Contos Acreanos Por Um Acrelandense
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Contos Acreanos Por Um Acrelandense - Elias Pedroso Da Silva
Dias de escola
Todo mundo tem alguma lembrança dos tempos de escola, sejam boas ou ruins. Mas sempre fica marcado, aquele dia, aquele acontecimento. Muitas vezes, lembramos espontaneamente, outras lembramos quando olhamos fotos antigas ou até mesmo na roda de amigos quando um deles lembra de algo, geralmente embaraçoso, e no final todos riem e a lembrança passa a ser algo especial. Todos têm alguma boa lembrança da escola, exceto Antônio. Ele nunca se lembrava de algo bom, sempre que lembrava de algo era ruim. Não lembrava de um dia que houvesse diversão ou riso, sempre eram tristes suas lembranças. Não tinha um amigo sequer! Apesar de ter boa aparência seu negativismo afastava as namoradas e seus parentes o tinham como o esquisitão da família. Talvez, por isso, ele nunca tenha terminado o primeiro grau e trabalhava como braçal na coleta de lixo da prefeitura. O trabalho era pesado e o ganho era pouco, mas Antônio pensava que se saísse daquele trabalho não conseguiria outro, pois não tinha estudo e nem padrinho político, muito menos parentes importantes. Como já foi dito ele era negativista.
Depois de muito penar em mais um dia de trabalho, Antônio retorna para casa com um litro de cachaça, disposto a se embriagar. Nem bem entra pelo portão, já abre a garrafa e toma o primeiro gole direto do bico. Em casa ele não se importa com a roupa suja do lixo daquele dia e senta em uma cadeira que tinha como único móvel no meio da sala. Ligou a televisão e começou a escutar uma enxurrada de desgraças e notícias ruins, bem ao seu gosto, mas ao final, o apresentador deixa um aviso.
-Você que não completou seu primeiro grau, agora tem uma chance de ouro para fazer, procure a escola mais próxima e se inscreva no supletivo. Recupere o tempo perdido e aumente sua chance de conseguir um emprego melhor.
Antônio ficou atento, balançou a cabeça e nem esperou a novela acabar, foi logo tomar um banho, vestiu sua melhor camisa, na verdade a única que ele tinha para sair, vestiu a calça jeans, montou na bicicleta e foi até a escola. Como era perto, chegou bem rápido. No portão estava um senhor já com uma idade avançada chamado Sebastião, que era figura conhecida de todos.
- Boa noite seu Tião. Disse Antônio ao chegar na portaria.
- Opa, boa noite Toninho. Diga lá o que te traz aqui?
Antônio respira fundo e responde.
- Vim atrás de me matricular no supletivo.
O porteiro então abre um sorriso e o convida a entrar e procurar a secretaria da escola.
Quando entrou, Antônio começou a ver as paredes daquele lugar e começou a ter lembranças, mas como já foi dito, nenhuma era agradável, e ele passou a sentir uma certa opressão naquele lugar. Até que chegou na porta da secretaria, bateu na porta e ouviu alguém o convidando para entrar. Depois que a porta se abriu, ele percebeu que uma mulher bastante gorda estava sentada atrás da mesa e o olhava com olhos curiosos.
- É você, Toninho?
Antônio olha a mulher, mas não sabe dizer de onde a conhecia. Seu rosto era familiar, até aqueles seus olhos eram comuns à sua vista, mas ele realmente não lembrava dela, mas por educação responde.
-Sim, sou eu, o Toninho.
A mulher fica meio embaraçada, mas para evitar qualquer mal-entendido, logo se apresenta.
-Eu sou a Rebeca, filha da Maria das tranças e do Zé carroceiro, não lembra?
Antônio faz