Équase comovente a arte que o povo descortina para colocar alimento na mesa. Quantos exemplos dessa criatividade nata se multiplicam pelo território nacional. Do sável fumado - pescado e confecionado nos barcos rabelos, pelos tanoeiros - às caldeiradas, feitas nas fragatas, do lume de chão à salga e ao fumo: tanta poesia quanto a imaginação permite nestas práticas e expressões populares.
Neste caso, batatas. Sim, batatas cozinhadas na praia, na areia quente. A simplicidade é imbatível e uma das razões do sucesso desta equação: areia condutora, versátil e homogénea, abraçada pelo sal marítimo que nela se entranha. O resultado é uma sapidez única dos tubérculos.
A pesca de arrasto com barcos saveiros, tipo meia-lua, bem como o sal das marinhas, a apanha de enguias e algas na Ria, a agricultura e o moliço que a bafeja, são formas diversas das populações locais da beira litoral engendrarem meios de subsistência a partir do que o território oferece para criar alimento. E, em paralelo, criam cultura e singularidade.
Na hora da sobrevivência, a imaginação escreve por linhas inspiradoras, numa espécie de tessitura com muitos fios manufaturados pela criatividade. A necessidade atiça a imaginação e traduz-se em poemas como as caldeiradas, o pitau de raia, os berbigões abertos na caruma, as caras e sames de bacalhau ou, claro, as sardinhas na telha com batatas assadas na areia.
Neste caso, a tradição nasce em Gândara e