{ Painel Revista de Vinhos/Gula no sul de Bordéus, a provar os colheita tardia 2019 }
Os colheita tardia do sul de Bordéus são vinhos de lugar. Por muito que seja replicada a técnica, a geografia ímpar das colinas de Sauternes e Barsac, por entre a humidade dos rios Garrone e Ciron e o calor da floresta de Landes de Gascogne, vale ouro. Mas, salvo uma exceção, este ouro líquido não é ainda pago a peso de ouro. Pelo contrário, os recém-chegados ao mercado 2019 estão a valores bem moderados para a poesia que traduzem. Sinal dos tempos que vivemos ou será que este nosso mundo já não sabe poetizar?
Um dos maiores dilemas com que se debatem os produtores de Sauternes e Barsac passa por perceber de que forma poderão valorizar os vinhos doces que elaboram. A questão não é de agora. Basta recorrer às páginas do célebre “The World Atlas of Wine”, das lendas Jancis Robinson e Hugh Johnson, para sublinhar o lamento: “Lamentavelmente, os vinhos de Sauternes são subestimados mas incomparáveis, são uma especialidade que encontra escassos rivais. Potencialmente um dos vinhos mais longevos, depende de condições localizadas específicas, de um fungo e de uma técnica enológica incomuns”, escrevem.
Se excetuarmos desta equação o ícone Yquem, pela raridade e qualidade que possuem os vinhos doces destas “appellations” de Bordéus são genericamente vendidos a baixo preço. Claro que falamos de garrafas habitualmente de 37,5cl, mas por comparação com os