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A VOLTA DO FLIGHT SIMULATOR

O A321 sobrevoa o oceano no nível de voo 340. Temos ainda cerca de uma hora de viagem antes de chegarmos ao destino. Tudo parece tranquilo, até que um inesperado estampido interrompe a normalidade da operação e o Airbus dá uma pequena guinada à esquerda. No mesmo instante, o ECAM (Electronic Centralized Aircraft Monitoring) mostra a mensagem “ENG1 FAIL”, confirmado pela indicação do eixo N2 (do motor) em zero. Inicio uma descida progressiva (driftdown) enquanto o F/O (copiloto) segue as instruções do checklist eletrônico de falha de motor. Perfazemos uma lenta descida para o teto de serviço monomotor, algo em torno de 20 mil pés com o nosso peso. O ATC (controle de tráfego aéreo) nos informa que o alternado mais próximo, a pouco mais de 100 milhas náuticas, acaba de ficar abaixo dos mínimos. Teremos de prosseguir até o destino.

Durante a lenta descida, percebo que a “altitude da cabine” está subindo continuamente, apesar de a válvula de fluxo de saída (outflow valve) estar totalmente fechada. Isso significa que o motor, ao falhar, soltou pedaços que perfuraram a fuselagem, causando uma lenta despressurização. Começo uma descida de emergência para o nível de voo 100 (FL100). Temos de refazer os cálculos de autonomia, contemplando agora uma situação ainda mais desfavorável. Voando monomotor no FL100, o alcance é reduzido em mais de 33% e agora o combustível começa a ficar crítico, mas ainda suficiente. Para piorar uma situação que já é grave, notamos que não foi apenas a fuselagem a ser atingida por fragmentos do motor. O tanque de combustível da asa esquerda também aparenta estar vazando. Estou calculando se o combustível remanescente será suficiente para chegar ao nosso destino enquanto o F/O lê o manual QRH (Quick Reference Handbook) de Fuel Leak. Neste momento, somos interrompidos pela minha esposa: “Rapazes, a pizza acabou de chegar! Deem um pause aí e vamos comer antes que ela esfrie”.

Entre uma garfada e outra, discuto com meu F/O as características da nova versão do mais famoso simulador de voo para computadores domésticos, o Microsoft Flight Simulator 2020. Digo que é muito realista, a ponto de reproduzir no seu computador pessoal operações de acordo com o SOP (), falhas complexas com

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