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Cinema e Psicanálise: Filmes que curam
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Cinema e Psicanálise: Filmes que curam
E-book121 páginas18 horas

Cinema e Psicanálise: Filmes que curam

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Sobre este e-book

O diálogo entre cinema e psicanálise possui incontáveis possibilidades. Em um mútuo enriquecer, é notável a liberdade com que aqui, neste volume, Filmes que curam, se vão enfrentando diferentes alternativas. Para não falarmos do campo mais específico de um trânsito de noções e conceitos das duas áreas, necessário e esclarecedor ao trabalho crítico, ocorre-nos que a prática da análise fílmica já guardaria, por si mesma, algo de inextricavelmente próximo daquilo que se ex - perimenta na análise psicanalítica. De modo análogo, podemos pensar na sessão de psicanálise como não tão diferente de uma sessão de cinema. Assemelham-se enfim, malgrado toda diferença cabível, as práticas daquele que se põe a ler um filme e daquele que se põe a escutar um sujeito. Em um encontro que pensa a relação entre psicanálise e cinema, cumpre reafirmar a arte como abertura necessária na compreensão de nossa clínica e escuta psicanalítica. O cinema e o sonho, o imagético como constituinte do processo simbólico, enraizamento do simbólico no não-simbólico, eis questões que um mergulho nessa temática desperta e intensifica.
IdiomaPortuguês
EditoranVersos
Data de lançamento25 de jan. de 2021
ISBN9786587638195
Cinema e Psicanálise: Filmes que curam

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    Pré-visualização do livro

    Cinema e Psicanálise - Christian Ingo Lenz Dunker

    Sumário

    Apresentação da coleção

    Prefácio

    1. O infantil e a infância em Léolo _ Porque eu sonho, de Jean_ Claude Lauzon

    2. Toda nudez será castigada, de Arnaldo Jabor

    3. A imagem cruel _ a violência no(do) cinema

    4. O familiar e o estrangeiro: as incidências de um pai em Lavoura arcaica, de Luiz Fernando Carvalho

    5. Gênero e sexualidade em Tomboy, de Céline Sciamma

    6. Teoria do ato moral: Em um mundo melhor, de Susanne Bier

    7. O Capitão Nascimento nas mãos de Robespierre: a violência divina e o abismo do ato político

    Landmarks

    Table of Contents

    Cover

    © nVersos, 2015

    Diretor Editorial e de arte: Julio César Batista

    Produção Editorial: Carlos Renato

    Capa: Henrique Barsali

    Projeto Gráfico:

    ÁTHILA PELÁ E ERICK PASQUA

    Editoração Eletrônica: ÁTHILA PELÁ, ERICK PASQUA E THOMÁS DE FREITAS

    Revisão: Beatriz Simões e Carol Sammartano

    Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)

    (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

    Filmes que curam / direção Christian Ingo Lenz

    Dunker, Ana Lucilia Rodrigues. -- 2. ed. --

    São Paulo : nVersos, 2015. -- (Coleção cinema e psicanálise ; v. 3)

    ISBN 978-85-8444-060-3

    1. Filmes cinematográficos - História e crítica

    2. Psicanálise - Interpretação 3. Psicanálise e

    cinema 4. Violência no cinema I. Dunker, Christian

    Ingo Lenz. II. Rodrigues, Ana Lucilia. III. Série.

    15-07578 CDD-791.43019

    Índices para catálogo sistemático:

    1. Interpretação psicanalítica : Cinema 791.43019

    1a edição – 2013

    2a edição – 2015

    1a reimpressão – 2017

    Esta obra contempla o novo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa

    Impresso no Brasil

    Printed in Brazil

    nVersos Editora

    Rua Cabo Eduardo Alegre, 26

    01257060 – São Paulo-SP

    Tel.: 11 3382-3000

    www.nversos.com.br

    nversos@nversos.com.br

    Apresentação da coleção

    A Coleção Cinema e Psicanálise explora diferentes maneiras de pensar as relações entre cinema e psicanálise. Por meio de textos de cunho ensaístico, pretende apresentar relações temáticas entre conceitos da psicanálise, noções de teoria e crítica do cinema e problemas práticos da produção de filmes. Isso inclui a tradicional interpretação psicanalítica de narrativas fílmicas, mas principalmente pequenos estudos focais envolvendo homologias entre técnicas de enquadre, fotografia, música e montagem úteis para o entendimento do processo clínico representado pelo tratamento psicanalítico.

    A linguagem do cinema, lembrando sua contemporaneidade histórica com o nascimento da psicanálise, apresenta características específicas que permitem pensar criticamente tanto os conceitos da psicanálise quanto a sua prática. A Coleção Cinema e Psicanálise, em cada um de seus volumes, aborda semelhanças e diferenças entre o processo de produção fílmica e os problemas formais que o psicanalista enfrenta na direção do tratamento psicanalítico. Fazer cinema e fazer psicanálise teriam, neste sentido, algo em comum do ponto de vista prático.

    Nossa abordagem entende o cinema como campo de criação de problemas formais sobre a subjetividade e como linguagem, narrativa e discurso sobre suas modalidades de sofrimento. E trata a psicanálise não só como teoria do funcionamento psíquico, mas como método clínico de tratamento e experiência ética de transformação.

    A Coleção Cinema e Psicanálise é o produto de uma experiência desenvolvida em torno desta hipótese nas Jornadas Paulistas de Cinema e Psicanálise, que ocorrem desde 2009 no Instituto de Psicologia da USP. Chamados para falar sobre seu trabalho, diretores, montadores, iluminadores e programadores apresentaram relatos e reflexões que, ao longo do tempo, abriram uma nova maneira de pensar a relação entre estes dois campos.

    Christian Ingo Lenz Dunker

    Ana Lucilia Rodrigues

    Prefácio

    Quando Charlotte nos olha nos olhos...

    Ao final de Sonata de outono (1978), obra-prima da maturidade de Ingmar Bergman, dois close-ups encadeados de maneira intrigante servem de conclusão ao filme. No primeiro, Eva, personagem interpretada por Liv Ullmann, olha diretamente para a câmera e retoma em voz alta a leitura da carta que enviara a sua mãe. A parte inicial dessa missiva havia sido lida por Victor, seu marido, a quem Eva confiara a tarefa de colocá-la no correio. A frase pela qual a própria autora assume a leitura de seu texto é a seguinte: eu não sei se essa carta chegará até você.

    No momento do close-up em Eva, observa-se que essa reassumira as suaves e dessexualizadas expressões faciais da dedicada esposa do pastor de um vilarejo no interior da Noruega. Encarnando novamente a filha doce e submissa, em suas expressões não permanece nem mesmo uma sombra da mulher um pouco embriagada e cheia de ódio que na madrugada precedente acertava terríveis contas do passado com sua mãe dizendo-lhe coisas como: mamãe, então é isso? A desgraça da filha é o triunfo da mãe? Minha aflição é seu gozo secreto?. Queixas e ressentimentos calados por tanto tempo finalmente vinham à tona, sendo ditos da maneira mais crua e direta possível. Apesar da intensidade lancinante daquilo que se dizia, a emergência sem disfarces de tais verdades ainda seria capaz de provocar algum tipo de transformação nelas e entre elas?

    A estrutura do feroz diálogo daquela noite comportava claramente dois momentos. No primeiro tempo, tratava-se de algo que podemos nomear de o julgamento de Charlotte, a mãe de Eva, interpretada por Ingrid Bergman. A filha assume aqui um discurso apaixonadamente acusador, à maneira de um promotor de justiça que advoga sua própria causa. Eva faz o levantamento de todos os crimes que imputa à mãe: egoísmo, abandono, desamor, indo mesmo a acusá-la de, durante sua infância, ter se esforçado deliberadamente para destruir tudo o que nela havia de bom e de sensível. A filha acusa a mãe explicitamente de, com seu ódio cego, ter conseguido feri-la para o resto da vida. O tribunal prossegue diante dos olhos do espectador, convocado na posição de um júri de fortuna. Eva incita Charlotte a que esta se defenda, concluindo seu plaidoyer com uma condenação antecipada: pessoas como você são uma ameaça. Você deveria ser presa e, assim, tornada inofensiva.

    Em seguida, é a vez de Charlotte tomar a palavra. Podemos chamar esse momento de a psicanálise de Charlotte. De fato, formalmente a cena é impressionante. A grande pianista de reputação internacional, a pretexto de sua dor nas costas, deita-se sobre o tapete, tendo a filha ao fundo, sentada em uma poltrona, que a escuta com atenção, praticamente muda. Olhando para o teto, a mãe começa suas associações tentando evocar algumas lembranças de sua própria infância e confessa não ter qualquer recordação de ter sido tocada por seus pais, seja para acariciá-la, seja para puni-la: eu era completamente ignorante de qualquer coisa que tivesse a ver com amor, ternura, contato, intimidade, calor humano. Charlotte relata, então, a impressão que tinha quando pequena de não saber se estava realmente viva ou se simplesmente existia. Seu único verdadeiro sentimento era o de medo e de ter uma terrível impressão de si mesma. Sentia-se profundamente infantil, como se nunca tivesse, de fato, nascido. Ela prossegue afirmando que mais tarde, na vida adulta, temia que a filha lhe pedisse algo em termos de afeto e, na verdade, esperava que fosse Eva quem dela cuidasse, abraçando-a e a consolando: eu era a criança! Eu era tão desamparada quanto você. Em suma, o argumento de Charlotte em sua defesa era o de que a filha solicitava dela algo que não poderia lhe oferecer, pois ela própria havia sido privada do investimento amoroso dos pais e a única forma que conhecia de expressar algum sentimento era por meio da música.

    Logo em seguida irrompe na cena, arrastando-se pelo chão, Helena, a irmã de Eva acometida por uma gravíssima doença neurológica, cuja origem esta atribui aos efeitos mórbidos, no corpo da jovem, decorrentes do desamor de Charlotte. No ápice de dramaticidade do filme, com grande esforço, Helena grita – "Kom, Mamma, kom...!" (Vem, mamãe, vem!). Momento ao mesmo tempo patético, uma vez que ali todas as três protagonistas da história se descobrem em busca da mesma aspiração impossível: a de que uma mãe amorosa e devotada surgisse e pudesse finalmente se ocupar de cada uma delas. No fundo, todas as três padecem dessa mesma privação fundamental, portam visceralmente as marcas desse pathos e tentam se haver com ele da melhor maneira que conseguem. Mas nenhuma Mãe absoluta responderá a seus chamados. Nesse abandono radical e insuportável, as três se reconhecem.

    Na manhã seguinte, Charlotte decide antecipar o final de sua visita à filha e parte sem mesmo se despedir. É nesse contexto que se dá a carta de Eva à mãe. Essa, na verdade, é a segunda carta que ela lhe escreve no filme. A primeira corresponde à cena de abertura. Ou seja, a primeira e a última cenas de Sonata de outono, de um ponto de vista formal, são praticamente a mesma. Nas duas, a boa filha busca carinhosamente algum contato com a mãe, renovando a esperança de que algum tipo de relação sinceramente afetuosa pudesse, enfim, se estabelecer entre

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