Encontre milhões de e-books, audiobooks e muito mais com um período de teste gratuito

Apenas $11.99/mês após o término do seu período de teste gratuito. Cancele a qualquer momento.

Comentário bíblico apologético Holman:: Evangelhos e Atos
Comentário bíblico apologético Holman:: Evangelhos e Atos
Comentário bíblico apologético Holman:: Evangelhos e Atos
E-book1.225 páginas23 horas

Comentário bíblico apologético Holman:: Evangelhos e Atos

Nota: 0 de 5 estrelas

()

Ler a amostra

Sobre este e-book

Explore a Fundamentação Sólida do Livro Comentário Bíblico-Apologetico Holman: Evangelhos e Atos de Jeremy Royal Howard


Desvende os mistérios dos Evangelhos e Atos dos Apóstolos com o Livro Comentário Bíblico-Apologetico Holman, uma obra monumental concebida por Jeremy Royal Howard e outros respeitados estudiosos do Novo Testamento. Este livro é uma resposta robusta aos desafios contemporâneos que questionam a veracidade e a confiabilidade desses textos sagrados.

Explorando a Resposta aos Céticos e às Dúvidas Internas

O livro mergulha nas críticas lançadas por céticos, bem como nas dúvidas que surgem até mesmo entre os próprios cristãos sobre a autenticidade histórica dos Evangelhos e Atos. Os autores enfrentam corajosamente as alegações de que esses textos são meras lendas ou mitos, abordando imprecisões históricas apontadas pelos críticos.

Enfoque em Versículos Chave e Temas de Apologética

A abordagem cuidadosa dos autores concentra-se em versículos específicos relacionados a tópicos cruciais de apologética e confiabilidade bíblica. Cada comentário identifica os desafios textuais, proporcionando uma análise profunda e oferecendo soluções sólidas que reforçam a fé e promovem uma compreensão mais elevada das Escrituras.

Uma Defesa Categórica para Fortalecer sua Fé

O resultado é uma defesa categórica dos Evangelhos e Atos, criada não apenas para eruditos, mas também para leitores não acadêmicos. Este livro capacita os fiéis a defenderem vigorosamente a confiabilidade da Bíblia e sua interpretação histórica, tudo isso inserido na tradição evangélica.

Para Quem é Este Livro?

Este livro é uma ferramenta valiosa para acadêmicos que desejam aprofundar sua compreensão dos fundamentos bíblicos e para leitores não acadêmicos que buscam uma defesa sólida de sua fé. Seja você um estudioso dedicado ou alguém que procura respostas convincentes para questionamentos sobre os Evangelhos e Atos, este comentário bíblico-apologético oferece uma visão esclarecedora e fundamentada.


Jeremy Royal Howard (organizador) formou-se na Tennessee Technological University com especialização em Biologia e tem mestrado e doutorado pelo Southern Baptist Theological Seminary, com ênfase em Apologética, Cosmovisão, Filosofia e Teologia.

Michael J. Wilkins (Mateus) é professor emérito de Língua e Literatura do Novo Testamento e reitor da Talbot School of Theology, LaMirada, Califórnia, EUA.

Craig A. Evans (Marcos) é professor de Novo Testamento no Acadia Divinity College da Acadia University, em Wolfville, Nova Escócia.

Darrell L. Bock (Lucas) é diretor executivo de Engajamento Cultural e professor-pesquisador sênior de Estudos do Novo Testamento do Dallas Theological Seminary.

Andreas J. Köstenberger (Atos) é professor sênior de Novo Testamento e Teologia Bíblica no Southeastern Baptist Theological Seminary, Wake Forest, Carolina do Norte, e diretor de aquisições da B&H Academic.

Explore a Fundamentação Sólida do Livro Comentário Bíblico-Apologetico Holman: Evangelhos e Atos de Jeremy Royal Howard


Desvende os mistérios dos Evangelhos e Atos dos Apóstolos com o Livro Comentário Bíblico-Apologetico Holman, uma obra monumental concebida por Jeremy Royal Howard e outros respeitados estudiosos do Novo Testamento. Este livro é uma resposta robusta aos desafios contemporâneos que questionam a veracidade e a confiabilidade desses textos sagrados.

Explorando a Resposta aos Céticos e às Dúvidas Internas

O livro mergulha nas críticas lançadas por céticos, bem como nas dúvidas que surgem até mesmo entre os próprios cristãos sobre a autenticidade histórica dos Evangelhos e Atos. Os autores enfrentam corajosamente as alegações de que esses textos são meras lendas ou mitos, abordando imprecisões históricas apontadas pelos críticos.
IdiomaPortuguês
Data de lançamento11 de jan. de 2024
ISBN9788577424597
Comentário bíblico apologético Holman:: Evangelhos e Atos

Relacionado a Comentário bíblico apologético Holman:

Ebooks relacionados

Cristianismo para você

Visualizar mais

Avaliações de Comentário bíblico apologético Holman:

Nota: 0 de 5 estrelas
0 notas

0 avaliação0 avaliação

O que você achou?

Toque para dar uma nota

A avaliação deve ter pelo menos 10 palavras

    Pré-visualização do livro

    Comentário bíblico apologético Holman: - Jeremy Royal Howard

    Introdução

    O Evangelho de Mateus conta a história da chegada de Jesus de Nazaré. A julgar pelas citações encontradas nos primeiros escritores cristãos, Mateus foi o mais lido e frequentemente o mais utilizado dentre os quatro Evangelhos nos anos de formação da igreja. Há muitas razões para a sua popularidade, mas uma das principais razões pelas quais esse Evangelho se apresenta de tal forma importante é devido à sua afirmação de Jesus ser reconhecido como o Messias há muito esperado, o cumprimento profetizado da promessa de Deus de verdadeira paz, libertação, salvação e vida nova no reino de Deus para toda a humanidade, tanto do judeu quanto do gentio.

    Autoria

    Características amplamente reconhecidas do primeiro Evangelho incluem seus aspectos distintivos judaicos e interesses gentios. A pessoa responsável por escrever esse Evangelho aparentemente tinha ambos os grupos em vista, sugerindo que o autor estava familiarizado com questões que eram importantes tanto para judeus quanto para gentios. Isso nos leva a averiguar a identidade do autor. À medida que abrimos algumas de nossas traduções modernas, geralmente encontramos o título Mateus ou O Evangelho segundo Mateus como um título que introduz o primeiro capítulo. Porém, muitos leitores de longa data se mostram surpresos ao saber que todos os quatro Evangelhos são tecnicamente anônimos. Os títulos agora atribuídos a cada um provavelmente não eram títulos que constavam no manuscrito original. Ao contrário, os nomes foram adicionados mais tarde às cópias dos manuscritos originais, a fim de distinguir os quatro Evangelhos um do outro. Dessa forma, nenhum dos evangelistas (designação de autores dos Evangelhos) declara seu nome explicitamente no texto para se identificar como autor.

    A partir desse fato, muitos estudiosos modernos deduzem que as identidades dos autores dos quatro Evangelhos nunca foram conhecidas, que os textos circularam por décadas como documentos anônimos, e só muito, muito mais tarde receberam denominações autorais em função de concílios eclesiásticos formais na tentativa de dar autoridade a esses documentos para neutralizar igrejas rivais e seus Evangelhos.

    Em relação ao primeiro Evangelho em particular, muitos estudiosos modernos sugerem que o autor viveu algumas décadas depois do apóstolo Mateus. Eles admitem que Mateus pode ter sido a inspiração original para o Evangelho que agora leva seu nome, mas eles continuam sugerindo que a forma final do Evangelho se deu mediante o trabalho de um cristão judeu que escreveu bem mais tarde e não foi uma testemunha ocular da vida de Jesus (e.g., Luz 2007, p. 58-60). Alguns outros acadêmicos procuram apontar que o autor era um cristão gentio bem versado nas Escrituras Hebraicas, cujos erros sobre o mundo hebraico (cf. 21:2 e 21:7) indicam o conhecimento típico de um estrangeiro (e.g., Crosby 2002, p. 16-17).

    No entanto, a verdadeira identidade dos autores dos quatro Evangelhos nunca foi historicamente questionada. Desde as primeiras testemunhas encontramos os nomes dos autores associados a cada Evangelho. O anonimato dos próprios Evangelhos não causa surpresa, pois os evangelistas não estavam escrevendo cartas para comunidades distantes da igreja cristã. As cartas do Novo Testamento escritas por Paulo, Pedro e João incluíam a identificação do autor e dos destinatários porque era necessário nomear todos os escritores e indicar o propósito da carta, uma vez que as duas partes não estavam presentes naquele momento. Por razões muito diferentes disso, provavelmente os evangelistas estavam compilando histórias do evangelho para igrejas nas quais eram participantes e líderes ativos. Eles podem até ter feito parte da assembleia e lido seu relato do evangelho em voz alta depois de completá-lo por escrito. Anexar seus nomes como autores teria sido desnecessário porque seu público obviamente conhecia bem sua identidade. Além disso, os evangelistas podem ter achado inapropriado anexar seu nome aos relatos do evangelho, pois a intenção principal deles não era afirmar sua própria liderança ou autoridade, mas registrar para seu público a história incomparável da vida e do ministério de Jesus Cristo.

    Citações mais antigas dos Pais da Igreja: em face do anonimato dos Evangelhos, devemos olhar para os registros da história da igreja para encontrar evidências de sua autoria. A tradição mais antiga da igreja atribui unanimemente o primeiro Evangelho a Mateus, o cobrador de impostos a quem Jesus chamou para ser um de seus doze discípulos originais.

    Embora a atribuição de um texto específico a Mateus, com o seu nome, não seja encontrada até a época de Apolinário de Hierápolis (c. 175), a influência literária do primeiro Evangelho sobre os escritos cristãos fora do NT é inconfundível desde os primeiros dias da igreja. Além disso, a atribuição da autoria do primeiro Evangelho a Mateus, o apóstolo, remonta aos primeiros testemunhos patrísticos sobreviventes, e não há evidência patrística de que alguém mais tenha sido proposto como autor.

    Provavelmente escrito no final do primeiro século ou início do segundo (Ehrman 2003, p. 411), os estudiosos têm tradicionalmente recorrido à Didaquê para demonstrar conhecimento direto do primeiro Evangelho, especialmente o Sermão da Montanha e o Discurso do Monte das Oliveiras (e.g., citando o Pai-Nosso: cf. Didaquê 8.2; Mt 6:9-11). De fato, a Didaquê parece se basear apenas em Mateus, e talvez em Lucas, dentre todos os escritos do NT (Holmes 2007, p. 338), embora os temas do NT sejam abundantes.

    Alguns anos depois, a carta do Pseudo-Barnabé cita o primeiro Evangelho como Escritura divinamente inspirada (Barnabé 4.14 [Mt 22:14]). A primeira menção explícita desse Evangelho data da terceira década do século 2, por Pápias, bispo de Hierápolis na Ásia Menor (c. 135), e um pouco mais tarde no século 2 por Irineu, bispo de Lyon na Gália (c. 175).

    Pápias viveu aproximadamente entre 60 e 130; Irineu afirmou que ele era um ouvinte do apóstolo João, e mais tarde foi companheiro de Policarpo (Irineu, Contra as heresias 5.33.4). Pápias foi citado e endossado por Eusébio, historiador da igreja (c. 325), como alguém que fez a seguinte afirmação: Mateus, por sua vez, compilou/coletou (sunetaxato) os oráculos (to logia) no dialeto hebraico [aramaico] (Hebraidi dialekto) e cada pessoa os traduziu/interpretou (hermeneusen) como pôde" (Eusébio, História eclesiástica 3.39.16).

    Embora tenha sempre havido céticos, parece que há pouca dúvida de que Inácio (que morreu por volta do ano 110) realmente conhecia e usava o livro de Mateus como seu Evangelho principal (Schoedel 1985, p. 9). Embora não cite extensivamente o texto, ele o usa como uma plataforma a partir da qual lançou seus argumentos teológicos e éticos (Jefford 2005, p. 44-47). Por exemplo, em sua carta aos Efésios, Inácio escreve: "Ninguém se engane. Quem não está dentro do santuário carece do pão de Deus. Pois se a oração de uma ou duas pessoas tem esse ‘tal’ (tosautēn) poder, quanto mais a do bispo e de toda a igreja?" (Inácio, Carta aos Efésios 5:2). Massaux (1990, p. 87) afirma que, uma vez não havendo menção no contexto anterior de qualquer outro tal poder, quando Inácio usa o demonstrativo ele assumiu que essa expressão era familiar para seus leitores. No entanto, apenas o texto de Mateus 18:19-20 declara que o poder da oração de duas ou três pessoas reunidas é eficaz, tornando provável que Inácio esteja argumentando com base na autoridade do Evangelho de Mateus.

    Irineu nasceu na Ásia Menor aproximadamente no ano 135, estudou com Policarpo, bispo de Esmirna, e segundo a tradição morreu como mártir por volta do ano 200. Em um de seus cinco livros monumentais contra as heresias gnósticas (c. 175), Irineu afirma: Mateus também publicou um evangelho escrito entre os hebreus em seu próprio dialeto, enquanto Pedro e Paulo estavam pregando em Roma e lançando os fundamentos da Igreja (Contra as heresias 3.1.1).

    Esses líderes da igreja primitiva conheciam a comunidade apostólica diretamente ou eram ensinados por aqueles irmãos associados aos apóstolos e, portanto, estavam diretamente cientes das origens dos Evangelhos. Embora o significado completo de suas declarações ainda esteja aberto à discussão, nenhuma tradição concorrente sobreviveu, a qual atribuísse o primeiro Evangelho a qualquer outro autor, se é que alguma vez tenha existido. Autores subsequentes (e.g., Hipólito, Tertuliano, Cipriano, Novaciano) citam o Evangelho de Mateus regularmente como Escritura inspirada no mesmo nível do AT (Simonetti 2001, xxxvii).

    Não podemos ignorar o significado do testemunho dos Pais da Igreja primitiva sobre a autoria apostólica dos Evangelhos Sinóticos, Mateus, Marcos e Lucas. Todas as evidências sustentam uniformemente a crença de que Mateus (o cobrador de impostos que se tornou discípulo), Marcos (o companheiro de Pedro e Paulo) e Lucas (o médico amado de Paulo) foram os autores dos Evangelhos atribuídos a eles. É difícil conceber alguma razão por que os cristãos já no segundo século haveriam de atribuir esses Evangelhos anônimos a três candidatos tão improváveis, a menos que soubessem com certeza que eles eram de fato os autores. Marcos e Lucas não estavam entre os doze apóstolos de Jesus e, portanto, é improvável que fossem apresentados como autores, a menos que houvesse uma boa evidência de sua autoria. Mais grave ainda, é ser Marcos mais conhecido por ter abandonado Paulo durante uma missão (At 13:13; cf. 15:37-40), e Lucas é particularmente um personagem obscuro, sendo mencionado pelo nome apenas uma vez no NT (Cl 4:14). Mateus, embora um apóstolo, também é mais conhecido por uma característica negativa — seu passado inescrupuloso como cobrador de impostos (Mt 9:9-13). Os cobradores de impostos eram considerados traidores de sua nação. Se a igreja primitiva tivesse sido motivada a inventar uma autoria para os Evangelhos Sinóticos, fica claro que Mateus, Marcos e Lucas seriam os últimos homens que haveriam de ter sido escolhidos.

    Em contraste, os autores dos Evangelhos apócrifos consistentemente escolheram figuras mais conhecidas e exemplares (como Filipe, Pedro, Tiago, Bartolomeu ou Maria) e os repassaram como sendo seus autores em uma tentativa de que seus escritos fossem levados mais a sério. Mesmo Tomé, apesar de suas famosas dúvidas sobre a ressurreição de Jesus (Jo 20:25), parece uma pessoa mais provável a quem atribuir um evangelho do que Mateus, Marcos ou Lucas, porque Tomé finalmente fez uma declaração tão profunda de fé no Jesus ressuscitado (cf. Jo 20:28). Isso é consistente com o evangelho gnóstico de Tomé, supostamente escrito por esse apóstolo. A falsa atribuição do primeiro Evangelho a um apóstolo relativamente obscuro como Mateus parece ter sido improvável até uma data posterior, quando a canonização dos apóstolos era comum.

    Conclusão: Alguns estudiosos modernos negam que Mateus tenha sido o autor do evangelho que leva seu nome com base em uma teoria de que o Evangelho de Marcos foi o primeiro Evangelho a ser escrito e que os autores do Evangelho de Mateus e do Evangelho de Lucas tomaram emprestado significativas informações do Evangelho de Marcos. Eles acham improvável que, como apóstolo e testemunha ocular, Mateus tenha escolhido depender tanto de um documento escrito por um homem que não era apóstolo e que testemunhou apenas uma parte do ministério de Jesus (Marcos). Porém tendo Mateus acesso ao Evangelho de Marcos, ele saberia que as reminiscências apostólicas de Pedro estavam por trás do texto de Marcos, garantindo que o Evangelho de Marcos seria confiável e uma fonte disponível para reforçar suas próprias reminiscências sobre a vida e as obras de Jesus Cristo. À medida que os apóstolos reconheceram que relatos escritos com autoridade sobre a vida e o ministério de Jesus eram necessários para garantir a exatidão futura das crenças da igreja sobre Jesus, era natural que eles consultassem outros Evangelhos conhecidos e confiáveis para suplementar e complementar seus próprios Evangelhos. Consultar outros relatos oficiais daria ainda maior peso apostólico aos seus relatos.

    Outro argumento usado contra o fato de considerar Mateus como o autor do Evangelho de Mateus tem a ver com a datação do texto, o que discutiremos mais adiante. Muitas reconstruções da definição de vida do primeiro Evangelho (Sitz im Leben), muitas vezes baseadas na rígida crítica de redação do século 20, colocam-no nas últimas décadas do primeiro século (e.g., 80-100 d.C.), com o templo destruído, a igreja espalhada e afastada de Israel. Uma data tão tardia muitas vezes exclui Mateus como um possível autor, uma vez que ele não teria vivido tanto tempo assim (cf. Luz 2007, p. 45-60).

    No entanto, é desnecessário basear os propósitos, temas e teologia primários em uma reconstrução tardia da comunidade de Mateus. Se Mateus pode recordar com precisão e registrar eventos da vida e ministério de Jesus, e ter boa memória é uma característica importante das culturas orais, então ele está principalmente empenhado em registrar o modo de vida de Jesus, não o modo de vida da igreja para a qual ele escreve. Embora poucos duvidem de que Mateus escreve olhando para as necessidades de sua comunidade, que seria pelo menos um dos propósitos para a escrita do quarto evangelista (Jo 20:30-31), esse é um horizonte secundário para Mateus. Ele escreve principalmente para dar à sua comunidade um registro preciso das palavras e ações de Jesus, que é seu primeiro horizonte. Esse é o propósito declarado e explícito para Lucas, ao escrever seu Evangelho (Lc 1:1-4), e revela um propósito significativo para a escrita de cada um dos Evangelhos.

    Portanto, com o testemunho unânime da igreja primitiva da autoria do primeiro Evangelho, e as acusações anteriormente respondidas satisfatoriamente, a posição deste comentário é de que Mateus, apóstolo e testemunha ocular da vida e obras de Jesus, é o autor de o Evangelho que levou seu nome ao longo da história da igreja.

    Data e destinatários

    Data: Nenhuma data precisa para a escrita de Mateus é conhecida, embora os estudiosos tenham usado o registro de Mateus para a profecia de Jesus sobre a queda de Jerusalém (24:1-28) para indicar que o Evangelho deve ter sido escrito após a destruição da cidade em 70 (e.g., Saldarini, 1994). No entanto, tal conclusão é necessária apenas se alguém quiser negar a Jesus a competência de prever o futuro e a Mateus a capacidade de registrar essa profecia. Uma vez que Irineu (c. 175), pai da igreja primitiva, indica que Mateus escreveu seu Evangelho enquanto Paulo e Pedro ainda estavam vivos (Irineu, Contra as heresias 3.1.1), a datação tradicional geralmente estabeleceu o final dos anos 50 ou início dos anos 60. Mateus nos diz que, na época em que ele está escrevendo, o Campo de Sangue em Jerusalém continuou a ser chamado por esse nome (27:8), mostrando sua conexão contínua com as condições na Palestina e sugerindo que o fato é anterior à destruição de Jerusalém em 70 (cf. Blomberg 1992, p. 41-42; Carson 2010, p. 43-45; França 2007, p. 18-19; Gundry 1994, p. 599-609).

    Procedência: A igreja altamente influente em Antioquia na Síria, com seus grandes contingentes judeus cristãos e gentios (cf. At 11:19-26; 13:1-3), tem sido frequentemente reconhecida como o lugar a partir de onde Mateus escreveu e a igreja à qual ele se dirigiu. Isso é confirmado em parte por causa da influência do primeiro evangelho de Inácio, o bispo de Antioquia, e com base na Didaquê. Mas a mensagem de Mateus foi de igual modo relevante para a igreja incipiente em todo o mundo antigo, e parece ter sido disseminada com bastante rapidez.

    Fontes (orais e escritas)

    Os quatro Evangelhos são documentos complexos que compreendem uma mistura de histórias e ditos compartilhados e únicos de Jesus. É o que se espera de autores que escrevem em épocas e lugares diferentes e com propósitos semelhantes, porém específicos. Como testemunha ocular dos eventos da vida e do ministério de Jesus, o Messias, e como apóstolo na igreja primitiva, Mateus estava em uma posição única e tinha preocupações significativas que motivaram a escrita de seu relato do Evangelho. Pelo menos três questões nos ajudam a entender as fontes por trás do texto do Evangelho de Mateus.

    Tradição oral: Mateus fez parte da comunidade apostólica centralizada em Jerusalém por cerca de 20 anos, desde o estabelecimento da igreja em Pentecostes (c. 30 d.C.) até o concílio de Jerusalém (c. 49 d.C.). Durante esse tempo desenvolveu-se a tradição oral da vida e ministério de Jesus, que incluía a pregação básica, ensino e interpretação do evangelho. Podemos nos referir a isso como a tradição padronizada oral e fixa. Foi padronizada, por ter sido contada repetidas vezes pela nova igreja apaixonada. Tornou-se fixa porque qualquer variação errônea seria rapidamente corrigida pelos apóstolos, que foram testemunhas oculares. Por outro lado, havia liberdade para variar o seu enredo básico a fim de se adaptar às necessidades de um determinado público sempre que a história fosse relatada. Por exemplo, se contada a judeus helenísticos, a história poderia variar. Teria outras variações se fosse narrada para judeus ortodoxos. Seria contada de forma diferente se dirigida a um gentio temente a Deus. E teria ainda outros contornos se fosse contada para crianças ou para idosos. Essa era uma cultura oral, em que contar histórias era o costume habitual da vida cotidiana. À medida que tudo isso se desenvolveu ao longo de 10 a 20 anos, cada pessoa que fazia o relato da história, especialmente os apóstolos, seria capaz de descrever todo o relato da vida de Jesus.

    Conteúdo: Quando comparamos o conteúdo do Evangelho de Mateus com os outros Sinóticos, encontramos as seguintes estatísticas. Mateus tem 18.293 palavras. Aproximadamente 20% delas (3.102) representam um conteúdo que é encontrado apenas no Evangelho de Mateus, a chamada tradição M (M significa Mateus). Aproximadamente 10% referem-se ao conteúdo que é compartilhado entre Mateus e Marcos. Aproximadamente 45% se referem ao que está relatado em Mateus, Marcos e Lucas, que é a chamada tradição tripla. E aproximadamente 25% dos versículos de Mateus relacionam-se ao conteúdo que é compartilhado entre Mateus e Lucas e não encontrado em Marcos, que é a chamada tradição Q (Q significa a palavra alemã Quelle, fonte).

    Fontes: A teoria mais amplamente aceita para entender as fontes de Mateus é que elas incluem Marcos, o próprio material especial coletado por Mateus (M) e tradições frequentemente designadas como Q. A anterioridade de Marcos é defendida principalmente porque parece mais fácil explicar Mateus usando e expandindo o conteúdo de Marcos em vez de Marcos usar e condensar Mateus. Enquanto alguns postulam que Q era uma tradição de fonte escrita, cada vez mais estudiosos entendem Q como simplesmente aqueles motivos no desenvolvimento das tradições da igreja (oral e escrita) sobre as quais Mateus e Lucas se basearam e não são encontradas em Marcos. As diferenças na colocação, estrutura e redação desse material Q compartilhado não sugerem que Mateus ou Lucas usaram o evangelho um do outro, mas sim que eles compartilhavam uma tradição comum, provavelmente oral e escrita.

    No entanto, os primeiros Pais da Igreja concluíram que Mateus era a fonte em que Marcos e/ou Lucas se basearam, e essa visão tem se fortalecido recentemente. Podemos pedir alguma cautela sobre esse ponto de vista, ao defender uma ou outra teoria das fontes de Mateus.

    Estabelecimento no Cânon

    Vimos anteriormente que as primeiras tradições da igreja que citam o Evangelho de Mateus, ou fazem alusão a ele, aceitam-no como um evangelho autêntico e autoritativo. Ele nunca foi alvo de nenhum debate com respeito à sua autoria como tem havido com alguns outros livros do NT, o caso de Hebreus, por exemplo. Portanto, desde a sua origem, o Evangelho de Mateus tem sido aceito como um texto inspirado e autoritativo, e considerado como Escritura legítima. F. F. Bruce declara categoricamente: Não pode haver dúvida... sobre a forma canônica do Evangelho de Mateus, nem ainda acerca de sua posição canônica (Bruce 1988, p. 289).

    Gênero

    Mateus, Marcos, Lucas e João são chamados de "Evangelhos. No grego do primeiro século, a palavra evangelho" (euangelion) se referia à mensagem de um rei ou a um relatório favorável sobre determinado evento significativo. A tradução grega do AT (LXX) usa várias formas da palavra com o sentido de anunciar ou levar as boas-novas (euangelizō, Is 40:9; cf. 52:7; 61:1) como um tempo de alegria, paz e salvação através da intervenção de Deus.

    Jesus identificou suas próprias atividades e ensinamentos como boas-novas (e.g., Mt 11:5; Mc 1:14, 15) e chamou as pessoas para fazer sacrifícios por causa dele e em prol das boas-novas (Mc 8:35; 10:29). O restante do NT, além dos evangelistas, concentra sua atenção na morte e ressurreição de Jesus como contendo as boas-novas (e.g., Rm 1:15-16; cf. 1:1-4). Toda a vida e ministério de Jesus foram vistos no contexto de sua morte e ressurreição. A aplicação do termo boas-novas aos registros escritos da vida e ministério de Jesus tanto pelos autores originais quanto pelos primeiros cristãos é uma pista importante para a compreensão do gênero desses escritos. Não se tratam de biografias (bioi) no sentido formal da palavra, mas proclamações da pessoa e dos acontecimentos que compõem a boa notícia de que Deus interveio na história para levar a salvação ao seu povo. Como tal, evangelho é um gênero de escrita semelhante às biografias antigas, mas ao mesmo tempo difere vastamente delas (cf. Alexander 2006, p. 13-33).

    O Evangelho de Mateus tem sido um livro fundamental ao longo da história da igreja para ajudá-la a entender a relação entre o Antigo e o Novo Testamento. Colocado em primeiro lugar nas coleções iniciais do cânon do NT, o Evangelho de Mateus é uma ponte natural entre o AT e o NT. Mateus demonstra repetidamente que a pessoa e o ministério de Jesus cumpriram as esperanças e profecias do AT. Mateus começa com o cumprimento da genealogia messiânica no nascimento de Jesus (1:1-17), e então passa a demonstrar o cumprimento na vida e ministério de Jesus de várias profecias e temas do AT (e.g., 1:22-23; 2:4-5, 15, 17, 23 etc.) bem como o cumprimento da Lei do AT (5:17-48). A igreja primitiva muito provavelmente colocou Mateus em primeiro lugar no cânon do NT precisamente por causa de seu valor como uma ponte entre os testamentos.

    A pessoa de Mateus

    A lista dos 12 discípulos no Evangelho de Mateus se refere a seu autor como Mateus, o cobrador de impostos, o que remonta ao incidente quando Jesus o chamou para ser seu discípulo no momento em que Mateus estava sentado na coletoria de impostos (cf. 9:9; 10:3). Ao relatar o chamado, o primeiro Evangelho se refere ao discípulo como Mateus (9:9), enquanto o Evangelho de Marcos se reporta ao personagem como Levi, filho de Alfeu (Mc 2:14), e o Evangelho de Lucas o apresenta como Levi (Lc 5:27). A especulação envolve o motivo da variação. Por exemplo, Bauckham (2006, p. 108-12) argumenta que é improvável que um homem tivesse dois nomes judaicos comuns e conclui que o autor desconhecido do primeiro Evangelho sabia que Mateus era um cobrador de impostos, assim como Levi, e assim coletou o material a respeito deles. No entanto, uma sugestão mais provável é que esse cobrador de impostos teria dois nomes, Mateus e Levi desde o nascimento ou a partir do momento de sua conversão. Por exemplo, Hagner (1993, p. 237-38) sugere que o nome Mateus foi dado a Levi após sua conversão. Por outro lado, Carson (2010, p. 224, 262-63) se inclina para Levi Mateus ser um nome duplo dado a ele desde o nascimento, considerando que ele não vê nenhuma evidência de que Mateus seja um nome cristão. Alguns tentaram mostrar que Levi não era um dos Doze e, portanto, alguém diferente de Mateus, mas France argumenta que se trata de uma especulação injustificada, pois a circunstância da vocação é a mesma em Mateus e Marcos-Lucas (2007, p. 352).

    O nome Levi pode ser uma indicação de que ele era da tribo de Levi e, portanto, estava familiarizado com as práticas levíticas (Albright e Mann 1971, clxxvii-clxxviii, clxxxiii-clxxxiv). O registro do seu chamado em Marcos se refere a ele como filho de Alfeu (Mc 2:14), o que levou alguns a entenderem que ele era irmão do apóstolo Tiago, filho de Alfeu (cf. Mc 3:18). Mas como os outros pares de irmãos são especificados como irmãos consanguíneos e estão ligados como tal, é improvável que Mateus, Levi e Tiago fossem irmãos.

    Levi Mateus foi chamado para seguir Jesus enquanto ele estava sentado na coletoria de impostos. Esse posto de cobranças provavelmente estava localizado em uma das principais rodovias comerciais perto de Cafarnaum, com o objetivo de arrecadar pedágios para Herodes Antipas no tráfego comercial que passava por essa área. Mateus imediatamente seguiu Jesus e organizou um banquete em homenagem ao Mestre na sua casa, para o qual uma grande multidão de publicanos e pecadores foi convidada (Mt 9:10-11; Lc 5:29-30). Como os cobradores de impostos geralmente eram bastante ricos e desprezados pela população local (cf. Zaqueu, Lc 19:1-10), o chamado e a resposta de Mateus foram completamente fora do padrão comum e exigiram nada menos do que uma mudança milagrosa na vida desse cobrador de impostos.

    Pouco mais se sabe de Levi Mateus, exceto pela tradição amplamente atestada de que ele é o autor do evangelho que agora leva seu nome. Como cobrador de impostos, ele teria sido treinado em técnicas seculares de escribas e, como judeu-cristão galileu, seria capaz de interpretar a vida de Jesus a partir de uma perspectiva das expectativas do AT (cf. France 2007, p. 10-15). Eusébio disse que Mateus primeiro pregou para hebreus e depois para outros, incluindo lugares como Pérsia, Pártia e Síria (Eusébio, História eclesiástica 3:24.6). As tradições são misturadas em relação à morte de Mateus, com alguns dizendo que ele morreu como mártir, enquanto outros dizem que ele morreu de morte natural.

    Comentário apologético

    Mateus 1:1-16

    Registro da genealogia de Jesus Cristo (1:1): Aos olhos modernos, uma genealogia tão detalhada como esta, abrangendo tantos séculos, pode parecer artificial. Os judeus realmente rastreavam seus ancestrais assim com tanto cuidado? O conhecimento das genealogias era importante nos tempos antigos e desempenhava um papel especialmente significativo para Israel. O AT revela que os judeus mantinham extensas genealogias, que serviam geralmente como um registro dos descendentes de uma família, mas seu significado se estendia além do fato de simplesmente conhecer os laços familiares. As genealogias estabeleciam a linhagem, a herança, a legitimidade e direitos de uma pessoa, garantindo que a propriedade fosse destinada para a pessoa certa (cf. Joson 1988).

    Mateus provavelmente se baseou em algumas genealogias do AT (e.g., Gn 4:17-18; 5:3-32; 10:1-32; 46:8-27; 1Cr 1:34; 2:1-15; 3:1-24; Rt 4:12-22; Nolland 1996, p. 115-22, sugere que ele estudou as genealogias de Gênesis e modelou o seu próprio relato de linhagens com base nelas), e ele usa palavras semelhantes (cf. Mt 1:2: Abraam egnennēsen ton Isaak com 2Cr 1:34 LXX: egennēsen Abraam ton Isaak). Para a listagem de indivíduos depois de Zorobabel, quando o AT se encerra, Mateus provavelmente usou registros que já teriam sido perdidos. Fontes históricas, como Josefo, indicam que existiam extensos registros genealógicos durante o primeiro século, e que os registros de algumas famílias políticas e sacerdotais foram mantidos no templo (e.g., Josefo, Vida 6; Contra Ápio 1.28-56). A tradição rabínica posterior tentou estabelecer a descendência de Davi a partir de um contemporâneo próximo a Jesus, o rabino Hillel, através de um rolo genealógico que foi supostamente encontrado em Jerusalém (Genesis Rabbah 98:8; j. Ta’anit 4:2). As genealogias extrabíblicas oficiais foram perdidas com a destruição do templo e de Jerusalém em 70 d.C., porém as genealogias particulares foram mantidas em outros lugares.

    Jesus Cristo, Filho de Davi, Filho de Abraão (1:1): A linhagem do Messias era de particular importância. A audiência judaica de Mateus teria entendido o significado do título com o nome e a ascendência de Jesus. As expressões filho de Davi e filho de Abraão são uma justaposição a Jesus Cristo, indicando que ambos os títulos são uma explicação adicional da identidade de Jesus.

    Comumente, uma pessoa tinha um único nome pessoal, que muitas vezes carregava um significado religioso ou social. Mateus escreveu sobre Jesus (Gr. Iēsous), que é seu nome histórico geralmente usado. O nome é Yeshua em hebraico (Yahweh salva; cf. Ne 7:7), uma forma abreviada de Josué (Yehoshua), Yahweh é salvação (Êx 24:13), que virá a ter noções profundas de salvação associadas com o nome em Jesus (cf. 1:21; cf. também Gerhardsson 1999, p. 16-17).

    Cristo (Gr. Christos) é um título derivado do hebraico mashiach (ungido), que remete a Davi como o rei ungido de Israel. O termo passou a ser associado com a promessa de um ungido que seria a luz da esperança de Israel. Deus havia prometido a Davi através do profeta Natã que sua casa e seu trono seriam estabelecidos para sempre (2Sm 7:11b-16), uma promessa que agora é vista como cumprida em Jesus como o Ungido, ou Messias.

    Filho de Davi é uma expressão importante no Evangelho de Mateus (9:27; 12:23; 15:22; 20:30-31; 21:9, 15; 22:42, 45). Mateus usa o nome do grande rei 17 vezes, mais do que qualquer outro livro do NT. O rei Davi foi o reverenciado guerreiro conquistador da história de Israel. Filho de Davi expressa uma figura prometida que perpetuaria o trono de Davi, apontando assim para a linhagem do Messias e expectativa real (veja 2Sm 7:11b-16). O título alude à esperança messiânica de um reino restaurado que era visto como o cumprimento da promessa divina a Davi.

    Mas Jesus é também o filho de Abraão. Ao traçar a ascendência não apenas para Davi, mas também para Abraão, Mateus traz uma luz de esperança para o mundo todo. A aliança que Deus fez com Abraão estabeleceu Israel como um povo escolhido, mas também foi uma promessa de que sua linhagem abençoaria todas as nações (Gn 12:1-3; 22:18; veja, e.g. Carroll 2000, p. 17-34; Erickson 2000, p. 35-51).

    O padrão que Mateus usa ao detalhar sua genealogia oferece pistas sobre a identidade e o ministério de Jesus. Ele estabelece o padrão básico na primeira lista: Abraão gerou Isaque (1:2). Isto está de acordo com as palavras típicas do AT, como na tradução LXX de 1Cr 1:34: Abraão gerou Isaque. Ao longo do restante da genealogia, o mesmo padrão ocorre 40 vezes, usando a voz ativa do verbo gennaō, traduzido como gerar na HCSB. Essa expressão enfatiza a descendência humana de cada geração, o que abre caminho para uma dramática mudança de construção em 1:16, onde ocorre a voz passiva, pela qual Mateus apontará a origem divina de Jesus.

    A ascendência de Jesus serve como uma chave importante para interpretar os escritos de Mateus. O escritor enfatiza a maneira pela qual o ministério de Jesus trouxe o cumprimento da aliança de Deus ao povo de Israel (e.g., 10:6; 15:24), mas também o cumprimento da promessa de Deus de trazer esperança a todos os povos (cf. 21:43; 28:19). Esse tema da promessa a todas as nações torna-se cada vez mais pronunciado no Evangelho de Mateus, e chegará ao clímax na conclusão da Grande Comissão (cf. 28:18-20).

    Rei Davi (1:6): Uma das características mais significativas do registro de Mateus é a ênfase na linhagem real de Jesus. Davi não é simplesmente o filho de Jessé, como apresentado na genealogia de Lucas (Lc 3:31-32), mas é Davi, o rei (Mt 1:6), uma ênfase explícita na realeza. A partir daqui, Mateus mantém uma ênfase na realeza, usando o título rei 22 vezes, mais do que qualquer outro livro do NT (veja 2:2; 27:11, 29, 37, 42). Esse aspecto também é enfatizado pelo contraste com o rei Herodes e seu filho Arquelau (2:1-23), a menção do rei na parábola (22:1-13), e o Filho do Homem sentado como Rei no trono em dia do julgamento (25:31-46).

    Mateus traça a genealogia de Jesus através do filho de Davi, Salomão (1:6), que sucedeu seu pai como rei de Israel, enquanto Lucas segue a linhagem através do filho de Davi, Natã (cf. 1:6; Lc 3:32; 2Sm 5:14). Mateus demonstra que a linhagem que culmina com o nascimento de Jesus é a linhagem real dominante. O Filho mais importante de Davi chegará com o nascimento de Jesus (cf. 22:41-46; 2Sm 7:12-16; Sl 89:19-29, 35-37; 110:1-7; 132:11-12). Temos aqui uma das várias diferenças básicas entre o registro genealógico encontrado no Evangelho de Mateus (1:2-17) e o que é observado no Evangelho de Lucas (Lc 3:23-38). Uma lista dessas diferenças inclui:

    Primeiro, Mateus apresenta uma genealogia descendente na ordem de sucessão, com o ancestral mais antigo, Abraão, colocado à frente e as gerações posteriores, dispostas em uma linhagem de descendência anteriores, culminando com o nascimento de Jesus. Essa é a abordagem mais comum para genealogias no AT (e.g., Gn 5:1-32). Em contraste com Mateus, Lucas mostra uma configuração de descendência que inverte a ordem, começando com Jesus e a retrocedendo até Adão (Lc 3:23-38; cf. Ed 7:1-5). Essa ordem inversa é mais comumente encontrada em genealogias greco-romanas.

    Segundo, Mateus dá ênfase especial às alianças feitas com Israel, traçando a linhagem de Jesus até Davi (1:6) e Abraão (1:2). Lucas oferece uma ênfase especial à relação de Jesus com toda a humanidade e com o próprio Deus, traçando sua linhagem até ... Adão, filho de Deus (Lc 3:38).

    Terceiro, as genealogias incluem vários nomes diferentes após a deportação babilônica. Por exemplo, Mateus segue a linhagem através de Jeconias, Salatiel e Zorobabel, enquanto Lucas adota a linhagem através de Neri, Salatiel e Zorobabel.

    Quarto, Mateus deixa fora vários nomes que se encontram em Lucas, passíveis de alcançar simetria literária para fins de memorização (veja em Mt 1:17). O verbo gerar (gennaō) é usado em cada veículo do registro da genealogia de Mateus, sendo frequentemente empregado para indicar um ancestral mais remoto (e.g., avô ou bisavô), não simplesmente um pai imediato.

    Quinto, como mencionado há pouco, Mateus enfatiza a linhagem real de Jesus mais do que Lucas.

    Os estudiosos oferecem duas explicações básicas para as diferenças entre as genealogias, embora as variações sejam numerosas. A primeira visão ressalta que Mateus apresenta a linhagem de Jesus através de seu pai José, enquanto Lucas mostra a linhagem de Jesus através de Maria. A segunda visão básica propõe que ambas as genealogias se concentram em José, mas para propósitos diferentes.

    Não podemos explicar totalmente as diferenças entre as genealogias com as informações que possuímos hoje, mas parece claro que Mateus pretende demonstrar a reivindicação legal de Jesus ao trono de Davi. O Filho mais importante de Davi, o esperado rei messiânico davídico chegou com o nascimento de Jesus (cf. 22:41-46; 2Sm 7:12-16; Sl 89:19-29, 35-37; 110:1-7; 132:11-12). (Veja mais comentários em Lc 3:23-38, especialmente 3:31.)

    Jorão gerou Uzias (1:8): Teria Jorão gerado Uzias (Mt 1:8) ou Acazias (1Cr 3:11)? Mateus se move diretamente de Jorão para Uzias, omitindo qualquer referência a Acazias (2Rs 8:25-26), Joás (também chamado Jeoás, 2Rs 12:1-3) e Amazias (2Rs 14:1-4), que foi o pai biológico imediato de Uzias ou Azarias (2Rs 14:21-22). Mateus pode ter modelado essa seção (1:6-11) seguindo 1Cr 3:10-14, porque as genealogias em Crônicas e Mateus omitem vários reis encontrados na narrativa dos livros de Reis e Crônicas. Como na listagem de Abraão a Davi, os nomes foram omitidos para torná-la uniforme com o objetivo de facilitar a memorização (veja em 1:17).

    E Josias gerou Jeconias e seus irmãos (1:11): Mateus observa que Jesus é descendente de Jeconias, ou Conias, que em 1Cr 3:16 é declarado descendente de Jeoiaquim. Jeremias 36:30 diz: Portanto, assim diz o Senhor a respeito de Jeoiaquim, rei de Judá: Ele não terá ninguém para se sentar no trono de Davi". Visto que Jeconias era descendente de Jeoiaquim, como podemos entender o relato de Mateus sobre a linhagem de Jesus através daquele sobre quem foi declarado que não haveria descendente no trono de Davi? Com uma maldição profética tão incisiva sobre Jeconias e sua descendência, podemos supor que isso poderia invalidar a reivindicação de Jesus ao trono de Davi.

    Uma maneira de resolver a dificuldade é reconhecer que a LXX às vezes usa o nome grego Ioakim tanto para Jeoaquim quanto para seu filho Joaquim/Jeconias (2Rs 24:6, 8, 12, 15; 25:27; Jr 52:31). A referência de Mateus a Jeconias e seus irmãos pode ter um duplo sentido, destinado a fazer com que os leitores pensem no fim do domínio davídico em Jerusalém com Jeoiaquim, e na história contínua da linhagem de Davi com seu filho Joaquim. Isso também ajudaria a estabelecer o conjunto tríplice de 14 gerações que Mateus usa para estruturar sua genealogia (veja 1:17). Se esse conceito estiver correto, então a expressão Jeconias e seus irmãos é uma referência inclusiva ao fim do governo davídico com Jeoiaquim, e a linhagem contínua de Davi a Jeoaquim. Tal como acontece com a expressão Judá e seus irmãos (1:2), a referência a Jeconias e seus irmãos é uma referência inclusiva a toda a nação da aliança. Mas agora a nação vai para o exílio e retorna sem um rei governante, devendo aguardar a chegada do herdeiro do trono, o Jesus Messias.

    Em resumo, se Mateus seguiu a reivindicação legal de José ao trono, e Lucas seguiu a reivindicação biológica de Maria ao trono, que inclui a reivindicação legal de José como herdeiro adotivo de Eli, isso ajuda a explicar como Mateus reconhece que a maldição contra Jeconias não invalida a linhagem legal. A maldição teria impedido um filho natural e biológico de ascender ao trono, enquanto a reivindicação legal ao trono aparentemente ainda poderia vir através da linha de Jeconias.

    Matã gerou Jacó, e Jacó gerou José, marido de Maria (1:15-16): Uma comparação com o relato de Lucas revela uma aparente discrepância em relação à linhagem de José. Mateus relata que Matã gerou a Jacó, e Jacó gerou a José (Mt 1:16), enquanto Lucas se refere a ... José, filho de Eli, filho de Matate (Lc 3:23-24). Aqui devemos determinar o que ambos os evangelistas pretendiam comunicar sobre a identidade do pai de José — Jacó ou Eli.

    Uma explicação plausível pode ser encontrada na compreensão de que Mateus traça a linhagem biológica de José, que demonstra a reivindicação legal de Jesus ao trono real por meio de Davi, seu filho Salomão e seus descendentes, enquanto Lucas enfatiza a linhagem biológica de Maria, que também traça a linhagem biológica de Jesus até Davi, mas por meio de seu filho Natã, o qual na verdade não governou sobre Israel. O status de um judeu é determinado pela mãe, enquanto todas as demais caraterísticas — como filiação tribal, status sacerdotal ou realeza — dependem da linhagem do pai (veja Ed 10:1-44; Ne 10:28-30, que pode significar o que está por trás da expressão tradicional: Se sua mãe é judia, você é judeu; se sua mãe é uma estrangeira, você é um estrangeiro; cf. Judeu, EJR, p. 211). Portanto, Mateus enfatiza a descendência legal de Jesus a partir de Davi e Abraão, enquanto Lucas ressalta a descendência biológica de Jesus partindo de Davi e Adão. No entanto, quando Lucas afirma que José é filho de Eli, é possível que ele indique que José também seja o herdeiro legal desse lado da linhagem davídica. Se Maria não tinha irmãos, então ela era a herdeira biológica de Eli (cf. Nm 27:1-11; 1Cr 2:34-35), mas pode ser que Eli tenha solidificado a herança familiar ao adotar José como seu filho quando José se casou com sua filha Maria (veja Nolland 1989, p. 169-71; Bock 1994, p. 922-23). Essa prática teria ocorrido também em outros eventos em que um pai não tinha filhos biológicos como herdeiros (Ed 2:61; Ne 7:63). Se esse for o caso, então Eli é o pai natural de Maria e o pai adotivo e sogro de José (muitas vezes referido como seu pai). (Veja mais comentários em Lc 3:23.)

    José, marido de Maria, da qual nasceu Jesus (1:16): Mateus exibe regularmente uma precisão intencional em seu relato da vida terrena e do ministério de Jesus, a fim de acentuar as verdades que são importantes para a devoção e a doutrina. Quando ele chega à menção de nome de Jesus, Mateus diz: ... e Jacó gerou a José, marido de Maria, que deu à luz a Jesus (1:16). A tradução inglesa empregada aqui obscurece dois pontos importantes que Mateus revela sobre Jesus no texto grego.

    Primeiro, por trás da palavra da qual está um pronome relativo feminino grego (hēs). O gênero feminino do pronome relativo aponta para Maria como aquela da qual Jesus nasceu. A genealogia enfatiza regularmente o homem que gera uma criança, mas aqui Mateus muda e faz uma declaração precisa sobre o relacionamento de Jesus com José e Maria. Mateus estabelece que José é o pai legal de Jesus, todavia enfatiza que Maria é a genitora biológica da qual nasceu Jesus, preparando o leitor para o anúncio do nascimento virginal, mudando a atenção de José para Maria.

    Em segundo lugar, a expressão nasceu traduz um verbo (gennaō) que está na voz passiva (egennēthē) e dá mais esclarecimentos sobre a origem de Jesus. Como observamos anteriormente, de 1:2 a 1:16 há 40 ocorrências do mesmo verbo. Todos os outros estão na voz ativa (e.g., 1:2: Abraão gerou ou deu à luz Isaque), enfatizando a ação humana em gerar a criança. Mas em 1:16 o verbo está na voz passiva, em que o sujeito, Maria, recebe ou sofre a ação. Com isso Mateus especifica que não foi a única ação de Maria que deu à luz, preparando o leitor para o anúncio angélico da ação divina na concepção e nascimento de Jesus (1:18-25). Essa é uma construção bastante comum no NT, que muitos gramáticos chamam de divino passiva, em que Deus é o agente de ação, não declarado, mas presumido (BDF, p. 72 [§130.1]; Wallace 1996, p. 437). Em contraste, Mateus usa outro verbo (tiktō) na voz ativa em que Maria é o sujeito que dá à luz a Jesus (1:25).

    Pelo uso da forma feminina do pronome relativo da qual, e pelo uso da forma passiva do verbo nasceu, Mateus enfatiza que Maria é a mãe de Jesus, mas que ela exerceu uma ação passiva para dar nascimento ao filho. Vemos aqui um indício de que a concepção e o nascimento de Jesus são obra de Deus. Mais tarde, Mateus esclarece que a concepção de Jesus foi milagrosa, provocada pelo Espírito de Deus vindo sobre Maria (1:18-25). Jesus é de fato o Cristo, o Messias, o filho de Davi, o filho de Abraão (1:1), mas também é o Filho de Deus, Emanuel, Deus está conosco (1:23).

    Catorze gerações [...] catorze [...] catorze (1:17): Mateus constrói sua genealogia em três grupos de 14. Essa estilização intencional (inspirada provavelmente pela soma de consoantes do nome de Davi; veja mais sobre isso no texto adiante) conduz à questão de sua precisão? E por que o terceiro grupo de 14 na verdade inclui apenas 13 nomes?

    Mateus revela ainda que a própria estrutura da genealogia pretende culminar em Jesus. As genealogias eram frequentemente organizadas para facilitar a memorização. Mateus estrutura a genealogia para contar 14 gerações desde a aliança feita com Abraão até a aliança feita com Davi, 14 gerações desde o fim do reinado de Davi até a deportação para a Babilônia e 14 gerações desde a deportação babilônica até Jesus.

    Existem 41 nomes na genealogia, o que cria uma dificuldade, pois 14 gerações multiplicadas pelos três grupos de gerações equivalem a 42 nomes obrigatórios. Isso provavelmente indica que um nome precisa ser contado duas vezes. Nesse cálculo, os 14 nomes do primeiro grupo começam com Abraão e terminam com Davi. O segundo grupo vai de Davi até a deportação para a Babilônia, e os 14 nomes a serem contados neste grupo começam com Salomão e terminam com Jeconias. O terceiro grupo de 14 gerações, da deportação até Jesus, começa contando novamente Jeconias e termina com o nome de Jesus. O nome Jeconias pode servir como um duplo sentido para indicar tanto Jeoiaquim e o fim do segundo grupo de gerações, como também para indicar Joaquim e o início do terceiro grupo de gerações após a deportação. Em tal suposição, o nome Jeconias é contado duas vezes para indicar os dois governantes e períodos diferentes na genealogia de Mateus. A divisão dos três grupos de 14 seria a seguinte: Abraão a Davi; Salomão a Jeconias/Jeoiaquim; Jeconias/Joaquim a Jesus.

    Algumas gerações na linhagem foram ignoradas a fim de que a estrutura pudesse ser uniformizada para fins de memorização, enquanto outros membros receberam certos tipos de destaque com o objetivo de estabelecer um ponto específico. Davi é mencionado duas vezes, embora contado apenas uma vez, para enfatizar que Jesus é o Messias davídico. O número 14 parece ser uma referência sutil a Davi porque o valor numérico das consoantes hebraicas de seu nome é 14 (dwd = 4 + 6 + 4). A prática judaica de contar o valor numérico das letras é chamada de gematria (Gematria, EJR, p. 154). Em sua forma mais básica, a prática ajudava na memorização e na codificação do significado teológico.

    Mateus 1:18-19

    Ela estava grávida pelo Espírito Santo (1:18): Mateus afirma simplesmente que a criança foi concebida pelo Espírito Santo. Alguns, incluindo mórmons e muçulmanos, tentam afirmar que isso implica relações sexuais entre Maria e Deus. Os mórmons consideram literalmente esse fato uma verdade, e os muçulmanos avaliam como um absurdo. Essa abordagem literal, no entanto, deturpa o que a passagem diz sobre a natureza miraculosa da concepção de Jesus. O Espírito Santo é o agente, ou a fonte da concepção de Jesus, mas as narrativas do Evangelho deixam claro que Maria era uma virgem que nunca antes tivera relações sexuais. Foi com base em sua virgindade que José teve a certeza de receber Maria como esposa depois de ter sido visitado por um anjo que proclamou a concepção milagrosa (cf. Mt 1:20-25; Lc 1:26-35).

    José, sendo um homem justo, e não querendo desonrá-la publicamente, decidiu se divorciar dela secretamente (1:19): Se a Lei exigia o apedrejamento das adúlteras (Lv 20:10), como é que José foi considerado justo por querer proteger Maria da vergonha pública? Em primeiro lugar, é provável que o apedrejamento fosse reservado aos reincidentes que recusassem a correção (veja também comentários sobre 5:18). Em segundo lugar, como um homem justo, era apropriado que José obtivesse uma certidão de divórcio. O divórcio por adultério não era uma questão meramente opcional, mas obrigatória entre muitos grupos judeus (Bockmuehl 1989, p. 291-95). A preocupação de José por Maria o compeliu a protegê-la da desgraça pública. Portanto, ele não considerou o divórcio público como uma opção, pois ela estaria sujeita à desgraça e possível apedrejamento (Lv 20:10; 22:23-24; Dt 22:13-21). Sua única opção era divorciar-se dela secretamente. A Lei não exigia que a escritura fosse tornada pública, permitindo o divórcio privado (duas ou três testemunhas; Nm 5:11-31; Dt 24:1; conforme interpretado em m. Sotah 1.1-5; m. Gitin 9.1-5, 10).

    Mateus 1:20-25

    A virgem ficará grávida (1:23): Várias questões surgem a partir desse texto. De importância primordial, o termo virgem seria uma tradução exata do original hebraico, ou a designação de uma jovem donzela, não necessariamente virgem, seria mais adequada? Mateus declara (v. 22) que os eventos que cercam a concepção de Jesus cumprem a profecia de Isaías (Is 7:14) feita durante os dias de ameaça nacional sob o reinado de Acaz, rei de Judá. Em 734 a.C. Acaz temia que seu reinado terminasse com um ataque do norte. Peca, rei de Israel, e Rezim, rei de Aram (Síria), formaram uma aliança e ameaçaram invadir Judá e substituir Acaz por um rei fantoche, filho de Tabeel (Is 7:6). Isaías declarou que o Senhor não permitiria que isso acontecesse, assegurando a Acaz que Deus manteria sua promessa de que um descendente de Davi se sentaria para sempre em seu trono (2Sm 7:11-17). Para confirmar que os dois reis do norte não conquistariam Judá, Isaías profetizou que o Senhor daria um sinal a Acaz: uma virgem daria à luz.

    Existem duas palavras primárias para virgem em hebraico. O termo almah, que ocorre na profecia de Is 7:14, significa donzela ou jovem, e a maioria dos estudiosos afirma que quase sempre se refere a uma mulher solteira e virgem (e.g., Gn 24:43; Êx 2:8; Sl 68:25; a passagem debatida é Pv 30:19; veja Ross 1991, 5:1124). O outro termo primário é betulah, que pode indicar uma virgem (Gn 24:16; Lv 21:3), mas também uma viúva velha (Jl 1:8). Os tradutores judeus do texto de Is 7:14 (LXX) traduziram o termo hebraico almah com o termo grego parthenos, que quase sem exceção especificava uma mulher sexualmente madura e solteira que era virgem (a exceção é Gn 34:4).

    A história da interpretação de Is 7:14 e sua relação com Mateus 1:22-23 é extensa e variada, mas dela emergem três visões básicas. Primeiro, alguns sugerem que o sinal original se destinava apenas às circunstâncias históricas de Acaz e Judá, e que Mateus o considera tipologicamente para se referir a Jesus (e.g., Watts 1985, p. 98-104; Davies e Allison 1988, p. 213; Carter 2000, p. 503-20). Nessa visão, Isaías tinha em mente uma jovem que era virgem na época, mas que mais tarde se casaria e teria um filho que ela chamaria de Emanuel como sinal da presença de Deus. Isaías estava se referindo apenas a uma criança de sua época, quer fosse o filho real Ezequias que já nasceu como herdeiro do trono do rei Acaz, ou Maher-Shalal-Hash-Baz (cf. Is 8:4, 8), ou ainda alguma outra criança anônima nascida de uma mulher que Acaz conhecia. No momento em que essa criança nascesse e recebesse o nome de Emanuel, Acaz saberia que as profecias de Isaías estavam corretas e que a libertação estava próxima. Nessa visão, o uso do texto por Mateus vai além das intenções originais da profecia. Uma variação dessa visão sugere que não havia sequer uma referência à virgindade da mãe dessa criança no texto de Isaías. Apenas diz que Isaías tinha em vista uma jovem, e que o hebraico almah não significa virgem. A fraqueza dessa visão é que ela não faz justiça ao uso majoritário de almah para significar virgem.

    Em segundo lugar, outros sugerem que não houve cumprimento real no nascimento de qualquer criança na época de Acaz, mas que a profecia se destinava estritamente a uma profecia messiânica que só foi cumprida uma vez, no nascimento de Jesus. O termo almah deve ser entendido como referindo-se a uma virgem, o que significa que a profecia não foi cumprida por um nascimento no tempo de Isaías, mas poderia apenas apontar para o cumprimento na concepção milagrosa e nascimento de Jesus (e.g., Carson 2010, p. 102-6, citando um trabalho anterior de Motyer 1970, p. 118-25).

    Terceiro, uma interpretação mais satisfatória extrai o melhor desses pontos de vista e reconhece que Deus estava dando por meio de Isaías um sinal que teve significado histórico e cumprimento nos dias de Acaz, mas que Ele também estava dando por meio de Isaías uma profecia de um futuro libertador messiânico que foi cumprida na concepção e nascimento de Jesus (e.g., Grogan 1986, 6:62-65; Hagner, 1993, p. 20-21; Blomberg 1992, p. 58-59; Sailhamer 2001, p. 5-23). Os tradutores judeus da LXX, centenas de anos antes do nascimento de Cristo, parecem optar pelo uso de parthenos, que algo mais profundo foi entendido pelo profeta do que teria sido completamente cumprido nos eventos dos dias de Isaías. E mais tarde, escribas judeus viram um significado mais profundo no contexto, quando interpretaram Emanuel, Deus está conosco, como uma promessa da idade de ouro (cf. Is 2:2-4; 9:2-7; 11:1 -16) quando o messiânico filho de Davi traria julgamento sobre os ímpios e bênção sobre os justos.

    E dará à luz um filho (1:23): Quando essa profecia foi cumprida? Isaías profetizou que uma mulher virgem na época de Acaz (734 a.C.) teria um filho chamado Emanuel. Visto que nem a rainha nem a esposa de Isaías eram virgens, e levando em conta, como argumentamos há pouco, que Isaías pretendia indicar especificamente uma virgem e não apenas uma jovem, o profeta muito provavelmente se referia a uma jovem solteira dentro da casa real, conhecida por Acaz. Ela logo se casaria e conceberia um filho, e lhe daria o nome de Emanuel como uma esperança simbólica da presença de Deus em tempos de dificuldade nacional. Antes que a criança tivesse idade suficiente para saber a diferença entre o certo e o errado, Judá seria liberto da ameaça de invasão dos dois reis do norte (Is 7:14-17). A aliança do norte foi quebrada em 732 a.C. quando Tiglate Pileser III da Assíria destruiu Damasco, conquistou Aram e matou Rezin. Tudo isso estava dentro do prazo previsto como o sinal para Acaz, tempo suficiente para a virgem se casar, ter um filho e criá-lo por aproximadamente doze anos, tempo que levaria para o menino aprender o discernimento moral. Assim houve um cumprimento imediato da predição de Isaías no tempo de Acaz.

    Mateus declara que o nascimento de Jesus cumpre a profecia de Is 7:14. Assim, o sinal dado a Acaz e à casa de Judá (vocês em Is 7:14 é plural) foi a previsão de Deus da salvação militar, mas também revelou a profecia de uma futura figura messiânica que proporcionaria a salvação espiritual. O sinal de Isaías funcionou tanto como uma indicação da maneira que um menino chamado Emanuel representaria para Acaz e a casa de Davi a libertação da invasão prometida de Deus, mas também um futuro libertador messiânico chamado Emanuel, verdadeiramente Deus conosco.

    Essa leitura de duplo cumprimento leva a sério tanto o contexto imediato da predição de Acaz em 7:14, quanto também o contexto mais amplo da profecia de Isaías, em que uma futura era messiânica honraria a Galileia dos gentios (9:1-2) com uma criança nascida que seria chamada: Maravilhoso Conselheiro, Deus Forte, Pai Eterno, Príncipe da Paz (Is 9:6).

    E eles o chamarão de Emanuel, que é traduzido como Deus está conosco (1:23): Anteriormente, o anjo instruiu José a dar ao menino o nome de Jesus (1:21), que é como o encontramos nomeado pela Escritura no decorrer de sua vida terrena, bem como nos escritos da igreja primitiva. Não temos registro de Jesus ter sido chamado de Emanuel por sua família ou seguidores. Isso não indica que Mateus estava errado ou que a profecia de Isaías não se aplicava a Jesus. Em lugar disso, como Mateus traduz o nome para nós, vemos que Emanuel não é um nome pessoal, mas um título que significa a identidade messiânica de Jesus: Deus conosco. Tanto o nome comum de Jesus quanto seu nome titular indicam verdades profundas: Jesus especifica o que Ele faz (Deus salva) e Emanuel especifica quem Ele é (Deus conosco).

    José [...] não a conheceu intimamente até que ela deu à luz um filho (1:24-25): Algumas tradições afirmam que Maria permaneceu virgem por toda a vida. Que influência tal versículo tem sobre esse assunto? Quando José acordou do sonho, ele obedeceu à ordem do anjo e realizou a segunda fase do processo conjugal realizando uma cerimônia formal de casamento. Na conclusão dos ritos, José levou Maria para casa, como sua esposa, para morar com ele (e talvez com sua família estendida). Eles se tornaram um casal totalmente casado, exceto que José não a conheceu intimamente até que ela deu à luz um filho (1:25). A expressão de Mateus (lit. ele não a conheceu), era uma forma comum de se referir à relação sexual. A abstinência sexual durante a gravidez era amplamente observada no judaísmo. O antigo poema de sabedoria pseudepigráfico judaico Pseudo-Focílides 186 (c. 100 a.C.-100 d.C.) declara: Não coloque a mão em sua esposa quando ela estiver grávida. Josefo escreveu uma nota semelhante: Pela mesma razão, ninguém que tenha relações sexuais com uma mulher que está grávida pode ser considerado puro (Contra Ápio 2.202-203).

    A nota de Mateus sobre a abstenção de José não é uma sugestão de celibato contínuo entre ele e Maria após o nascimento de Jesus. De fato, a expressão até (heos hou) indica mais naturalmente que Maria e José tiveram relações sexuais conjugais normais após o nascimento de Jesus, das quais nasceram outras crianças (veja 12:46 e 13:55; Allison 1993, 6n16). Para mais informações, veja os comentários em 12:46-50 e 13:55.

    Mateus 2:1-12

    Nos dias do rei Herodes (2:1): É correto chamar Herodes de rei? A Palestina, uma região que compreende o Israel bíblico e Judá, foi uma das muitas regiões que caíram sob o Império Romano que estava em constante expansão. Em 63 a.C., Pompeu capturou Jerusalém e o restante da Palestina. Os romanos instalaram figuras locais para governar os judeus em seu lugar e, eventualmente, Herodes ganhou destaque e governou sob Roma de 37 a 4 a.C. Herodes nasceu da linhagem nobre de uma família idumeia (pai, Antípatro II) e nabateia (mãe, Cipro). Seu avô por parte de pai, Antipas (ou Antipater I), converteu-se ao judaísmo durante o reinado de Hircano I no reinado dos asmoneus (Richardson 1999, p. 52-55). Seu pai, Antípatro II, foi nomeado conselheiro de Hircano II. Depois que Pompeu invadiu a Judeia e depôs a dinastia asmoneana (63 a.C.), Antípatro II foi feito epitropos, procurador da Judeia por Júlio César (47 a.C.) (Josefo, Antiguidades 14.127-55).

    Antípatro nomeou Herodes governador da Galileia quando jovem (aos 25 anos de idade; c. 47 a.C.), e mais tarde Herodes recebeu dos romanos um papel de supervisão na Celessíria. Antípatro II foi envenenado em um jantar no palácio real em 42 a.C. (Josefo, Antiguidades 14.281; Richardson, Herodes, p. 116-17). A aristocracia asmoneana tentou impedir Herodes de obter mais poder, mas depois de viajar para Roma, Herodes foi nomeado rei da Judeia pelo Senado Romano (39 a.C.). Ele foi capaz de garantir o trono após uma luta de dois anos. O reinado de Herodes era um cargo político sob o domínio de Roma e poderia ser retirado se ele decepcionasse o governo romano. Herodes governou com firmeza, e às vezes implacavelmente, por 33 anos. Ele provavelmente morreu em março de 4 a.C. (veja exposição a seguir). Como Herodes ainda estava vivo quando os magos chegaram a Jerusalém, dois anos depois do nascimento de Jesus, a data do nascimento de Jesus é colocada pela maioria dos estudiosos entre 6-4 a.C. (veja em 2:16).

    Os magos do oriente chegaram inesperadamente a Jerusalém (2:1): Quem eram os magos, e como eles poderiam saber sobre a expectativa messiânica judaica? Mateus nos diz apenas que eles vieram do Oriente e que estavam procurando aquele que nasceu rei dos judeus (2:2). Eles aparentemente tomaram contato com as profecias do AT em colônias judaicas no oriente. Muitos judeus retornaram à Palestina após a deportação babilônica, porém inúmeros outros permaneceram no oriente, especialmente na Babilônia. Os líderes pagãos, tanto políticos quanto religiosos, estavam bem cientes das características religiosas judaicas, como a observância do sábado e as restrições conjugais (Josefo, Antiguidades 18.318-19, p. 340, 449-52). É dito que Hillel, o Velho, estudou todo o conhecimento judaico na Babilônia antes de viajar para Israel (b. Pesaḥim 6:1; cf. j. Pesaḥim 6:1, 33a), fato que nos informa que havia significativos centros judaicos de aprendizado na Babilônia no tempo dos sábios. Muitos assentamentos judaicos também estavam localizados na Arábia, estabelecendo contato regular entre judeus e árabes, como os nabateus. Os líderes religiosos gentios no oriente tinham regularmente contato com as Escrituras Hebraicas, com as profecias e com os mestres. À luz desses fatores, não admira que os sábios tivessem conhecimento da expectativa judaica de um Messias vindouro.

    Vimos a sua estrela no oriente e viemos adorá-lo (2:2): Às vezes é dito que a razão pela qual os sábios sabiam procurar uma estrela que anunciaria o nascimento do Messias era uma profecia (Nm 24:17) em referência a uma estrela que subiria de Jacó. Sendo não-hebreus, seu conhecimento dessa predição sugere que os próprios hebreus estariam bem cientes da profecia e conseguiram espalhar a palavra de Deus nas comunidades pós-exílicas. Supondo-se o contrário, seria preciso imaginar que os homens orientais de alguma forma acessaram as Escrituras Hebraicas e passaram a entendê-las melhor do que os próprios hebreus. De qualquer forma, porém, os sábios teriam levado vantagem sobre os hebreus ao reconhecer o surgimento da estrela e seus prodígios. Como isso poderia acontecer? Teria Mateus feito uma busca através do AT, procurando uma profecia e seu cumprimento para apoiar a inclusão de gentios (Mt 28:19)?

    Mateus diz que os magos foram a Jerusalém para encontrar aquele que nasceu Rei dos Judeus (2:2). O povo de Israel havia muito esperava o legítimo herdeiro do trono (e.g., Nm 24:17; 1Sm 7:12-16), mas Deus escolheu anunciar a chegada do Messias primeiro através desses sábios gentios. Uma expectativa circulou no mundo do primeiro século de que um governante surgiria da Judeia. Suetônio escreve: "Por todo o Oriente havia se espalhado uma crença antiga e

    Está gostando da amostra?
    Página 1 de 1