PANORAMA DOS ACIDENTES
Dados do 1° trimestre de cada ano da última década da aviação geral brasileira
Fonte: Painel SIPAER
A segurança operacional da aviação geral brasileira requer atenção. Felizmente, ainda não é o caso de levantarmos a bandeira vermelha, mas o alerta está no ar e vale não somente para autoridades, mas, também, e principalmente, para sua imensa comunidade aeronáutica, que conta com a maior parte tanto de aeronaves como de pilotos do país. Os números da Agência Nacional de Aviação Civil mostram que reunimos cerca de 95% da frota de aeronaves ativas (segundo números de março de 2023 do Registro Aeronáutico Brasileiro) e concentramos quase 80% dos pilotos com pelo menos uma habilitação válida (de acordo com consulta de maio de 2023 da Superintendência de Pessoal da Aviação Civil).
A preocupação em torno de acidentes e incidentes com aeronaves de pequeno porte vem de uma investigação realizada pelo Grupo Brasileiro de Segurança Operacional da Aviação Geral (BGAST, na sigla em inglês). Diante de dados divulgados pela grande imprensa no primeiro trimestre de 2023, que noticiou um suposto aumento na quantidade de acidentes aeronáuticos ocorridos com aeronaves da aviação geral no país, como atual presidente do BGAST, reuni especialistas de diferentes áreas para, inicialmente, investigar se as informações publicadas realmente refletiriam a realidade – e, em caso positivo, aprofundar estudos sobre o tema e propor ações mitigatórias. É muito comum que a imprensa não especializada em aviação utilize dados públicos relativos a acidentes aeronáuticos para chegar a conclusões nem sempre corretas sobre a segurança operacional do setor.
NÚMEROS BRUTOS
A principal manchete sobre segurança de voo que checamos foi a matéria da CNN publicada em 23 de março pelo repórter Vital Neto: “Primeiro trimestre de 2023 tem maior número de acidentes aéreos para o período nos últimos cinco anos”. A fonte utilizada pelo repórter foi Sistema de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Painel Sipaer), uma ferramenta disponibilizada pelo Centro Nacional de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa), de inquestionável confiabilidade. Porém, os dados foram extraídos antes do fechamento do trimestre e, quando fomos checar a informação em abril, verificamos que a realidade se mostrava ainda mais sombria.
Pelas estatísticas, conforme de de acidentes no primeiro mostra a figura 1, a quantida-trimestre não foi a maior dos últimos cinco anos, mas, sim, a maior dos últimos dez anos, toda a série histórica do painel. De fato, havia o que estudar: o que está acontecendo com a aviação geral brasileira que justifique todo esse incremento nas estatísticas de acidentes? E, principalmente, o que pode ser feito para melhorar nossos números?
Os 61 acidentes ocorridos no primeiro trimestre