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Da fome para a fartura
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E-book212 páginas3 horas

Da fome para a fartura

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Sobre este e-book

Um relato profundo da providência divina na vida de pessoas comuns que observaram a aliança de Deus em circunstâncias bastante comuns.

O livro de Rute tem uma mensagem teológica enraizada na supervisão de Deus do movimento da história redentora que culmina na pessoa e obra de Cristo Jesus. Em Lucas 24, o próprio Jesus, um intérprete do Antigo Testamento, disse aos discípulos (e a nós) que os autores do Antigo Testamento escreveram sobre ele.
É o evangelho de Jesus Cristo que cuida do problema do pecado no coração humano e ocasiona a transformação de caráter e de conduta, e as suas consequências.
IdiomaPortuguês
Data de lançamento27 de fev. de 2023
ISBN9786559891894
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    Da fome para a fartura - Dean R. Ulrich

    1

    Não era o melhor dos tempos

    Charles Dickens começou seu romance Um conto de duas cidades com as bem conhecidas palavras: Foi o melhor dos tempos, foi o pior dos tempos. O livro de Rute começa com uma referência aos dias em que os juízes governavam. Com essa reminiscência de pessoas e acontecimentos descrita no livro de Juízes, o autor de Rute informa ao seu público que o contexto histórico, social e religioso para o que será narrado não era o melhor dos tempos. Na verdade, os dias sombrios dos juízes estavam mais perto de ser o pior dos tempos na história do Antigo Testamento. Elimeleque e sua esposa Noemi, que o leitor encontra nos versículos introdutórios, viveram durante tempos de apostasia, injustiça e tumulto.

    Este capítulo visa inserir o livro de Rute em seu contexto mais amplo, tanto histórico quanto religioso. O conhecimento do que se passava nos dias dos juízes vai aumentar nosso apreço pela santidade de Rute e Boaz e pela atividade graciosa e providencial de Deus na vida de Noemi, Rute e Boaz. Antes de discutir o período dos juízes, vamos rever brevemente a história do Antigo Testamento até esse ponto. Comecemos com Abraão.

    De Abraão aos juízes

    Para os nossos propósitos, podemos considerar que Abraão viveu por volta do ano 2000 a.C. Deus fez uma aliança com ele e instruiu-o a se mudar de Ur para Canaã, tomando o caminho que passava por Harã.­ Embora Deus tivesse prometido abençoar as nações por meio dos descendentes de Abraão, ele e seus descendentes viviam em frequente conflito ou à mercê de seus vizinhos. Como aconteceu com Abraão (Gn 12.10), a fome levou o seu neto, Jacó, e sua família para o Egito em ­busca de alimento. No ­Egito, os descendentes de Jacó se multiplicavam e sofriam opressão por causa da ameaça que o seu número crescente representava para o Faraó. Se a cronologia bíblica (cf. Êx 12.40; Dt 1.3; 1Rs 6.1) for tomada pelo seu valor nominal, Jacó foi para o Egito por volta de 1876 a.C.; o êxodo ocorreu aproximadamente em 1446 a.C., e a conquista começou aproximadamente em 1406 a.C.[1] Josué e Calebe foram os únicos membros da geração do êxodo a viver ao longo dos anos no deserto e participar da posse da Terra Prometida. Todos os outros membros da geração do êxodo morreram no deserto por causa da incredulidade deles – em especial, à sua terrível e desobediente resposta ao relatório dos espias (Nm 13). Como visto em Números 26–36, os filhos da geração do êxodo tiveram um novo começo e um futuro diante deles. O livro de Josué relata que eles não recuaram diante das promessas e mandamentos de Deus, mas seguiram o exemplo de Josué, sucessor de Moisés designado pelo Senhor. Depois das grandes campanhas de conquista, Josué, Calebe e os filhos da geração do êxodo chegaram ao fim de sua vida na terra. O período dos juízes começou com os netos da geração do êxodo.

    Na época do êxodo, o Egito e Hati (no leste da Turquia) disputavam o controle de Canaã, em especial as rotas de comércio e portos marítimos. Em meados do século 13, Egito e Hati se cansaram de guerrear e selaram um acordo de paz por meio de um casamento real. O faraó egípcio Ramsés II casou-se com a filha do rei hitita, Hatusilis. Canaã passou a ser controlada pelo Egito, mas a poeira não baixou por muito tempo. A migração dos filisteus para Canaã de pontos do oeste, no final do século 13, pôs fim ao reino hitita e, mais uma vez, Canaã virou um joguete político até o reinado de Davi, cerca de 1000 a.C. Israel atingiu o auge de sua estabilidade política, poder e influência durante os anos de Davi e Salomão tornando-se uma grande potência no antigo Oriente Próximo. Neste ponto, faço uma observação: os acontecimentos do livro de Rute ocorreram numa época na história do Oriente Próximo antigo em que nenhuma nação era uma superpotência incontestável. A instabilidade entre as tribos, durante o período dos juízes, espelhava o fluxo e a turbulência entre outros povos.

    O livro de Josué registra a conquista israelita de Canaã, na qual o exército de Israel serviu como agente penal de Deus para infligir castigos pela imoralidade dos cananeus. O Pentateuco antecipa esse papel punitivo que os descendentes de Abraão iriam desempenhar

    Na quarta geração, tornarão para aqui; porque não se encheu ainda a medida da iniquidade dos amorreus (Gn 15.16).

    Não fareis segundo as obras da terra do Egito, em que habitastes, nem fareis segundo as obras da terra de Canaã, para a qual eu vos levo, nem andareis nos seus estatutos. (…) Com nenhuma destas coisas vos contaminareis, porque com todas estas coisas se contaminaram as nações que eu lanço de diante de vós. E a terra se contaminou; e eu visitei nela a sua iniquidade, e ela vomitou os seus moradores (Lv 18.3, 24-25).

    Da idade de vinte anos para cima, todos os capazes de sair à guerra em Israel, a esses contareis segundo os seus exércitos, tu e Arão (Nm 1.3).

    Quando o

    Senhor

    , teu Deus, te introduzir na terra a qual passas a possuir, e tiver lançado muitas nações de diante de ti, os heteus, e os girgaseus, e os amorreus, e os cananeus, e os ferezeus, e os heveus, e os jebuseus, sete nações mais numerosas e mais poderosas do que tu; e o

    Senhor

    , teu Deus, as tiver dado diante de ti, para as ferir, totalmente as destruirás; não farás com elas aliança, nem terás piedade delas (Dt 7.1-2).

    Quando, pois, o

    Senhor

    , teu Deus, os tiver lançado de diante de ti, não digas no teu coração: Por causa da minha justiça é que o

    Senhor

    me trouxe a esta terra para a possuir, porque, pela maldade destas gerações, é que o

    Senhor

    as lança de diante de ti. Não é por causa da tua justiça, nem pela retitude do teu coração que entras a possuir a sua terra, mas pela maldade destas nações o

    Senhor

    , teu Deus, as lança de diante de ti; e para confirmar a palavra que o

    Senhor

    , teu Deus, jurou a teus pais, Abraão, Isaque e Jacó. Sabe, pois, que não é por causa da tua justiça que o

    Senhor

    , teu Deus, te dá esta boa terra para possuí-la, pois tu és povo de dura cerviz (Dt 9.4-6).

    Tomando todas essas passagens em conjunto, os leitores podem concluir que no livro de Josué as guerras podem ser atribuídas a uma motivação imperialista por parte de um grupo de fugitivos em busca de espaço para viver. Javé utilizou os israelitas para castigar os cananeus, do mesmo modo como, posteriormente, usou outras nações para castigar Israel e Judá. Deuteronômio 9 deixa claro a realidade de que os israelitas não eram moralmente superiores aos cananeus. Deus estava usando um grupo de pessoas pecadoras para realizar seu propósito sobre outro grupo de pessoas pecadoras. Em última análise, o que Israel fez como um exército santo contra os cananeus atribuiu-lhe o papel de reino de sacerdotes entre o restante das nações.

    Josué 1–12 descreve os três ataques decisivos contra os cananeus do centro, do sul e do norte. Dois versículos recordam o propósito penal da agressão de Israel. O primeiro tem relação com o ardil gibeonita:

    Então, responderam a Josué: É que se anunciou aos teus servos, como certo, que o

    Senhor

    , teu Deus, ordenara a seu servo Moisés que vos desse toda esta terra e destruísse todos os moradores dela diante de vós. Por isso, tememos muito por nossa vida por causa de vós e fizemos assim (Js 9.24).

    O segundo é um resumo dos três ataques:

    Porquanto do

    Senhor

    vinha o endurecimento do seu coração para saírem à guerra contra Israel, a fim de que fossem totalmente destruídos e não lograssem piedade alguma; antes, fossem de todo destruídos, como o Senhor tinha ordenado a Moisés (Js 11.20).

    Depois dessas campanhas, ficou evidente que Israel estava na terra para ficar. Javé manteve sua promessa e deu ao seu povo o que parecia ser, do ponto de vista humano, uma improvável vitória contra forças superiores.

    Josué 13, porém, indica que a luta ainda não havia terminado, pois cada tribo tinha de expurgar o seu patrimônio por meio da eliminação de encraves cananeus que haviam sobrevivido aos ataques iniciais. Juízes 1 faz a mesma afirmação. Pode ser útil pensar em Josué em termos do Dia D e do Dia V da 2a Guerra Mundial. Se o Dia D marcou o ataque decisivo (na Europa) e o Dia V determinou o fim dos combates (seja na Europa ou no Pacífico), então Josué 12 olha de volta para o Dia D, e Josué, 13–Juízes 1 preveem o Dia V.

    A mesma analogia vale para o povo de Deus que vive entre as duas vindas de Jesus Cristo. Se a cruz e a ressurreição de Jesus representam o golpe decisivo contra o pecado, a morte e Satanás, a segunda vinda, corresponde ao Dia V. Naquela época, a guerra santa de Deus contra todos os que se opunham ao seu plano de exaltar o seu Filho terminou em triunfo. Nas palavras de Paulo, para que ao nome de Jesus se dobre todo joelho, nos céus, na terra e debaixo da terra, e toda língua confesse que Jesus Cristo é Senhor, para glória de Deus Pai (Fp 2.10-11). Entre as duas vindas de Jesus, os crentes experimentam o que é muitas vezes chamado de tensão entre o já e o ainda não. Os seguidores de Jesus podem olhar para trás e ver que o Dia D, o ataque decisivo, já ocorreu e ele garante a derrota completa do inimigo. O tempo após a primeira vinda e antes da segunda vinda, no entanto, envolve guerras contínuas com as forças espirituais das trevas e seus adeptos terrenos. O Dia V ainda não chegou, portanto, o potencial para retrocessos e derrotas ainda existe. Com muita frequência, o povo de Deus sucumbe à tentação e dá vitória para os inimigos de Deus. Ainda assim, o ataque decisivo da primeira vinda de Jesus garante a vitória final na segunda, e os seguidores de Jesus combatem o bom combate com a certeza de que Deus, que começou uma boa obra na primeira vinda de Jesus, o levará à conclusão na segunda.

    O livro de Juízes nos dias dos juízes

    Como se viu em Juízes, o Dia V nunca chegou para os filhos ou netos da geração do êxodo. O livro de Juízes está dividido em três seções, e cada uma descreve a luta contra os inimigos de Deus. As três seções apresentam o fracasso do povo de Deus, naquele momento, para garantir a vitória final e definitiva sobre o inimigo. Devemos observar que os livros de Samuel apresentam Davi como aquele que terminou a conquista, mas até mesmo essa observação, como será demonstrado mais adiante, requer algumas variantes.

    A primeira seção de Juízes (1.1–3.6) resume o período dos juízes, fazendo a observação de que a geração após Josué (isto é, os netos da geração do êxodo e as seguintes) abandonou a fé no Deus da aliança. Devido ao desvio da fé e da obediência, eles não conseguiram terminar a conquista e permitiram que focos de resistência cananeus permanecessem e se ­reagrupassem. A preocupação de Deuteronômio 20.17-18, deve-se às tribos que viviam entre os cananeus e logo começaram a cultuar com eles:

    Antes, como te ordenou o

    Senhor

    , teu Deus, destruí-las-ás totalmente: os heteus, os amorreus, os cananeus, os ferezeus, os heveus e os jebuseus, para que não vos ensinem a fazer segundo todas as suas abominações, que fizeram a seus deuses, pois pecaríeis contra o

    Senhor

    , vosso Deus.

    O que começou como complacência e tolerância tornou-se apostasia. Em seu estudo de Juízes, Dale Ralph Davis usou a expressão geração da degeneração, uma expressão que certamente capta a questão levantada na primeira parte de Juízes.[2]

    A segunda seção, Juízes 3.7–16.31, mostra como as coisas foram de mal a pior, especialmente entre os líderes. Conquanto os treze juízes mencionados nesse livro, provavelmente, tenham sucedido uns aos outros, em certa medida, a ordem do aparecimento deles parece ser intencional. Os juízes, à medida que são levados à cena no livro, tornam-se menos grandiosos e notáveis.

    Otniel, o primeiro juiz descrito, representa o ideal, sobre ele não é dito nada de negativo. Na força do Espírito de Deus, Otniel libertou o povo de Deus das mãos de Cusã-Risataim da Mesopotâmia. O jogo de palavras vai além da assonância com o significado dos nomes. O nome do rei significa escuro e duplamente perverso, e o senhor Escuro e Duplamente Perverso vem da terra dos dois rios.[3] A questão é que o primeiro juiz, como seu sogro Calebe, confiou em Deus para superar um adversário colossal.

    Gideão, o quinto juiz descrito, foi um misto de virtude e depravação. O poderoso guerreiro que conquistou uma vitória surpreendente com apenas trezentos soldados, hesitou em atender ao mandamento de Deus e fez uma estola sacerdotal, sem autorização, que se tornou uma armadilha idólatra. Gideão encarnou a esquizofrenia religiosa do povo ao qual ele livrou dos midianitas. Quanto a Sansão, o 13o juiz, quase nada de bom pode ser dito sobre ele. Ele, que queria viver com os filisteus, morreu com eles; sem buscar o avanço do plano de Deus para seu povo, esse juiz empenhou-se na vingança pela perda de seus olhos. A morte de Sansão pode ter acabado com a hegemonia dos filisteus sobre Israel, e assim pode ter sido usado por Deus para manter Israel como uma entidade sociopolítica, mas o livro de Juízes não indica que Sansão tenha promovido fidelidade à aliança.

    Conquanto Débora, o quarto juiz descrito, seja, sem dúvida, a pessoa mais honrada desse livro, seu papel como juiz é preocupante. Por que os homens eram tão fracos de vontade, e o que teria acontecido se não houvesse uma Débora, mas apenas uma Dalila? Visto que Débora era um testemunho do modo como as coisas andavam nos dias dos juízes, um tempo em que as coisas não eram da maneira como deveriam ser, ela não serviu de exemplo. Pelo contrário, as tribos de Israel sucumbiam cada vez mais à cultura e religião cananeias.

    A terceira seção, Juízes 17–21, descreve a desintegração final da sociedade israelita. O caos moral prevaleceu entre o povo que, supostamente, deveria ser o modelo de uma sociedade resgatada para o restante do mundo. Esses capítulos colocam boa parte da culpa sobre os levitas que, como líderes religiosos, não obedeceram às ordens de Deus nem ensinaram a lei de Deus para os leigos entre as tribos. Por causa da falta de conhecimento da lei e do desrespeito por ela, muitas pessoas sofreram, e o que aconteceu com as mulheres é mais do que a maioria dos leitores atuais poderia suportar. Se uma sociedade pode ser julgada pela maneira como trata suas mulheres e crianças, então, a sociedade israelita, durante os dias dos juízes, tinha perdido todo o senso de decência, de justiça, de comprometimento e de proteção. Em suma, tinha esquecido como

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