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A escola húngara de psicanálise e sua influência no movimento psicanalítico
A escola húngara de psicanálise e sua influência no movimento psicanalítico
A escola húngara de psicanálise e sua influência no movimento psicanalítico
E-book212 páginas2 horas

A escola húngara de psicanálise e sua influência no movimento psicanalítico

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Sobre este e-book

A psicanálise chega a Budapeste ainda no final do séc. XIX. Sándor Ferenczi, médico húngaro, é o pioneiro na difusão desta "nova ciência" por lá: escreve artigos importantes e funda, em 1913, a Sociedade Húngara de Psicanálise. O grupo cresceria a partir dos anos seguintes, atingindo seu apogeu nas décadas de 1920 e 1930, revelando grandes pensadores dentre seus membros. Neste livro, são delineadas as principais características que definiriam a identidade da Escola Húngara de Psicanálise, os estudos das produções primordiais de seus teóricos mais importantes e, por fim, uma "herança húngara" inerente ao desenvolvimento ulterior da práxis psicanalítica.
IdiomaPortuguês
EditoraEDUEL
Data de lançamento1 de jun. de 2016
ISBN9788572168496
A escola húngara de psicanálise e sua influência no movimento psicanalítico

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    Pré-visualização do livro

    A escola húngara de psicanálise e sua influência no movimento psicanalítico - Marcos Mariani Casadore

    Reitora:

    Berenice Quinzani Jordão

    Vice-Reitor:

    Ludoviko Carnascialli dos Santos

    Diretor:

    Luiz Carlos Migliozzi Ferreira de Mello

    Conselho Editorial:

    Abdallah Achour Junior

    Daniela Braga Paiano

    Edison Archela

    Efraim Rodrigues

    Luiz Carlos Migliozzi Ferreira de Mello (Presidente)

    Maria Luiza Fava Grassiotto

    Maria Rita Zoéga Soares

    Marcos Hirata Soares

    Rodrigo Cumpre Rabelo

    Rozinaldo Antonio Miami

    A Eduel é afiliada à

    Catalogação elaborada pela Divisão de Processos Técnicos

    Biblioteca Central da Universidade Estadual de Londrina

    Dados Internacionais de Catalogação-na-publicação (CIP)

    C334e

    Casadore, Marcos Mariani.

    A escola húngara de psicanálise e sua influência no movimento psicanalítico [ livro eletrônico] / Marcos Mariani Casadore – Londrina : EDUEL, 2016.

    1 livro digital.

    Inclui bibliografia.

    Disponível em: www.eduel.com.br

    ISBN 978-85-7216-849-6

    1. Psicanálise - História e crítica. 2. Ferenczi, Sandor, 1873-1933 . 3.Psicanálise. I. Título.

    CDU159.962.26

    Direitos reservados à

    Editora da Universidade Estadual de Londrina

    Campus Universitário

    Caixa Postal 10.011

    86051-970 Londrina PR

    Fone/Fax: (43) 3371-4674

    e-mail: eduel@uel.br

    www.uel.br/editora

    2016

    Sumário

    Introdução

    Retomada histórica do desenvolvimento psicanalítico na hungria: origem e ascensão

    A escola húngara de psicanálise: formação, identidade e desenvolvimento

    A herança húngara e seus desdobramentos atuais

    Algumas considerações finais

    Referências

    Introdução

    A partir de estudos que estabelecem uma evolução paralela e consonante entre a construção e o desenvolvimento da teoria psicanalítica freudiana e as formulações ferenczianas, principalmente no que concerne às primeiras décadas de amizade entre os dois grandes teóricos, constatou-se que, no período de maior ascensão da construção científica fundamental da psicanálise de Freud, nas décadas de 1910 e 1920, os autores mantinham entre seus escritos clínicos e especulações uma relação bastante harmoniosa e coesa – um diálogo constante que catalisava suas propostas mais inovadoras: Freud, criador teórico pioneiro, sempre atento às formulações e às reformulações científicas e metapsicológicas do início do movimento psicanalítico, necessárias para o estabelecimento de uma base de sustentação da teoria e prática psicanalíticas, e Ferenczi, crítico e leitor atento das produções freudianas, assumindo cada vez mais o papel de um analista bastante perspicaz e, ainda, aparecendo como importante colaborador teórico para as discussões freudianas.

    Nos últimos anos de vida de Ferenczi, no entanto, a obra do psicanalista húngaro destacou-se, principalmente, pela inovação e originalidade que começou a apresentar, mesmo que, em grande parte dos escritos, divergisse da psicanálise clássica e, por conta disso, fosse duramente criticada pelos mais ortodoxos analistas da época. Ao salientar alguns pontos conflituosos e abordar temas controversos do movimento psicanalítico, como questões institucionais e formação analítica, Ferenczi foi cada vez mais rejeitado pelo círculo psicanalítico mais tradicional. No plano teórico-técnico, foram alvos de seus questionamentos o trabalho com a regressão na clínica, as posturas do analista na transferência e a reformulação de algumas hipóteses acerca da catarse (no caso, a noção de neocatarse ferencziana) e da traumatogênese. Ferenczi lançava luz a questões complicadas, que geralmente não eram debatidas e submetiam-se a preceitos indiscutíveis, já instaurados ao longo da, até então ainda curta história, da psicanálise; sua postura típica de um espírito inquieto fez com que problematizasse e repensasse alguns pontos importantes que fizeram parte do desenvolvimento psicanalítico e, em um certo momento, foram simplesmente descartados ao invés de explorados mais pormenorizadamente ou reconsiderados.

    Dupont (1988) destaca que Ferenczi havia representado um sintoma; era um sinal de resistência do mundo psicanalítico para com as produções teóricas do húngaro naquele momento da história do movimento. A autora salienta, ainda, que as obras mais contestadas – ou simplesmente ignoradas – de Ferenczi foram os artigos escritos nos seus últimos cinco anos de vida (a saber, entre 1929 e 1933, ano em que o autor faleceu por conta de uma anemia perniciosa). Nessa época, a Sociedade Húngara de Psicanálise se desmantelava graças ao complicado contexto sociopolítico e ao regime ditatorial intolerável de perseguição no país.

    Mesmo com o enfraquecimento do movimento psicanalítico húngaro – alguns associados do grupo nunca saíram de Budapeste, mantendo viva a Associação, vinculada à sociedade de psiquiatria, embora a grande maioria dos participantes tenha se exilado –, seus membros continuaram a desenvolver estudos importantes em outras partes do mundo. Direta ou indiretamente, a obra de Ferenczi influenciou deveras essa continuidade em uma relevante parcela dos psicanalistas provenientes da Hungria, como discutiremos adiante.

    Este estudo, de caráter essencialmente bibliográfico, busca explorar alguns contingentes históricos do desenvolvimento psicanalítico, com foco não só no movimento institucional-político da psicanálise, como, também, em suas determinações teórico-clínicas e sua evolução enquanto ciência psicológica. Para tanto, nossa proposta é estabelecer um recorte contextual que atenta, especificamente, às relações e às produções dos húngaros no início da história psicanalítica. A nosso ver, os membros da Sociedade Húngara de Psicanálise tiveram um papel fundamental, extremamente significativo, relacionado à expansão do movimento psicanalítico – em vários dos sentidos do termo, como apresentaremos nas páginas a seguir.

    A pesquisa aqui apresentada se delineia como um trabalho crítico, teórico-reflexivo, que tem como intento trazer novas leituras e posicionamentos acerca do processo histórico e, paralelamente, teórico, do desenvolvimento psicanalítico em suas primeiras décadas, estabelecendo, a partir disso, uma relação direta com a psicanálise dita contemporânea. Para tanto, levantamos e discutimos algumas hipóteses e tentamos abstrair, das leituras estabelecidas como fundamentais, novos pontos concernentes ao já referido intuito. O trabalho não se limita, porém, à análise de textos científicos e conceituais, mas deve grande parte do seu desenvolvimento justamente ao paralelo que estabelece entre esses textos, essenciais para entendermos a psicanálise em uma perspectiva teórica, como ciência em desenvolvimento, e outros documentos históricos necessários para considerarmos toda uma configuração contextual inerente, dentre estes: correspondências, entrevistas, atas de reuniões, diários e quaisquer outros registros de mesma importância.

    Desse modo, o trabalho se situaria tanto em uma área de pesquisa relacionada à história da psicanálise quanto, ainda, nas conjunturas das evoluções teóricas e técnicas da ciência psicanalítica atreladas a esse desenvolvimento histórico. A proposta é encontrar nos estudos húngaros – e, principalmente, nos posicionamentos críticos e progressistas que concernem à ética da psicanálise e do psicanalista, aos objetivos dessa nova disciplina e à aplicabilidade e à interlocução com demais campos do conhecimento – o gérmen (ou a gênese) desse uso ampliado da psicanálise. Como muito bem salienta Mészáros, historical research helps us to recognize the great complexity of the past and gives us a more realistic view of those special circumstances under which immense theoretical ideas and important initiatives were born (MÉSZÁROS, 2010, p. 621).¹

    Há, ainda, uma observação a ser feita: a relação entre teoria psicanalítica e pesquisas históricas, atualmente, parece-nos inevitável. Podemos, inclusive, considerar que, em maior ou menor grau, toda pesquisa teórica em psicanálise é, pelo menos, um pouco histórica, pela retomada contextual necessária a ser realizada. Mezan (1988) nos apresenta, em um texto sintético, mas de extrema riqueza, vários pontos que salientariam a importância e a pertinência de pensarmos sobre a história da psicanálise para considerações de ordem conceitual e prática, principalmente por conta de seus desdobramentos ao longo dos anos de existência e expansão (de ordem não só geográfica, mas também teórica).

    De acordo com Certeau (2011), alguns elementos presentes no desenvolvimento psicanalítico seriam responsáveis pela historicização dessa ciência

    – dentre eles, e talvez como central, o fato de haver introduzido, em todos os debates conceituais acerca da ciência psicanalítica, considerações sobre as particularidades da relação dos analistas e de suas teorias para com Freud, em um primeiro momento, por exemplo. Desse modo, há algo de singular, para além do simples conceitual de cada obra científica, nos acontecimentos por trás das suas propostas teóricas, que pode vir a explicar ou complementar o que o autor chamaria de lacunas da ciência; aqui, ele salienta, ainda, a importância das correspondências entre os analistas como narratividade transversal em relação ao discurso propriamente científico.

    Além das relações pessoais e particulares que compõem o cenário psicanalítico, podemos lançar um olhar um pouco mais amplo para considerarmos, também, a relação da psicanálise como instituição de ensino e prática, na saúde, junto de todo o seu ideário, e a sociedade (configurações sociais, geopolítico-econômicas) na qual se insere. Havia interesses sociais maiores que, por vezes, beneficiavam e, por outras, anulavam a força do movimento psicanalítico ao longo da história – tal relação, com toda a certeza, também influenciou o modo como a psicanálise pode evoluir.

    A proposta é que os documentos históricos apareçam mais como complementaridades necessárias que estabelecem uma base fundamental de pesquisa e não como objetos privilegiados no estudo. Nossos questionamentos, dessa maneira, centralizam-se e têm sua origem no campo da psicologia – mais especificamente, da psicanálise – e fazem uso das perspectivas históricas e de algumas ferramentas da sua área de pesquisa.

    Dentro da própria proposta de pesquisa da história aparecem também os discursos críticos referentes à sua escrita que, inevitavelmente, aproxima-se também da ficção e da construção de determinados saberes a partir de posicionamentos enviesados – e, portanto, afasta-se de uma estruturação que não se comprometa com algum tipo de circunstância. Certeau (2011), por exemplo, criticaria os estudos historiográficos ao dizer que, essencialmente, aparecem como recortes que servem para sustentar determinada configuração social atual: aquela que detém o poder político, o espaço social. O autor ainda vai dizer que historiografia e psicanálise teriam modos diferentes de concepção da relação do passado com o presente: enquanto a primeira reconhece o passado no presente, de modo disjunto, a segunda já o consideraria ao lado do presente, seja como repetição ou imbricação, mas ao mesmo tempo. O passado é, portanto, ativo e participativo dos fenômenos presentes.

    Certeau (2011), desse modo, afirma que Freud modifica a historiografia e faz outro tipo de pesquisa, que se volta à história, afastada do objetivismo, fatual, e próxima à construção de uma narrativa, interpretativa e mais complexa.

    Consideremos, então, que aqui não se encontra a proposta de um olhar estritamente historiográfico às origens da psicanálise, considerando-a um passado já determinado e escrito. Mas, antes trataremos de pensar seu desenvolvimento em um continuum, ininterrupto, com esse passado sempre se fazendo presente no que se apresenta – e é justamente essa perspectiva que caracteriza o estudo mais como psicanalítico do que histórico. Ao invés de nos debruçarmos sobre documentações fatuais e a partir disso tentar explicar alguma ocorrência do passado, buscaremos interpretar e levantar hipóteses acerca das implicações daquelas ocorrências e de como, por consequência, podem ter influenciado o futuro da história da psicanálise. Além disso, não se teria como objetivo final chegar a algum tipo de conclusão inquestionável e fechada sobre situações históricas, mas pensá-las atreladas também às personagens e às propostas teóricas, técnicas e institucionais do movimento psicanalítico.

    As pesquisas contemporâneas – em especial as que despontam nas ciências humanas e sociais – declaradamente abrem mão da pretensão de construir um conhecimento extremamente objetivo, fechado e calcado em leituras neutras de seu autor, tão marcantes na concepção do século XIX sobre o que viria a ser ciência, de fato. O objetivo não é alcançar uma verdade indubitável, mas compreensões complementares e essenciais para a interpretação de determinado objeto de estudo, que sempre se mostrarão mais como possibilidades que certezas e, por excelência, estarão abertas a reconsiderações e aprimoramentos. São representações, por fim, construídas a partir dos processos vivenciados – o autor estabelece uma relação que, de certo modo, é afetiva com seu objeto de estudo, o que já o desloca para outro lugar, de onde partiria sua leitura investigativa e interpretativa. Ao invés de simularmos que isso não ocorre e pensarmos em uma pesquisa ideal, sem nenhum tipo de envolvimento subjetivo do pesquisador para com suas propostas, antes vale considerar que na realidade, desde o início, há esse tipo de vínculo estabelecido. Em nosso caso, tal perspectiva vale tanto para considerações sobre este trabalho, autoral, e nossa relação estabelecida com ele, como também para pensarmos as imbricações das propostas autorais dos psicanalistas aqui estudados com suas próprias situações, tanto pessoais quanto contextuais.

    Alguns aspectos bastante interessantes da psicanálise como base metodológica de pesquisa – aspectos que também podem fazer parte de outros métodos de pesquisas qualitativas – são importantes de destacar: a consideração do pesquisador também como sujeito, inserido em uma relação íntima com seu objeto pesquisado e, assim, influente e influenciado no resultado que obtém, é um deles. Dizer que o pesquisador psicanalítico é o primeiro sujeito de sua pesquisa significa dizer que ele está também implicado como um participante importantíssimo na investigação realizada (IRIBARRY, 2003, p. 122).

    Esse posicionamento relacionado à pesquisa – e referente à construção científica como sempre aberta e inacabada – tem, por fim, alguns resultados interessantes, que acompanharam a evolução das ciências humanas e sociais ao longo do século XX, dentre eles: uma maior responsabilização do leitor em detrimento do autor, já que aquele tem como função não só a compreensão passiva e um fazer uso do que apreende,mas também a necessidade de se pensar e julgar aquilo com o que se depara. Além disso, o leitor/pesquisador se vê obrigado a recorrer a outros pontos de vista e estudos complementares ou de apoio, em uma busca mais ativa pela construção do saber (a partir de sua interpretação), e não simplesmente como alguém que aceita passivamente uma verdade já definida. De fato, não há como ser diferente, quando se trata de pesquisas que almejam o estudo de fenômenos humanos: psicológicos e sociais.

    Optamos por tratar da história húngara e, mais especificamente, do desenvolvimento contextual de pesquisas e posicionamentos, em particular, da Escola Húngara de Psicanálise, a partir dos estudos de autores psicanalistas que se envolveram com tal problemática; ao não recorrermos à abordagem historiográfica do desenvolvimento da Hungria (ou seja, não nos estendermos a uma interpretação exaustiva da história social e política do país), mesmo considerando a significativa relevância para os destinos da psicanálise de lá, privilegiamos, por outro lado, a leitura e interpretação dos fatos históricos mais pertinentes a partir de estudiosos inseridos no campo de pesquisa psicanalítico que lançam seus olhares à história húngara; tal compreensão já se originaria, portanto, de uma área específica de conhecimento que nos interessa diretamente – não tomamos os estudos estritamente históricos, mas estudos psicanalíticos que se debruçam sobre a história, sendo fundamentalmente essa a direção que a pesquisa toma para o seu desenvolvimento.

    O recorte bibliográfico, por fim, aproxima-se mais dos estudos que envolvem psicanálise e história do que de uma historiografia propriamente dita, que buscaria, em seus meandros, as parcelas do desenvolvimento da psicanálise como um fato dentre tantos que comporiam e influenciariam a história social, científica e política do país. Além disso, nosso interesse centra-se na psicanálise que aqui atribuímos a uma Escola Húngara e seu estudo contextual, mas não se limitar a explorá-la simplesmente dentro das fronteiras húngaras – o estudo buscará acompanhar os desdobramentos do que ali havia sido desenvolvido em outras vertentes psicanalíticas que, juntas, comporiam toda a história

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