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Lupus: A Origem
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Lupus: A Origem
E-book433 páginas6 horas

Lupus: A Origem

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Sobre este e-book

Jason terá de enfrentar seus maiores temores para proteger aqueles que mais importam para ele. O amor de sua vida está em jogo nesta trama cheia de suspense, aventura, tragédia e romance. Com seu mentor e pai, agora morto, Jason está sozinho para enfrentar o maior desafio que se impõe em seu caminho. Sua melhor amiga e companheira o deixa no momento em que ele mais precisa dela. Jason está completamente só.
Ele agora se dirige para enfrentar Simon, aquele que lhe causou tanta tragédia, que lhe infligiu tanto sofrimento e que o transformou naquilo que ele mais temia. Será Jason capaz de recuperar tudo o que lhe foi tirado?

IdiomaPortuguês
Data de lançamento14 de abr. de 2010
ISBN9788578934934
Lupus: A Origem

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Lupus - Cesar Parzianello

Os gregos são um povo muito antigo, misterioso. Meu pai sempre foi muito curioso sobre suas lendas, tradições e mitos. Como ele, muitos outros tem feito várias pesquisas, escavações e expedições, em busca de qualquer coisa que possa servir para comprovar as suas crenças.

Muitos os julgam loucos, não acreditam que coisas como magia, possam realmente existir.

Eu nunca fui um deles.

Desde muito pequeno, acostumei-me com os devaneios de meu pai. Ele sempre foi muito curioso e também muito crente, com relação a essas coisas. Em especial, com relação a um mito em particular: os Lobisomens.

Sei que pode parecer meio estranho, afinal, em pleno século XXI, com toda a nossa tecnologia, todo o nosso conhecimento, falar em algo como lobisomens pode soar como uma piada. Mas meu pai nunca viu isso dessa forma.

Desde muito cedo, assim que ele teve conhecimento sobre tais lendas e histórias fantásticas, ficou obcecado por esta crença. Ele acredita que nossos antepassados, em algum lugar da história, foram infectados com esse gene; e como esse vírus é, segundo meu pai, transmitido através das gerações, consequentemente nós também devemos possuí-lo.

Não estou dizendo que realmente acredito que EU, Jason Brown, possa mesmo ter um gene de lobo correndo por minhas veias. Como poderia isso ser possível, afinal? Eu deveria ao menos ser diferente. Quero dizer, tenho dezoito anos e sou mais magro do que um esqueleto. Não se espera que um lobisomem tenha esse tipo de físico, não é mesmo? E também, se isso fosse verdade, eu deveria me transformar com a lua cheia – ou isso é apenas mais uma lenda?

Mas se for apenas uma lenda, então o que faz com que a pessoa se transforme em um lobo? – E, afinal, há alguma chance de uma pessoa se transformar em lobo?

Acredito em meu pai – ao menos até certo ponto. Essas lendas podem realmente ser verdadeiras, mas não em nossa família, não em MIM.

Admito que meu pai, ou Jeremy – como o chamo às vezes – tenha algumas ideias um pouco estranhas, mas ele tem lá os seus pontos.

Jeremy nunca se deixou influenciar pelas opiniões dos outros, ou como ele costuma chamá-los, céticos e descrentes. Acho que isso foi algo que herdei dele; quando coloco algo na cabeça, não há quem me faça mudar de idéia.

Ele não é alguém com quem se tenha problema para conviver – vive viajando. E quando está em casa, passa quase que o dia todo em suas pesquisas, traduções, e outras coisas que ele considera mais importantes que um trabalho comum.

Mas qual é o problema de se ter um trabalho normal, agir como uma pessoa normal? Isso também deve ser levado em consideração; a vida deve ter um pouco de normalidade, de rotina.

Como minha mãe morreu ao me dar a luz, não tenho muita companhia, mas ao menos Jeremy me considera responsável o suficiente para não incendiar a casa – ou coisa pior.

Não tenho realmente do que reclamar, a não ser talvez, de não ter muito tempo com Jeremy – o que não chega a incomodar, pois ele nunca ficou muito comigo, então é algo que consigo suportar facilmente.

As pessoas aqui em Lykens, Pensilvânia – não, não é Transilvânia, é Pensilvânia, com P – são realmente acolhedoras. A cidade não é muito grande – o que para mim é algo bom, pois odeio multidões e barulho – mas há muito que se fazer por aqui, ao menos, para quem sabe o que fazer, como Jeremy.

Minha vida não é nem de longe tão movimentada como a dele; tenho uma rotina bem normal – apesar de ser seu filho.

A escola não é assim tão ruim – não que eu tenha alguma referência de outra, para poder comparar. Os professores são muito bons e – a maioria deles – gentis. Mas, como em todo lugar, nem tudo são flores. O Sr. Halkins não me deixa em paz. Ele foi professor de Jeremy, quando ele ainda estudava aqui e, por isso, sente que deve fazer comigo o que não conseguiu fazer com ele.

O Sr. Halkins é certamente a pessoa que mais lamenta pela afixação de Jeremy com as coisas sobrenaturais. Ele sempre fez todo o possível para que Jeremy voltasse à razão – não que Jeremy tenha alguma vez estado na razão para poder voltar – mas, não conseguindo, ele decidiu que o grande desafio de sua vida era me transformar no exato oposto de meu pai.

Não sou muito grato a Jeremy por isso; especialmente depois de ter deixado escapar hoje na aula do Sr. Halkins – biologia, uma das matérias de que menos gosto, pergunto-me o porquê – que ele estava chegando perto de uma prova definitiva de suas crenças, o que estava me deixando quase tão empolgado quanto o próprio Jeremy.

– O que o senhor estava dizendo Sr. Brown? – ele me perguntou, como se não tivesse entendido direito o que eu acabara de falar – Talvez o senhor gostasse de dividir suas opiniões com a classe?

– Não! – Falei surpreso, eu não pretendia que todos me achassem ainda mais louco do que já achavam. – Desculpe Sr. Halkins, eu não estava falando nada. Só estava perguntando a Ellen qual a diferença entre XX e XY.

– Vejo que o Sr, não estava prestando muita atenção à aula, não é mesmo senhor Brown? Sinto muito, mas o senhor terá de ficar depois da aula.

Que surpresa! Ultimamente ele procurava qualquer desculpa, por menor que fosse, para poder me prender com ele após a aula e reforçar sua tese sobre a indiscutível insanidade de Jeremy. Isso já estava começando a ficar chato, mas não havia como fugir daquilo, ao menos não enquanto eu não terminasse a escola – ou enquanto o Sr. Halkins ensinasse lá; sempre tive a esperança secreta de que os benefícios de uma aposentadoria um dia lhe fizessem a cabeça e o tirassem de uma vez por todas do meu pé.

– Ele gosta mesmo de manter você aqui, não é? – Disse-me Ellen, já no intervalo.

– Você não faz ideia.

Ellen tem sido minha amiga desde que usávamos fraldas. É uma pessoa com quem vale mesmo à pena se ter contato. Ela não fala demais e nem faz com que você fale demais, e como muito contato e conversa nunca foram meu forte – tente viver a vida toda com Jeremy – ela era a definição perfeita de amigo.

A mãe e o pai dela são divorciados; o pai mora na Califórnia e nunca tem muito tempo – ou vontade – de visitá-la. Já a sua mãe, Catherine, é uma pessoa muito agradável. Ellen e eu sempre fomos muito parecidos em alguns aspectos, como nossos pais – não que a mãe dela também acredite em lobisomens como Jeremy – isto é, a ausência deles, pois como Catherine é a gerente de uma grande empresa, ela vive viajando, exatamente como meu pai.

Assim que a aula terminou, lá fui eu para a detenção com o Sr. Halkins. Hoje ele parecia ainda mais furioso por eu não achar que Jeremy era um louco de pedra que deveria ser trancafiado em um sanatório.

– Jason, tente ser racional, não há como um homem se transformar em animal, isso é impossível! – Disse-me ele, desesperado para me fazer acreditar em suas palavras.

– Por favor, Sr. Halkins, não vamos começar com isso de novo. O senhor tem o seu modo de ver as coisas, e eu tenho o meu. – Respondi, como se explicasse que dois mais dois são quatro.

– O de seu pai, melhor dizendo. Sempre falei a Jeremy que isso não passavam de histórias de terror, inventadas para distrair as pessoas, mas ele nunca me deu ouvidos, nunca! Por mais que tentasse colocar algum juízo em sua cabeça, mais ele parecia acreditar que as lendas eram verdadeiras. Isso me deixava muito triste. – Ele parecia estar muito desapontado mesmo, mas eu não iria ceder, não poderia. Por Jeremy – por mim! Afinal, eu também esperava que o que o Sr. Halkins dizia ser impossível, pudesse, de alguma forma, ser real.

– Desculpe Sr Halkins, mas esta é minha palavra final, acredito mesmo em meu pai – eu não podia chamá-lo de Jeremy na frente dele – e não acho que ele seja louco. Muitas das histórias que o senhor diz serem impossíveis possuem evidências bastante concretas – e quero mesmo que elas sejam verdadeiras, acrescentei mentalmente.

– Está bem. Mas, por favor, prometa-me que você não irá se tornar uma cópia de seu pai. Eu não suportaria ver a história se repetir. – E vendo o seu rosto, achei que ele poderia estar falando sério, pois a sua expressão era a de quem tinha perdido um filho. Isso me fez pensar um pouco no porquê de ele se importar tanto com o que meu pai e eu pensávamos.

A volta para casa foi normal, assim como todos os dias. Ellen e eu voltamos para casa juntos, pois morávamos bem perto um do outro, éramos quase vizinhos. Quando cheguei em casa, Jeremy não estava – como de costume. Isso de certa forma era uma coisa boa, pois me dava muito tempo para fazer o dever de casa, pôr os trabalhos em dia, e depois assistir TV – um de meus passatempos preferidos. Assim que terminei tudo, fui para o sofá, peguei o controle remoto e passei a zapear pelos canais, em busca de algo a que valesse a pena assistir.

Depois de alguns minutos, ou talvez algumas horas – não tenho certeza, pois acabei cochilando, enquanto assistia a um documentário sobre animais – Ellen bateu à porta. Tive certeza de que era ela, pois era a única pessoa, além de Jeremy, que costumava vir aqui em casa em uma hora como esta.

Assim que abri a porta, minha expressão foi de choque. Quem estava parado na entrada de minha casa, era ninguém menos do que o Sr. Halkins. Ele deve ter percebido minha surpresa, pois pareceu meio sem jeito antes de falar.

– Desculpe-me Jason, mas eu gostaria de trocar algumas palavras com o seu pai. – É claro que gostaria, pensei. Já que não conseguiu me convencer da insanidade de meu pai, veio pedir a ele que não me levasse pelo mesmo caminho.

– Ele não está. Ainda não voltou para casa, mas deverá chegar em breve. – Não sei como consegui manter minha voz composta. A esta altura, a raiva já havia me tomado. Afinal, como poderia ele se meter desta forma em minha vida e na de Jeremy!? No que acreditávamos ou deixávamos de acreditar, era problema nosso, não dele.

– Gostaria de esperar, se não for incômodo. Preciso mesmo falar com ele.

– Sem problemas. – Falei entre dentes. – Ele deve chegar logo.

– Obrigado. – Disse ele, já entrando.

Quando ele se sentou no velho sofá da sala, pensei ter visto uma expressão de repulsa em seu rosto, apenas por um segundo, pois quando pisquei sua expressão já estava completamente recomposta, até meio fria, pelo que pude notar.

No início, o silêncio foi de irritar. Ele não falava nada, mas eu não queria ser o primeiro a achar sobre o que conversar. E também, sobre o que se conversa com um professor de 60 anos – ou algo em torno disso, nunca realmente pensei no assunto – que acha que seu pai é maluco e tenta provar isso a você, implorando para que você não se torne parecido com ele, que não acredite nas mesmas insanidades que ele acredita? Sobre as músicas de agora? Não. Provavelmente ele não as conheceria.

Enquanto pensava com toda a força para encontrar algo que pudéssemos ter em comum, sem nenhum sucesso, ele finalmente falou:

– Muito interessantes as tartarugas, não acha?

Ãhn? – Pensei comigo. Esperei que ele dissesse alguma coisa que deixasse transparecer o que veio fazer em minha casa e ele fala sobre o documentário da TV!?

Francamente! Eu estava esperando alguma coisa que valesse a pena.

– Sim, muito interessantes mesmo. – Disse-lhe sem vontade nenhuma.

Como ele não tornou a falar e eu não tinha ideia do que falar com ele, resolvi esperar que Jeremy chegasse, rezando para que ele não demorasse muito mais.

Por volta das seis e meia da tarde, algo em torno de quarenta minutos depois da chegada do senhor Halkins, Jeremy voltou para casa.

Eu não poderia ter ficado mais grato por sua chegada; o silêncio entre nós dois naquela pequena sala com pouca luz, e a TV ligada, estava começando a me deixar inquieto.

Não me saía da cabeça o que aquele professor teria de tão importante para falar com Jeremy e que não poderia esperar por outra oportunidade.

– Cheguei Jason – disse Jeremy ao entrar em casa – o que temos para comer? Estou realmente faminto. – Quando ele estava pronto para marchar até a cozinha e assaltar a geladeira, notou o senhor Halkins sentado no sofá e parou de chofre; surpreso com sua presença, pensei.

– Boa tarde Jeremy, ou boa noite, acho. – Disse ele.

– Ah, Senhor Halkins! Há quanto tempo! – Exclamou Jeremy, sem muito sucesso em esconder o seu pesar. – A que devo a honra? – Disse enquanto apertava a mão do senhor Halkins, que havia se posto do pé à menção de seu nome.

– Eu gostaria de falar um pouco com você.

– Pois não, sinta-se à vontade – disse Jeremy apontando o sofá.

– Eu gostaria de falar com você a sós, se não se incomoda. – Disse ele, olhando de soslaio para mim.

– Por mim tudo bem. – Jeremy respondeu sem jeito. – Jason, nos dê licença por um minuto, por favor.

Quase bufando por ser posto de lado em uma conversa que claramente tinha a mim como tema principal, fui para o meu quarto e fechei a porta.

Extravasei a inquietação, andando de um lado para outro, perguntando-me se eles perceberiam que eu sabia, ou tinha uma ideia, do que eles estavam falando.

O tempo parecia não passar. Os ponteiros do relógio aparentavam ter congelado em suas voltas intermináveis e cada vez mais lentas. Conforme os minutos se passavam, meu passo se acelerava, desejando que meu pai viesse logo me ver para que eu pudesse perguntar de uma vez a ele o que o Sr. Halkins queria, mas também, querendo que o barulho de meus passos inquietos acima de suas cabeças os fizesse ir mais rápido com aquilo.

Enquanto esperava, tentei me concentrar nas teorias de Jeremy – que não eram poucas.

Tentei pensar em algo que pudesse confirmar as suspeitas dele de que a nossa família pudesse ter sido infectada pelo gene dos lobisomens antigamente.

Mas afinal, de onde ele havia tirado aquilo? Que evidências ele poderia ter? E como poderia ter chegado a essas colusões?

Com essas perguntas em mente, e um computador nas mãos, tentei esclarecer algumas coisas.

Liguei o novo computador que Jeremy havia me dado de aniversário – culpado por me deixar tanto tempo sozinho e, também, para facilitar e baratear a nossa comunicação enquanto ele viajava – e abri o meu navegador, na esperança de achar algo de útil nas milhares de páginas que se abriram ao digitar lobisomens na parte de busca.

Muitas coisas me chamaram a atenção conforme lia. O que eu estava procurando a princípio, eram as formas de contaminação, ou as formas pelas quais alguém se transformava em um lobisomem.

A primeira coisa que vi foi a história – que Jeremy já havia me contado – de que um homem chamado Licaão servira carne humana a Zeus, e como punição, fora transformado em um lobo. Isso explicaria o surgimento da raça dos lobisomens, mas não esclarecia como esse gene teria sido passado à minha família. Coloquei-a de lado.

Outras ainda falavam de um sétimo filho de mesmo sexo, que seria transformado na besta – essa definitivamente não se aplicava ao meu caso, e até aonde eu sabia, nem à minha família.

Depois de algum tempo, achei uma coisa que poderia fazer a ligação com a primeira teoria, pois dizia que quando um lobisomem morde outra pessoa, esta também acaba se transformando.

Bom, isso até fazia algum sentido. Afinal, minha família poderia ter sido contaminada desta forma.

As lendas ainda falavam que as matilhas de lobisomem possuíam um Alfa, isto é, um líder, que protegia os demais lobos, e também os comandava. Mas isso não era o que eu estava buscando, então, deixei de lado.

Minha pesquisa parecia não estar mais fazendo qualquer sentido depois disso, então, resolvi pensar por mim mesmo.

Mas por que agora isso era tão importante para mim? As hipóteses de Jeremy nunca tinham sido nada muito palpável, eram apenas isso: hipóteses.

Isso não estava me fazendo sentir muito bem. O que estaria acontecendo comigo? Teria toda aquela conversa com o Sr. Halkins mexido comigo ao ponto de me fazer tomar o partido de Jeremy?

Algum tempo depois, quando já estava pensando em pular pela janela e tentar ouvir o que eles estavam conversando pela porta da frente, ouvi-a se abrir e pude ver pela janela quando o Sr. Halkins saía.

Como esperei, assim que ele se foi e a porta se fechou, pude ouvir os rápidos passos de Jeremy subindo a escada e vindo em direção ao meu quarto.

Havia muitas perguntas para fazer a Jeremy, eu devia ter enlouquecido mesmo. Estava levando essas lendas tão a sério! Isso não devia estar acontecendo; nunca acontecera antes.

Acho que toda aquela insistência do senhor Halkins tinha surtido o efeito contrário àquele que ele pretendia. Aquela conversa toda despertou algo dentro de mim que tinha sede de saber o que é que estava acontecendo; o que havia acontecido em minha família.

– O que foi aquilo? – Perguntei assim que ele passou pela porta.

– Ao que parece, não sou uma influência tão boa para meu filho. – Disse-me ele desanimado. – Peter veio aqui para me dizer isso.

Peter!? – Pensei. Eles eram tão íntimos assim? Ou haviam ficado somente agora?

Isso me abalou um pouco, sem falar que me deixou muito mais nervoso do que já estava.

– Mas, afinal, quem ele pensa que é para vir aqui e falar uma coisa dessas! Isso não é normal. Ele vive me enchendo na escola, falando que você é doido e que não devo acreditar em você, mas vir aqui em casa e falar isso, parece-me exagero! – Finalmente a raiva, antes disfarçada de nervosismo, estava aflorando livremente.

– Calma Jaz! – Ele disse rindo; mas aquele não era um riso de alegria. Na verdade, eu nunca havia visto aquela expressão no rosto de Jeremy antes. E não foi uma coisa que tenha me agradado muito. Aquele parecia o tipo de sorriso doentio que se via no rosto de um assassino frio. – Ele tem um bom motivo para estar preocupado. – Disse-me ele por fim.

Fiquei absolutamente imóvel ao ouvir isso. O choque se materializou em meu rosto, pude ver pelo reflexo nos olhos dele. Jeremy finalmente revelaria porque não ficava muito tempo comigo? Por que evitava me levar em suas expedições? Por que evitava me envolver em seu trabalho?

Ao ver minha expressão e deduzir o que se passava por minha cabeça, Jeremy tentou me acalmar. Ele me disse para esperar, pois precisava de algum tempo para organizar suas ideias, para que pudesse me explicar. Eu devia isso a ele, então fiquei em silêncio e esperei.

A resposta veio logo em seguida.

Revelações

Jeremy estava tenso, concentrado; provavelmente procurando as palavras certas para me contar o que ele tinha em sua mente nesse exato momento.

Ele andava de um lado para outro, a velocidade cada vez maior. Pude sentir a pulsação de seu coração aumentando cada vez mais a cada passo; isso estava me deixando ainda mais nervoso. O que teria ele a dizer que exigia tal nível de concentração? Que coisa horrível teria acontecido, para que ele precisasse escolher com tanta cautela cada palavra que fosse usar em seu discurso, para que eu pudesse entender da maneira correta?

Após alguns passos nervosos, Jeremy virou-se para mim, olhando-me nos olhos:

– Ouça Jason, o que tenho para dizer não é algo muito fácil para mim – ah! Quase nem percebi o seu nervosismo, pensei – aconteceu há muitos anos, mas mesmo assim, ainda não superei totalmente.

– Está tudo bem, pai. Leve o tempo que precisar – mas, por favor, não muito, pensei desesperado.

– Como eu disse, foi há muito tempo; antes mesmo de eu ter conhecido sua mãe, entenda.

– Eu ainda era bem jovem, mas como agora, muito crente de que minhas suspeitas fossem verdadeiras. Estudei na mesma escola que você, e acredite ou não, o senhor Halkins era um de meus professores favoritos.

– Difícil mesmo de acreditar. – Falei com a voz carregada de ironia. E, ao perceber a sua expressão, acrescentei rapidamente – Desculpe, não tornarei a interromper.

– Tudo bem. – Disse ele. Mas percebi que não seria uma boa ideia tornar a interrompê-lo. – Como eu ia dizendo, o senhor Halkins sempre foi um de meus professores favoritos, mas não por sua matéria, veja bem, ou por sua insistência em tentar me desacreditar, mas por Claire, sua filha. – Sim, agora está explicado, pensei comigo mesmo.

– Claire e eu éramos como você e Ellen, muito amigos. Crescemos juntos, você sabe como é. Mas, para o nosso azar – ou para o dela, mais precisamente – ela simpatizava com as minhas loucas teorias sobrenaturais. Você conhece o senhor Halkins, mais cético que ele, é quase impossível, portanto ele fazia tudo o que estava em seu alcance – e o que não estava – para fazer com que Claire me pusesse de lado. – Nesse ponto da história, minha concentração era tamanha, que nem me incomodava mais em piscar tão frequentemente.

– Claire e o pai, por essa razão – creio eu – não se davam muito bem. O senhor Halkins não se contentava apenas em fazer com que eu parecesse um tolo, mas que todos que pudessem ter o mínimo de loucura possível para acreditar em mim, fossem igualmente rotulados. E isso incluía a sua própria filha, Claire. Você consegue ver o rumo que isso está tomando, não é?

Pensei um pouco, tentando botar minhas ideias em ordem. Pensei que sim, então acenei afirmativamente com a cabeça, para não interrompê-lo novamente.

– Então agora você já deve ter deduzido o que aconteceu depois, não? – Perguntou-me ele com esperança.

– Acho que Claire deve ter preferido o senhor ao senhor Halkins. – Saiu mais como uma pergunta do que uma resposta propriamente dita.

– Sim, ela preferiu a mim. – Agora sua cabeça estava baixa, ele estava evitando meus olhos. A dor estava estampada no seu rosto, como se marcada ali em brasa.

Não soube o que fazer. Falar algo que o consolasse? Mas isso não parecia nada terrível para mim. Claire apenas não gostava muito de seu pai, o senhor Halkins – e com razão, pensei.

Mas então por que Jeremy estava tão abalado com isso? Coloquei a mão em seu ombro, afagando um pouco suas costas, tentando incentivá-lo a ir em frente. Funcionou.

– Naquela época eu ainda não fazia essas excursões que faço hoje, eu ainda era muito jovem; e também, o dinheiro não era algo muito fácil de conseguir naquele tempo. Mas quando estava em um museu de história natural com a minha turma de escola em Nova York, uma oportunidade muito promissora se apresentou a mim. Conheci um velho senhor que dizia estar muito interessado em decifrar algumas antigas escrituras gregas que ele e sua equipe haviam encontrado.Fiquei muito interessado ao ouvir aquilo, especialmente quando ele disse que as escrituras se referiam a algum tipo de lobo. Havia apenas um problema. Para isso eu deveria ir para a Grécia. Eu não podia sair do país dessa maneira. Nem dinheiro eu tinha para fazer isso. Era inviável, respondi ao velho senhor, quando ele sentiu o meu interesse em suas descobertas e me convidou para acompanhá-lo.

Até aqui, não parecia haver acontecido nada de horrendo.

– Mas como o destino sempre põe o seu nariz onde não é chamado, Claire estava bem atrás de mim, enquanto conversávamos. Assim que me despedi do senhor, guardando bem o seu cartão em meu bolso, Claire disparou-me uma oferta:

– Jeremy, tenho o dinheiro para você fazer essa viajem. – Disse-me ela, pulando de empolgação.

– Mas eu não poderia aceitar, Claire. Não seria certo.

– Ah, se eu soubesse naquele tempo como tinha razão. – disse-me ele. Agora lágrimas brotavam de seus olhos e ele tentava fazer com que parassem, sem muito sucesso.

– Não seja bobo Jeremy, – Claire disse, quase com raiva – você pode e vai sim aceitar!

– Mas Claire... o dinheiro é seu! Não posso aceitá-lo. – Jeremy dissera a ela, desesperado.

– Sem mas Jeremy. Está decidido e pronto. E se o faz tão feliz que eu gaste o meu dinheiro, irei junto com você.

– Por favor, entenda Jason, eu queria muito ir. E com Claire junto, a viajem seria perfeita. Sem falar que não havia perigo algum em decifrar algumas escrituras na Grécia; pensando assim, aceitei a oferta de Claire.

Eu não sabia mais por que Jeremy estava tão abalado. Realmente não havia perigo algum naquela viajem, e também, aceitar o dinheiro de uma amiga não é algo assim tão ruim. Esperei que ele continuasse.

– Assim que tínhamos tudo pronto, pois liguei para o velho senhor, Nicholas, confirmando que Claire e eu iríamos a sua expedição, nós partimos. A viajem não poderia ter sido mais tranquila – contava-me Jeremy, agora parecendo, finalmente apreciar um pouco suas lembranças, ele exibia um tímido sorriso em seus lábios, nada que pudesse ser imediatamente percebido por olhos desatentos – saímos de manhã do aeroporto em Nova York e em algumas horas já estávamos na Grécia. Tudo era tão lindo! As ilhas, o mar, o leve calor. Aquilo parecia ser o paraíso.

– Viu como você deveria mesmo ter aceitado minha oferta? – disse-me Claire, deslumbrada pela beleza do lugar.

– Realmente – Jeremy respondera – esse lugar é muito lindo! Obrigado por nos trazer com o senhor, senhor Nicholas.

– Sem problemas, – Disse ele, naquela sua voz grave e misteriosa de uma pessoa com muita vida já vivida. – é sempre bom ter gente jovem para ajudar.

Nesse ponto, eu estava bem calmo, não via nada de ruim naquilo. Talvez Jeremy estivesse apenas exagerando. Sentindo-se culpado por ter usado o dinheiro de Claire e não ter tido como retribuir o favor, ou algo assim. Mas a expressão de Jeremy não era a de quem viveu um final feliz. Isso voltou a me preocupar.

– Finalmente, chegamos onde estavam as escrituras. O lugar era uma grande ruína. Restava muito pouco do grande templo que um dia estivera ali. Pelo pouco que restava, pude identificar uma estátua quebrada, com uma inscrição, onde pude entender Zeus. – Disse Jeremy. – O que fez com que eu me preocupasse – continuou ele – foi o grande buraco que se infiltrava por de baixo da grande ruína. Ali era fácil identificar algum perigo.

– Parecia ser uma entrada tão rústica, feita quase sem cuidado e totalmente feita à mão. – Nessa hora, o rosto de Jeremy retornara à sua máscara de amargura e sofrimento. Pensei estar começando a entender o que poderia ter acontecido, mas não o interrompi.

– Vamos logo Jeremy! – Disse-me Claire, com aquele seu característico tom de empolgação, e uma pitada de desafio.

– Claro, claro. Mas Claire, acho que você deveria ficar aqui fora. Pode ser muito perigoso lá em baixo. – Disse Jeremy. Pelo seu tom, ele parecia estar hesitando.

– Você não está com medo, está? Não seja bobo Jeremy, não vai nos acontecer nada. – Agora o desafio era totalmente evidente em seu tom.

–Nós entramos pelo buraco – continuou Jeremy, agora parecia que sua voz estava completamente sem vida, apenas um robô falando – e andamos por cerca de 20 minutos.

O buraco mal iluminado e estreito começou então a se alargar e clarear. Assim que nossos olhos se acostumaram novamente com a claridade, tivemos o primeiro vislumbre de um grande templo, logo à frente, completamente intacto. –É lindo! ouvi Claire falar, logo atrás de mim – E era mesmo. Uma construção majestosa, toda feita em mármore branco, do piso ao teto; com grandes pilares arredondados cercando todo o seu comprimento. No centro, havia uma estátua gigante, entalhada no mesmo material que as paredes, muito semelhante àquela estátua quebrada, nas ruínas acima. Reconheci-a como uma estátua de Zeus.

–Nicholas nos levou ao centro, onde estava a estátua. Logo abaixo de seus pés, havia uma pequena tábua, entalhada no mesmo material que tudo à sua volta. Nela, havia desenhos que me pareciam mais com hieróglifos egípcios do que com qualquer outra coisa.

– Fiquei maravilhado. – Ele disse com desânimo. – Não conseguia pensar em mais nada que não fossem as escrituras. Nicholas certamente ficou muito satisfeito com a minha empolgação. Claire parecia ter levado um choque elétrico, de tão empolgada que estava. Aquilo era maravilhoso, – pensara ele – finalmente algo que poderia ser uma prova concreta de tudo aquilo em que eu sempre acreditara. Você não poderia imaginar como eu estava feliz com aquilo, Jason.

– Naquela noite, nem conseguimos dormir. Claire veio ao meu quarto logo que entrei nele. Conversamos a noite toda, tentando descobrir os significados que poderiam estar por trás daquelas escrituras antigas.

Nicholas havia nos alertado para não entrar naquele templo sem estar acompanhados por ele, ou alguém de sua equipe, pois poderia ser perigoso.

Mas a nossa curiosidade era muito maior do que o nosso bom senso. Então, assim que trocamos de roupa, Claire e eu voltamos ao templo.

Fizemos o caminho, já conhecido, pelo túnel pequeno e chegamos mais rápido do que antes. O templo estava ainda mais belo do que estivera na outra tarde, quando o vimos pela primeira vez.

As luzes que emanavam da grande quantidade de tochas e archotes acesos por todo o templo, davam-no um ar mítico. O brilho que produziam na superfície branca e perolada do mármore nos hipnotizava, prendendo nossa atenção.

– Quando nos libertamos de sua influência, voltamos nossa atenção para o centro do templo, onde estava aquela magnífica estátua. Aproximamo-nos dela, ajoelhando-nos a seus pés, para podermos ver melhor aqueles desenhos entalhados.

Eram diferentes de qualquer coisa que eu já vira; não tinham significado algum para mim. A não ser, por uma pequena figura, metade homem, metade lobo. Tinha de ser aquilo. Algo ali poderia provar que minhas crenças eram verdadeiras.

Agora a dor era

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