Assuntos Controversos da Doutrina Espírita
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Sobre este e-book
O Movimento Espírita Brasileiro se distanciou muito do originalmente organizado por Allan Kardec, distorcendo o que é a Doutrina Espírita, divulgando-a como uma religião no sentido usual do termo, e tendo práticas que a descaracterizam enquanto a ciência e filosofia que é, ao se colocar rituais e se divulgar, como partes integrantes da Doutrina, obras que não passaram pelo seu método. Frente a isso, o melhor a fazer é utilizar as próprias obras fundamentais e comparar o que está nelas com o que é feito e dito em vários grandes centros que se autodenominam espíritas. Tratar das controvérsias que surgem daí é o foco deste livro, que conta também com questionamentos e reflexões do autor. Por fim, o objetivo da obra é fazer pensar, e dar a sua contribuição para a retomada da Ciência Espírita como o que ela realmente é.
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Assuntos Controversos da Doutrina Espírita - Claudio Zadorosny Lopes Bastos
Introdução
A presente obra é fruto dos meus estudos, das minhas experiências, vivências e reflexões pessoais acerca da Doutrina Espírita e do movimento espírita brasileiro.
Ainda que com muitas generalizações, nenhuma delas deve ser tomada de modo absoluto, não passíveis de conter exceções. E, se utilizei delas, foi para não ficar repetindo, mais do que já o foi, termos como na maior parte das vezes
, na maioria das vezes
, etc, o que também deve-se ter como delimitado ao universo do que eu observei , passei e vivi, não devendo ser cogitada a pretensão de uma aplicação indistinta a tudo e todos.
Também, tudo o que não for citação direta das obras deve ser tido como interpretação e opinião minha, sem a menor pretensão de incontestabilidade ou de verdade absoluta.
Todos os textos das obras fundamentais foram retirados do site IPEAK, e a pesquisa, em muitos momentos, foi realizada no Kardecpedia.
Optei, neste livro, por usar muitas vezes o termo organizador
, ao invés de codificador
para me referir a Allan Kardec pois, enquanto não encontro nada que torne incorreto o segundo termo, pessoalmente, o primeiro me parece melhor. A mesma coisa valendo para a palavra sistematização
. Além disso, conquanto nas obras fundamentais se encontre a palavra Espiritismo
com, entre outros significados, uma lei da natureza
, aqui a utilizei como a doutrina organizada por Allan Kardec
, como este também o faz, e comigo priorizando o referido sentido.
Ainda assim, retirei várias passagens aqui contidas de textos meus disponibilizados na internet — vários com modificações —, onde fiz uso do termo codificador
e codificação
, e optei por deixá-los, para diminuir a repetição [ainda mais] exagerada de termos.
Sobre a formatação, os negritos e sublinhados são meus, ao passo que os itálicos são das própria fontes.
Já, por fim, ressalte-se: este não é um livro espírita. É um livro escrito por um espírita.
I - Minha história na Doutrina dos Espíritos
Em meados de 2010 comecei a frequentar reuniões, começando logo na mocidade, após 1 dia de estudo d'O Livro dos Espíritos, quando vi que era aquilo que queria para minha vida, seguindo pouco depois para outra reunião de estudo do livro citado (a que estive 1 dia
foi em outro lugar), a qual acompanhei durante um ano.
Extasiado com a Doutrina, com a fé raciocinada, falei algo com um palestrante, que me indicou as obras de André Luiz como sendo o que há de melhor
. Então, corri atrás da famosa série A Vida no Mundo Espiritual
, devorando os primeiros volumes, inclusive levando-os, em determinado momento, para a faculdade, para ler no tempo que tinha livre, e terminá-los logo.
Depois de mais ou menos 2 ou 3 anos, não me recordo bem, numa chance que me foi dada de conduzir os estudos da mocidade, não apareceu ninguém. Porém, naquele dia, me veio a ideia, e perguntei se podia fazer em uma palestra o tema que havia preparado, mas pensando que obteria resposta negativa. Para minha surpresa, foi exatamente o oposto que ocorreu.
Fiz a primeira palestra e, a partir daí, tive várias outras oportunidades, utilizando em várias delas, as publicações do autor citado como referência. Fui convidado para falar em outros lugares, e o caminho continuou, desse mesmo jeito. Cheguei a ler algumas dezenas de livros que circulam por aí, estudando, ao mesmo tempo, as obras de Allan Kardec, tendo ficado satisfeito quando li as 5 mais famosas e Obras Póstumas
. Porém, tendo conhecido pessoas que leram e estudaram centenas de livros, ainda tinha para mim que nossa, falta muita coisa para eu ler
, imaginando essas centenas ou milhares que estão disponíveis, para que eu pudesse saber Espiritismo.
Nesse meio tempo, aconteceram 2 fatos curiosos: um foi quando uma pessoa, numa situação na qual eu falei que não haviam animais no mundo dos Espíritos, me disse que André Luiz falava que tinha; a outra foi quando li Brasil: Coração do Mundo, Pátria do Evangelho
, e estranhei Jesus não saber o que estava acontecendo na Terra. Porém, em ambas, passei batido, chegando mesmo a fazer, no final de 2015, uma palestra sobre o último.
Também ocorreu de, navegando na internet, ver num site, que não lembro qual era, o termo andréluizismo
, e, naquela lista à direita na qual ficam recomendações de vídeos no Youtube, vi que havia um com o título mais ou menos assim: André Luiz x Kardec
. Nos dois casos, ignorei, e ainda pensei algo do tipo: coisa de ortodoxo
.
Entretanto, cerca de 1 ano depois dos últimos fatos, em algum momento de 2016, resolvi assistir o vídeo sugerido. Então, algo aterrador
aconteceu: o palestrante era o Sérgio Aleixo e, não importava como ele falasse, o que havia na minha frente era texto contra texto. Era André Luiz falando uma coisa e as obras fundamentais falando outra. Não tinha o que argumentar.
Continuando, assisti Emmanuel x Kardec
, cujo orador é o Jorge Medeiros. Após a primeira hora do seminário, não conseguia desgrudar da cadeira, como alguém disse, parecido, num dos comentários sobre a filmagem. De novo, eram textos de um Espírito idolatrado pelo movimento espírita brasileiro, confrontados com os da sistematização. Outra vez, não havia o que falar.
Era como se meu conhecimento doutrinário adquirido ao longo de 5 anos (que sei ser muito pouco) fosse um castelo de vidro, e que uma pancada havia o estilhaçado por inteiro.
A partir daí, tive coragem de assumir as incoerências que encontrava nos livros largamente distribuídos no MEB, me tornei cada vez mais desconfiado de qualquer coisa que aparecesse com o nome da Doutrina, ou em nome dela, bem como de qualquer novidade e teoria, recente ou velha, que surgisse, não aceitando absolutamente nada que não tenha passado pelo método do organizador como sendo Espiritismo, nem tomando como verdade nada à respeito dos assuntos que fogem à matéria tangível
que não tenha sido devidamente comprovado ou demonstrado por fatos. Também tomei a decisão mais importante de todas: vi que para conhecer o Espiritismo, o único caminho é estudando Kardec, e mergulhei fundo em suas obras, me banhando nas águas cristalinas e puras da Revista Espírita, ao passo que também li todas as outras fundamentais.
Vi que para conhecer Ciência Espírita não precisava ler centenas de livros, mas menos de 30, e o melhor, todos estão de graça na internet, sem problemas com direitos autorais.
Quanto mais eu conhecia Kardec, mais via o quão contrário a ele o movimento brasileiro está. Fiquei indignado, revoltado, com raiva e me tornei agressivo. Não conseguia encontrar um só lugar no qual o que ele fez e suas recomendações não fossem violadas e, com muito ímpeto, em vários momentos combatia os absurdos propagados. Ao ler sobre o pecado da omissão
, que Herculano Pires fala no livro O Espírito e o Tempo
[1], passei a me manifestar nas reuniões. Comecei também, não lembro em qual momento, a colocar na rede social mais conhecida postagens mostrando o que é o Espiritismo, e fazendo críticas sobre o que não é, e sobre as mazelas em geral que via no movimento. Porém, confesso que isso me deixava mais irritado, me fazia mal, motivo pelo qual parei.
Voltando, nesse novo caminho, acabei encontrando pessoas que se revelaram amigos em momentos que eu não sabia o que fazer. Um deles foi o próprio Jorge Medeiros, que me lembrou muito bem que nós que entendemos, temos ainda maior obrigação de sermos tolerantes.
Também, após ser expulso de 2 grupos do Facebook (sinceramente, não tenho mais ressentimentos), acabei também conhecendo outros grupos que realmente se dedicam a estudar a Filosofia Espírita como ela é.
Hoje, mais ou menos 1 ano depois, mais calmo e ponderado, ainda procuro o equilíbrio. No momento em que digito essas palavras, ainda tenho que, no meu caso — o que não significa que seja o caso de todos — não vale a pena ficar atacando o movimento através do Facebook, mas, ao mesmo tempo, escrever o que está nessas e nas próximas páginas, também me tranquilizou mentalmente.
E, de toda essa história, resumida aqui, digo com todas as letras e sem sombra de dúvida: estou satisfeito em seguir com Allan Kardec.
II - 5 não, 22
Não sei de onde veio a expressão obras básicas
, nem de onde se tiraram que os livros de Allan Kardec são só cinco. Só sei que isso não encontra respaldo fático (traduzindo: não é real).
Em uma de suas últimas obras, o Catálogo Racional de Obras para se fundar uma Biblioteca Espírita
, logo na primeira seção, intitulada Obras fundamentais da doutrina espírita
, ele expõe 22 títulos, que são: O Livro dos Espíritos; O Livro dos Médiuns; O Evangelho segundo o Espiritismo; O Céu e o