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A vida de Muhammad
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E-book547 páginas8 horas

A vida de Muhammad

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Sobre este e-book

Mais de 1,5 bilhões de muçulmanos, representando de 19 a 20% da população mundial, seguem a religião difundida por Muhammad. O Islã criou e moldou uma cultura que, agora, tem 1390 anos de existência.
Ibn Ishaq, um estudioso islâmico, começou a coletar histórias e lendas bastante conhecidas a respeito do profeta dos árabes aproximadamente 90 anos após a morte de Muhammad (632d.C.). Rapidamente, no entanto, entrou em conflito com as autoridades religiosas e legais de Medina (Malik ibn Anas), abandonou seu país de nascimento e partiu para Bagdá, passando por Cairo. Lá, sob o califado de al-Mansur, continuou sua pesquisa. Morreu no ano 767 A.D.
Ibn Ishaq deixou duas longas obras sobre a vida de Muhammad que, então, foram resumidas e consideravelmente encurtadas por Ibn Hisham, que morreu em 834 A.D. Até hoje, sua obra é considerada uma fonte indispensável para qualquer um que queira aprender sobre os diálogos e relatados contados por testemunhas oculares e pelos companheiros de Muhammad.
Esta fundamental obra documentária de Ibn Hisham, sobre a vida de Muhammad, foi traduzida para o alemão, a partir do árabe, em 1864, pelo Professor Gustav Weil. Numerosos poemas árabes e eulogias, que perderiam seu tom elevado e rima com a tradução, bem como as discussões sobre variações gramaticais de certas expressões, lendas e histórias incrédulas, foram omitidas, de modo que a pessoa de Muhammad possa ser mais proeminente e que os eventos verdadeiros de sua vida possam parecer mais óbvios.

IdiomaPortuguês
Data de lançamento30 de jun. de 2018
ISBN9780463165126
A vida de Muhammad

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    A vida de Muhammad - W von Frieden

    1. Os avôs de Muhammad

    1.1 Abd al-Muttalib – o avô de Muhammad

    Um dia, quando Abd al-Muttalib Ibn Hisham dormia, em uma visão foi ordenado que cavasse novamente o poço de Zamzam. Os djurhumitas o haviam enchido de entulho quando deixaram Meca.

    Foi desse mesmo poço que Allah, outrora, permitiu que Ismael bebesse quando era uma criancinha e teve sede. Sua mãe havia procurado água e nada achado. Ela permaneceu na colina de Safa e orou, pedindo água para Ismael. Na colina de Marwa, ela novamente orou, pedindo por água. Então, Allah enviou o Anjo Gabriel. Ele pressionou um dos calcanhares de Ismael contra a terra – e, veja, surgiu água! Sua mãe ouviu o som de animais selvagens. Ela temeu por ele, correu até ele e o encontrou com seu rosto deitado ao chão, pegando água com a concha de sua mão, bebendo. Depois ela limpou o poço de toda areia.

    1.2 A discussão sobre o poço de Zamzam em Meca

    Um dia, quando al-Muttalib dormia no santuário, ele recebeu uma visão na qual foi instruído a cavar o poço de Zamzam. Ele descreveu sua experiência da seguinte forma: "Enquanto eu cochilava à parede do sagrado santuário, alguém se aproximou de mim e disse: ‘Cave Tayba’ (o bom). Eu perguntei: ‘O que é Tayba?’, depois disso, a visão desapareceu. No dia seguinte, como eu dormi novamente no lugar de meu acampamento, a visão retornou e disse: ‘Cave Barra’ (o puro)! Eu perguntei: ‘O que é Barra?’ Novamente, a visão me deixou. No terceiro dia, a aparição retornou com as seguintes palavras: ‘Cave al-Madnuna!’ (o precioso). Eu perguntei: ‘O que é Madnuna?’ Novamente, a visão desapareceu. No quarto dia, apareceu a mim alguém que disse: ‘Cave Zamzam.’ Eu perguntei: ‘O que é Zamzam?’ E recebi a resposta: ‘É aquele que nunca acabou e que nunca ficou sem água, que dá de beber aos honoráveis peregrinos. Ele está entre o esterco e o sangue, perto do grasnar do corvo forte, ao lado do formigueiro.’

    Assim, Abd al-Muttalib, sem mais dúvidas quanto à veracidade da mensagem e tendo recebido instrução sobre as condições do poço e sua localização aproximada, começou, no dia seguinte, a cavar o poço usando sua marreta. Al-Harith, que, naquele tempo, era seu único filho, o acompanhou.

    Quando o poço se tornou gradualmente visível, ele começou a louvar a Allah. Foi quando os Coraixitas se apressaram para o lugar. Eles observaram que sua missão foi bem-sucedida e disseram: Esse poço pertenceu ao nosso progenitor Ismael. Temos ritos antigos para ele. Você deve nos dar uma parte dele. Abd al-Muttalib se recusou e respondeu: Ele foi dado a mim! Ele pertence apenas a mim! Eles responderam: Nos dê o que nos é de direito ou levantaremos uma acusação contra você!

    Ótimo, escolham um juiz! Eles escolheram uma mulher vidente da tribo de Sa'd Hudham, que habitava nas terras superiores da Síria. Abd al-Muttalib foi até ela, acompanhado de alguns dos filhos de Abd Manaf. Os coraixitas também enviaram emissários de cada tribo. Quando chegaram à região selvagem, entre Hijaz e a Síria, a água de Abd al-Muttalib se acabou. Ele e seu companheiro pareceram estar quase morrendo de sede. Eles pediram aos emissários dos Coraixitas alguma água. Eles, no entanto, se recusaram, dizendo: Estamos no deserto. Poderia acontecer conosco o mesmo que está acontecendo com vocês. Abd al-Muttalib, então, discutiu com seus companheiros o que haveriam de fazer. Eles responderam: Você deve dar as ordens. Ao que você mandar, nós obedeceremos. Então ele respondeu: Minha opinião é que cada um de nós, conforme ainda tiver forças, cave sua própria sepultura. Quando um de nós morrer, quem ainda estiver vivo pode jogar o outro para dentro da cova e enterrá-lo, até que a morte visite o último de nós. De fato, é melhor que nós morramos do que morra a caravana inteira. Seus companheiros concordaram. Cada um cavou sua própria cova e aguardou pela morte que haveria de vir. Em seguida, Abd al-Muttalib, de repente, disse: Por Allah, é muita fraqueza de nossa parte se nós estupidamente nos entregarmos à morte sem nem ao menos tentarmos salvar novas vidas. Talvez Allah nos mostrará água em algum lugar. Levantem-se! Assim, eles recomeçaram, sendo observados pelos coraixitas.

    Abd al-Muttalib montou em seu camelo e partiu. Logo em seguida, começou a brotar água fresca sob os cascos de seu camelo. Abd al-Muttalib e seus companheiros começaram a louvar a Allah, desmontaram, beberam e encheram seus alforjes. Após isso, Abd al-Muttalib chamou o restante dos coraixitas para que viessem à nova fonte, dizendo: Allah nos deu água. Bebam vocês também e encham suas vasilhas! Quando fizeram isso, disseram: Por Allah, a decisão já caiu sobre nós. Não vamos mais disputar com você por causa de Zamzam, porque aquele que te deu água no deserto também te deu Zamzam. Volte e dê aos peregrinos água para beber. Após isso, Abd al-Muttalib voltou a Meca com aqueles que o acompanhavam, sem consultar a vidente.

    1.3 O voto de Abd al-Muttalib

    É dito que – e somente Allah sabe o que realmente aconteceu –quando Abd al-Muttalib estava cavando o poço de Zamzam, ele foi tratado com hostilidade pelos coraixitas. Então, ele fez o seguinte voto: quando dez filhos lhe tivessem nascido e já tivessem a idade em que já tivessem mais ou menos sua altura, ele tomaria um deles e o sacrificaria a Allah na Caaba.

    Depois, quando dez filhos já lhe haviam nascido, quando alcançaram a idade de poder protegê-lo, os fez saber de seu voto, os convocando a cumpri-lo. Eles estavam desejosos de cumprir o voto e perguntaram como seria isso. Ele respondeu: Que cada um escreva seu nome em uma flecha e a dê a mim. Com essas flechas, então, ele foi ao ídolo Hubal, que fora erigido ao lado de um poço, no meio da Caaba. Lá, eram oferecidos os sacrifícios ao santuário. Hubal tinha sete flechas. Em cada uma havia uma inscrição. Em uma flecha estava escrito expiação. Se não havia consenso sobre quem deveria pagar a expiação, então aquele que tomava essa flecha era quem deveria. Em uma segunda flecha estava escrito sim e na terceira não. Se alguém tinha dúvida se deveria ou não fazer algo, a flecha com sim ou não decidiria. Também havia uma flecha escrita água. Se fosse tirada, se deveria cavar um poço. Por fim, houve outras três flechas. Em uma estava escrito de vós, na outra restante e na terceira não de vós. Se os beduínos (árabes) quisessem praticar circuncisão, culminar um casamento ou enterrar seus mortos, ou se tinham dúvidas sobre a origem de um homem, eles o levavam para Hubal e pagavam ao que lançava sortes um cento de dirhams e um camelo para o sacrifício. Então diziam, enquanto colocavam um homem diante de Hubal para questionamento: Tu, nosso deus, aqui está o estranho sobre quem queremos saber isso ou aquilo. Faça-nos saber a verdade sobre ele!

    Então, eles lançavam sortes. Se fosse destinada a flecha de vós, o homem desconhecido deveria ser contado como um deles. Se a flecha marcada não de vós fosse escolhida, ele era considerado um aliado. Se, no entanto, a flecha com a palavra restante fosse escolhida, o homem deveria permanecer em sua antiga condição, sem poder alegar ser um aliado ou irmão de sangue. Em outros casos, nos quais as respostas sim ou não eram esperadas, eles agiam de acordo, embora quando a flecha com o não fosse escolhida, eles adiariam o assunto até o ano seguinte, para poder finalmente agir conforme a sorte.

    Abd al-Muttalib foi ao lançador de sortes, que tomou as flechas e ao qual foi contado sobre seu voto. A cada um de seus filhos foi dada uma flecha, com seu próprio nome escrito. Então, o pai chamou o homem para tomar uma das flechas. A sorte caiu sobre Abd Allah, o pai do mensageiro de Allah. Ele era o filho preferido de Abd al-Muttalib e também o mais moço. Como a sorte caíra sobre Abd Allah, Abd al-Muttalib tomou sua espada e foi com Abd Allah aos ídolos Isaf e Naila, para sacrificá-lo ali. Nisso, os coraixitas saíram de sua assembleia e perguntaram: O que você pretende fazer, Abd al-Muttalib? Eu pretendo abatê-lo com um corte na garganta!"

    A isso, seus filhos e o restante dos coraixitas responderam: Por Allah, você não pode sacrificá-lo sem razão alguma. Se você fizer isso, todo homem virá e sacrificará seu filho. Como então o povo será preservado? Então, também falou al-Mughira ibn Abd Allah, um dos tios de Abd Allah, dizendo: Por Allah, você não o sacrificará até nos dar uma razão satisfatória para tal. Nós preferimos redimi-lo por meio de nossas posses."

    A esse ponto, seus filhos e o restante dos coraixitas responderam: Não faça isso! Vá com ele a Hijaz. Lá vive uma vidente que tem um espírito familiar e que obedece. Fale com ela que seu assunto será devidamente resolvido. Se ela te ordenar sacrificá-lo, então o sacrifique. Se ela te disser outra coisa, em que vocês dois serão ajudados, então obedeça a ela!

    Juntos, eles viajaram a Medina e encontraram a vidente em Khaybar. Abd al-Muttalib revelou a ela seu voto, o que acontecera ao lançar sortes e sua intensão de sacrificar seu filho. Ela ordenou que a deixassem até que seu espírito familiar retornasse, para que ela pudesse questioná-lo. Eles a deixaram e Abd al-Muttalib orou a Allah. Quando foram ter com ela, na manhã seguinte, ela os disse: Foi revelado a mim. Qual é o preço do resgate para expiação de um homem para vocês? Eles responderam: Dez camelos. Ela respondeu: Retorne ao seu país e coloque Abd Allah de um lado e os dez camelos do outro lado e lance sorte entre eles. Se a flecha com os camelos for tirada, sacrifique-os em vez do moço. Ele, então, será resgatado e seu senhor satisfeito. Se, no entanto, a flecha de Abd Allah for tirada, adicione mais dez camelos. Faça assim até que a flecha dos camelos seja tirada.

    Sob essa palavra, eles retornaram a Meca, determinados a seguir suas instruções. Abd al-Muttalib orou novamente a Alla diante de Hubal. Então eles trouxeram Abd Allah e dez camelos para lançar sortes. Quando a sorte caiu sobre Abd Allah, eles trouxeram mais dez camelos. Ainda assim, a sorte continuou a cair sobre Abd Allah até que, finalmente, cem camelos estavam do outro lado. Foi então que a flecha com os camelos foi tirada. Os coraixitas e o restante dos presentes determinaram: Agora o assunto foi decidido, Abd al-Muttalib! Seu senhor está satisfeito! Abd al-Muttalib, no entanto, dizem eles, jurou não parar até que a sorte caísse mais três vezes. Somente quando a sorte caiu sobre os camelos mais três vezes é que eles foram sacrificados. Todos puderam tomar do sacrifício o quanto quiseram.

    2. O nascimento de Muhammad e sua infância

    (aprox. 570 A.D.)

    2.1. Como Abdullah, pai de Muhammad, se casou

    Abd al-Muttalib tomou Abd Allah pela mão e foi com ele às cercanias do sagrado santuário, passando por uma mulher dos Banu Asad ibn Abd al-‘Uzza. Ela era a irmã de Waraqa ibn Nawfal. Ela o viu e perguntou: Aonde você vai, Abd Allah?Estou indo com meu pai.Eu te darei tantos camelos quanto os que foram sacrificados em seu lugar se você se deitar imediatamente comigo. Não posso deixar meu pai agora, fazendo algo contrário à sua vontade. Abd al-Muttalib, então, foi com seu filho a Wahb ibn Abd Manaf, que, naquele tempo, devido ao seu nascimento e prestígio, era o líder de Banu Zuhra. Ele, então, deu sua filha, Amina, para ser sua esposa. Naquele tempo, ela era a mais bem cotada mulher entre os coraixitas, devido sua classe e decência. Sua mãe se chamava Umm Habib e era filha de Asad ibn Abd al-‘Uzza. Abd Allah, então, se casou com ela e ela ficou grávida do mensageiro de Allah. Então, ele a deixou e retornou à mulher que se ofereceu a ele e a perguntou: Por que você não me faz a mesma proposta que fez ontem? Ela respondeu: A luz que estava com você ontem já te deixou. Eu não quero mais coisa alguma contigo.

    Ela ouviu de seu irmão, Waraqa ibn Nawfal, – que se tornara cristão e que estudou as Escrituras – que um profeta surgiria entre seu povo.

    Abu Ishaq ibn Yasar relatou algo similar. Abd Allah foi ter com a mulher que ele possuía além de Amina e à qual queria acariciar. Porém, antes disso ele havia trabalhado com a terra e, por isso, estava sujo. Por isso, ela o rejeitou. Ele a deixou, se lavou e quis retornar a Amina. Quando ele novamente passou por essa mulher, ela o chamou para si. Ele não deu atenção a ela, mas foi a Amina e se deitou com ela. Assim, ela ficou grávida de Muhammad. Depois ele foi visitar novamente a mulher e perguntou-lhe: Você deseja algo? Ela respondeu: Não; quando você passou por mim pela primeira vez havia um ponto brilhante entre seus olhos. Por isso eu o chamei para vir a mim. Porém, você se recusou e foi a Amina. Agora o brilho passou a ela.

    Outros dizem que a mulher teria dito: Quando ele passou por mim havia entre seus olhos alguma coisa parecida com uma mancha branca de uma égua. Eu o convidei para vir a mim na esperança de que esse sinal passasse para mim. Mas ele se recusou e foi a Amina, de modo que ela concebeu o mensageiro de Allah. Ele foi o melhor de seu povo em questão de nascimento e de nobreza – tanto do lado de seu pai quanto do lado de sua mãe.

    2.2 Eventos durante a gravidez de Amina

    A respeito da mãe de Muhammad, é relatado – e somente Allah sabe tudo – que Amina, filha de Wahb, teria dito: Quando eu fiquei grávida do mensageiro de Allah, apareceu a mim um espírito que me disse: Você está grávida do senhor de seu povo. Quando ele nascer, diga: ‘Eu o ponho sob a proteção do único que o protegerá do mau dos invejosos, e chamo seu nome de Muhammad!’"

    Durante sua gravidez, é dito que ela notou uma luz radiante saindo dela, de modo que os castelos de Bosra (a uma distância de mil quilômetros), na Síria (uma cidade provincial romana ao norte de Meca), podiam ver.

    Ainda durante a gravidez de Amina, morreu Abd Allah, filho de Abd al-Muttalib, o pai do mensageiro de Allah.

    2.3 O nascimento e cuidado do mensageiro de Allah

    (cerca de 570 d.C.)

    O mensageiro de Allah nasceu em uma segunda-feira do Ano do Elefante, quando a décima segunda noite do mês de Rabi’a (3º mês) já havia passado. Hassan ibn Thabit relatou: Eu era um menino de sete ou oito anos e entendi muito bem o que ouvi quando um judeu de um lugar em Iatreb (Medina) chamou seu povo para se reunir. Quando eles se reuniram a ele, ele disse: ‘Hoje a noite a estrela subiu ao céu, sob a qual Ahmad nasceu.’ Eu perguntei a Sa'id ibn Abd al-Rahman a idade de Hassan quando Muhammad foi a Medina. Ele respondeu: ‘Sessenta anos’. Como Muhammad tinha trinta e cinco anos, Hassan deveria ser um menino de sete anos quando ouviu essas palavras.

    Após Muhammad nascer, sua mãe enviou convite a Abd al-Muttalib para que viesse ver o menino. Ele foi e ela o disse o que vira durante a gravidez, o que foi dito a ele a respeito do menino e como ela deveria chamá-lo. É dito que Abd al-Muttalib imediatamente o levou à Caaba, onde ele orou a Allah e agradeceu-lhe pelo presente.

    Então ele o levou de volta à sua mãe e tentou encontrar uma ama de leite para amamentá-lo. A mãe adotiva foi uma mulher dos Banu Sa'd ibn Bakr. Seu nome era Halima e ela era filha de Abu Dhu’aib. Os irmãos adotivos de Muhammad e suas irmãs foram Abd Allah ibn al-Harith, Unaisa e Djudhama, que era chamado de ‘al-Schayma’. Todos eram filhos naturais de Halima.

    Jahm ibn Abi Djahm, um ex-escravo de Harith ibn Hatib al-Djumahi, relatou que Halima, filha de Abu Dhu’aib, a ama de leite do mensageiro de Allah, teria tido: "Eu deixei minha terra de origem com meu marido, bebê e com outras mulheres dos Banu Sa'd, que procuravam por crianças para adotarem, em um ano de fome que não nos deixou muita coisa sobrando. Eu viajei sobre uma burrinha malhada e tínhamos uma camela conosco a qual não dava uma gota de leite. Nós não podíamos dormir a noite toda porque as crianças menores choravam de fome. Nem eu ou a camela tinha leite suficiente para cuidar dele. Nós esperávamos por qualquer tipo de ajuda. Eu viajei sobre minha burrinha mas acabei atrasando a caravana, pois esta era muito fraca e velha. Nós finalmente chegamos a Meca em busca de crianças para criarmos. O mensageiro de Allah foi oferecido a todas as mulheres, mas nenhuma o quis, porque ele era órfão. Elas esperavam ganhar presentes do pai da criança e o que uma mãe ou avô pudesse dar. Então, quando todas as outras mulheres já tinham crianças para cuidar e já queriam partir, eu disse a meu marido: ‘Por Allah, eu não vou voltar feliz ao nos companheiros sem uma criança para criar. Eu vou ficar com esse órfão.’ Ele respondeu: ‘Não há mal em adotá-lo. Talvez Allah nos abençoará por meio dele.’ Eu somente o peguei porque não encontrei outra criança para cuidar. Então o pus em minha montaria. Quando o aproximei de meu peito, ele encontrou tanto leite que bebeu até se encher, bem como também se encheu seu irmão adotivo. Então ambos dormiram. Antes disso, nós não conseguíamos dormir por causa das crianças chorando. Então meu marido foi à camela. Suas tetas estavam cheias de leite; ele pôde beber tanto que nós dois bebemos até ficarmos satisfeitos. Então tivemos uma noite muito agradável. Na manhã seguinte meu marido me disse: ‘Sabe, Halima, por Allah, você escolheu uma criatura abençoada.’ Eu respondi: ‘Por Allah, assim eu espero!’ Então nós partimos. Eu o trouxe sobre minha burrinha, que agora ia tão rápido que os outros viajando conosco em seus burros não podiam acompanhá-la. Eles me pediram para esperar por eles e queriam saber se era a mesma burra sobre a qual eu vim. Quando disse que era, eles responderam: ‘Por Allah, com ela há uma maravilhosa explicação.’ Quando chegamos à nossa terra, no país dos Banu Sa'd, que é a mais fértil de todas as terras, veio a mim no começo da noite meu rebanho muito bem cuidado, que produziu muito leite. Verdadeiramente, tivemos leite em abundância enquanto os outros não podiam beber nem uma gota. Finalmente, alguns deles disseram a seus pastores: ‘Ai de você! Deixem os animais pastarem onde o rebanho da filha de Abu Dhu’aib deixa os dela pastarem!’ Não obstante, enquanto meu rebanho tinha fartura de alimento e produzia leite em abundância, os deles não produziam uma gota de leite e voltavam com fome. Então em tudo encontrávamos a bênção de Allah e abundância, até que dois anos se passaram, quando eu desmamei o menino. Ele cresceu poderoso e forte como nenhuma outra criança. Então o levamos de volta à sua mãe, embora nós realmente quiséssemos ficar com ele porque causa das bênçãos que vinham por meio dele. Portanto, eu disse à sua mãe: ‘Você quer deixar seu filhinho conosco até que ele fique mais forte? Temo que o ar ruim de Meca possa fazê-lo mal.’ Nós a pressionamos tanto que ela finalmente o deixou voltar conosco.

    Alguns meses após voltarmos, Muhammad estava nos fundos de nossa casa com seu irmão e o rebanho quando seu irmão correu a nós e disse: Dois homens vestidos de branco agarraram meu irmão coraixita e o jogaram no chão. Eles abriram seu corpo ao meio e mexeram em seu interior. Eu corri com seu pai até ele. Quando o encontramos, mal podíamos reconhecê-lo; nós nos aproximamos dele e perguntamos o que aconteceu.

    Ele respondeu: "Dois homens vestidos de branco vieram, me derrubaram, abriram meu peito ao meio e procuraram alguma coisa; mas não sei o que.

    Nós o levamos à nossa tenda e seu pai disse a mim: "Temo que esse menino seja atormentado por espíritos malignos. Devolva ele à sua família antes que fiquem sabendo disso. Nós viajamos com ele à sua mãe e ela perguntou, ‘Ó, ama de leite, você queria tanto ficar mais com o menino!’ Eu respondi: ‘Allah fez meu filho crescer. Já cumpri meu dever, mas receio que o mau possa vir sobre ele. Portanto, eu o trago de volta a você, conforme sua vontade.’ Amina respondeu: ‘Você está mentindo! Me conte a verdade!’ Ela me pressionou tanto até que eu contei tudo. Então ela perguntou: ‘Você tem medo que ele esteja possuído por um espírito maligno?’ Quando eu fiz que sim com a cabeça, ela respondeu: ‘Nunca, por Allah! Satanás não tem poder sobre ele porque meu filho um dia terá uma posição elevada. Eu deveria te contar sobre ele?’ Quando eu disse que sim, ela continuou. ‘Quando eu estava grávida, eu vi uma luz radiando de mim, tão clara que ela era vista dos castelos de Bosra, na Síria. Minha gravidez foi muito fácil e agradável, como nunca houve igual. Quando eu o dei à luz, ele estendeu suas mãos ao chão e ergueu sua cabeça ao céu. Mas deixe-o comigo agora. Retornem em paz!’

    Alguns dos companheiros do mensageiro de Allah uma vez pediram-nos que desse informação sobre si. Com isso ele disse: Eu sou aquele a quem meu pai Ibrahim (Abraão) ordenou que cressem, e aquele que foi profetizado por Isa (Jesus). Quando minha mãe estava grávida, ela viu uma luz irradiar de si e iluminou até mesmo os castelos de Bosra. Eu fui criado entre os Banu Sa'd ibn Bakr. Uma vez, quando eu estava pastoreando o rebanho atrás de nossa casa, vieram dois homens vestidos de branco. Eles tinham consigo um lavatório de ouro cheio de neve. Eles me pegaram e abriram meu peito ao meio. Então eles tiraram meu coração, também o abriram ao meio e retiraram um amontoado preto dele. Isso eles jogaram fora. Então eles lavaram meu coração e meu corpo com neve até que estava limpo. Finalmente, um disse ao outro: ‘Peso-o contra dez de seu povo!’ Ele assim o fez, mas eu pesei mais do que eles. Então ele disse: ‘Peso-o contra cem de seu povo’; mas eu pesei mais do que cem. Finalmente, ele disse: ‘Pese-o contra mil de seu povo,’ e quando eu pesei mais do que eles, ele disse: ‘Deixe-o! Ainda que você colocasse todas as pessoas na balança, ele pesará mais do que elas!’

    O mensageiro de Allah disse: Não há profeta que não tenha sido pastor de ovelhas. E quando alguém perguntou: E você? ele respondeu: Eu também fui um. Além disso, o mensageiro de Allah disse a seus companheiros: Eu sou o árabe de sangue mais puro entre vocês. Eu sou um coraixita, e enquanto era amamentado vivia entre os Banu Sa'd.

    Há outros que dizem – e somente Allah sabe a verdade – que Halima perdeu o mensageiro de Allah entre as massas de pessoas nas terras altas de Meca, enquanto ela o levava à sua mãe. Ele não conseguia encontrá-lo. Ela foi ter com Abd al-Muttalib, que procurou por toda a área sagrada, orando a Allah que o devolvesse a si. É dito que Waraqa ibn Nawfal e outro coraixita o encontraram no platô de Meca e o trouxeram de volta a Abd al-Muttalib. Abd al-Muttalib o pôs sobre seus ombros e andou à volta do lugar sagrado, o entregando à proteção de Allah e orando por ele. Então ele o levou de volta à sua mãe.

    Um homem estudioso (conservador de tradições) me disse: Halima teve outra motivação para levar Muhammad de volta – uma razão que ela não contou à mãe. Após o desmame, quando ela estava em sua viagem de volta a Meca, alguns abissínios cristãos a encontraram. Eles o observaram de todos os ângulos e a questionaram sobre ele. Então eles disseram: Nós queremos levar esse menino conosco até nosso rei. Nós temos conhecimento sobre o futuro desse menino e sabemos que um dia ele ocupará uma posição elevada. A pessoa que me contou isso também disse que eles mal conseguiram deixaram os abissínios."

    2.4 A morte de Amina, mãe de Muhammad, e de seu avô, Abd al-Muttalib

    (cerca de 576 e 578 d.C.)

    O mensageiro de Allah viveu com sua mãe e avó, sob o apoio e proteção de Allah, que o permitiu crescer como uma adorável planta, até que, por sua graça, ele atingiu seu objetivo. Quando ele tinha seis anos de idade, sua mãe morreu.

    Abd Allah ibn Abi Bakr explicou: A mãe do mensageiro de Allah morreu em Abwa, entre Meca e Medina, quando ele tinha seis anos de idade. Com ele, ela visitou seus parentes, os Banu ‘Adi ibn al-Nadjdjar, e morreu na viagem de volta a Meca.

    Então o mensageiro de Allah viveu com Abd al-Muttalib, seu avô, que montou sua cama próximo à Caaba. Seus filhos se sentavam à volta de sua cama e esperavam até que ele viesse. Nenhum deles, porém, por respeito, se sentava à cama. Uma vez veio o mensageiro de Allah, que ainda era um menino pequeno, e se sentou à cama. Seu tio quis espantá-lo, mas Abd al-Muttalib disse: Deixe meu filho em paz! Por Allah, um dia ele ainda ocupará uma grande posição. Então ele o deixou se sentar ao seu lado e deu tapinhas em suas costas. Ele teria prazer em ver o que seu neto fez. Quando o mensageiro de Allah tinha oito anos de idade, Abd al-Muttalib também morreu.

    Quando Abd al-Muttalib sentiu que sua morte estava se aproximando, ele reuniu suas seis filhas – Safiyya, Barra, Atiqa, Umm Hakim al-Baida, Umaima e Arwa, e disse a elas: Chorem por mim para que eu possa ouvir o que vocês têm a dizer sobre mim antes de minha morte, de modo que sua filha Safiyya, fez o discurso fúnebre:

    Quando uma voz da noite lamentando anunciou grande calamidade por conta de um grande homem, eu derramei lágrimas, que rolaram sobre minhas bochechas como pérolas – por um homem verdadeiramente nobre, que de longe foi mais excelente do que qualquer escravo – por aquele que foi magnânimo, dotado de grande virtude – por um pai magnífico, e cheio de tudo o que é bom – por aquele que foi fiel em sua terra natal, que não mediu esforços e que permaneceu firme, sem ajuda – por aquele que foi poderoso, forte, de natureza excelente, que foi reconhecido e obedecido em sua geração – um exaltado, brilhante, de descendência virtuosa, que abençoou o povo como uma chuva na seca, um de ascendência nobre e perfeita – precioso tanto para o mestre quanto para o escravo. Ele foi excepcionalmente equilibrado, um nobre, homem generoso de família graciosa, forte como leões.

    Se fosse possível viver para sempre por causa de sua nobreza venerável – porque permanecer para sempre não é natural dos homens – então ele permaneceria imortal até a última noite por causa de sua grande exaltação e de sua descendência virtuosa.

    As outras filhas também discursaram para seu pai enquanto ele ainda estava vivo. Elas compuseram versos gloriosos a seu respeito, de modo que uma quis superar a outra. Amigos do moribundo também vieram para louvá-lo e exaltá-lo.

    Abd al-Muttalib, já incapaz de falar, dava sinais com sua cabeça para indicar que queria ser ouvir os discursos fúnebres.

    Após a morte de Abd al-Muttalib, seu filho, al-Abbas, se tornou o senhor do poço de Zamzam. Ele era o que dava de beber aos peregrinos, embora ele tivesse irmãos mais velhos naquele tempo. Ele foi confirmado em seu direito pelo mensageiro de Allah. A família tem os direitos sobre o poço até o dia de hoje.

    2.5 Muhammad com seu tio, Abu Talib

    (cerca de 578 d.C.)

    Após a morte de Abd al-Muttalib, o mensageiro de Allah foi a seu tio, Abu Talib. O arranjo foi recomendado por Abd al-Muttalib, porque ele e o pai do mensageiro, Abd Allah, eram irmãos maternos. O nome da mãe deles era Fátima, filha de Amr ibn Aid. Após a morte de seu pai, Abu Talib cuidou do mensageiro de Allah e o manteve sempre ao seu lado. Um adivinhador que frequentemente ia a Meca profetizou uma alta posição ao jovem homem. Verdadeiramente, o seguinte aconteceu: quando Abu Talib estava em seu caminho com alguns jovens, o adivinhador acabou vendo o mensageiro de Allah. Porém, aconteceu algo que tirou a atenção dele. Após o adivinhador já ter tratado do que o distraiu, ele novamente perguntou pelo menino e desejou que o menino lhe fosse trazido. Porém, Abu Talib viu como o adivinhador estava ansioso para ver o menino e o escondeu. Com isso, o adivinhador gritou: Ai de vocês! Me tragam o menino que eu vi mais cedo. Por Allah, ele ocupará uma posição de grandeza. Mas Abu Talib saiu com o menino.

    Posteriormente aconteceu que Abu Talib quis partir em uma missão de negócios à Síria. Ele estava prestes a sair quando o mensageiro de Allah se inclinou a ele tão carinhosamente que ele se encheu de ternura e disse: Por Allah, eu o levarei comigo e nunca mais partirei sem você!, ou palavras com o mesmo efeito. Então ele partiu com o menino. Como de costume, desmontaram na vizinhança de um monge ermitão. O nome do monge era Buhaira (ou Bahira). Ele conhecia as Escrituras e a religião dos cristãos e viveu longos anos em sua reclusão. Ali eles preservavam um livro que os monges mantinham para servir-lhes de instrução. Ele era passado de uma geração à outra. Sempre que Abu Talib e sua companhia passavam por ali, nas outras ocasiões, o monge nunca lhes fez notar e nem foi por eles notado. Dessa vez, porém, ele havia preparado uma refeição para eles porque, conforme ocorreu, ele, de dentro de seu quarto, viu como uma nuvem fez sombra sobre o mensageiro de Allah em meio à caravana. Então eles chegaram e desmontaram sob uma árvore, e a árvore fez sombra para o mensageiro de Allah, até mesmo os galhos da árvore se curvavam para oferecê-lo melhor proteção. Quando a refeição já estava pronta, Buhaira enviou mensageiro à caravana, informando-lhes que todos estavam convidados, tanto velhos quanto jovens, escravos ou livres, para vir e comer.

    Foi então que um dos coraixitas disse: É evidente que você nunca nos mostrou hospitalidade antes. Por que hoje sim? Buhaira respondeu: Você falou a verdade, porém hoje vocês são meus convidados. Eu quero honrá-los com uma refeição, são todos bem-vindos. E todos foram a ele, apenas o mensageiro de Allah não foi, ficando à sombra no acampamento, devido à sua tenra idade. Em seguida, como Buhaira não entrou entre seus hóspedes aquele no qual havia reconhecido alguns sinais, ele disse: Coraixitas, nenhum de vocês pode permanecer no acampamento, um lugar ainda está vago. Eles responderam: Apenas um menino, que é o mais novo dentre todos na caravana, ficou para trás, no acampamento. Então ele respondeu: Chamem-no. Ele também deveria comer com vocês!

    Então um dos coraixitas exclamou em voz alta: Por Lat e Uzza, não é certo que tenhamos deixado o filho de Abd Allah no acampamento! Então voltou até Muhammad, o abraçou e o conduziu aos outros. Então Buhaira o inspecionou e procurou por sinais que esperava encontrar em seu corpo. Quando a refeição já tinha acabado e os convidados se dispersado, Buhaira permaneceu diante dele, implorando-o por Lat e Uzza para que lhe respondesse às suas perguntas. Ele implorou por Lat e Uzza apenas porque esse era o costume dos coraixitas.

    É dito que Muhammad teria dito a ele: Não me peça por Lat e Uzza porque, por Allah, nada há de mais desprezível por mim do que essas deusas. Então Buhaira disse: Então eu imploro a você por Allah que responda às minhas perguntas. Muhammad respondeu: Pergunte o que você quiser! Então ele o perguntou sobre sua condição quando dormia, sobre questões aparentes e outras coisas. O mensageiro de Allah o informou a respeito de tudo, o que coincidiu com o que Buhaira dele sabia. Então ele observou suas costas e encontrou, entre seus ombros, o selo profético no lugar que lhe fora descrito. Se parecia com uma ventosa de vidro. Então ele foi a Abu Talib e o perguntou: Qual é o grau de parentesco desse menino e você? Ele respondeu: Ele é meu filho.Ele não é seu filho, pois esse menino não precisa mais de pai.Está certo, ele é meu sobrinho. Você disse a verdade. Agora vá para casa com o menino e o esconda dos judeus porque, por Allah, se eles o verem e o reconhecerem, eles o farão mal. Um dia seu sobrinho terá uma grande posição. Portanto, se apresse a voltar com ele para sua terra!

    Assim fez Abu Talib, tão logo terminou seus negócios na Síria.

    O mensageiro de Allah continuou a crescer e Allah lhe foi um escudo e protetor contra os erros vis do paganismo, por quanto o designara a ser seu mensageiro. Assim, ele se tornou o mais notório entre os de seu povo: ninguém o excedeu em honra, bom comportamento ou por nobre nascimento. Ele foi o vizinho mais agradável, o mais moderado, o mais confiável e leal, afastando-se de todas as características feias que denigrem um homem. Ele foi exaltado, incorporando em si mesmo muitas virtudes, vindo a ser conhecido pelos de seu povo como o fiel.

    Quando ocorreu a guerra do sacrilégio, Muhammad tinha vinte anos de idade. A guerra recebeu esse nome porque, enquanto ocorria entre os Kinana e Qays Ailan, alguns mandamentos sagrados foram quebrados. O líder do coraixitas e dos Kinana era Harb ibn Umaiyya ibn Abd Schams. No começo do dia, os Qays saíram vitoriosos mas, a partir do meio dia foram os Kinana.

    3. O casamento de Muhammad e Khadija

    (cerca de 595 d.C.)

    3.1 A história antecedente

    Quando Muhammad tinha 25 anos de idade, ele se casou com Khadija, filha de Khuwailid ibn Asad. Khadija era uma comerciante respeitada. Ela empregava muitos homens em seus negócios de comércio de mercadorias e dava a eles uma porção de seus lucros. Quando ela ouviu sobre a fidelidade, confiabilidade e boa moral de Muhammad, ela enviou-lhe mensagem convidando a viajar consigo à Síria, sob sua comissão, para lá fazerem negócios com sua mercadoria. Ela prometeu dar-lhe mais mercadorias do que aos outros contratados. Muhammad aceitou a oferta e viajou à Síria com a mercadoria dela, acompanhado de Maysara, um dos servos de Khadija.

    Quando ele se assentou à sombra de uma árvore, próximo à moradia de um sacerdote, o sacerdote perguntou a Maysara quem era o homem sentado sob a árvore. Maysara respondeu: Ele é um coraixita, um morador do lugar sagrado. O sacerdote então respondeu: Aquele sentado sob a árvore não é outro se não um profeta! Quando Muhammad já havia vendido a mercadoria que levara consigo e já havia comprado outras, ele e Maysara retornaram para Meca. É relatado que durante o calor do meio dia Maysara viu dois anjos fazendo sombra para Muhammad, que montava seu camelo. Quando chegaram a Meca, Khadija vendeu a mercadoria que ele trouxera consigo e percebeu que seus produtos haviam dobrado. Maysara também contou a ela o que o sacerdote havia dito e como ele vira dois anjos fazendo sombra. Quando Khadija, que era uma mulher entendida, boa e nobre ouviu isso, a quem Allah determinou uma posição favorável, conforme se diz, ela chamou a Muhammad e disse-lhe: Meu primo, eu quero tê-lo para mim porque você é meu parente e por causa de sua elevada estima entre seu povo, bem como por causa de sua fidelidade, confiança e boa moral. Por fim, ela o pediu em casamento.

    3.2 O casamento de Muhammad e os filhos com Khadija

    (cerca de 595 d.C.)

    Naquele tempo, Khadija era a mulher mais bem estimada entre os coraixitas, tanto por sua descendência quanto por causa de sua grande riqueza. Todos de seu povo a desejavam. Ela era filha de Khuwailid ibn Asad, e sua mãe foi Fátima, filha de Zaid ibn al-Assam.

    Muhammad contou a seu tio sobre a proposta de Khadija. Seu tio, Hamza ibn Abd al-Muttalib, com ele foi a Khuwailid ibn Asad para pedir sua filha em casamento, e assim o casamento foi efetuado. Como presente à sua noiva, Muhammad deu vinte jovens camelos. Ela foi a primeira mulher com quem Muhammad se casou. Até a morte dela, ele não se casou com outra mulher. Ela foi a mãe de todos os seus filhos, exceto Ibrahim. Ela dele concebeu a al-Qasim (por isso ficou conhecido como Abu al-Qasim), al-Tayyib, Zainab, Ruqayya, Umm Kulthum e Fátima. Al-Qasim era o mais velho dos filhos dela, então vinha al-Tayyib e depois al-Tahir. A mais velha de suas filhas foi Ruqayya, então Zainab, Umm Kulthum e, então, Fátima. Os três filhos homens morreram ainda no paganismo; as filhas, porém, todas viveram sob o islã, se converteram e depois migraram com seu pai.

    Khadija, a filha de Khuwailid, disse a seu primo, Waraqa ibn Nawfal, o que Maysara a disse a respeito das palavras do sacerdote e dos anjos que fizeram sombra a Muhammad. Waraqa, um cristão que estudou amplamente as Escrituras, a respondeu: Se isso é verdade, então Muhammad é o profeta de nosso povo; eu sei que um profeta é esperado e que este é o tempo de sua vinda. Ele esperou muito para que isso acontecesse e frequentemente perguntava: Quanto tempo demorará?

    PARTE II – O profeta perseguido em Meca

    4. O profeta Muhammad

    4.1 Como Muhammad mediou a disputa a respeito da pedra sagrada em Meca

    Quando Muhammad tinha trinta e cinco anos de idade, os coraixitas decidiram erguer a Caaba. Ela não era mais alta do que um homem e consistia de pedras empilhadas umas sobre as outras. Ainda assim, eles hesitavam em demoli-la. Eles ergueram as paredes e o teto da estrutura porque o tesouro, o qual fora escondido em um poço na parte interna da Caaba, fora roubado. O tesouro foi encontrado com Duwaik, um ex-escravo dos Banu Mulayh. Eles supuseram, porém, que outros o roubaram e que o esconderam com Duwaik. Pouco antes disso, uma tempestade lançou o barco de um mercador grego à costa de Jiddah, onde ele se quebrou. Os árabes tomaram para si sua madeira, desejando usá-la para construir o telhado da Caaba. Além disso, houve um copta, que trabalhava como carpinteiro, que preparou a madeira para tal uso.

    No poço da Caaba, onde diariamente era jogada comida, habitava uma cobra. Ela gostava de ficar nas paredes da Caaba para tomar sol. Todos tinham muito medo dela porque logo que alguém se aproximava ela já se erguia, sibilava e abria sua boca. Um dia, enquanto ela novamente tomava sol nas paredes da Caaba, Allah enviou um pássaro que a levou embora. Por isso os coraixitas dizem: Esperamos que Allah aprove nossa intenção. Nós temos um carpinteiro amigo; temos madeira e agora Allah nos livrou daquela cobra.

    Os coraixitas dividiram a construção da Caaba entre si. O lado em que a porta ficava ficou com os filhos de Abd Manaf e Zuhra; a parte entre a parte preta e o pilares iemenitas foi para os Banu Makhzum e outras tribos dos coraixitas, que são parte deles; a parte de trás da Caaba ficou com os Banu Jumah e Sahm, filhos de Amr; a parede norte aos Hatim, Banu Abd al-Dar ibn Qusai, Banu Asad ibn Abd al-‘Uzza e aos Banu ‘Adi ibn Ka’b.

    Ainda assim os homens hesitaram em derrubar a Caaba. Foi então que al-Walid ibn Mughira disse: Eu vou começar a derrubá-la! Ele tomou uma picareta, se pôs à frente da Caaba e gritou: Allah, que nenhum infortúnio caia sobre nós. Allah, somente queremos o que é bom!

    Então ele começou a derrubar a parede entre os dois pilares. Os outros aguardaram por toda a noite e disseram: Nós queremos ver se um infortúnio cairá sobre ele. Se sim, nós deixaremos isso para lá; se não, então Allah aprova nossa intenção.

    Na manhã seguinte, como al-Walid continuava a demolição, os outros seguiram seu exemplo. Quando chegaram às pedras da fundação, que foram postas por Ibrahim (Abraão), eles as encontraram verdes e na forma da costas de um camelo. Elas foram firmemente postas em camadas. Um coraixita, o qual também estava envolvido com a demolição, inseriu um grande pé de cabra entre as duas pedras a fim de afrouxá-las e arrancar uma das pedras. Logo que uma das pedras começou a balançar, toda a Meca também começou a tremer. Então eles deixaram as pedras da fundação imóveis, de modo que permaneceram em seu lugar.

    Sobre um dos pilares os coraixitas encontraram um escrito sírio. Ninguém pôde decifrá-lo até que fora lido por um judeu. Dizia: Eu sou Allah, o Senhor de Meca. Eu criei essa cidade no dia em que criei o céu e a terra, em que formei o sol e a lua, e dei a ela sete anjos para proteção. Ela permanecerá enquanto houver as duas montanhas à sua volta. Seu povo será abençoado com água e leite.

    Laith ibn Abi Sulaim dizia que quarenta anos antes do envio de Muhammad, uma pedra foi encontrada na Caaba e que dizia: Quem planta bondade, colhe bênçãos; quem planta maldade, colhe arrependimento. Você quer ser recompensado com boas coisas por fazer o que é mau? Não, tal como as uvas não se ajuntam em espinhos.

    Os coraixitas continuaram a ajuntar pedras para a construção da Caaba. Cada tribo trabalhou sozinha. Eles construíram até chegar ao lugar da pedra sagrada. Então ali começou uma disputa. Cada uma das tribos queria ter a honra e o privilégio de colocá-la em seu lugar. Logo eles se distanciaram uns dos outros, formaram alianças e se prepararam para a batalha.

    Os Banu Abd al-Dar trouxeram uma panela com sangue e formaram uma aliança com os Banu ‘Adi. Ao fazer isso, eles juraram permanecer fiéis até a morte ao imergirem suas mãos no sangue que estava na panela. Com isso eles ficaram conhecidos como os sanguinolentos. Essa discussão durou por quatro ou cinco dias. Após isso, eles todos se reuniram em uma mesquita e formaram concílio entre si. Foi então que Abu Umayya se adiantou, que, naquele tempo, era o homem mais velho entre os coraixitas, e fez uma sugestão de que eles aceitassem como árbitro o primeiro que colocasse o pé na mesquita.

    Eles concordaram e o primeiro a entrar foi Muhammad. Quando eles o viram, eles exclamaram: Ele é perfeito para nós, ele é confiável.

    Eles o contaram sobre a causa em disputa. Naquele momento ele trazia um tecido consigo, sobre o qual ele pôs a pedra no meio. Então ele deixou uma pessoa de cada tribo segurar o tecido, juntos levantaram a pedra e a carregaram até o lugar onde ela era depositada. Então ele mesmo a pôs em seu lugar antigo e a construção pôde continuar.

    Nos tempos de Muhammad, a Caaba tinha oito cúbitos de extensão, largura e de altura. Ela era coberta com uma lona egípcia e depois coberta com um material de algodão listrado. Al-Hajjaj ibn Yusuf foi o primeiro a cobri-la com seda.

    4.2 A respeito da crença em jinns em Meca

    Os rabinos judeus, sacerdotes cristãos e os adivinhos entre os árabes já haviam falado sobre Muhammad em seu tempo. Os rabinos proclamaram o que encontraram a respeito dele e de seu tempo em suas Escrituras. Os adivinhos adicionaram aquilo que haviam ouvido de Jinns maus (espíritos), antes que as estrelas caíssem sobre eles (estrelas cadentes).

    Homens e mulheres adivinhos fizeram várias menções sobre a vinda de Muhammad, mas os árabes não demonstraram interesse nisso até que aquilo que fora dito foi confirmado. Então eles deram ouvidos à

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