diferente dos
outros, o carteiro sempre ignorava as suas risadas, na
verdade em muitos outros encontros, compartilhara
desta mesma risonha expressão. – Olha, por acaso
encontrou a Sra. Flint pelo caminho?
- Sim, sim. Creio que está um tanto atrasada.
Não é mesmo? Aliás, como o seu pai a deixa vir
sozinha pela estrada em plena temporada de caça?
É perigoso.
Outro detalhe não muito importante. Uma
vez por ano a temporada de caça tomava a ilha e os
moradores a beira do mar, ao sul, tomavam suas
espingardas noites afio pelos bosques a procura de
peles raras, já tinham até posto fim a tal pratica
barbara, no entanto, o prefeito houve de decidir
mantê-la, ainda que somente durante cinco dias no
ano. Sim. A temporada durava uma semana apenas,
o que seria bastante, para que recolhessem o que
precisassem dentre os bosques, Dorothy além de
qualquer um odiava aqueles dias com todas as suas
forças, certa vez até pensara em esconder os animas
em sua própria casa. O que não soou como uma boa
ideia.
18
- Não, não se preocupe. Eu estou bem.
Epaminondas acenou então em acordo e
tomando a sua magrela bicicleta, de aparência
semelhante ao dono aliás, seguiu ainda nesta mesma
direção equivocada, em direção ao mar, ignorando o
fato que estava na rua errada, seguindo o rumo
errado. Como diziam alguns, de fato faltavam
neurônios no cérebro minúsculo do carteiro. Bem,
isso não preocupou tanto a garota, a estrada dos
peixes era bastante movimentada, haveria mais
alguém afrente que o explicaria. Sempre havia
alguém a caminhar por ali, desde os marinheiros
guiando as carroças de mantimentos que chegam
todas as segundas de barco ou simplesmente a Sra.
Flint e a sua trupe de pessoinhas medianas. O que
quero dizer, é, que seguiam por ali todas as tardes a
professora e seus alunos.
A pequena tinha certeza que se corresse a
alcançaria, e assim foi. O que desconsiderava a ideia
de se estar atrasada, pois a senhora e o seu pequeno
grande filho, iam a poucos metros além da cerca de
sua casa. Ela com os livros em um braço e João com
mais livros a acompanhando. Sim, sempre era assim.
E como parte da rotina, ela sorriu quando avistou a
pequena jovem se aproximando após uma rápida
corrida. O sorriso simpático e o olhar afável, Lilian
Flint ganhava qualquer amizade nova apenas como
19
o modo de falar e sorrir, inspirando simpatia a cada
passo, poderiam questionar a qualquer aluno o quão
boa esta poderia ser, e estes os responderiam sem
papas, com um brilho notável em seus olhos. As
garotas a admiravam tanto pelo sorriso encantador
como pelo modo como se vestia, sempre um lindo
vestido longo e florido. Os garotos se apaixonavam
constantemente, logo, não se trava de uma senhora
de certa idade, mas de uma jovem que a pouco havia
se formado na cidade grande, quando houve de ter
que voltar para despedir-se de sua mãe, a assumir o
lugar desta.
- Bom dia Dorothy. Como está hoje? –
Estava certa de que ouviria algo novo.
- Bom dia Sra. Flint. Eu estou bem ao infinito
hoje, como você está João? – Uma resposta digna de
sua melhor aluna.
O garoto não costumava falar durante a aula
ou em qualquer outro lugar ou ocasião, sendo o mais
alto da sala e filho da professora qualquer outro
elemento ou característica própria parecia não servir
para se enturmar. Era certo que não responderia,
entretanto, a garota nunca desistia, havia esperança
em que um dia ouviria um retrucar satisfatório. Bem,
descrevendo o que realmente lhes é pertinente, o trio
seguiu rumo ao centro da ilha, ou centro de Porto P
onde se encontrava a escola, seguindo a rua
20
principal, duas esquinas após a prefeitura a
esquerda. Ainda que a estrada encharcasse ambos os
calçados de lama e cheirasse de um modo horrendo
a peixe e algas, eram felizes em caminhar por ali
todos os dias. Mas sabe, pela primeira vez, em
muitos meses, ou dias, ou semanas, o que for,
nenhuma destas amistosas caminhadas, a pequena
havia de ter sido atropelada, ao menos algo divergiu
da normalidade aquele dia. Pois, mesmo feliz por
habitar o pedaço mais deslumbrante do mundo, a
garota ansiava por algo novo, algo que de um modo