Encontre milhões de e-books, audiobooks e muito mais com um período de teste gratuito

Apenas $11.99/mês após o término do seu período de teste gratuito. Cancele a qualquer momento.

O Escritor, O Doutor… A Morte E Suas Consequências!
O Escritor, O Doutor… A Morte E Suas Consequências!
O Escritor, O Doutor… A Morte E Suas Consequências!
E-book460 páginas5 horas

O Escritor, O Doutor… A Morte E Suas Consequências!

Nota: 0 de 5 estrelas

()

Ler a amostra

Sobre este e-book

Esta obra mostra ao doutor Francisco Cezar, que após uma grande desilusão amorosa, por um caminho, ou por outro, sempre teremos chance para recomeçar! E é como faz, o escritor Chico Cezar. Aberto para o mundo e atento, reconhece situações, onde identifica e se encontra com pessoas, que possam ajudá-lo reencontrar, dias mais felizes! ‘Cai no mundo’, escrevendo e vendendo livros entre quatro, das grandes cidades deste imenso país, chamado Brasil. Assim ainda encontra, motivos para continuar lutando com a vida, e sobrevivendo… Até que em Salvador, na Bahia, o destino lhe apresenta Amelinha, seu filho Jonas Augusto, e uma família. E ele começa a entender, que não pode absorver as consequências dos ‘percalços da vida’… o que representa para ele, o ‘fim do mundo’! O faz deixar de abraçar a vida com paixão, mantendo-o em uma fase de estagnação, sem grandes perspectivas! Através da ‘proteção sobrenatural’, trazida por Amelia Alves e sua mãe, dona Esther, ele tem de volta a confiança, a ambição, o desejo de voltar a exercer, sua principal atividade! Junto com sua reestruturação profissional, reestrutura-se pessoalmente! Readquire a força que sempre teve, de influenciar as pessoas para que sigam por caminhos, mais felizes!
IdiomaPortuguês
Data de lançamento18 de abr. de 2022
O Escritor, O Doutor… A Morte E Suas Consequências!

Relacionado a O Escritor, O Doutor… A Morte E Suas Consequências!

Ebooks relacionados

Relacionamentos para você

Visualizar mais

Artigos relacionados

Categorias relacionadas

Avaliações de O Escritor, O Doutor… A Morte E Suas Consequências!

Nota: 0 de 5 estrelas
0 notas

0 avaliação0 avaliação

O que você achou?

Toque para dar uma nota

A avaliação deve ter pelo menos 10 palavras

    Pré-visualização do livro

    O Escritor, O Doutor… A Morte E Suas Consequências! - Wagner Vinhato

    O ESCRITOR,

    O DOUTOR…

    A MORTE

    E SUAS

    CONSEQUÊNCIAS!

    1. ISAURINHA

    Assim é como Chico Cezar expõe seus

    livros à venda, naquela cidade, novamente. Ele prefere trabalhar em cidades históricas, com ranço cultural. O lugar deve o ajudar, a contar as suas histórias.

    Desembarca na rodoviária, da cidade do

    Rio de Janeiro. No maleiro do ônibus, traz seu material de trabalho. São alguns exemplares, dos pelo menos cinquenta títulos que estão divididos em dois malotes que carrega, um em cada ombro. Em um deles, os livros que exporá ao seu público e no outro, cópias. Tendo desta maneira à disposição dos seus leitores, dois livros para cada história, pelo menos.

    Ele não reclama. Segue contente, através da avenida Presidente Vargas, até a Praça da Candelária.

    Lá chegando, conversará com seu

    Nelson a respeito da providência de um tabuleiro, sobre o qual, colocará seus livros à venda. Pois, do antigo se desfez.

    Havia quebrado, a parte que o sustenta. O amigo lhe prometera um novo, na próxima vez em que ali estivesse

    trabalhando.

    Um quarto de pensão, aos fundos do

    bar e restaurante de dona Isaurinha, ali perto, lhe fora reservado. Também lhe serve refeições. Na verdade uma, o almoço. Pela manhã, toma um copo de café preto, que dona Isaura nem sequer bota na conta. Chega por ali à noite cansado, e toma uma pinga para tomar banho mais relaxado.

    Seus dias de trabalho são difíceis, mas não por qualquer irregularidade com sua atividade profissional. Afinal de contas, é um ‘vendedor das letras’.

    Está ocupando um espaço público, previamente cedido por órgãos administrativos e culturais da cidade. É o local que disponibilizam, para ele contribuir com o desenvolvimento intelectual, racional e cultural das pessoas que por ali passam.

    ― Meu grande amigo, Nelson! Como

    que vai esta força? Está se alimentando direitinho? Inclui a vitamina C na sua dieta? Na última vez que parti, apresenta sintomas da falta desta vitamina no organismo…

    ― Meu querido, Chico Cezar! Há quanto

    tempo, não te vejo? Como vão suas andanças, por este imenso país? Pois é, rapaz! Parece que converso com um médico! Estive na farmácia de seu Alaor, que me recomenda cápsulas da vitamina efervescentes. Recuperei minha energia, meu bom humor… até a patroa notou a diferença!

    Obrigado, por se preocupar e indicar o remédio!

    ― Pois é, ‘compadre’! Como o senhor

    bem diz… por este imenso país! É preciso de um pouco de boa vontade para seguir andando, levando um pouco de cultura e lazer a este povo! Tão curioso sobre, tantos movimentos culturais presentes nesta terra! Ao mesmo tempo, com tantas dificuldades para o acesso de todos! Mas me diga sobre, meu tabuleiro novo que prometeste, e se dona Isaurinha está ao par da minha chegada…

    ― Está tudo nos conformes! Seu

    tabuleiro está na loja de louças de seu Antônio… dona Isaura

    diz que está tudo ajeitado, para recebê-lo com gosto!

    Nelson é pelo menos uns dez anos, mais

    velho que Chico Cezar, que está perto de completar trinta e sete. Não aparenta pois, tamanha é a esperteza e agilidade com que estabelece seu ponto comercial. Evidencia as promoções do dia, para vender seus aparelhos eletrônicos e acessórios. Anuncia os serviços que presta: troca de pulseiras de relógios; troca de baterias de relógios, e de todos os aparelhos eletrônicos portáteis; consertos de aparelhos em geral: rádios, toca-fitas, máquinas de calcular, que são muito usadas nos comércios próximos. Desse modo mantém a concentração de pessoas, naquele ponto da praça.

    Chico Cezar, ‘colado ao amigo’, vai

    anunciando as obras que tem à disposição por títulos, e comenta suas sinopses para os transeuntes irem conhecendo-as.

    Não que Chico seja mais esperto que o

    amigo, mas seus produtos são mais fáceis de expor. Ele chega, rapidamente está com seu tabuleiro armado, com dois varais cruzados onde pendura os livros que são alterados, periodicamente. Pois, conta em torno de cinquenta obras e há espaço para expor, vinte delas. Começa pendurando ‘Vida de Forasteiro’. Seu Miguel, tabelião de um cartório de notas ali perto, está passando e presta atenção no livro. Gosta do título da obra.

    ― Bom dia, seu Cezar! Esta obra tem

    um título interessante! Comente, por favor!

    ― Uma obra criada há dezesseis anos,

    por um escritor mineiro que vive em uma localidade pobre chamada Vale do Jequitinhonha, ao norte do estado. Conta a vida de um caixeiro viajante, que segue de cidade em cidade com sua carroça e na companhia da mula Jurema. Atendem às lojas que se interessam, em revender seus utensílios domésticos… peças feitas com barro, por sua esposa e filhos.

    Todos participam das atividades dividindo o trabalho, desde a captação do barro junto ao rio Jequitinhonha, até a fase final: a envernização e o polimento das peças. A proposta do autor:

    cada um deve se doar um pouco, e a família ter o que vender para sobreviver, em um lugar que falta de tudo! Só não pode faltar fé no trabalho! A minha narrativa pára por aqui… o que vai acontecer durante essas viagens ‘compõem o pano de fundo’, para o desenvolvimento do enredo do livro!

    ― Hummm! O senhor é bom nos

    comentários que faz para vender seus livros! Me deixa interessado sobre essas viagens! Deixo pago duas unidades: uma minha e outra, para presentear dona Raquel, que o senhor deve conhecer! Retiraremos ao final do expediente, para que o interesse na leitura, não atrapalhe os nossos trabalhos na repartição!

    ― Sim, eu conheço! Trata-se de uma

    bela senhora, sua colega na repartição. E é a terceira compra que realiza em dobro… sempre se lembrando de presentear dona Raquel! ― Cezar ri.

    ― É mesmo, uma bela senhora! Temos

    um pouco mais que amizade… se é que o senhor me entende! Não há a possibilidade e nem a necessidade de renúncia ao seu compromisso matrimonial, embasado por questões financeiras. O marido vem de uma das famílias, mais abastadas do Rio de Janeiro! Empreiteira de grandes obras de infraestrutura e saneamento básico. Agora que o marido se torna deputado estadual, estas obras devem aumentar significativamente. Dona Raquel vai trabalhar mais!

    Eu tenho minha família, estruturada! Amo minha esposa e filhos! Enquanto pudermos manter esse relacionamento proibido, sem prejuízo às nossas famílias, continuamos! É

    bom demais! No dia em que não der mais, paramos!

    ― Difícil determinar o momento de

    parar, com esses encontros! Sabe seu Miguel, é uma coisa natural… tudo o que é bom deve continuar!

    ― Não não… isso é parte de um

    acordado que estabelecemos! Não há amor, há paixão!

    Adoramos as nossas companhias… são nos nossos momentos íntimos, onde o prazer normalmente começa com sentimentos, partilha de intimidades, que nos trazem

    felicidades ao nos acariciarmos. Isso nos toma um bom tempo, pois como o senhor disse é bom demais! Esses momentos nos preparam para um sexo intenso, com altos níveis de prazer. ― Seu Miguel dá uma pigarreada e continua.

    ― Amor mesmo, sinto por dona Valéria e meus filhos. No entanto somos feitos de carne e osso, e não temos ‘nervos de aço’! É sempre ‘o emocional quem trai’! Ao assumir uma relação proibida dessas, deixo fluir um carinho, um bem-querer que já nutro há muito tempo por esta moça! Desde o momento em que somos apresentados na repartição, sinto que pode haver algo um pouco mais envolvente entre nós, que uma fria relação de colegas de trabalho! ― Miguel paga pelos livros, e retorna ao escritório.

    Já está chegando a hora de almoçar.

    Cezar olha para o relógio da igreja, que acusa treze horas. A temperatura local deve estar na casa, de uns trinta e cinco graus. Toma mais um gole d’água e avista o menino, trazendo seu almoço. Pedrinho é um dos sobrinhos de Isaurinha que ela atende, como um filho. Tem a mãe doente e o pai, um pedreiro de mão-cheia, está desempregado. Precisa de obras para trabalhar, e ganhar ‘o pão nosso de cada dia nos dai hoje’. ‘Ele ‘se vira’, para garantir o tratamento da esposa e o sustento da família. Segue com o irmão para feiras livres de hortifrutigranjeiros, no subúrbio carioca. Comercializam aves vivas, abatidas prontas para o consumo, inclusive temperadas, que criam.

    ― Seu Chico, aqui jaz seu almoço!

    ― Onde aprendeste essa forma de

    falar?

    ― Em um cemitério! Estive com meu

    pai! Foi acender velas para a alma de um tio falecido, recentemente! Lá está escrito… aqui jaz!

    ― Está errado! Não pode se referir ao

    meu almoço, que acaba de chegar fresquinho e quentinho, da mesma forma a que se refere a um finado! O finado acabou, jazeu! De lá, nunca vai sair! O meu almoço vai me servir, me

    trazendo nutrientes para continuar trabalhando! Terá outro amanhã, depois de amanhã…

    ― Nossa, eu fico impressionado! Para

    vender livros precisa ser sábio, da forma que o senhor é?

    ― Não, não precisa! Aliás, eu nem sou

    sábio! Gostaria de esclarecer para ti, a importância da leitura de bons livros! A leitura traz um aprendizado ágil, coerente.

    Um dos melhores métodos cognitivos existentes. Através da absorção da informação com as palavras lidas, são envolvidos fatores diversos: pensamento, linguagem, percepção, memória, raciocínio… que fazem parte do desenvolvimento intelectual!

    ― À propósito, seu Cezar! Tenho um

    bilhete para o senhor! Não deve estar bem redigido, como seus livros! Mas se pudesse trazer a emoção de quem escreveu, acredito que o destinatário ficaria satisfeito!

    ― Você sabe usar as palavras! Por isso gosto de conversar contigo! Me chama de Cezar, antes de Chico! Não tem problema, é o meu nome: Francisco Cezar Monteiro Lobato! Todos perguntam parentesco com o famoso escritor paulista, criador do ‘Sítio do pica-pau amarelo’. Somos pessoas homônimas em parte, pois seu nome completo é José Bento Renato Monteiro Lobato! Me passa esse bilhete para cá, meu jovem! ― Ri e da forma que fala, o menino não tem certeza se aquele é realmente o seu nome de batismo.

    ― Claro, é um bilhete da tia! Sei porque

    ela me deu em mãos… porém obviamente não li! Respeito a privacidade das pessoas! Sabe seu Chico, se as pessoas não se intrometessem umas nas vidas das outras, a história da humanidade seria outra!

    ― Concordo com você! Neste bilhete

    não tem nada de mais! Dona Isaura diz que está feliz, com a minha chegada! Preparará meu banho, na hora certa. Antes me servirá um copo de uma pinga maravilhosa, que adoro!

    ― Não não… não precisa relatar o

    conteúdo a mim, não! O que eu sei seu Cezar, é que a tia é uma excelente pessoa! Não porque é irmã da minha mãe que está doente, e me oferece este trabalho para nos ajudar. Ela sempre está atenta a seus familiares! Preocupa-se com a saúde, educação e com o bem-estar de todos! Quando o meu tio vai embora para o garimpo na ‘Serra Pelada’, sou muito pequeno, quase um bebê! Me lembro da desilusão da tia, que com o passar dos anos vai se caracterizando em abandono, não sabe? Nenhuma carta, nenhum telegrama, nenhum telefonema! Até a chegada, do famoso escritor Chico Cezar por estas bandas! Ele arrebata a tristeza do seu coração!

    Apresenta uma vida diferente, para esta jovem senhora. Com mais sabor, mais humor, mais encanto e felicidade! A tia segue com esse relacionamento, sem exigir qualquer comprometimento do agente causador de tanta alegria: um casamento, morar junto, ou visitá-la mensalmente, pelo menos!

    ― Pule essa parte, da chegada do

    ‘famoso escritor’! Não sou escritor e nem famoso! Apenas vendo obras, das quais julgo as mais importantes e devam ajudar de alguma forma, o desenvolvimento dos seres humanos! Claro que Dona Isaura merece toda a minha atenção e respeito, como também a atenção e o respeito de quem se aproxima dela. É uma mulher fantástica! Com esta atividade profissional, inviabilizo qualquer compromisso nos moldes que você disse! Já conversamos e enquanto a faço feliz, me aproximo… se algum dia não mais, me ausentarei!

    ― O senhor não vai responder o

    bilhete?

    ― Não! Eu vou é comer… estou com

    fome! Diga a ela que li o bilhete, e fiquei ao par de toda a situação! ― E ri.

    ― Se o senhor a considera tanto como

    diz, deve responder a mensagem com uma linha que seja! A tia me diz que suas mensagens escritas são melhores, que suas mensagens faladas!

    ― Você está certo! Pegue uma caneta

    na minha caixa de troco, por favor!

    Sentado em um caixote e pronto para

    começar a comer, bota de lado a suculenta marmita, que fora enviada por aquela senhora tão apaixonada e escreve: Minha cara, Isaurinha! Da mesma forma que tu sentes, sinto arrepios de felicidade por estarmos na mesma cidade! Uma vontade imensa, de tê-la em meus braços! Primeiro a obrigação e depois, a emoção! Um beijo doce! Até à noitinha! Do seu, Chico Cezar! Entrega o pedaço de papel ao sobrinho, que se retira. Começa a devorar uma deliciosa macarronada com molho de ervas, tomates frescos e pedaços de carne de primeira.

    Pedrinho, estimando a reação que o

    bilhete daquele senhor provocaria, aperta o passo para logo entregar. Logo, sua tia está mais uma vez, ‘pulando de felicidade’.

    ― Pedro! Fico feliz, que tenha

    provocado o escritor a escrever estas linhas! Eu gosto muito dele… sempre que está aqui, são momentos incríveis!

    ― Eu sei disso! Sabe tia… no começo,

    acho estranha vossa relação! Com o tempo vou entendendo, que não precisam estar sempre juntos para se sentirem felizes. Mas a felicidade está no Rio de Janeiro, nestes dias em que o livreiro passa com a senhora!

    Na praça do centro da cidade, Cezar

    continua atendendo sua clientela.

    ― Boa tarde! Uma vez, comprei um bom

    livro aqui… presenteio minha esposa e ela adora! Empresta para a irmã que enquanto lê, muda-se para a Espanha. Diz que enviou o livro de volta, mas nunca chega! O senhor teria outro, por favor!

    ― Me lembro do senhor! Clóvis, se não

    me engano! O senhor lembra o título da obra?

    ― Sim, Clóvis sou eu mesmo! Claro que

    me lembro! ‘Relação entre Orgulho e Fama’!

    ― Ah, eu tenho sim! Este título não

    pode faltar, entre minhas andanças! É inspirado na declaração de um pintor francês, Jules Breton, no século passado. Me ajuda a estabelecer uma relação equilibrada entre estas duas variáveis, e a escrever este livro: a fama nos orgulha, mas este orgulho próprio não pode gerar falhas na personalidade, como o preconceito!

    ― Ótimo, eu vou levar!

    Já está chegando a hora, de partir para

    os braços de dona Isaura. Até poderia trabalhar um pouco mais, mas a saudade é maior, que a necessidade de ganhar mais dinheiro. Passam vinte minutos, das seis da tarde. Cezar recolhe seus livros em seus dois malotes, e coloca-os nos ombros. Fecha o cavalete que sustenta o tabuleiro, bota o banco debaixo do braço e caminha para a loja de seu Antônio.

    ‘Guardará sua livraria’ em um canto de uma sala, que o dono da loja de louças utiliza como depósito.

    ― Ora ora! Se não é o nosso escritor

    itinerante de volta, finalmente! O que acontece, meu amigo?

    As suas outras senhoras necessitam mais da sua presença, do que dona Isaura?

    ― Ora, seu Antônio! Deixe de conversa!

    O senhor sabe muito bem, como é o comércio! Isso ninguém explica! Tem época que vende mais livros em uma cidade, que em outras. É por este motivo, que não tenho regularidade em minhas mudanças de cidade. Deixa ir andando… aquela bela e jovem senhora está me aguardando! Muito obrigado mais uma vez, pelo espaço que cede dentro de sua loja, sem me cobrar um centavo! Fico imensamente agradecido! O senhor não sabe, o quanto está me ajudando!

    ― Isso é o mínimo, que eu posso fazer em prol da cultura nacional! Sempre que está no Rio de Janeiro, leio um livro do senhor! Na última vez em que aqui

    esteve, que eu já nem sei mais quanto tempo faz… começo a ler ‘Os Milionários’! Conta as extravagâncias que fazem os homens mais ricos do mundo, com o dinheiro que possuem e suas consequências! Não terminei de ler…

    ― A última vez, que aqui estive faz

    quatro meses! Por que não diz que está lendo? O deixaria com o senhor, para que tivesse tido uma leitura tranquila e reflexiva!

    ― Não se preocupe! Eu sabia que tu

    voltarias! Além do que, os livros são seus instrumentos de trabalho! Sem livros, o senhor nem pode sair de casa para trabalhar! Fique tranquilo! Leio-os, com todo zelo e cuidado do mundo e os boto de volta, no mesmo lugar! Se não falo, o senhor nunca sabe! ― E ri.

    ― Os livros são a minha vida! ―

    Despede-se do amigo e segue, para encontrar a esfuziante senhora.

    Ele gosta dos modos de vida, das

    mulheres cariocas. Dona Isaura é mais velha, mas pouca coisa.

    Em torno de quatro anos. Não é alta, nem elegante, mas graciosa. Faz um penteado estiloso, ondulado… parece francês do século passado, com as pontas encaracoladas por deixá-los enrolados em bobes, por uma tarde inteira. Não teve filhos. Com o marido Jasceni, não teve tempo de conquistar grandes coisas na vida. Era motorista de ônibus rodoviário, entre as cidades do Rio de Janeiro e São Paulo.

    Logo que se casam, ocupam um quarto na pensão do pai de Isaura. O marido sai para trabalhar e ela, ajuda o pai nas tarefas da hospedaria, do bar e do restaurante.

    Um dia Jasceni vai, e não volta para

    casa. Isaura procura pelo marido em todos os locais que possam lhe informar sobre, um acidente, um assalto. Mas nada fora encontrado. A empresa de ônibus rodoviário confirma o desligamento do seu marido, dias antes do sumiço. A irmã de Jasceni, dona Rosalva, que também mora no Rio lhe procura em seu bar, e lhe diz: "’Jasce’ sempre me dizia que esta vida em cidade grande, não é para ele! Que o

    negócio dele é o garimpo, junto do nosso pai e dos irmãos, lá em 'Serra Pelada'! Ele falou que tentou fazer uma vida diferente: ter um trabalho com um compromisso diário, se tornar um homem responsável e fazer uma linda família. Mas para ele é impossível! O que ele gosta é estar no meio do ouro, cercado por belas mulheres"!

    Pouco depois do sumiço do garimpeiro,

    seu pai vai ‘desta para a melhor’. Ela tem que cuidar de tudo, sozinha. É uma mulher simples, não confunde conforto com luxo. Entretanto manda construir, acima dos quartos da pensão, uma suíte com varanda grande para a igreja da Penha. Não é religiosa, mas gosta de amanhecer olhando para aquele morro. A enorme escadaria com aquela igreja no alto, lhe abençoa e dá mais força para um novo dia de trabalho.

    Ela só não entende, como não consegue

    segurar Cezar junto dela. Mesmo oferecendo-lhe o que pode haver de melhor, fazendo-o se sentir bem fisicamente e emocionalmente. No almoço, Cezar come uma marmita com a mesma comida, que está sendo servida no restaurante. À

    noite, pode sugerir qualquer prato, que ela prepara com carinho, como fez na noite de comemoração do seu último aniversário. Foi só desta vez. Normalmente ele toma uma pinga, um banho e um copo de leite… é o suficiente.

    Ele entra na rua do estabelecimento

    comercial de dona Isaura, e algumas pessoas lhe perguntam:

    como vai? O senhor como está? Tudo bem? Por educação, pois não acredita que alguém se recorde, da última vez que esteve ali. Também por ser sujeito discreto. Nunca altera as condições da localidade, com sua presença.

    Entra no bar. Naquele horário até a hora

    de fechar, é somente como bar que a casa funciona. Os almoços são servidos até umas quatro da tarde e a comida que sobra, dona Isaura não revende. Bota em marmitas e doa aos pedintes famintos, que por ali passam. Ainda que tenham que dormir nas ruas, e com fome… a situação torna-se mais desumana, ainda, ela diz. Seu Mário que atende no

    balcão, avista Cezar e faz sinal para se aproximar.

    ― Então temos de volta à esta casa,

    meu amigo livreiro! Como vai o senhor? Por onde tem andado? Tenho certeza que não tenha encontrado, tanta hospitalidade! A minha patroa e ‘sua amiga’, diz para não lhe servir pinga, pois tem uma surpresa para o senhor! Chegando é para subir, imediatamente!

    ― Agradeço, vossa recepção! Vou

    seguir as regras!

    Dirige-se para a parte da hospedaria,

    onde encontrará a anfitriã. Bate na porta da suíte.

    Inesperadamente, uma voz do outro lado diz:

    ― Quem é? ― Cezar fica assustado,

    parece ‘voz de cabra-macho', pensa.

    Ele tem que decifrar, rapidamente o

    que está acontecendo: Dona Isaura tem um novo companheiro. Com a intenção que eu o conheça e interaja com a situação, o sujeito deva se pronunciar. Argumenta com seus pensamentos. Logo, a porta se abre.

    ― Oi, meu bem! Que bom poder tê-lo

    de volta, nesta humilde pensão!

    Fico

    assustado,

    por

    alguns

    segundos… sua voz de homem, quase me convence! Penso, poder ter ‘um cabra safado’ me contando agora, novidades!

    ― Que novidades?

    ― Que ele, é o seu novo companheiro!

    E para que eu me recolha, em um dos quartos da pensão! ―

    Ela dá uma gargalhada.

    ― Sim, a intenção foi essa mesmo! Não

    acreditava que surtiria efeito!

    Vai repetindo: quem é? Com voz de

    macho e sorrindo. Cezar vai abraçando, conduzindo-a para o banheiro da suíte… ela lhe ajudaria no banho, mas repudia.

    ― Nada disso, amiguinho! Eu estou

    prontinha para o senhor, não está vendo? ― Isaura veste

    roupa íntima vermelha, cor de carne, no tom do amor e um penhoar preto de renda.

    ― Vou lhe servir uma bebida, que

    adoro! Por isso, lhe acompanharei! Chega de pinga!

    Vai até o armário, retira uma garrafa de

    licor de amarula e dois cálices. Cezar toma duas taças da bebida. Adora e diz:

    ― Hummm! Assim a senhora me deixa

    mal-acostumado! ― Sorri e entra no banheiro… quer sexo.

    O sexo não é ‘lá essas coisas’, mas é bom. Isaura se esforça para que seja. ‘Com acessórios’, fica melhor ainda.

    Ele deveria pagar pelas refeições, pela

    hospedagem e tudo o que consome. Porém ela jamais, receberia um centavo. Dormir aqui é um avanço! Nunca mais, quero dormir ‘entre putas'! Primeiro, não tenho mais idade para tais orgias e o dia seguinte, fica ‘muito pesado’. Não consigo nem parar em pé, que dirá vender meus livros, conclui. Abastecido de álcool e de banho tomado, está pronto para servir alguma emoção e algum prazer àquela senhora.

    Toma-a em seus braços, e a beija

    fortemente na boca. Joga-a na cama e começa a despir aquele corpo razoavelmente bonito, ou bonito com a ajuda do licor que bebera. Não precisa de muitas carícias preliminares, pois desde o dia em que seu Nelson anuncia sua chegada, é por isso mesmo que ela espera.

    Desenvolvera habilidades de dar prazer

    às moças. Pode ficar o tempo que quiser, sem interromper o coito. Aproveita dessa grandeza para satisfazer aquela que o acolhe, com tanto zelo e carinho. Findado o primeiro ato, Dona Isaurinha convida o viajante para degustarem, um prato com linguiça calabresa e batatas cozidas, com um tempero especial e delicioso.

    ― Eu não posso nem pensar em

    comer… já se faz tarde! Comer nessa hora, atrasa o metabolismo e faz juntar barriga! Tira a agilidade que preciso para cumprir os meus dias de trabalho… mas vendo a forma linda e delicada que me oferece este jantar, não posso recusar!

    ― Que coisa boa, então vamos logo!

    Estou louca para provar das calabresas e batatas cozidas, tomando alguns goles de cerveja gelada.

    ― Eu não posso com cerveja! Me deixa

    cansado e com sono! Se puder trocar por vinho tinto e seco, vou adorar!

    ― Claro, vamos! Aqui o senhor pode

    consumir o que quiser! É praticamente um dos donos!

    ― Não fale isto… eu não gosto disto!

    Aqui é sua residência, e também seu local de trabalho…

    então devo respeitar! Sei que trabalha muito, para manter tudo isso funcionando!

    Cezar é esperto. Como quem dá um

    ‘tapa com luva de pelica’, responde e revida, de forma elegante e educada. Faz com que sua índole de bom moço, seja preservada. Não sabe por quanto tempo, ainda viverá assim. Que seja bom, enquanto dure, conclui no pensamento.

    Elogia e come com gosto o cozido,

    acompanhado por uns goles de um vinho delicioso. É uma bebida cara, sofisticada. Está envelhecendo e ficando cada dia melhor, na prateleira de bebidas do restaurante. Ela abriu a garrafa, e disse que vinho tem de ser servido em ocasiões especiais.

    Naquela noite, Isaura se prepara para

    sabatinar ‘o amigo’. Afinal de contas, são diversas vezes que ele passa por sua vida e sobre a dele, sabe muito pouco. Acha que deve saber mais, pois tem intimidade com o moço. Pensa em embebedá-lo… dessa forma ficaria mais tranquilo e

    ‘botaria para fora’, as respostas que ela precisa ouvir.

    ― Meu querido! Você aceita mais

    vinho?

    ― Aceito sim! Esse vinho é maravilhoso!

    Olha que eu nem tenho o hábito do consumo, destas bebidas sofisticadas! Bebida alcoólica boa para mim, é pinga! Você toma umas doses e logo, faz o efeito esperado! Este vinho por ser gostoso e ter teor alcoólico médio, vou bebendo, bebendo e quando vou dar conta… embebedado estou! ― E

    sorri.

    "Hummm! Já apresenta um quadro

    moderado de embriaguez! Vou começar com o nosso primeiro encontro. Ele vai entrando no assunto, e tiro a informação que preciso. Onde já se viu? O homem entra na minha casa, no meu negócio, ‘o trato como rei’ e fica

    ‘escondendo o jogo’? Isso não está certo"! Pensa.

    ― Você se lembra Cezar, do nosso

    primeiro encontro? É uma situação engraçada e inusitada!

    Chove muito e está tarde! Preciso voltar, para encerrar as atividades do bar! Você me guarda da chuva com seus malotes de livros, e me acompanha até aqui! Me beija e vai embora! Me deixa só na vontade… naquele dia, você está muito cheiroso! Eu posso me esquecer de você, mas jamais esquecerei do seu perfume, naquela ocasião!

    ― Sim, na verdade não é tanto trabalho

    assim! Os malotes de livros estão, quase vazios… naquela vez, vendi bem! E valeu a pena, ter a acompanhado para ganhar um beijo doce e gostoso, antes de voltar para a rodoviária e embarcar.

    ― É esta a única forma que tenho,

    como agradecimento à sua carona! Enquanto me protege debaixo dos malotes, aproveito e tasco-lhe aquele beijo! O

    senhor não tem tempo para mais nada! Parece que vai ‘tirar o pai da forca’, ou atender outra moça… com essa forma carinhosa e gentil de lidar com todos!

    ― A forma carinhosa e gentil, são ‘ossos

    do ofício’, minha querida! Meu pai me ensina desde menino, a

    cuidar bem de todas as pessoas que precisam de ajuda. Sou um vendedor, como você também é! Então sabes como agir trabalhando, ou não? A imagem dos profissionais que lidam diretamente com as pessoas, deve ser ilibada. Qualquer arranhãozinho no atendimento, ou no tratamento, é motivo para tu e o seu negócio serem desprestigiados! Quanto a

    ‘tirar o pai da forca', fica tranquila. O velho seu Francisco, interage de forma mais gentil e carinhosa ainda, com todos!

    Se alguém capacitado para ajuizá-lo à forca, teria que assinar a lápis para se arrepender e apagar depois. Se tu o conhecesses pessoalmente, rapidamente entenderia que meu pai evita fazer mal à uma mosca! ‘Aquele velho’

    trabalhou muito, e ajudou muita gente!

    ― Sobre a pressa, para ir atender outra

    mulher você não comentou nada! Por quê? ― Rapidamente, o semblante de Cezar fica sério e ele responde:

    ― Porque não há o que comentar! Já

    falamos sobre essa parte, anteriormente! Não se lembra desta conversa?

    ― Lembro que chegamos a falar algo,

    sim! Foi muito superficial! Hoje, gostaria de entrar profundamente neste assunto, para lhe conhecer de verdade, de fato!

    ― Eu suponho que tu saibas, o

    suficiente sobre mim!

    ― Não, não é o suficiente! Puxa vida,

    Cezar… essa já é nem sei mais qual das vezes que você vem trabalhar no Rio de Janeiro… eu quero conhecer melhor o homem, por quem desenvolvi imenso carinho e um gostar especial que posso ter por alguém. Depois que ‘aquele idiota'

    vai para Serra Pelada, não me interesso por ninguém e nem me deito com homem nenhum, durante dois anos… até que você aparece por estas bandas! A minha vontade é acabar com esses períodos de trabalho que passa na minha cidade, e poder ter o prazer da sua companhia para sempre!

    ― Isso é impossível! Eu vou lhe explicar

    novamente, toda a ‘logística da minha vida’! Aliás eu preciso saber… qual parte da minha vida, você ainda não entende?

    ― Ué, Cezar! A resposta para essa

    questão, é muito simples! Eu só preciso saber se você se sente bem, ao meu lado! Se sentindo desta forma, tem o desejo, a vontade que esses períodos durem mais! Como te digo para esses períodos durarem mais? É muito fácil! Tu sempre estarás aqui na minha cidade lutando com a vida, ao meu lado! Quem quiser saber de você, que venha até aqui e o encontre escrevendo, vendendo os seus livros e morando comigo!

    ― Não é assim que as coisas funcionam,

    ‘minha flor’! Eu tenho períodos, eu tenho intervalos todos programados, onde vou estar trabalhando o ano todo! O que eu sempre falo para você? Que em um intervalo de tempo determinado, eu tenho que passar um período em Belo Horizonte, com o meu pai. O velho é viúvo, mora sozinho e precisa da minha ajuda para cuidar da saúde…

    ― Espera, aí! Lembro muito bem que

    você diz, que tem uma comadre da sua mãe que cuida do seu pai!

    ― Dona Jussara… cuida até demais! Ela

    sempre esteve, ‘de olho cumprido para cima do velho’! Têm um caso, há

    Está gostando da amostra?
    Página 1 de 1