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A última Orquídea: FICÇÃO JUVENIL ADULTA / Fantasia / Contemporânea
A última Orquídea: FICÇÃO JUVENIL ADULTA / Fantasia / Contemporânea
A última Orquídea: FICÇÃO JUVENIL ADULTA / Fantasia / Contemporânea
E-book464 páginas10 horas

A última Orquídea: FICÇÃO JUVENIL ADULTA / Fantasia / Contemporânea

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Sobre este e-book

A vida de Anthea Grage é aparentemente normal. Ele mora em Portown, uma pequena cidade no Maine, tem uma família amorosa e uma melhor amiga inseparável, Lyv, a única que conhece seu segredo sombrio. Ninguém mais sabe que, ao cair da noite, os sonhos de Ant são povoados não por medos e desejos, mas pelas sombras dos eventos que ainda irão acontecer. Quando um de seus sonhos premonitórios anuncia a chegada na cidade de um jovem misterioso e lindo, Noah Shane, sua tediosa rotina é completamente alterada. De repente, a garota se vê obrigada a questionar tudo aquilo em que sempre acreditou. Partes obscuras de seu passado batem insistentemente à sua porta para voltar à tona e Caleb Shane, primo mal-humorado de Noah, parece conhecer exatamente aqueles segredos que ela ignora e quer desvendar a qualquer custo. Conseguirá Anthea descobrir suas origens... e sobreviver?

IdiomaPortuguês
EditoraBadPress
Data de lançamento12 de abr. de 2020
ISBN9781393629436
A última Orquídea: FICÇÃO JUVENIL ADULTA / Fantasia / Contemporânea

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    Pré-visualização do livro

    A última Orquídea - Lavinia Vi

    O que segue é uma obra de fantasia. Nomes, personagens,

    lugares e eventos são fruto da imaginação da autora

    ou são usados de forma fictícia. Qualquer semelhança

    com fatos, lugares ou pessoas reais, existentes ou existidas,

    é pura coincidência.

    Prólogo

    Dezessete anos antes

    Era uma noite clara. O homem olhou em torno, circunspecto, mas não havia ninguém ao redor. A luz da lua conferia um clarão prateado ao panorama noturno e mesmo as copas das árvores pareciam brilhar ligeiramente. Os únicos ruídos eram os da natureza: de tanto em tanto se podia ouvir o som do vento que, leve, acariciava a vegetação fazendo-a farfalhar.

    O homem só conseguia ouvir o batimento frenético do seu coração. O contraste com a calma circundante tornava o som ainda mais assustador.

    Teria enlouquecido? O que lhe passava pela cabeça? Nunca pisar nos calos das pessoas poderosas sempre havia sido o seu lema. Mas ele não podia, não queria fazê-lo. Sua vida sempre fora uma sucessão de ações das quais não podia se orgulhar. Algumas haviam sido simplesmente... discutíveis. Outras decididamente desprezíveis. Mas nunca teria pensado em ter de cometer tal atrocidade.

    Talvez estivesse orquestrando o seu suicídio, quem sabe. Mas olhando para a pequena trouxa que segurava nos braços não conseguia se arrepender do que estava por fazer e, nas profundezas de seu coração, alegrava-se por ter tido a força de ir até o fim e a audácia de resgatar uma vida de estratagemas, ainda que se apenas com uma única, grande ação corajosa. Podia finalmente sentir-se orgulhoso de si mesmo.

    Com a mente oprimida por tais pensamentos, o homem atravessou a densa vegetação, finalmente achando um caminho que o conduziria exatamente aonde deveria chegar. Nada havia sido deixado ao acaso.

    Após algumas dezenas de metros, ele a viu. A casa, como tudo mais que a circundava, estava bem iluminada pela luz da lua. Na varanda havia uma cadeira sobre a qual se havia colocado um biquíni, provavelmente deixado à tarde para secar e depois esquecido; ao lado, um par de sandálias de praia. Objetos normais que pertenciam a pessoas normais com uma vida normal. Exatamente aquilo de que a pequena necessitava: cortar os laços com as próprias raízes e construir uma vida tranquila, livre de perigos. Uma vida da qual ninguém nunca saberia nada.

    Repetindo para si mesmo aquelas palavras aproximou-se da casa, subiu os dois degraus que levavam à varanda e colocou com delicadeza a garota adormecida sobre a coberta que havia levado consigo.

    «Boa sorte, pequena Anthea», sussurrou-lhe num acesso de inesperada ternura. Demorou-se alguns segundos a fitá-la. A menina continuava a dormir placidamente, ignorando o que a teria acolhido ao acordar.

    Então o homem desapareceu na noite, como se não houvesse jamais existido.

    Capítulo 1

    Naquela noite tive um sonho muito vívido. Estava numa clareira natural entre as árvores, um lugar lindo e escondido de olhos indiscretos. Os raios do sol criavam uma zona de brilho ofuscante bem no centro, e era ali que eu repousava, deitada sobre a grama fresca e úmida. Estava parada, com os braços e pernas abertos para formar um grande X colorido sobre o chão verde brilhante, os longos cabelos loiros espalhados como uma roda em volta da minha cabeça. Estou molhando todas as minhas roupas, pensava a eu lúcida, mas isto não parecia preocupar minimamente a eu do sonho.

    Estava com os olhos fechados, mas sentia o sol bater na pele quente do meu rosto. De repente, sabia que não estava mais sozinha. Entreabri as pálpebras preguiçosamente e me virei. Ao meu lado, havia um rapaz, da minha idade, cuja beleza era tão ofuscante quanto a luz que nos envolvia.

    Seus olhos eram da cor do céu de verão: não um celeste deslavado, mas um verdadeiro azul intenso que parecia sugar tudo à sua volta. Uma cor quase inquietante pela sua raridade. Eu nunca tinha visto olhos como aqueles.

    O rosto do rapaz exprimia serenidade mesmo se não estivesse sorrindo, com a sua boca. Sorria com os olhos. Com um gesto distraído passou uma mão pelos cabelos loiríssimos que reluziam ao sol como se tivessem sido forjados de puro ouro finíssimo. Olhando mais atentamente, no entanto, se via que na verdade não eram tão claros. Todo seu ser parecia emanar luz própria.

    Só então percebi que ele estava falando. Não lhe ouvia as palavras, mas via seus lábios moverem-se enquanto a eu do sonho ria de alguma coisa que o rapaz havia dito.

    Eu me sentia muito bem, segura.

    A natureza plácida me envolvia e a companhia não era nada má. Nada má realmente!

    Eu estava pensando no quanto me sentia satisfeita, quando o maldito despertador tocou e estragou todo o encanto.

    ––––––––

    A passagem do sonho para a realidade foi tão inesperada que me sentei num salto e bati com a cabeça no teto do meu quarto. O que seria estranho, em condições normais. Mas há alguns anos, assim que quando menina passei a dormir sozinha, meus pais decidiram deixar meu quarto mais espaçoso construindo um mezanino de madeira, largo apenas o bastante para conter uma cama e uma mesa de cabeceira. Bater a cabeça contra o teto logo se transformou num hábito, e no entanto na maioria das vezes era tranquilizador dormir lá em cima. Dava uma sensação de invulnerabilidade, como se ninguém pudesse me fazer mal em um espaço tão pequeno e fora do mundo.

    Massageando o topo da minha cabeça com a mão, desci as escadas e escolhi os vestidos do guarda-roupa com mais cuidado do que o habitual.

    Depois de um sonho daquele tipo, qualquer outro que acordasse teria se sentido um pouco para baixo por ter pensado, por um momento fugaz, estar vivendo uma cena fantástica como aquela, com um rapaz belo como um deus.

    Eu não.

    Eu sabia que naquele dia eu me depararia com aquele rapaz.

    Sempre tinha sido intuitiva. Acontecia-me sempre de saber das coisas sem conhecer a razão, e muitas vezes aquelas informações me chegavam por meio dos sonhos.

    Não que isso significasse que a certo ponto daquele dia eu me encontraria deitada num prado a falar com um desconhecido. Não era assim que funcionava. Havia elementos, nos sonhos, que capturavam a minha atenção e que tendiam de modo assustadoramente regular a se apresentar na vida real, ao despertar. Simples.

    Talvez fosse dotada de uma sensibilidade que me permitia ver além dos padrões usuais. Ou, ao menos, era isso o que eu preferia pensar.

    Tomei uma ducha rápida e então, com os cabelos ainda úmidos, desci à cozinha, onde um irresistível aroma que assinalava a chegada da comida fez roncar ruidosamente o meu estômago.

    Minha mãe estava ao fogão, os longos cabelos escuros presos num rabo de cavalo e um avental branco com delicados moranguinhos vermelhos à guisa de decoração. Apenas me viu, abriu um grande sorriso e me indicou com um aceno de cabeça a mesa posta, onde já havia uma montanha de panquecas prontas para serem cobertas com xarope de bordo.

    Não me fiz de rogada.

    Sentei-me e me servi uma generosa porção. «Ao que devo hoje esta fabulosa acolhida?»

    Ela se voltou em minha direção com uma fingida expressão de estar ofendida. «Eu sempre reservo para você uma acolhida fabulosa!» disse. Sacudiu a cabeça com ar divertido e balançou o rabo de cavalo.

    «É verdade», repliquei. «Mas hoje mais do que de costume.»

    Mamãe me sorriu e aproximou-se para me dar um beijo nos cabelos. «Não preciso de um motivo para mimar minha filha preferida.»

    «Única filha, quis dizer», a corrigi, justo antes que o celular tocasse. Timing perfeito. Lyv, li no visor. Suspirei. Minha melhor amiga, depois de tantos anos de vida passada em simbiose, ainda se obstinava a apresentar-se pontual nos compromissos.

    Era um caso perdido.

    Engoli o último bocado de panqueca e corri para cima da escada para apanhar a bolsa e o casaco. Depois saí lançando um beijo à mamãe quando passei por ela.

    Como previsto, Lyv estava sentada ao volante do seu Fusca conversível vermelho fogo e estava retocando o batom olhando-se com ar crítico no retrovisor do carro. Mal segurei um suspiro de inveja: parecia uma modelo, com os longos cabelos ruivos presos num rabo de cavalo fingidamente bohémien - que eu sabia ser muito mais bem estudado do que parecia - os grandes óculos de sol que exaltavam seu perfeito rosto oval e os lábios grossos, destacados pela tonalidade justa do batom, que atraíam imediatamente o olhar.

    Sentindo-me chegar, virou-se em minha direção. «Já era hora!» exclamou, arqueando uma sobrancelha bem desenhada.

    Mostrei o dedo médio e ela começou a rir.

    «Atrasei só um minuto. Você é uma ditadora!»

    Como resposta, mostrou-me a língua.

    Lyv e eu nos conhecemos no jardim de infância, e foi então que nos tornamos inseparáveis. Ninguém nunca conseguia entender como duas pessoas tão diferentes pudessem sequer tolerar-se, muito menos tornar-se amigas. Mas a verdade era que ninguém sabia o quanto nós duas éramos iguais por dentro. Ríamos das mesmas piadas estúpidas, chorávamos ao assistir dramalhões e éramos capazes de falar por horas sem jamais ficar sem assunto. Éramos almas gêmeas que se completavam uma à outra.

    Naquele dia nosso programa era bater pernas no shopping e depois almoçar no único restaurante decente da região, como fazíamos toda terça-feira desde quando a mãe de Lyv havia começado a trabalhar o dia todo, deixando-a sozinha mais tempo do que ela podia suportar.

    Normalmente eu preferiria ter os olhos arrancados a estar por mais de dez minutos seguidos numa loja de vestuário, mas realmente precisava comprar roupas novas para o iminente reinício das aulas e não podia contar com o bom gosto de minha mãe. Lyv, ainda que me doesse dizê-lo, era minha única esperança.

    «Sempre soube que cedo ou tarde você cederia e confiaria no meu incrível instinto para moda e compras», disse ela com expressão presunçosa quando pôs as rodas em movimento. Sonhava desde sempre poder revolucionar o meu guarda-roupa, um pouco como aqueles programas de televisão baratos amados pelas garotinhas.

    Oh, pobre de mim.

    «Lyv, você sabe que a modéstia é o acessório mais atraente em uma garota?» rebati, levantando os olhos para o céu.

    Ela riu. «Como quiser. Mas você sabe muito bem que eu tenho razão, senão você não estaria aqui comigo.»

    Infelizmente para mim, não poderia contradizê-la.

    «E, para constar, o acessório mais atraente em uma garota são os sapatos. Sobretudo aqueles com salto alto! Mas não se preocupe... ao final deste dia você o saberá muito bem», acrescentou, dando-me uma piscada.

    Suspirei. Eu não iria comprar nenhum maldito par de sapatos de salto. Nenhum.

    ––––––––

    Duas horas depois eu saía para a calçada arrastando três sacolas cheias de malhas e jeans. Eu tinha conseguido convencer Lyv a deixar para lá os vestidos longos de noite - quando eu iria usá-los?! - mas ela havia sido inflexível quanto aos sapatos com salto. Quando eu tinha protestado, ela havia replicado sabiamente: "O que você usará quando nos convidarem para uma festa? Você sabe que o farão. E se tivesse de se apresentar com os seus horríveis tênis roxo e amarelo, juro que fingirei não conhecer você". Apesar das ameaças, porém, eu estava me divertindo.

    As compras me distraíam e o entusiasmo da minha melhor amiga não poderia deixar de ser contagioso. Se assim não fosse, a tensão teria me matado. Não havia feito outra coisa além de prestar atenção a cada pessoa que cruzávamos pela rua, atenta para não perder o primeiro encontro mágico com o tipo loiro-e-belo-como-um-deus.

    Aquela garota sabia o que estava fazendo!

    Ela numa loja ficava feliz como eu ficaria na fábrica de chocolate de Willy Wonka. Olhava aquela fila de vestidos e sapatos como eu teria feito com a grama feita de açúcar ou a cascata de chocolate derretido. Com uma expressão esfomeada.

    Eu teria podido fuçar por horas na mesma loja sem encontrar nada apenas decente: já Lyv entrava, olhava em torno, e puxava sabe-se lá de onde alguma coisa que tenho absolutamente que provar e que seguramente ficaria bem em mim. E... quem diria? Toda vez acertava.

    Era tão concentrada na sua missão impossível - como ela amava defini-la - que não havia sequer se vangloriado por todas as coisas que havia conseguido me fazer comprar. E vangloriar-se era peculiar da Lyv.

    Justo quando a diversão estava começando a diminuir e o meu nível de tolerância havia atingido o limite, minha melhor amiga decidiu que era hora de almoçar.

    Quando entramos no restaurante, Blaine - o garçom que sempre teve uma paixão colossal por Lyv - já estava tirando o pedido de outro cliente, mas isso não o impediu de sorrir para nós e de nos acompanhar à nossa mesa preferida assim que se viu livre.

    «Vocês querem algo para beber enquanto escolhem o que pedir?» perguntou-nos, torturando a bainha da camisa e tentando não olhar para minha amiga com demasiada insistência.

    Pobre rapaz.

    Lyv fazia vítimas por onde andasse, mas parecia não se aperceber. Continuava a sorrir ao desafortunado garçom deixando-o mais agitado do que já estava. Eu teria jurado ser capaz de ouvir o som da sua taquicardia.

    «Uma garrafa d’água, por favor», intervim antes que o rapaz entrasse em autocombustão. Sorri para ele educadamente, mas como previsto não estava sequer olhando na minha direção.

    Viva a invisibilidade!

    «Meu Deus, você quer matá-lo de infarto com todos esses sorrisos?» cutuquei-a uma vez que Blaine já não podia ouvir.

    «Sou apenas gentil. Você deveria aprender comigo, sabe?» rebateu ela dando de ombros. «E também, a sua teoria é estúpida. Eu não faço o tipo dele», acrescentou, mas desta vez corou ligeiramente. Pegou o cardápio e começou a olhá-lo com ostentação.

    E com isso, a conversa estava encerrada.

    Captada a mensagem, concentrei-me na comida - isso era fácil para mim - mas já sabia que comeria um enorme hambúrguer com batatinhas fritas. A junk food e eu nos dávamos muito bem.

    «Então, minha profetisa, o que prevê o meu horóscopo para o dia?». A voz de Lyv me arrancou dos meus pensamentos. Suspirei em sua direção.

    Desde quando éramos pequenas ela sabia das minhas intuições. Na verdade havia sido testemunha direta de vários episódios, alguns dos quais realmente macabros. Um dia, por exemplo, cheguei à escola perturbada por ter sonhado a morte do meu coelhinho; naturalmente contei a ela. Não é difícil adivinhar qual foi a bela surpresa que me esperava quando ela e eu voltamos para minha casa para fazer os deveres juntas.

    Sempre fui muito sensível, e o episódio torturou-me por anos.

    Com a sucessão de eventos semelhantes a este, foi a própria Lyv a desenvolver a teoria da intuitividade. Não parava de me tirar o sarro chamando-me de profetisa e de me pedir para compor-lhe um horóscopo personalizado dia sim, dia não. E, como é tradição, eu fingia estar irritada. Mas ambas sabíamos que na verdade eu adorava, e me divertia a inventar para ela as coisas mais improváveis.

    Para constar, nenhum dos meus horóscopos jamais se tornou realidade.

    Bem, quase nenhum.

    «Mmm... prevejo que hoje Nik lavará a roupa, cozinhará e que quando você voltar lhe dará um belo presente, feito com carinho para você.» Nick era o irmão caçula de Lyv: doze anos de puro rancor e maldade concentrados em cento e cinquenta e cinco centímetros de altura. E, a menos que o presente em questão não fosse uma caixa de baratas ou qualquer coisa igualmente agradável, duvidava que a minha profecia pudesse se tornar realidade. 

    Ela torceu os lábios numa careta engraçada. «Mas como você é chata! O que lhe custa prever algo de bom, ao menos uma vez para variar?»

    «Você não me deixou terminar. O seu irmão será um bom menino e um garçom bonito de camisa justa vai lhe convidar para sair até o final do nosso almoço», acrescentei, ganhando um olhar mal-humorado e um murmúrio que parecia bastante a um feio palavrão.

    Em resposta, dei-lhe um sorriso angelical.

    Justo então - com um timing que eu definiria como perfeito - Blaine voltou com a nossa garrafa d’água e o bloco de notas pronto a tomar nosso pedido. Eu pedi o meu costumeiro hambúrguer e Lyv optou por uma pizza. Mas, enquanto ela explicava ao rapaz que a queria sem tomate por causa de sua alergia - como se ele já não houvesse memorizado todos os seus hábitos alimentares - notei um rubor suspeito em suas bochechas. Falar com ele após ter sido provocada sobre esse assunto sempre a deixava envergonhada.

    Assim que ele se foi, decidi que era chegado o momento de contar a Lyv o meu sonho. Eu realmente precisava desabafar.

    «Oh», exclamou ela, quando terminei. «Mas foi um sonho sonho, ou um sonho do tipo os-meus-inquietantes-poderes-estão-tentando-me-dizer-qualquer-coisa

    Olhei para ela zangada. «Você faz com que eu me sinta uma aberração, não ajuda em nada!»

    «Ok, ok, não se chateie, era só para saber», respondeu ela, levantando as mãos em sinal de rendição.

    «No entanto sim, havia qualquer coisa de estranho naquele sonho», refleti, enquanto com o indicador eu desenhava círculos na borda do copo de vidro. «Era demasiado vívido, eu estava lúcida. Era como se o vivesse e ao mesmo tempo o visse de fora.»

    Levantei finalmente o olhar e vi que Lyv me encarava, pensativa, enquanto enrolava uma fina e perfeita mecha de cabelos em torno de um dedo. Provavelmente estava já analisando cada aspecto do meu sonho. Imaginei que tentava adivinhar quando, e se, cada elemento que eu lhe havia contado ocorreria na vida real.

    A minha melhor amiga era assim. Era atraída pelos mistérios como as abelhas pelo mel.

    De repente arregalou os olhos em uma expressão surpresa. «Você disse que o cara era loiro, bonito e com os olhos muito azuis, certo?»

    «Exato. Conhece alguém que se pareça?»

    «Não, não ainda, mas o rapaz apoiado no balcão às suas costas corresponde perfeitamente à sua descrição», ela disse, fazendo um sinal com o queixo naquela direção.

    Virei-me rapidamente.

    O balcão, à parte o velho Hank, que desde quando eu me recordava jamais havia saído do caixa, estava vazio.

    Voltei o olhar novamente para Lyv, que mal conseguia conter a risada. «Hilariante, realmente. Nunca pensou em ser comediante? Teria um futuro assegurado», eu disse, jogando nela um guardanapo que ricocheteou sobre a blusa e acabou indo direto para dentro do seu copo d’água.

    «Estamos suscetíveis hoje, hein?» provocou-me ela, alegre depois do sucesso da sua brincadeira. Pegou com dois dedos o guardanapo encharcado e o colocou num canto da mesa. «Não entendo o porquê você se irrita tanto. Você sempre disse para eu não considerar os rapazes uma prioridade.»

    Dei de ombros.

    De fato sim, eu o havia dito, e até mais de uma vez. Mas havia qualquer coisa naquele sonho que me fazia crer que aquele encontro era realmente importante, como se dele dependesse todo o meu futuro. Era uma coisa ridícula, mas não conseguia me livrar daquele pressentimento. Talvez uma pequena parte de mim, tão escondida a ponto de ser imperceptível, esperava que desta vez fosse diferente. Que eu ficasse finalmente apaixonada.

    Todas as garotas da minha idade tinham perdido a cabeça, ao menos uma vez, por amor. Tudo a que eu conseguia chegar, no entanto, era a um momento inicial de total euforia que toda vez me iludia de ter conseguido mas que, ao cabo de poucas semanas, se transformava em um afeto morno.

    Na maioria das vezes eu ficava realmente feliz de não acabar como as garotas que me ocorria de entrever no banheiro em lágrimas, com o coração despedaçado e frequentemente com uma amiga que, enquanto abraçava e consolava a desafortunada, já pensava em como agarrar o rapaz recém-liberado.

    Outras vezes, no entanto, eu sentia que havia em mim algo de profundamente errado e infinitamente triste.

    Blaine chegou com os nossos pedidos e interrompeu o fio dos meus pensamentos.

    Lyv e eu conversamos sobre isso e aquilo pelo resto do almoço e, quando chegou o momento de ir embora, juntamente à conta o garçom estendeu à minha melhor amiga também um número de telefone que ela se apressou em esconder dos meus olhos.

    Não fiquei minimamente surpresa. Mesmo que o assunto sobre o meu sonho - ou sobre a minha vida amorosa em geral - não tenha sido mais tocado, o aperto no estômago não me deixaria ainda por muito tempo.

    ––––––––

    No fim do dia, pedi a Lyv que me deixasse na livraria em vez de deixar-me em casa.

    «Você tem certeza? Não prefere que eu fique com você?» ela perguntou com uma expressão preocupada. «Já está escuro», me fez notar. Lançou uma olhada para fora da janela do carro.

    Sorri para ela. «São só seis da tarde, Lyv. Tem muita gente por aí ainda. Preciso andar só por cinco minutos para chegar em casa. Não se preocupe comigo», tranquilizei-a.

    Como se alguma coisa acontecesse neste buraco de cidade. Se é que fosse legal chamá-la de cidade: Portown, no Maine, era um pequeno centro que reunia pouco mais de duas mil pessoas. Consistia em uma zona central onde se encontravam todas as lojas e os locais mais frequentados, e uma zona mais periférica onde ficavam as casas, o pequeno parque da cidade e um bosquinho não muito extenso que abrigava um lago, a única coisa digna de nota.

    Lyv não pareceu convencida. «Podemos sempre andar juntas, então assim que você terminar eu a acompanho a casa», tentou novamente, mas eu sacudi a cabeça. Precisava de um pouco de tempo para mim mesma, e a livraria era o lugar que mais me convinha. Era sempre pouco frequentada e, mesmo que houvesse mais alguém além de mim, estaria muito mais concentrado nos livros do que na minha presença.

    Além disso, a companhia de Lyv teria me deixado pouco à vontade. Certamente ela não iria dizer nada para me apressar, mas eu sabia que ela era do tipo mais para uma loja de roupas do que para uma livraria. Vendo-a entediar-se, eu não poderia relaxar o quanto gostaria. Portanto, ainda que apreciasse a sua boa vontade, estava decidida a ir sozinha.

    No fim ela cedeu e me levou à loja, embora não antes que eu concordasse em deixar as sacolas do shopping no seu carro para que não me atrapalhassem enquanto voltava para casa. Saudou-me com um beijo na testa, sujando-me de batom, e esperou que eu entrasse antes de arrancar e ir embora.

    Olhei em torno e dei um suspiro de alívio: os livros foram os únicos a retornar meu olhar. Estava sozinha, com exceção do proprietário bigodudo de meia idade que saudei educadamente antes de me dedicar à exploração.

    A seção dedicada aos livros fantásticos não estava muito abastecida e, como era de se esperar, eu já os havia lido todos. Portanto me dirigi aos clássicos: após um dia passado a olhar vestidos e lojas precisava mesmo de alguma coisa que me arrastasse para fora dessa realidade. Não precisei de muito tempo para escolher. Descartei todos os escritores russos, que particularmente não amava, e todos os romances que eu teria sabido recitar de cor, e me deixei seduzir por Notre-Dame de Paris, de Victor Hugo.

    Fantástico.

    Sempre havia amado O Corcunda de Notre-Dame da Disney.

    Fui para pegar a última cópia restante do romance, mas minha mão foi precedida de uma outra que, mais veloz, agarrou o livro, deixando-me com o braço suspenso no ar e uma expressão de perfeita idiota.

    Quando me virei, pronta para protestar, me perdi em dois olhos cor de centáurea.

    Capítulo 2

    Por alguns segundos não consegui sequer piscar os olhos.

    Fiquei apenas ali, com o braço ainda erguido e a boca aberta, como se não tivesse jamais visto um belo rapaz na minha vida.

    «Já não o esperava mais», disse. Assim que me dei conta daquilo que havia apenas deixado escapar, fui invadida pelo horror. Eu o conhecia há menos de dez segundos e já havia ganhado o prêmio de esquisita de Portown.

    Grandioso.

    Mas ele, em vez de me dirigir uma olhada envergonhada e afastar-se o mais rapidamente possível - como teria feito qualquer outro no seu lugar - sorriu para mim. Àquela visão, pensei que o sonho não lhe fizera justiça: seu rosto não só era belíssimo, mas tão expressivo e gentil que deixava quase em segundo plano suas linhas perfeitas.

    «Eu não achava que fosse costume por estas bandas esperar que alguém lhe roubasse debaixo do nariz o livro que tinha a intenção de comprar», brincou ele, sem parar de sorrir frente à minha expressão idiota. «Em minha defesa posso dizer apenas que não havia percebido que você estava para pegá-lo até o momento em que se virou para mim», acrescentou, evidentemente envergonhado. Tudo o que pude fazer foi vê-lo ofegar. «Você deve ter pensado que sou um verdadeiro mal-educado! E tem todo o direito de ver-me assim», concluiu, entregando-me o livro em sinal de paz.

    Vê-lo assim?

    Eu tinha o direito de encará-lo como se tivesse acabado de ver um deus descido à terra?

    Só mais tarde percebi que minha expressão de surpresa, uma surpresa agradável, podia ser confundida com uma de indignação, e apressei-me a esclarecer o mal-entendido.

    «Oh!» exclamei. «Na verdade não estava ainda convencida de querer comprar este livro. Estava indecisa entre Notre-Dame de Paris e este», continuei, pegando ao acaso um volume da prateleira à minha frente. Enquanto eu falava, tratei de espreitar o título. "152 contos de Paixão", li, e o meu rosto se avermelhou como um tição ardente. Se tivesse uma pá teria tentado cavar um fosso no qual me esconderia ali mesmo, no piso da livraria. O que fazia aquele livro na prateleira dos clássicos?

    Não sou uma pervertida! tive ganas de gritar, mas já estava feito, portanto era melhor tentar me comportar com nonchalance. Arrumei uma mecha de cabelo atrás da orelha e desviei timidamente o olhar do seu rosto.

    «Tem certeza?» perguntou-me o rapaz, duvidoso. Lançou uma olhada interrogativa ao volume que eu tinha em mãos.

    «Absolutamente!» eu disse num tom tão alto a ponto de soar histérico. Bem, se fosse por isso, eu me sentia histérica. «Fique com o livro», acrescentei, vendo que ele continuava a hesitar.

    «Muitíssimo obrigado», respondeu, embora fosse evidente que não estava ainda completamente convencido. Depois de me dar um sorriso, dirigiu-se ao caixa.

    Só Isso?

    Eu tinha passado o dia em suspense só para uma conversa de cinco minutos e para fazer papel de estúpida? E pensar que eu tinha também renunciado ao meu livro!

    Ele deveria ter insistido mais, ainda que apenas em nome do cavalheirismo, como um bom amante dos romances clássicos.

    Contrariada, recoloquei o estúpido livro erótico na prateleira, aquela certa, e depois de ter saudado o proprietário da livraria saí da loja. Minha casa ficava apenas a alguns quarteirões. Antes de encaminhar-me, me inclinei para amarrar o sapato. Conhecendo a mim e à minha falta de jeito, provavelmente teria tropeçado nos meus próprios pés e acabado com a cara no asfalto. E depois, a cereja do bolo, seria atingida por um SUV gigantesco.

    Eu estava para levantar-me quando uma mão tocou o meu ombro.

    Estremeci.

    Naquele instante me passaram pela cabeça dez mil pensamentos desconexos, entre eles "Merda, eu devia ter aceitado a carona da Lyv" e "Morrerei por uma escapadinha na livraria na qual não comprei nada".

    Respirei fundo para gritar mais o forte que já gritara na minha vida, quando uma voz familiar me deteve.

    «Desculpe, não queria assustá-la.»

    Levantei os olhos.

    Era o rapaz do sonho, de novo.

    Expirei ruidosamente, desinflando-me como um balão, e depois inspirei. Tinha as pernas ainda bambas do susto. Quando me endireitei, tremeram ligeiramente por causa da descarga de adrenalina, fazendo-me temer que não fosse capaz de ficar bem de pé. Em me sentia uma medrosa.

    «Aproximar-se das pessoas de repente em uma rua deserta e escura certamente não é a melhor maneira de não querer assustar», rebati, levando uma mão ao peito. Parecia que no fim das contas eu não estava tendo um infarto.

    «Lamento», respondeu o rapaz, aborrecido. «Parece que hoje não consigo dar uma dentro», acrescentou num murmúrio, quase dirigido a si próprio.

    «Tudo bem», tranquilizei-o, «tome apenas como uma sugestão para o futuro. Mesmo que estejamos numa cidade pequena e nunca aconteça nada, as pessoas podem revelar-se realmente paranoicas.»

    E, para mostrar-lhe que o que fizera não era assim tão grave, sorri para ele.

    Doíam-me as faces pelo tanto que havia me esforçado a sorrir nos últimos vinte minutos.

    Ele me estudou o rosto e depois olhou minha mão, que ainda não havia parado de tremer. Tentei pará-la, e ao mesmo tempo escondê-la, enfiando-a dentro do bolso do casaco.

    «Seja como for», disse, depois de alguns segundos de silêncio desajeitado, «só queria lhe dar isto.»

    Estendeu-me a sacola de papel da livraria, que encarei atônita por um instante. Peguei-a. Dentro, obviamente, estava Notre-Dame de Paris.

    «Não precisava», sussurrei com a voz falha pela comoção. Fantástico, para completar o encontro mais embaraçoso do mundo faltava ainda que eu me pusesse a chorar!

    «Talvez não houvesse a necessidade», admitiu o rapaz, alisando os cabelos claros com uma mão, «mas eu queria. E também porque não conheço ainda ninguém na cidade. Considere-o como um modo de comprar a sua amizade.»

    E me dirigiu novamente aquele belo sorriso.

    Não pude fazer outra coisa além de retribuir, esperando de não parecer demais a um cãozinho abanando a cauda. Estendi-lhe uma mão «Você adquiriu com sucesso sua primeira amiga», brinquei. «Eu sou Anthea Grage.»

    Ele apertou a minha mão, não delicadamente demais e nem forte demais, e por sua vez se apresentou. «Noah. Noah Shane.»

    Noah Shane.

    Soava realmente bem.

    «Prazer em conhecê-lo, Noah Shane», exclamei, marcando de propósito o seu nome. «Agora porém devo realmente ir. Os meus me esperam em casa e já está escuro.»

    «Entendo. Quer que lhe dê uma carona? Meu carro está estacionado bem aqui perto», ofereceu-se. Indicou com um gesto a parte oposta da rua.

    Hesitei. Podia ser mesmo um serial killer ou algo semelhante. Não tinha um aspecto ameaçador, para dizer a verdade, mas quem era eu para julgar a predisposição ao homicídio de um desconhecido? No fim das contas nunca o havia visto antes.

    O meu rosto deve ter sido uma resposta suficiente, porque Noah desatou a rir. «Tudo bem, sem carona. Mas permita-me lhe dar o meu número de telefone», sugeriu, pegando uma caneta sabe-se lá de onde e rabiscando uma série de números sobre a sacola de papel. «Eu teria preferido perguntar o seu número, mas tem alguém aqui que tem problemas em confiar em desconhecidos amigáveis», ele zombou de mim com uma torsão divertida dos lábios.

    «O seguro morreu de velho», respondi, apertando ao peito o meu novo livro.

    Nesse ponto cumprimentei-o com um aceno de mão e me afastei no escuro, até que Noah se tornasse apenas um ponto indistinguível na noite de Portown.

    ––––––––

    Quando cheguei à entrada de casa, percebi que meus pais não estavam sozinhos. Estacionadas na rua, de fato, havia uma peruazinha empoeirada e uma Mercedes cinza claro, brilhante como se tivesse saído da concessionária. Os carros das tias.

    Assim que introduzi a chave na fechadura, ouvi uma alegre agitação proveniente de dentro da casa. Já sabia o que aconteceria depois.

    Sequer tive o tempo de abrir a porta e alguém me precedeu, quase me fazendo perder o equilíbrio.

    Quase. Teria sido impossível para mim cair, presa no abraço sufocante da tia Ella.

    Tia Ella era a irmã caçula da minha mãe; na família era conhecida como a esquisita das irmãs Hooper e não sem razão: mesmo a um olhar distraído, seus cabelos de corte atrevido pintados pela metade de laranja e o seu piercing no septo nasal, no melhor estilo de um touro, não poderiam deixar de atrair a atenção para ela.

    Era absolutamente fantástica. Para mim era como a irmã mais velha e um pouco doida que eu jamais tivera, mas infelizmente com apenas dezoito anos havia sido transferida para a Pensilvânia e eu não tinha muito a oportunidade de vê-la. Era um espírito livre.

    «Ant, estou tão feliz em vê-la!» tia Ella sussurrou-me ao pé do ouvido, apertando-me ainda mais no seu abraço corta-fôlego.

    «Eu também, muito! Quando você voltou à cidade?» perguntei-lhe com um sorriso de orelha a orelha.

    Ela fez uma careta. A palavra cidade referindo a Portown sempre a fazia reagir daquela maneira. Não era um mistério a razão de ter fugido como o diabo foge da cruz assim que lhe foi possível.

    «Voltei a este lugar esquecido por Deus faz apenas duas horas», respondeu com um suspiro. «Já me sinto sufocar. Mas olhe como você cresceu!»

    Corei enquanto me esquadrinhava da cabeça aos pés. Eu duvidava que tivesse mudado muito desde o Natal mas, embora nunca tenha gostado de ser observada com demasiada atenção, deixei-a fazer.

    «Anthea, é você?»

    A voz de mamãe, proveniente da cozinha, me deu o pretexto ideal para fugir do embaraço do check-up completo. Segui sua voz - e o perfume de coisas deliciosas - até encontrá-la. Estava ao fogão, pela segunda vez em poucas horas. Era sem dúvida o meu dia de sorte.

    Inspirei profundamente. O cômodo perfumava como uma confeitaria e, depois de ter beijado no rosto tanto mamãe quanto a tia Sibil, aproveitei para servir-me uma fatia de torta ainda fumegante.

    «Cadê papai?» perguntei à mamãe enquanto me sentava.

    «Ainda no trabalho», respondeu. «Voltará mais tarde. Sibil, pegue você também um pouco de doce, vamos!»

    Tia Sibil era a mais velha das irmãs Hooper e também a mais séria, como bem convinha a uma irmã mais velha. Às vezes podia parecer demasiado severa e empertigada, mas quem a conhecia sabia que não fazia de propósito. Na maior parte das vezes sua reserva era confundida com frieza, e era

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