Encontre milhões de e-books, audiobooks e muito mais com um período de teste gratuito

Apenas $11.99/mês após o término do seu período de teste gratuito. Cancele a qualquer momento.

Em Busca De Luz Para Meu Ser
Em Busca De Luz Para Meu Ser
Em Busca De Luz Para Meu Ser
E-book453 páginas

Em Busca De Luz Para Meu Ser

Nota: 0 de 5 estrelas

()

Ler a amostra

Sobre este e-book

Este romance expõe inúmeros tabus, a começar pela condição dos protagonistas: um casal homossexual. Um encontro casual passa imediatamente para um relacionamento sexual, mas se transforma em envolvimento profundo, o surgimento do amor. Fernando é terapeuta e, ao mesmo tempo, narrador da história. Alexandre, com experiência bissexual vasta, é um rapaz simples, com pouca instrução e, não tendo sabido em seu passado lidar com um desafeto, envolveu-se no submundo das drogas. Por causa da promiscuidade, torna-se portador de HIV. A virtude do livro, porém, não tem a ver apenas com esse enredo. A importância dele está em ser um conjunto de lições fundamentais para a existência, que tendem a levar o leitor à elevação espiritual, enquanto acompanha os passos dos dois rapazes. Por isso, é um livro de espiritualidade, mas não de religião. É também um livro de Filosofia e Psicologia. Trata de questões muito cruciais, mas de maneira extremamente didática, para poderem ser compreendidas por todas as pessoas. Não é livro de doutrinas, mas de perguntas que cada leitor pode se colocar e dar-lhes suas próprias respostas. É um livro que expõe e confronta todas as formas de preconceito. Nele, o amor humano, incluindo o sexo, é tratado como manifestação do Amor Divino. É um livro que traz muitos tópicos para meditação. A espiritualidade de Fernando é exacerbada, motivo pelo qual pretende fazer de tudo para introduzir o amado nessa senda, o que efetivamente acontece, de maneira gradual. Aos poucos, Alexandre vai despertando para a consciência de ser muito mais do que poderia imaginar, antes de conhecer seu amigo. A paciência de Fernando é fruto de muito tempo de dedicação ao Deus Interior, que lhe proporciona surpreendentes revelações, fazendo-o crescer e o ajudando conduzir Alexandre. Outros tabus tratados são: a dependência química, com relatos de situações críticas em que Alexandre esteve envolvido, contando sempre com a compaixão do amigo; o câncer, que Fernando ajuda uma cliente a enfrentar; os prejuízos da fé cega às pessoas que se entregam a crenças e valores religiosos, sem o concurso da reflexão; a morte, trazendo-a para o significado de transformação, ao invés de término. Ao final, é apresentado um recurso espiritual, acompanhado de uma decisão, que Fernando adota para lidar com a ausência de seu amigo e, assim, alcançar paz e completude.
IdiomaPortuguês
Data de lançamento7 de ago. de 2019
Em Busca De Luz Para Meu Ser

Leia mais títulos de Ricardo Gonçalves

Relacionado a Em Busca De Luz Para Meu Ser

Autoajuda para você

Visualizar mais

Avaliações de Em Busca De Luz Para Meu Ser

Nota: 0 de 5 estrelas
0 notas

0 avaliação0 avaliação

O que você achou?

Toque para dar uma nota

A avaliação deve ter pelo menos 10 palavras

    Pré-visualização do livro

    Em Busca De Luz Para Meu Ser - Ricardo Gonçalves

    Em busca de Luz para meu Ser

    Ricardo Gonçalves

    Em busca de Luz para meu Ser

    3ª edição

    Joinville – SC

    Edição do Autor

    2019

    Copyright © Ricardo Gonçalves, 2019.

    Preparação e Diagramação: Hermes Selenysthákis

    Revisão: Helena Selenysthákis

    Capa: Gian Felipe Designer

    Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)

    Agência Brasileira do ISBN – Bibliotecária Priscila Pena Machado CRB-7/6971

    G635 Gonçalves, Ricardo.

      Em busca de luz para meu ser / Ricardo Gonçalves. ——

      3. ed. —— Joinville: Edição do autor, 2019.

      341 p. ; 21 cm.

      Inclui bibliografia.

      ISBN 978-65-00-67719-5

      1. Aperfeiçoamento pessoal. 2. Autoajuda. I. Título.

    CDD 158.1

    2019

    Clube de Autores Publicações SA

    Rua Otto Boehm, 756 – sala 02 – Bairro América

    89201-700 - Joinville – SC

    www.clubedeautores.com.br

    atendimento@clubedeautores.com.br

    A todas as pessoas que valorizam a vida,

    rejeitando o preconceito e contribuindo

    para a construção de um Mundo de paz,

    compreensão e compaixão.

    Essas são as mesmas que trabalham

    por seu desenvolvimento espiritual,

    para resultar na purificação de

    nosso Planeta.

    Prefácio

    Prezado leitor.

    Está em suas mãos o resultado de minha necessidade de compartilhar ideias, construídas ao longo dos anos e que imagino poderem ser de valia para sua vida. Em minha carreira no magistério, creio ter realizado o intento de levar aos meus alunos um pouco da mensagem aqui contida. Estou feliz por conseguir transformar tais pensamentos em um livro, abordando vários temas por mim considerados muito importantes, dando-lhes um contorno diferente daquele a ser possível em sala de aula. Ao escrevê-lo, precisei exercitar reflexão e habilidade oratória, a fim de transportar para o campo da palavra escrita aquilo que permanecia encerrado em minha mente.

    Sob a forma de romance, pretendi escrever uma obra de espiritualidade. Essa palavra não é sinônima de religiosidade. As religiões têm doutrinas, propagando e defendendo verdades. Dada a diversidade de confissões religiosas, é natural cada uma eleger o que lhe parece mais correto, pautando sua existência nesses princípios, todos eles reputados pelos adeptos como certezas inquestionáveis. Por esse motivo, as religiões são muitas vezes conflitantes entre si e pouco dispostas ao diálogo conciliatório. A espiritualidade, ao contrário, da maneira como é aqui apresentada, não se apega a dogmas, motivo pelo qual não precisa defender-se ou provar qualquer coisa. Não é exclusiva de uma parcela iluminada da humanidade, pretensamente receptora e guardiã da Revelação Divina. Também não é excludente, pois todos os seres humanos possuem em si a dimensão transcendental, na maioria das vezes, não claramente manifesta na existência temporal de cada um de nós. Vemos as pessoas, interagimos com elas, fazemos delas imagens mentais e as classificamos de acordo com nossas preferências. De umas nos aproximamos por suas ações e pensamentos nos serem familiares e agradáveis; de outras nos afastamos, pois, na avaliação de seus procedimentos, não os aprovamos. Na maior parte de nossos relacionamentos impera a superficialidade desse conjunto de juízos. Tal fenômeno nos leva a não conseguirmos entrar em contato com o verdadeiro Ser de cada pessoa, oculto em seu interior, e, de tão submerso, o próprio sujeito costumeiramente não O conhece. Assim, a espiritualidade nos leva a tocarmos nossa própria essência e a essência da outra pessoa, independentemente de sua religião ou mesmo de seu suposto ateísmo, de suas convicções políticas, de sua forma física, de sua relação com os bens materiais e de todo e qualquer aspecto constitutivo de sua existência neste Planeta. Sob o ponto de vista da espiritualidade, nada disso corresponde a quem a pessoa é de fato, mas apenas demonstra o que aprendeu em sua existência temporal, manifestando-se sob a forma do comportamento e dos pensamentos por ela adotados. O que a pessoa é é o alicerce sobre o qual se edifica sua condição material, mental, instrucional, emocional, todos esses aspectos pertencentes à temporalidade à qual está submetida. Por isso, essa determinação temporal está sujeita às incertezas características de tudo o que é provisório, mutável, que uma hora desiste de existir e termina. Portanto, o que a pessoa é é permanente e indestrutível; se quisermos, eterno. Como é natural, o alicerce não é visível, mas nenhum edifício subsiste sem sua força sustentadora. O que a pessoa é é o seu Ser. O que a pessoa aparenta ser para os outros e até mesmo a imagem distorcida capaz de fazer de si própria, isso é o seu momento neste Mundo.

    Para ajudar-nos atingir essa Essência oculta, parti das aparências evidentes. Por esse motivo, a história aqui trazida descreve personagens em vivências absolutamente humanas, com conflitos íntimos e interpessoais, angústias, medos, alegrias, ressentimentos. Ainda que não se reconheça no contexto da trama e não se identifique perfeitamente com certos matizes das personagens, o leitor poderá, caso o deseje, mergulhar em meditação a respeito de sua própria situação, contando com instrumentos apresentados no próprio texto, por meio dos quais poderá rever seus valores, até encontrar condições de optar definitivamente por eles, ou abandoná-los, substituindo-os por outros. Assim, este é um livro de meditação. É também um livro para ser meditado, pois não é apenas uma história, e sim a história de cada ser humano. Quem o ler apenas uma vez, e como se lê um romance, isto é, nos momentos de lazer, somente para espairecer, certamente não obterá os frutos que lhe poderá proporcionar, pois é um livro para ser estudado.

    Aprendemos atuar, ao invés de vivermos quem somos. A consequência não poderia ser outra: adotamos uma existência de aparecermos para os outros, do modo como desejam que sejamos, para sermos aceitos; assim agindo, escolhemos a frustração de nossa essencialidade, privando-nos da manifestação de nossa pureza interior. Mascarados durante toda a vida, sequer ousamos mencionar alguns assuntos que as sociedades e associações, inclusive as religiosas, muitas vezes consideram tabus: homossexualidade, dependência química, morte, racismo, fé cega, aborto, suicídio. Estes são alguns deles, neste livro abordados. Por isso, esta é uma obra que denuncia todas as formas de preconceito, pretendendo levar Luz à vida de cada ser humano.

    Ninguém deve buscar aqui fórmulas e respostas prontas, menos ainda verdades absolutas ou grandes revelações das quais a humanidade estava carente, pois este não é um livro doutrinário. Ao contrário, segue uma maravilhosa peculiaridade da Filosofia: sua aptidão para apresentar problemas, propor questões e incentivar a troca de ideias. Quando caminhos são sugeridos, nunca o são como se fossem definitivos ou únicos. Por isso, pode ser um livro bastante incômodo e até mesmo irritante, caso o leitor se comprometa na leitura e mergulhe no elemento do discurso. Também por isso, pode ser um livro que traga grande crescimento espiritual, traduzido em prática, para uma vida mais plena e saudável, em todos os sentidos.

    Será de extrema importância ao leitor tomar todas as opiniões aqui emitidas apenas assim, isto é, como opiniões, sujeitas a abundantes contestações. Como já disse, este não é um livro de verdades, menos ainda absolutas, e faço questão de enfatizá-lo no decurso da obra.

    A fim de procurar evitar confusões de natureza conceitual, considero necessária a explicação de alguns termos utilizados. Tais definições também não são universais, servindo somente para a elucidação das intenções do texto. Em primeiro lugar, faço distinção entre Alma e Espírito. Alma é a sede das emoções, isto é, a parte da pessoa em que se manifestam as paixões (amor, ódio, alegria, tristeza, medo, valentia, certeza, ignorância, altruísmo, egoísmo etc.); portanto, é a instância na qual aflora o resultado da interação entre o corpo físico, com as condições materiais nas quais se origina e às quais está sujeito, e o efeito psicológico de tudo isso exercido sobre a pessoa. Como as condições de existência de um indivíduo mudam no decurso de sua vida, com elas também mudarão as emoções, e, consequentemente, a alma. Por outro lado, Espírito é quem de fato a pessoa é, independentemente das características individuais que a circunscrevem em um contexto social, provocando as emoções, ou seja, os movimentos da alma. O Espírito não sofre modificações, pois é uma essência incorruptível e idêntica para todas as pessoas, embora seja individual. Apesar da individualidade, todos os Espíritos emanam da mesma Fonte, sendo Esta, ao mesmo tempo, Sua Foz. Quanto à alma, as pessoas são diferentes; quanto ao Espírito, são idênticas. Se admitirmos ser melhor o imutável e eterno, em todas as nossas buscas de compreensão das limitações intrínsecas àquilo que é temporal e se altera, para superá-las, estaremos também no encalço do essencial: o Espírito. O Espírito é o Ser de cada pessoa e de todas, ao mesmo tempo.

    Quando nos aplicamos às nossas tarefas diárias, não temos dúvidas a respeito de estarmos conscientes. Afinal, tomamos decisões a cada momento e temos a impressão de controlarmos os acontecimentos, na medida do possível. Quando dormimos, durante a inconsciência, nossa mente fica susceptível aos sonhos, que acontecem, aparentemente, de forma aleatória; nosso corpo fica esquecido de suas operações sensoriais. Entretanto, o fato de aplicarmos nossos cinco órgãos sensoriais, em nosso estado de vigília, não nos garante estarmos realmente conscientes a respeito do que fazemos. Neste livro, as palavras consciência e inconsciência possuem significados muito particulares. A consciência é o estado mental no qual somos capazes de reconhecer o mais plenamente possível as características de um evento, aplicando-nos a ele e sentindo-o como se fosse a única coisa existente para nós, em um preciso momento. Por exemplo: quando está na hora da refeição e decido procurar alimento, tendo-o já diante de mim e já exercendo a atividade de comer, posso fazê-lo mecanicamente, a ponto de não ter contato muito consciente com ele. Sim, estou acordado e sei que estou comendo; porém, enquanto o faço, se penso na volta ao trabalho, nos problemas a resolver, em questões pessoais a me absorverem e intranquilizarem, certamente não estarei suficientemente concentrado nas propriedades do alimento ou no ato da alimentação. Mais do que um ritual para manutenção da vida corpórea, tal afazer consiste em ação de graças pela presença vivificante, em mim, daquela matéria nutritiva que a Natureza gentilmente me proporcionou. Dessa maneira, deixo passar a oportunidade de usufruir uma experiência única, cuja perda é irrecuperável. No movimento contrário, se eu focalizar o alimento e o ato da alimentação, concentrando-me integralmente nele, sem permitir à minha mente desviar-se para qualquer outra parte, apenas assim exercerei verdadeira consciência. Somente é possível ser consciente neste instante. É neste preciso momento que acontece uma experiência única entre mim e minha ação. Viver assim, como se fosse um objetivo de vida, iria dar-nos uma perspectiva totalmente nova sobre o Mundo circundante. Essa é a dimensão da presença, isto é, do estar aqui e agora, extraindo dele tudo o que tem para nos fornecer, com total consciência. Isso é estar presente, estar consciente, viver o agora, expressões que aparecem com frequência no texto. As preocupações com o futuro, a contínua volta ao passado, e mesmo a permanência da mente naquilo que acontece neste instante, causando-nos intranquilidade, apesar de não fazer parte de nossa vivência imediata, tudo isso é inconsciência.

    Finalmente, este livro não é de teologia, mas possui Deus-Amor-Vida como fundamento e meta. Portanto, não é livro católico, nem evangélico, nem espírita, nem muçulmano, nem budista, nem nada na mesma linha; não é um livro específico para os adeptos de qualquer confissão religiosa; não é um livro para ateus. Não é um livro, com exclusividade, para homossexuais ou para prostitutas ou para negros ou para pessoas especiais, pois não se vincula a rótulos distintivos. É um livro para seres humanos. Quando você, leitor, compreender o significado disso, entenderá tratar-se de um livro para você também e para toda e qualquer pessoa, repleto de experiências intelectuais, emocionais e espirituais, ao mesmo tempo em que se constitui em porta aberta para você mesmo poder criar ou reformular sua própria história.

    Esta obra certamente será depreciada por pessoas que se consideram possuidoras da Verdade e, portanto, adotam a discriminação como sua forma de ser no Mundo. Mesmo assim, sugiro-lhes a leitura, não para mudarem de ideia, mas para terem mais um motivo de confirmarem e exacerbarem suas certezas. Entretanto, advirto: esta é uma obra para espíritos livres, como dizia Nietzsche.

    Ricardo Gonçalves

    maio / 2019

    Capítulo 1

    Em uma terça-feira, por volta das quinze horas, eu havia saído da casa de uma cliente. Era uma tarde quente de primavera e permaneci sob o abrigo de ônibus, aguardando minha condução. Ali embaixo fazia muito calor, pois o forro do teto era revestido com material um tanto translúcido, fazendo o ponto ficar abafado. Vários ônibus passaram e as pessoas iam neles embarcando. Aos poucos, fiquei a sós, já irritado pela demora da linha que tomaria. Vi distante, na avenida, uma moto zunindo, como se fosse levantar voo. Quando se aproximou do ponto, o motociclista passou para a faixa exclusiva de ônibus, reduziu a velocidade e parou diante de mim.

    - Onde fica a Avenida Brasil? – perguntou-me.

    - No segundo semáforo, à esquerda, já é ela, cruzando a Rebouças. Mas você precisa entrar à direita e fazer um contorno na Henrique Schaumann, porque a conversão à esquerda lá embaixo é proibida.

    - Parece complicado. Não conheço São Paulo e já dei um monte de voltas, sem conseguir chegar. Você vai para aquele lado?

    - Vou seguir a Rebouças em frente.

    Ele tirou o capacete, mostrando seu rosto suado. Nesse momento, prestei mais atenção e percebi como era bonito aquele rapaz. Moreno, magro, usava calças jeans claras, tênis e uma camiseta regata branca, bem colada ao corpo, realçando sua forma física robusta e forte, mas não exagerada. No pescoço, trazia um tipo de colar, do qual pendia um pingente, bem ajustado ao pescoço. Com ar de estar exausto, disse:

    - Que calor faz aqui! Não sei como vocês aguentam.

    Limpando o rosto com o braço, perguntou-me:

    - Já que vai naquela direção, não quer que eu te dê uma carona para me ensinar esse caminho? Depois te deixo em outro ponto por perto.

    Olhei para cima na avenida, mas não vi sinal de ônibus. Assim, disse-lhe:

    - Está bem! Depois da Avenida Brasil há outro ponto na Rebouças. Tomo o ônibus lá.

    - Então vamos! Obrigado! Tome o capacete...

    Pegando o capacete reserva, coloquei-o e me posicionei na garupa da moto. Perguntou-me:

    - Qual é seu nome?

    - Fernando. E o seu?

    - Alexandre, mas todo mundo me chama de Xande. Prazer!

    - Meu também.

    Partimos e eu lhe dava as indicações. Fizemos a conversão e já íamos em direção ao seu destino. Eu olhava aqueles ombros largos, aquelas costas amplas, aquelas coxas torneadas e senti um forte desejo de me aproximar mais. Fiquei excitado, mas ele não percebeu, pois mantive a distância naturalmente praticada entre desconhecidos. Quando chegamos à Avenida Brasil, eu lhe disse:

    - Agora você me deixa aqui, que vou para o ponto.

    Estacionou a moto. Enquanto eu tirava o capacete, também tirou o seu e me perguntou:

    - Vamos tomar um suco? Você me ajudou e quero retribuir.

    Aquele convite me deixou fascinado, pois eu não queria me afastar dele tão rapidamente. Por isso, aceitei. Colocamos os capacetes e fomos procurando uma lanchonete. Chegamos diante de uma barraca que vendia várias coisas e ali mesmo paramos. Saímos da moto e fomos à balconista, a quem pedi um suco de laranja, por ele acompanhado. Enquanto esperávamos, conversamos sobre trivialidades, daquele tipo que falam pessoas desconhecidas, sem terem muito a dizer uma à outra. De vez em quando, ele olhava para trás, momentos nos quais eu aproveitava para admirar seu corpo. Prestei atenção às suas veias e a seu rosto, com barba rala e um furinho no queixo. Seus olhos eram castanho-claros e tinha cabelos completamente pretos, bem curtinhos. Tinha exatamente a minha estatura. Verdadeiramente lindo!

    O pedido chegou e nos sentamos em uma das mesinhas disponíveis, a sós, pois não havia outras pessoas naquele momento. Continuamos conversando até o suco terminar. Ele parecia estar atento às coisas que lhe dizia e perguntava sempre mais. Enfim, a conversa que demoraria uns poucos minutos se estendeu a mais de trinta. Ele olhava para minhas mãos, para minha boca, para minhas orelhas, para meus cabelos quase raspados. Em um movimento desastrado, bateu sua perna na minha, mas continuamos conversando. Entretanto, como tudo tem de acabar, anunciei minha necessidade de ir embora. Já me levantava quando me pediu para ficar mais um pouco.

    - Tenho mais coisas a fazer antes do comércio fechar. Preciso mesmo ir, mas foi um prazer te conhecer, Xande!

    Em pé, estendi-lhe a mão, que reteve com a sua, dizendo:

    - Desculpe-me, mas não posso me levantar agora.

    - Por quê?

    - É que não estou em condições...

    Imediatamente entendi a mensagem e olhei para seu púbis. Levei um choque quando o vi excitado. Instantaneamente, houve em mim uma reação e precisei sentar-me de novo. Ele percebeu, deu um sorriso maroto e, sem papas na língua, disse-me:

    - Vamos para outro lugar? Eu quero você!

    Um calor me queimou por dentro, de baixo para cima. Certamente fiquei muito vermelho, mas tive uma sensação interna ao mesmo tempo estranha e maravilhosa. Por um momento, hesitei, mas meu desejo falou mais alto do que jamais havia se pronunciado:

    - Vamos sim!

    Em sua cadeira, ele estremeceu. Levantou-se repentinamente. Também me levantei. Tirou uma nota de Vinte Reais da carteira, jogou-a no balcão sem esperar o troco e fomos rapidamente para a moto. Na garupa, eu já queria me encostar o máximo possível. Eu ia para a frente e ele para trás, um ao encontro do outro. Em um momento em que não se via alguém nos olhando, toquei sua perna. Ele gemeu... e acelerou...

    - Onde é que tem um motel por aqui, Fernando?

    - Não sei! Não conheço nada por este lado.

    - Sabe onde tem?

    - Sei, mas é meio longe.

    - Não faz mal. Vamos indo. De repente, a gente encontra um no caminho.

    Eu dava as indicações, enquanto ele olhava expectante para os lados, tentando encontrar um motel. Acelerou a moto bruscamente, demonstrando ansiedade. Não gosto de velocidade alta, principalmente em moto, mas, para dizer a verdade, queria que corresse mais... Depois de vinte minutos de percurso, chegamos diante de um estabelecimento bem bonito. Ele disse:

    - Pode ser aqui?

    - Sim! Vamos lá...

    - Tem cara de ser caro.

    - Acho que não, mas não estou nem aí.

    - Nem eu. – complementou.

    Entramos no estacionamento. Descemos da moto e nos olhamos cheios de desejo, excitados e trêmulos. Indicaram-nos o aposento para onde deveríamos ir. Passamos diante de um quarto de onde saíam altos gritos de prazer, o que aumentou ainda mais nossa excitação. Entramos no quarto, trancamos a porta e logo estávamos nos braços um do outro, roçando nossos corpos. Nossas bocas se fundiram e nossas línguas dançaram nelas, em um beijo cheio de paixão, cada um querendo penetrar mais o outro, esperando tomar posse daquele lugar hospitaleiro e delicioso. Ele dizia:

    - Que tesão! Você não podia me escapar!

    Eu nem queria dizer qualquer coisa, mas apenas viver aquele momento tão íntimo e completamente inusitado para mim. Arrancamos nossas camisas e nossos tórax suados se pressionavam, enchendo-nos ainda mais de prazer e excitação. Nossas mãos percorreram nossos cabelos e nossas costas de alto a baixo, chegando às nádegas e às coxas. Profundamente envolvidos naquela atividade entorpecente, beijamo-nos loucamente, explorando nossas línguas irrequietas. Beijei seu pescoço rígido e meus lábios foram descendo em direção ao seu peito. Dali em diante, tudo o que era possível nos aconteceu. Entregamo-nos completamente a nossos desejos irresistíveis.

    Depois de tudo consumado, apesar de atingirmos juntos o orgasmo, ainda não queríamos nos desgrudar. Continuamos nos explorando, até um novo orgasmo nos ocorrer, quase na sequência do primeiro. Nunca imaginei algo tão maravilhoso um dia me acontecer, embora sempre houvesse desejado e sonhado com infinita sublimidade. Naquele dia, provavelmente gemi mais do que em toda minha vida, a ponto de minha garganta ficar doendo. Ele não ficou para trás. Naqueles momentos em que estivemos juntos usamos plenamente nossos sentidos, extraindo e dando um ao outro todo prazer possível. E em todas as vezes em que exercitei a presença, vivendo o meu agora, em outras situações completamente diferentes, jamais o consegui tão intensamente. Se existe um Paraíso Terrestre, eu o vivi naqueles momentos.

    Repetimos tudo aquilo mais duas vezes. Surpreendentemente, não nos faltaram orgasmos. Finalmente, exaustos, ficamos deitados abraçados, bem colados, descansando. Nós nos olhávamos e eu pensava em quanto tempo havia me privado de sensações tão sublimes e inocentes, uma vez que nada ali foi agressivo ou desrespeitoso, e menos ainda prejudicou alguém. Ao contrário, só nos fez bem. Olhando profundamente em seus olhos, via-me refletido naquele brilho límpido. Queria que sentisse por mim o mesmo que eu por ele, grande ternura e uma suspeita de que aquele encontro não havia sido por obra de acaso. E se era forçoso nos encontrarmos naquelas circunstâncias e nos entregarmos sem medo e certos de estarmos realizando um tipo qualquer de Plano, não seria possível deixarmos de sentir-nos parte um do outro. Ao menos, era o que eu sentia. Era o que eu tinha necessidade de sentir. Durante esse nosso encontro, a cada nova sensação que experimentava (pois tudo para mim era novidade!), eu intimamente agradecia a Deus por aquele presente.

    Infelizmente, tínhamos de ir. Fomos tomar banho, no qual nos ensaboamos e nos acariciamos ainda mais, atingindo novas excitações, desta vez, sem orgasmos. Depois de terminarmos, ainda trêmulos de tanto prazer, nos vestimos e saímos. Pagamos a conta, recuperamos a moto e tomamos nosso caminho. Em meu coração, nenhuma mágoa, nenhum arrependimento, apenas a tristeza por ter de me afastar de alguém tão importante em minha vida, que me proporcionou entrar em contato com uma dimensão até então desconhecida do meu Ser. Ele me fez sentir sagrado e desejei que se sentisse assim também; porém, não lhe disse, temendo que não compreendesse e me achasse tolo. Afinal, eu era responsável por meus sentimentos e não tinha qualquer ideia a respeito dos seus. Naquelas curtas e perfeitas horas em que compartilhamos nossos Seres, não me senti possuído e nem possuidor, porque nos respeitamos tanto e não fomos rudes um com o outro. Não houve sexo de tipo dominador e dominado, mas aconteceu, se posso dizer assim, harmonia humana, em completa igualdade, sem superior ou inferior.

    Parou no ponto de ônibus que lhe indiquei e eu desmontei. Ele me perguntou:

    - Se te pedir, você me dá seu telefone? Se não quiser, tudo bem.

    - Sim! Legal! Você anota aí no seu celular?

    Digitando os dados no aparelho, guardou-o em seguida. Porém, eu não queria alimentar ilusões, pois estava certo de tudo haver acabado ali. E isso me angustiou. Nós nos abraçamos e ele disse:

    - Acho que atrapalhei seus planos, né? Você tinha coisas para fazer e não vai mais dar tempo. Desculpe-me!

    - Não tenho nada a desculpar, Xande! Nada seria mais importante do que o que aconteceu entre a gente. Você me fez sentir um deus. Obrigado!

    Pareceu-me alegremente surpreso com minhas palavras e sorriu. Nós nos despedimos com outro abraço e ele arrancou.

    Nos próximos três dias, meus sentimentos foram conflitantes. Por um lado, ainda fruía um estado de êxtase por todo o ocorrido; por outro, sentia saudade e tristeza, imaginando que outra experiência tão edificante, com aquela pessoa, provavelmente não aconteceria. Imaginei não demorar muito a me sentir mal e culpado por haver transado uma pessoa desconhecida, mas foi todo o contrário, porque estranhamente eu o sentia parte de mim. Entretanto, pensei: De quantos já havia sido aquele corpo? E quantos mais ainda o teriam em seus braços?... Fui apenas mais um. Para mim, ele havia sido o único e eu queria conservar esse sentimento de exclusividade em meu coração! Nesses três dias, pensei em quantas coisas queria dizer-lhe. Queria que soubesse da transformação ocorrida em meu interior. Desejava que soubesse ter sido uma ponte para eu chegar nesse estado tão especial. Porém, provavelmente não entenderia nada disso. Pensei: Fui somente mais uma transa para ele. Eu sentia saudade e fiquei com raiva de mim mesmo por não pedir o número de seu telefone. Suspirei pesaroso, mas ainda inebriado daquela experiência maravilhosa.

    No terceiro dia, atendi ao telefone:

    - Alô!

    - Fernando? É o Xande! Dá para a gente se encontrar? Estou com saudade!

    Meu coração quase arrebentou meu peito, quando o ouvi.

    - Oi, Xande! Que surpresa! Se está com saudade, nem sei o que posso dizer de mim... É claro que podemos nos encontrar! Desejei muito isso...

    Combinamos um local para ver-nos, dali a uma hora. Cancelei os compromissos com meus clientes. Considerei que poderiam adiar seus atendimentos, mas eu não poderia esperar mais nada, pois passei minha vida toda aguardando esse acontecimento. Em outras circunstâncias, iria sentir-me irresponsável. Nessa, porém, senti-me liberado de qualquer compromisso com outros, para assumir um grande e inadiável compromisso comigo mesmo. Sempre priorizei os outros; agora eu me colocava em primeiro lugar, e por causa daquilo com que sonhei minha vida toda.

    Quando nos reencontramos, foi como se nos conhecêssemos há muito tempo e não nos víssemos também de longa data. Sem nos preocuparmos com quem nos via, caímos um nos braços do outro, envolvidos por ternura imensa. Ficamos ali grudados durante mais de um minuto, sem desejo de largar-nos. Foi um reencontro muito emocionante para nós dois, o que se tornou perceptível por nossos risos eufóricos, sem contenção. Quando nos soltamos, desta vez nos olhamos sem segredos ou temores, como havia da primeira vez, pois tudo o que eu desejava era também o que ele desejava. Nós havíamos compartilhado nossos Seres e eu, ao menos, sentia-me um com ele. Mais do que termos sexo, queríamos estar juntos, respirando a mesma atmosfera, que certamente irradiávamos e transpunha longa distância a partir de nós. Entretanto, naqueles momentos não nos importamos com esses eflúvios ou com quem pudesse beneficiar-se deles. E era uma força tão poderosa que certamente atingiria quem estivesse nas imediações, de alguma maneira. Precisávamos apenas sentir-nos, e foi o que fizemos.

    Mais uma vez, ofereceu-me o capacete, montei na garupa de sua moto e nos dirigimos ao Parque do Ibirapuera. Agora, muito descontraídos, nós nos encostávamos o máximo possível, o que evidentemente nos fez arder de excitação. Lá chegando, loucos por ficarmos a sós, entramos no parque abraçados, sem as pessoas que nos viam se importarem com isso. Nunca aquele lugar me pareceu tão lindo! Sentamo-nos à sombra de uma árvore frondosa. Apoiados em seu tronco amplo, discretamente nos demos as mãos e ficamos contemplando nossa presença em meio ao Mundo à nossa volta, tão indiferente a nós, mas que nos parecia fazer muito mais sentido, então. Nós ríamos de bobeira, como embriagados. Embriagados era o que estávamos, com tanto ar sagrado circulando ao nosso redor, ar que respirávamos e nos preenchia completamente. Estávamos excitados, motivo pelo qual dobramos as pernas diante de nossos corpos, evitando que algum eventual passante percebesse. Eu trouxe sua mão em direção ao meu rosto e beijei seu dorso, observando suas veias e a juventude de sua pele. A palma de sua mão era calejada e bastante áspera, mas isso não me incomodou.

    - Suas mãos são fortes, Xande! Em que você trabalha?

    - É serviço da roça. Uso bastante enxada, foice, lido um pouco com gado. Sou caseiro em um sítio, lá onde moro.

    - É mesmo? Vou frequentemente ao sítio de uns amigos, em Minas Gerais, e estou acostumado a fazer trabalho no campo.

    - O que você faz aqui em São Paulo?

    - Pratico massagem e outras terapias holísticas. Eu era professor também.

    - Terapias o quê? Não conheço essa outra palavra.

    - Terapias Holísticas. São duas palavras que vêm do grego. Terapia quer dizer cuidado. Holística quer dizer da totalidade. Por isso Terapia Holística significa cuidado do ser humano em sua totalidade.

    - Ah! Que bacana! E você dava aula de quê?

    - De Filosofia.

    - Deve ser uma matéria difícil. Cada coisa diferente você faz! Estudei só até a quarta série. Não gostava da escola. Tinha de andar muitos quilômetros para ir e para voltar. Como não fazia amigos com facilidade, ficava meio de lado e não sentia gosto em ir para as aulas. Depois, minha mãe ficou doente e parei de estudar. Fiquei cuidando dela.

    - Sente que te faz falta não ter estudado?

    - Não. Estou bem assim. Leio mais ou menos bem, mas escrevo pouco. Na roça, a gente não precisa de muito estudo.

    Enquanto falava, senti-me estar ao lado de uma pessoa muito simples. Com isso quero dizer que reconhecia nele a ausência dos vícios que as pessoas normalmente contraem, sendo muito racionais e seguras de seu valor, simplesmente por terem passado muitos anos em bancos escolares, tratando de fazerem a mente inchar com conhecimentos, muitos dos quais supérfluos e inúteis. Muitas vezes, as pessoas letradas somos fúteis, dando tanta importância aos nossos intelectos, por acharmos que quanto mais forem alimentados, mais distintos seremos. Pura ilusão! E ali, diante de mim, estava aquela pessoa tão humilde, sem cultura, mas representando para mim infinitamente mais do que qualquer doutor jamais havia significado. Naquele rapaz, via-me refletido, não aquele eu construído pela mente, enriquecido de informações, mas a essência de mim mesmo, aquela parte do Ser, a única verdadeira, que é a verdade de cada ser humano, de cada animal, de cada planta ou mineral existente no Universo. Quando estava com ele, as palavras e pensamentos não faziam sentido, já que eu sentia a essência que palavras e pensamentos nem podem suspeitar, e menos ainda descrever. Comunicava-se usando expressões como nóis vai, nóis compremo, nóis falemo, é mais melhor, vô ponhá, mas nada disso me incomodava, bem ao contrário. Ele me proporcionava um encontro comigo mesmo. Ah! Como desejei que pudesse compreender meus sentimentos! Desejava falar-lhe deles, mas não o fiz por temer que pensasse querer dar-lhe uma aula. Fiquei com medo de sentir-se inferior e, de repente, correríamos o risco do distanciamento. Depois de algum tempo em silêncio, ele disse:

    - Estou me sentindo como nunca antes. Parece que uma coisa mudou lá no fundo de mim, mas não sei explicar. Por que será que não quero me separar de você?

    Ao dizer essas palavras tão simples, dava risada de contentamento, como se estivesse deslumbrado com essa descoberta. O que mais poderia ser dito? Nada precisava ser entendido, pois ele sentia.

    - Então, você também sente? Eu sinto a mesma coisa. Também não sei explicar nada.

    - Acho que nem precisa. Quando a gente explica, parece que perde o encanto. – disse-me.

    Meu Deus! Que filosofia é capaz de superar isso? Calei a minha boca e me recluí à minha insignificância, como se diz. A meu lado estava alguém que vive, e não que fala ou pensa. E os sentimentos nos preenchiam, ao mesmo tempo em que estimulavam nossos corpos, levando-nos à excitação. Afinal, nossos corpos eram doces novidades um para o outro. Não havendo alguém por perto, nós nos beijamos com muito carinho, como quem reconhece a participação um do outro em tão grande demonstração de amor. Amor? Será que já era possível falar nisso? Pensei ser muito cedo para usar essa palavra tão forte. Considerei que o melhor seria continuar sentindo, apenas, sem denominar. Para que dar nomes? Sentimentos são anônimos, ou melhor, inomináveis, quando se os sente. Racionalizar não é sentir.

    Antes de nossa excitação aumentar e tornar-se incontrolável, resolvemos andar. Passando em frente a uma lanchonete, sentamo-nos em banquinhos diante dela. Ele resolveu comer um cachorro-quente e me perguntou:

    - Você vai querer um também?

    - Não, Xande! Não como carne. Sou vegetariano.

    - Nossa! Nunca conheci um vegetariano. Acho que não conseguiria. Gosto muito de carne. O que você come? Só verduras?

    - Verduras, legumes, cereais, pães, bolos. De vez em quando, como ovos, queijo, tomo leite.

    - Mas peixe você come, né?

    - Não!

    - E frango?

    - Não! Nada que seja derivado de um animal abatido para servir de alimento.

    - Puxa! Deve ser difícil.

    - Não! Não é! São tantas as alternativas, que carne não me faz a menor falta.

    - Eu pensava que todo vegetariano era magrinho e pálido, como naquela propaganda que fizeram uma vez, de uma churrascaria. Você a viu?

    - Sim. Mostrava um vegetariano com cara de doente, depressivo, dizendo que não sentia a menor falta de carne. Depois, focalizavam o pessoal todo alegre, comendo carne. Mas aquilo foi somente uma estratégia de marketing, como se diz comercialmente. Não conheço algum vegetariano daquele jeito que aparece na propaganda. Bem ao contrário, todos são muito saudáveis.

    - É por isso que achei estranho, porque você é esse gatão aí...

    Fiquei bem surpreso com esse comentário, ao que respondi:

    - Obrigado, pelo gatão!

    Mexendo em minha coxa, com uma risada bem sacana, :

    - E não é não?! Olha aqui este filé mignon! E essa boca gostosa que você tem... E você inteiro... Você não é só um gatão; é também um garanhão...

    - Não aperta muito aí não, Xande, senão já vou ficar doidão!

    - Ah, é? Eu quero só ver...

    Segurei sua mão para que parasse, e ele me atendeu. Continuou:

    - Já me disseram que gente que não come carne é nojenta, cheia de frescuras, que não se mistura com quem come carne. Você também é assim?

    - Claro que não, né! Não está vendo que não falei nada quando você pediu cachorro-quente? Cada um faz suas opções e ninguém tem direito de interferir nisso. Existem pessoas muito radicais, como em qualquer lugar e a respeito de qualquer ideia, mas não acho isso bom. Conheci uma mulher, de uma religião aí, que me disse não comer nada preparado por uma pessoa que também prepare ou coma carne. Sei lá! Cada um tem o direito de pensar do jeito que quiser, mas é muito chato discriminar os outros. Pelo que entendi, ela pensa que quem prepara e come carne é impuro. Para mim, isso não tem nada a ver. É o cúmulo da arrogância.

    - É! Já pensou se achar melhor do que os outros por causa disso?

    Olhando novamente para minha perna, disse:

    - Eu não resisto a dar uma dentada num pernilzão...

    Dei risada do seu jeito, muito engraçado. Pedi apenas uma garrafa de água. Depois de comer, caminhamos mais um pouco e nos sentamos em um banco, à frente do lago. Fizemos questão de sentar-nos grudados, de maneira que nossas pernas ficassem bem unidas. Por meio delas, nós nos acariciávamos. De vez em quando, um passava a mão na coxa do outro e dizia:

    - Que tesão!

    Sorríamos e nos excitávamos assim. Aquela tarde estava muito boa, mas nós queríamos coroá-la com mais intimidade. Assim, decidimos procurar um local mais aconchegante. Já na moto, cheios de ansiedade, resolvemos voltar ao motel do outro dia. O percurso parecia interminável. Só de olhar para aquele pescoço lindo eu me derretia de paixão. Encostei meu corpo no dele e ele gemeu. Desse modo, quase fundidos, chegamos ao motel. Doidos, fomos rapidamente para o quarto. Nem bem trancamos a porta e já estávamos nos despindo. Completamente nus, entregamo-nos nos braços um do outro, sentindo-nos inteiros e nos esfregando com desespero. Queríamos nos fundir e, se possível, eternizarmos esse momento.

    Concluída a brincadeira, cansados e satisfeitos, repousamos deitados um diante do outro, ofegantes, suados. Deslizávamos nossas mãos por nossos corpos, explorando-nos e tentando extrair mais prazer tátil de todas as nossas partes. Passada aquela loucura, a ternura voltou. Agora era importante para mim irmos para

    Está gostando da amostra?
    Página 1 de 1