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Vivências Aeronáuticas
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E-book117 páginas1 hora

Vivências Aeronáuticas

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Sobre este e-book

Em forma de pequenas crônicas, muitas delas escritas de modo bem humorado, o autor relata na primeira parte os episódios ligados a sua carreira como engenheiro aeronáutico, e ao desenvolvimento das industrias aeronáuticas brasileiras, Neiva e Embraer, iniciando com episódios de sua infancia e tempo de estudante no ITA, passando por seus estágios no exterior, até a sua mudança para o INPE em 1986. Na segunda parte, relata as peripécias decorrentes das ocasiões em que precisou aterrizar fora de pistas de pouso, pilotando planadores nas competições de voo a vela que participou durante 40 anos.
IdiomaPortuguês
Data de lançamento29 de nov. de 2010
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    Vivências Aeronáuticas - Francisco Leme Galvão

    VIVÊNCIAS AERONÁUTICAS

    (que o Roberto Pereira não contou em seu livro História da Construção Aeronáutica no Brasil)

    Como tudo começou

    Dois pares de olhos curiosos espreitam por uma estreita fresta da porta de um hangar, tentando melhor decifrar o que dá para ver na penumbra interna: Apenas uma coisa grande e de cor amarela.

    Esta foi a minha primeira impressão com relação aos aviões, quando com apenas quatro anos, fui levado no quadro de uma bicicleta por um de meus irmãos mais velhos para conhecer o campo de aviação em Pindamonhangaba.

    Nossa decepção, no entanto, foi muito grande ao encontrarmos os hangares fechados. Meu irmão garantia que aquilo que víamos era a mesma coisa que a gente via passar voando e roncando sobre nossa casa na cidade.

    Quando estourou a 2a Guerra Mundial, morávamos em Botucatu, e a grande moda entre a criançada de minha idade passou a ser colecionar as figurinhas de aviões que vinham com os tabletes do chocolate Asas da vitória.

    Até hoje tenho a tendência de pronunciar erroneamente os nomes dos aviões da época, chamando-os da maneira que nós então sem conhecer

    o inglês os chamávamos: Espitefire (Spitfire), Eldivér

    (Helldiver), etc.

    Nas matinês dos domingos, os filmes de guerra com batalhas aéreas como A cruz de Lorena, 30 minutos sobre Tóquio, etc. se revezavam com os faroestes de mocinho e mocinha.

    Meu cunhado que havia servido no exército costumava comprar a Seleções do Rider’s Digest e eu adorava ler os artigos que nela apareciam sobre aviação.

    Até hoje conservo comigo um exemplar que traz em sua seção de livros resumidos o artigo Rainhas até na morte, que descreve as operações das fortalezas voadoras B-17 no teatro de guerra do Pacífico.

    No quintal de minha casa havia uma mangueira na qual eu e meus amigos costumávamos subir até os galhos mais altos onde nos assentávamos com a cabeça fora da folhagem. Lá de cima pilotávamos nossos aviões de mentira em missões de bombardeio atirando mangas para baixo. Quando éramos atingidos por fogo antiaéreo, descíamos de paraquedas escorregando por uma corda até o solo de onde saíamos metralhando japoneses e alemães.

    A carpintaria da Escola Profissional em que meu pai era diretor recebeu do Min. da Aeronáutica, a encomenda de fabricar centenas de maquetes de aviões dos mais diferentes tipos. Estas eram para ser usadas para ensinar os pilotos da FAB a identificar os aviões amigos e inimigos à distância, e tinham que ser em perfeita escala, acho que um para vinte, e totalmente pintadas de preto.

    A Escola também recebeu do governo americano muitas caixas de aeromodelos e manuais traduzidos para o português, para fomentar a formação de clubes de aeromodelismo. Eu e meu colega de curso primário o Joaquim Pinhão, que posteriormente eu iria reencontrar no ITA e na NEIVA, fundamos um Clube e me lembro de que nosso primeiro modelo voava mal porque teve sua hélice empenada após um solene batismo com Guaraná!

    O fim da guerra, que eu ouvi ser anunciado pelo Repórter ESS0 no rádio do salão em que eu estava cortando o cabelo, também trouxe um período de longa interrupção em minhas atividades aeronáuticas.

    Que avião, que nada!

    Com a aposentadoria de meu pai nos mudamos para Guaratinguetá, onde passei a jogar basquetebol, remar e nadar no rio Paraíba, dançar, namorar e às vezes...estudar.

    De aviação mesmo quase nada!

    Um dia, eu remava no rio Paraíba para ir apanhar melancias numa plantação da margem rio acima, quando um zumbido forte e diferente de tudo que já ouvira até então, me fez ficar de pé me equilibrando sobre a catraia. O barulho foi aumentando mais e mais, e subitamente com um som ensurdecedor, surge da margem e passa sobre mim em voo rasante e velocíssimo um avião, fazendo-me cair de costas na água.  Foi o meu primeiro encontro com um avião a jato; um dos barulhentos caças Gloster Meteor da FAB.

    No final do curso científico, como era na época chamado os três últimos anos do atual ensino médio, eu fiquei sabendo que, na vizinha cidade de S. José dos Campos, havia uma ótima escola de engenharia. Graças ao amigo Carlos Celso Amaral que lá cursava o primeiro ano, fui visitar a escola em um fim de semana com direito a baile e pouso no alojamento dos alunos.

    Lógico que adorei!

    Passei a rachar, estudando nos fins de semana com as apostilas de meus colegas, que tinham ido para São Paulo, para lá cursar o terceiro ano e o cursinho ANGLO LATINO. No fim do ano, sem grande convicção, e talvez por isso mesmo com muita calma, fui prestar o vestibular com o pé esquerdo enfiado num chinelo, devido a um belo furúnculo!

    Se não passasse, teria que ir para S. Paulo enfrentar um ano trabalhando e estudando a noite no cursinho. Resolvi então me preparar, descansando uns dias na fazenda de meu tio em Cruzeiro. E foi lá, deitado debaixo de um bambual, pensando na vida e observando a evolução dos urubus, que recebi aquela notícia fabulosa: eu entrara no ITA, o Instituto Tecnológico de Aeronáutica!

    Mas nos primeiros anos eram só equações e mais equações de problemas teóricos e exercícios infindos de tudo que forma a base do ensino de engenharia; mas de avião mesmo...Nada!

    Quase não sobrava tempo para o aeromodelismo, mas cheguei a desenhar e construir um planador da classe Nordic A2, mas a lá 14-bis, com a empenagem horizontal dianteira, ou tipo canard (pato).

    Eu e meu colega Ivan Costa Pereira, que era um aeromodelista de mão cheia, nos inscrevemos para o campeonato brasileiro de 56, disputado no Rio de Janeiro. Só na pesagem no campo dos Afonsos é que descobri que meu modelo estava abaixo do peso da classe, e para competir precisava receber 75 g adicionais de lastro.

    aeromodeloII

    Um modelo de planador Nordic A2

    O lastro adicionado às pressas e meu nervosismo de estreante frente ao público todo que ocorrera para assistir o voo daquele planador que voava de traz para frente, não podiam resultar em outra coisa: Crash com perda total já no primeiro reboque!

    Para curar a frustração fomos à noite bandolar em Copacabana e vimos em um ponto de ônibus uma dupla feminina, da qual a loira, segundo concluiu o Ivan, era a mais linda do Rio

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