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Além da pele: repensar, refazer e reivindicar o corpo no capitalismo contemporâneo
Além da pele: repensar, refazer e reivindicar o corpo no capitalismo contemporâneo
Além da pele: repensar, refazer e reivindicar o corpo no capitalismo contemporâneo
E-book192 páginas2 horas

Além da pele: repensar, refazer e reivindicar o corpo no capitalismo contemporâneo

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Sobre este e-book

Além da pele compila artigos recentes de Silvia Federici a respeito do corpo e da política corporal em seu trabalho teórico e em outras teorias feministas. Os dez textos que compõem este livro revelam como o capitalismo tem transformado o corpo humano em máquina de trabalho — e o corpo das mulheres em máquinas reprodutoras de mão de obra. Dividida em quatro partes, a obra debate a relação entre corpos e opressões, a barriga de aluguel, as novas tecnologias reprodutivas e de manipulação genética, as antigas e recentes esterilizações forçadas, a criminalização do aborto, o cerco à sexualidade das mulheres, o trabalho sexual, o papel da medicina e da psicologia no disciplinamento dos corpos e a ânsia do capitalismo tardio em moldar, via novas tecnologias, um trabalhador cada vez mais semelhante a uma máquina — cujo corpo esteja imune a estímulos sensoriais, a desejos sexuais, sempre autodisciplinado, capaz de funcionar em qualquer situação e pronto para colonizar o espaço sideral.
IdiomaPortuguês
Data de lançamento24 de dez. de 2023
ISBN9786560080188
Além da pele: repensar, refazer e reivindicar o corpo no capitalismo contemporâneo

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    Além da pele - Silvia Federici

    Além da pele: repensar, refazer e reivindicar o corpo no capitalismo contemporâneo

    conselho editorial

    Bianca Oliveira

    João Peres

    Tadeu Breda

    edição

    tadeu breda

    Assistência de edição

    Luiza Brandino

    preparação

    Natalia Engler

    revisão

    Adriana Moreira Pedro

    LAILA GUILHERME

    capa & direção de arte

    Bianca Oliveira

    assistência de arte

    Sidney Schunck

    diagramação

    Denise Matsumoto

    Conversão para ebook

    Cumbuca Studio

    Além da pele: repensar, refazer e reivindicar o corpo no capitalismo contemporâneoAlém da pele: repensar, refazer e reivindicar o corpo no capitalismo contemporâneo

    SUMÁRIO

    Agradecimentos

    Introdução

    1

    PRIMEIRA CONFERÊNCIA

    O CORPO, O CAPITALISMO E A REPRODUÇÃO DA FORÇA DE TRABALHO

    SEGUNDA CONFERÊNCIA

    A POLÍTICA CORPORAL NA REVOLTA FEMINISTA

    TERCEIRA CONFERÊNCIA

    O CORPO NA CRISE REPRODUTIVA ATUAL

    2

    SOBRE CORPO, GÊNERO E PERFORMANCE

    RECONSTRUIR NOSSO CORPO, RECONSTRUIR O MUNDO?

    BARRIGA DE ALUGUEL: DOM DA VIDA OU NEGAÇÃO DA MATERNIDADE?

    3

    COM FILOSOFIA, PSICOLOGIA E TERROR: TRANSFORMANDO CORPOS EM FORÇA DE TRABALHO

    ORIGENS E DESENVOLVIMENTO DO TRABALHO SEXUAL NOS ESTADOS UNIDOS E NA GRÃ-BRETANHA

    MÓRMONS NO ESPAÇO REVISITADO, COM GEORGE CAFFENTZIS

    4

    EM LOUVOR AO CORPO QUE DANÇA

    Posfácio

    créditos das Imagens

    Referências

    sobre a autora

    imagem

    Agradecimentos

    Além da pele deve sua existência a um convite do Departamento de Antropologia e Mudança Social do Instituto de Estudos Integrais da Califórnia para que eu realizasse, em 2015, três conferências sobre o tema do corpo, que mais tarde viriam a ser publicadas pela PM Press. Isso me deu a oportunidade não apenas de repensar temas que têm sido cruciais no meu trabalho, mas também de reunir em um único volume artigos anteriores dedicados ao assunto. Meus primeiros agradecimentos, portanto, vão para Andrej Grubačić, diretor do Departamento de Antropologia e Mudança Social, e para a PM Press.

    Também quero agradecer às mulheres que criaram a Free Home University e participaram de uma oficina realizada na minha cidade natal, Parma, na Itália, de 11 a 16 de junho de 2019, sobre a questão do corpo e da reprodução social, com as quais li e discuti os artigos que integram a primeira parte deste livro. Agradeço especialmente a Gaia Alberti, Sarah Amsler, Edith Bendicente, Carla Bottiroli Greil, Claire Doyon, Daria Filardo, Jesal Kapadia, Aglaya Oleynikova, Alessandra Pomarico, Teresa Roversi, Begonia Santa Cecilia e ao centro social do Laboratório de Arte de Parma, que acolheu generosamente nossa oficina.

    Obrigada também a Jesse Jones, Tessa Giblin, Rachel Anderson e Cis Boyle, pela amizade, pelo apoio e pelo tempo compartilhados discutindo política corporal e esculpindo Sheela na Gigs.¹ Obrigada, Jesse, por seu poderoso trabalho intitulado Tremble, Tremble (2017), que reconfigura o corpo materno para uma nova imaginação política.

    Agradecimentos especiais a Camille Barbagallo, que editou este livro. Também gostaria de agradecer às contribuições do Feminist Research on Violence [Pesquisa feminista sobre violência], coletivo de mulheres de Nova York com quem conspiro para mudar o mundo e manter o site que leva o mesmo nome (http://feministresearchonviolence.org). Obrigada pelo conhecimento, pelo carinho e pelo entusiasmo que compartilhamos em nossas reuniões, que alimentam e inspiram minha escrita.

    Finalmente, agradeço aos editores dos livros e periódicos em que alguns dos artigos aqui reunidos foram publicados pela primeira vez.

    Com filosofia, psicologia e terror: transformando corpos em força de trabalho foi publicado anteriormente em Athanasios Marvakis et al. (org.), Doing Psychology under New Conditions [Fazer psicologia em novas condições] (Captus Press, 2013, p. 2-10). Uma versão inicial desse artigo foi também apresentada na Conferência sobre Psicologia Teórica realizada em Tessalônica, Grécia, em 28 de junho de 2011.

    ‘Mórmons no espaço’ revisitado, com George Caffentzis é uma nova versão do artigo Mormons in Space, publicado com George Caffentzis em Midnight Notes (v. 2, n. 1, p. 3-12, 1982).

    Em louvor ao corpo que dança foi publicado anteriormente em A Beautiful Resistance (n. 1, p. 83-6, 22 ago. 2016).

    Sobre a militância alegre é um trecho editado com base em uma entrevista intitulada Feeling Powers Growing [Sentir os poderes crescendo], publicada em Nick Montgomery e Carla Bergman (org.), Joyful Militancy: Building Thriving Resistance in Toxic Times [Militância feliz: construir uma resistência próspera em tempos tóxicos] (AK Press, 2018).


    1 Esculturas de mulheres abrindo a própria vulva, representada de maneira propositalmente grande. São encontradas em diversas localidades da Europa, sobretudo talhadas em paredes de igrejas. A maioria remete aos séculos XI e XII. [N.E.]

    imagem

    Introdução

    Além da pele foi originalmente concebido como resposta a questões que surgiram nas três conferências que fiz no Instituto de Estudos Integrais da Califórnia no inverno de 2015, sobre o significado do corpo e da política corporal no movimento feminista dos anos 1970 e no meu próprio trabalho teórico. Essas conferências tiveram múltiplos propósitos: enfatizar a contribuição do feminismo da década de 1970 para uma teoria do corpo, agora tão subestimada pelas novas gerações de feministas; reconhecer, ao mesmo tempo, sua própria incapacidade de conceber estratégias que pudessem transformar significativamente as condições materiais da vida das mulheres; e apresentar o arcabouço que desenvolvi em Calibã e a bruxa, de modo a examinar as raízes das formas de exploração às quais as mulheres têm sido submetidas ao longo da história da sociedade capitalista.

    Nesse sentido, minha apresentação foi uma forma de repensar as lições aprendidas no passado. No entanto, as discussões que se seguiram às conferências suscitaram questões que ultrapassaram esse arcabouço original, convencendo-me a ampliar o horizonte das minhas conferências e deste livro. Quatro perguntas se destacaram como essenciais para este volume. Em primeiro lugar: mulheres ainda é uma categoria necessária para a política feminista, considerando a diversidade de histórias e experiências que esse rótulo abarca, ou devemos descartá-la, como propuseram Judith Butler e outras teóricas pós-estruturalistas? De forma mais ampla, devemos rejeitar qualquer identidade política como inevitavelmente fictícia e optar por unidades construídas com base em fundamentos puramente oposicionistas? Como devemos avaliar as novas tecnologias reprodutivas que prometem reestruturar nossa aptidão física e reconstruir nosso corpo para que se adapte melhor a nossos desejos? Será que essas tecnologias fortalecem o controle que temos sobre nosso corpo ou o transformam em objeto de experimentação e de lucro a serviço do mercado capitalista e da profissão médica?

    O livro está organizado em torno dessas questões, com exceção da primeira parte, que é uma preparação para elas, uma vez que meu objetivo implícito é demonstrar que o movimento feminista dos anos 1970 deve ser avaliado principalmente com base nas estratégias que adotou, e não por sua perspectiva marcada pelo gênero. Nesse sentido, a posição que defendi difere significativamente das teóricas da performance, que têm se mostrado mais propensas a criticar o movimento de libertação das mulheres da década de 1970 por sua suposta política identitária do que pelas estratégias políticas reais que colocou em prática.

    Desenvolvidas no início dos anos 1990 — numa época em que o feminismo passava por uma grande crise devido ao impacto de uma absorção institucional, à entrada das mulheres em cargos dominados por homens e a uma reestruturação econômica que exigia uma força de trabalho mais fluida no que diz respeito ao gênero —, teorias pós-estruturalistas que postulavam que corpo e gênero são produto de práticas discursivas e performativas eram sem dúvida atraentes, e continuam a ser, para muitas pessoas. Mas deve ficar claro que, se descartarmos mulheres como categoria analítica/política, o mesmo deveria acontecer com feminismo, uma vez que é difícil imaginar um movimento de oposição se não houver uma experiência comum de injustiça e abuso. De fato, os empregadores, assim como os tribunais, rapidamente passaram a tirar proveito da reivindicação feminista quanto a uma diversidade irredutível entre as mulheres, negando o status de certificação de classe para funcionárias de empresas (como o Walmart) que denunciam a discriminação baseada no gênero, e obrigando-as, em vez disso, a registrar suas reclamações individualmente.² E o mais importante: podemos certamente imaginar experiências como a maternidade, a criação de filhos e a subordinação social aos homens como constituintes de um terreno comum de luta para as mulheres, mesmo que nesse terreno possam se desenvolver estratégias contrastantes? Identidades alternativas, tais como gay, trans e queer, estão menos sujeitas à fragmentação com base em classe, raça, origem étnica e idade?

    Escrevo estas palavras depois de ver as imagens incríveis vindas das ruas de Buenos Aires e de outras partes da Argentina, onde há vários anos centenas de milhares de mulheres têm se reunido para combater — apesar de suas diversidades e, muitas vezes, de seus desacordos — a violência contra as mulheres e o endividamento das mulheres, e para lutar pelo direito ao aborto, tomando decisões coletivas que transformam o que significa ser mulher. O que seriam essas lutas sem o reconhecimento da mulher como sujeito político, como uma identidade que é claramente contestada, mas também constantemente redefinida de formas importantes para a construção de uma visão de mundo que nos esforçamos em criar?

    É esse o argumento que desenvolvi na segunda parte do livro, na qual proponho que a negação de uma possibilidade de identificação social ou política é um caminho para a derrota. É uma negação de solidariedade entre os vivos e com os mortos, e é imaginar povos sem história. Outro pensamento que ajuda a ver as coisas com clareza é que cada conceito geral é construído na presença de grandes diferenças. Se considerarmos a diversidade um elemento excludente, não podemos falar com mais segurança sobre amor, educação e morte do que podemos falar de mulheres, homens e pessoas trans. Sabemos, por exemplo, que o amor na Grécia e na Roma antigas era muito diferente do amor vivido no século XX na Europa ou nos Estados Unidos, ou do amor vivido em um contexto poligâmico. Isso não nos impede de utilizar esse conceito e muitos outros construídos de forma semelhante, pois, sem isso, teríamos de nos limitar ao silêncio.

    A segunda parte também examina o que pode ser definido como um novo movimento de reconstrução do corpo, no qual tanto as inovações tecnológicas quanto a profissão médica exercem um papel importante. No caso, meu objetivo é mais enfatizar o que está em jogo e advertir contra os perigos implícitos do que criticar as práticas envolvidas. As reconstruções do corpo são muito diferentes, passando por cirurgia plástica, barriga de aluguel e redesignação de gênero. Mas o que paira de maneira significativa em cada um desses casos são o poder e o prestígio que os especialistas médicos ganharam com as mudanças de vida que prometem. Essa dependência de uma instituição que tem uma longa história de cooperação com o capital e o Estado deveria nos preocupar. Deveríamos recorrer à história para nos orientarmos nesse contexto.

    Na terceira parte, incluí artigos que discutem o papel da medicina e da psicologia no processo de organização e disciplinamento de trabalhadores da indústria e mulheres, estas últimas como sujeitos do trabalho reprodutivo. A terceira parte também analisa as discussões, incipientes na era Reagan, sobre o tipo de mão de obra necessário para o trabalho em novos ambientes tecnológicos e locais extraterrestres. O sonho capitalista, representado em Mórmons no espaço, de um trabalhador ascético, capaz de superar a inércia de um corpo construído ao longo de milhões de anos para funcionar, por exemplo, em colônias espaciais, é hoje elucidativo, pois o desenvolvimento capital da inteligência artificial exige novas habilidades e uma remodelação das subjetividades. Atualmente, a expressão concreta desse sonho é a instalação de microchips em nosso cérebro; os que tiverem condições de adquiri-los poderão aumentar suas capacidades e se libertar de passaportes e chaves. Entretanto, já são abundantes as visões de um tempo em que indivíduos seletos certamente funcionarão como mentes puras, capazes de armazenar grandes quantidades de memória e pensar a uma grande velocidade, lendo, por exemplo, um livro em meia hora. Enquanto isso, a experimentação com o desmembramento e a recombinação de nosso corpo também está avançando a um ritmo acelerado na direção de um mundo no qual a clonagem, a edição e a transferência de genes — já realizada com animais — farão parte do processo médico/científico, supostamente permitindo que um futuro mundo capitalista produza não apenas mercadorias inanimadas, mas novas formas de vida humana.

    Nesse contexto, reivindicar nosso corpo e nossa capacidade de decidir sobre nossa realidade corporal começa por afirmar o poder e a sabedoria do corpo tal como o conhecemos, uma vez que ele se formou durante um longo período, em constante interação com o planeta Terra, de maneiras que se modificaram trazendo grande risco para nosso bem-estar. Em louvor ao corpo que dança, artigo da quarta parte que conclui o livro, escrito depois de eu ter assistido a um espetáculo de dança criado pela coreógrafa Daria Fain, sobre o surgimento da consciência e da linguagem, celebra esse poder e essa sabedoria que o capitalismo hoje quer destruir. Minha visão aqui

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