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"A Cidade e as Serras", Capítulos XV e XVI, de Eça de Queirós

"A Cidade e as Serras", Capítulos XV e XVI, de Eça de Queirós

DeAudiolivros em português


"A Cidade e as Serras", Capítulos XV e XVI, de Eça de Queirós

DeAudiolivros em português

notas:
Duração:
43 minutos
Lançados:
1 de ago. de 2021
Formato:
Episódio de podcast

Descrição

Capítulos XV e XVI (último capítulo), em audiolivro, do romance “A Cidade e as Serras” de Eça de Queirós.
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“A Cidade e as Serras” é um desenvolvimento do conto “Civilização”, cuja publicação em livro ocorreu em 1901, já depois da morte do autor. No romance é relatada a história de Jacinto, tendo como narrador José Fernandes, um amigo fraternal. Jacinto nasceu e viveu toda a sua vida num palácio dos Campos Elísios, em Paris. Apesar de rodeado de conhecimento, de tecnologia e de luxo, vive aborrecido e decide regressar a Tormes, na região do Douro.

TRANSCRIÇÃO

XV
E agora, entre roseiras que rebentam, e vinhas que se vindimam, já cinco anos passaram sobre Tormes e a Serra. O meu Príncipe já não é o último Jacinto, Jacinto ponto final — porque naquele solar que decaíra, correm agora, com soberba vida, uma gorda e vermelha Teresinha, minha afilhada, e um Jacintinho, senhor muito da minha amizade. É até monótono, pela perfeição da beleza moral, aquele homem tão pitoresco pela desinquietação filosófica e pelos pitorescos tormentos da fantasia insaciada. Quando ele agora, bom sabedor das coisas da lavoura, percorria comigo a quinta, em sólidas palestras agrícolas, prudentes e sem quimeras — eu quase lamentava esse outro Jacinto que colhia uma teoria em cada ramo de árvore e, riscando o ar com a bengala, planeava queijeiras de cristal e porcelana, para fabricar queijinhos que custariam cada um duzentos mil réis!
Também a paternidade lhe despertara a responsabilidade. Jacinto possuía agora um caderno de contas, ainda pequeno, rabiscado a lápis, com folhas, e papeluchos soltos entremeados, mas onde as suas despesas, as suas rendas se alinhavam, como duas hostes disciplinadas.
Visitara já as suas propriedades de Montemor, da Beira, a Avelã, e consertava, mobilava as velhas casas dessas propriedades para que os seus filhos, mais tarde, crescidos, encontrassem «ninhos feitos». Mas onde eu reconheci que definitivamente um perfeito e ditoso equilíbrio se estabelecera na alma do meu Príncipe, foi quando ele, já saído daquele primeiro e ardente fanatismo da Simplicidade — entreabriu a porta de Tormes à Civilização. Dois meses antes de nascer a Teresinha, uma tarde, entrou pela avenida de faias uma chiante e longa fila de carros, requisitados por toda a freguesia, e ajoujados de caixotes. Eram os famosos caixotes há um ano encalhados em Alba de Tormes, e que chegavam trazendo, para despejar a Cidade sobre a Serra. Eu pensei: «Mau! o meu pobre Jacinto teve uma recaída!» Mas os confortos mais complicados, que continha aquela caixotaria temerosa, foram, com surpresa minha, desviados para os sótãos imensos, para o pó da inutilidade: e o velho solar apenas se regalou com alguns tapetes sobre os seus soalhos, cortinas pelas janelas desabrigadas, e fundas poltronas, fundos sofás, para que os repousos, que ele imaginara, fossem mais lentos e suaves. Atribuí esta moderação a minha prima Joaninha, que amava Tormes na sua nudez rude. Ela jurou que assim o ordenara o seu Jacinto. Mas, decorridas semanas, tremi. Aparecera, vindo de Lisboa, um contramestre, com operários, e mais caixotes, para instalar um telefone!
— Um telefone, em Tormes, Jacinto?
O meu Príncipe explicou, com humildade:
— Para casa de meu sogro!… Bem vês.
Era razoável e carinhoso. O telefone porém, subtilmente, mudamente, estendeu outro longo fio, para Valverde. E Jacinto, alargando os braços, quase suplicante:
— Para casa do médico. Bem. Compreendes…
Era prudente. Mas, uma manhã, em Guiães, acordei aos berros da tia Vicência! Um homem chegara, misterioso, com outros, trazendo arame, para instalar na nossa casa o telefone. Calmei a tia Vicência, jurando que essa máquina nem fazia barulho, nem trazia doenças, nem atraía as trovoadas. Mas corri a Tormes. Jacinto sorriu, encolhendo os ombros:
— Que queres? Em Guiães está o boticário, está o carniceiro… E, depois, estás tu!
Era fraternal. Mas pensei: «Estamos perdidos! Dentro de um mê…
Lançados:
1 de ago. de 2021
Formato:
Episódio de podcast

Títulos nesta série (23)

Audiolivros em português de obras no domínio público. Os primeiros episódios incluem o conto “O Tesouro“ e capítulos de “A Cidade e as Serras”, ambos da autoria de Eça de Queirós.