Uma rápida pesquisa na classificação do produto vinho no portal do Instituto Nacional da Propriedade Intelectual elenca nada menos que 184 marcas registadas, estejam válidas, caducadas ou recusadas, que fazem referência a Pias. Entre estas estão pérolas como Bebe Pias, Amantes de Pias, Até Pias, Caminho de Pias, Cornos de Pias, Gentes de Pias, Já Pias e o seu inverso Não Pias, e muitas outras que o leitor poderá deliciar-se a descobrir.
Isto acontece porque Pias, no concelho de Serpa, sub-região de Moura, não goza de qualquer proteção de nome ou marca. Ou seja, qualquer um pode registar o que entender com o nome Pias. A Comissão Vitivinícola Regional Alentejana (CVRA) não poderá manifestar qualquer oposição, a não ser que o vinho se identifique como oriundo do Alentejo (seja Regional Alentejano ou sub-região Moura) mas, na realidade, não o seja. Nem o IVV, que pode cobrar os respetivos selos relativos a qualquer vinho que não ostente denominação de origem protegida nacional, mesmo que o dito vinho não o seja (Vinho da UE, na maioria de origem espanhola, por exemplo) – e que reclame Pias no seu nome. Trata-se, na prática, da canibalização inconcebível, sobretudo por parte da moderna distribuição, do nome de uma localidade com enorme fama (nos vinhos e não só, sendo obviamente por isso canibalizado), cuja origem remonta aos anos 70, a José Veiga Margaça, à Sociedade Agrícola de Pias e aos vinhos Encostas do Enxoé. Mas vamos por partes.
José Veiga Margaça era natural de Torres Vedras. Aos 24 anos, depois de tirar a carta de tanoaria, esteve oito anos a exercer a profissão. Mais tarde, prestou provas como adegueiro na Adega Cooperativa de Dois Portos. É posteriormente chamado para Ferreira do Alentejo, onde viria a