Mantendo a igreja pura
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Mantendo a igreja pura - Augustus Nicodemus Lopes
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Capítulo 1
As causas da impunidade
Faz poucos anos tomei conhecimento de um escândalo, um caso de adultério, cometido por um pastor que também era professor de seminário teológico. O pastor vinha traindo a mulher, levando a amante para motéis. Ele foi apanhado somente quando pagou um motel com o cartão de crédito da própria esposa que, naturalmente, descobriu tudo quando recebeu a fatura. Além desse detalhe patético, que mostra que o pecado cega a inteligência das pessoas, o que mais chocou a todos é que seu presbitério simplesmente o afastou da igreja e do seminário por um breve período. No semestre seguinte, lá estava ele de volta ao seminário, dando aulas aos alunos, como se nada tivesse acontecido. O caso era de conhecimento geral, inclusive dos alunos. Que mensagem estava sendo transmitida para aqueles futuros pastores e líderes quanto à seriedade do pecado e da necessidade de se viver uma vida santa no ministério?
Como apontamos na Introdução, a falta de disciplina na igreja é consequência, em primeiro lugar, do conceito largamente difundido entre os evangélicos de que os crentes não são responsáveis por seus atos diante de outros, e especialmente das igrejas que lideram ou frequentam.
Não é de estranhar que essa tolerância para com os pecados próprios e dos outros ocorra exatamente num dos países em que a impunidade alcança os mais altos níveis. É com profundo pesar e tristeza que brasileiros sérios têm acompanhado pela grande mídia, nesses últimos anos, a absolvição por seus pares de senadores, deputados e líderes partidários envolvidos em escândalos de toda sorte. A falta de exemplo das autoridades civis em corrigir os faltosos acaba corrompendo a consciência dos cidadãos. E a igreja, que deveria, nesse momento, fazer o contraponto, embarca na mesma mentalidade de impunidade. Líderes evangélicos apanhados em adultério, desvio de verba, lavagem de dinheiro, falsidade ideológica e outros tantos pecados, safam-se impunes e permanecem no ministério da Palavra como se nada tivesse acontecido.
É proibido julgar?
Mas não é somente por sermos brasileiros habituados a conviver com a impunidade que isso acontece. Essa mentalidade do não prestar contas a ninguém decorre, também, de interpretações deturpadas de princípios bíblicos. Primeiro, há quem considere o exercício da disciplina como uma violação do mandamento de Jesus, não julgueis para que não sejais julgados
(Mt 7.1). Essa interpretação é totalmente falsa. O julgamento que Jesus proíbe é o julgamento hipócrita, isto é, condenar os outros sem prestar atenção em nossos próprios pecados (veja os v. 3-5). A prova de que Jesus não estava fazendo uma proibição geral contra o julgamento se encontra nos versículos seguintes, quando ele determina aos discípulos: Não deis aos cães o que é santo, nem lanceis ante os porcos as vossas pérolas, para que não as pisem com os pés e, voltando-se, vos dilacerem
(Mt 7.6). Para que possamos obedecer a esse mandamento, temos de determinar quem é porco e quem é cão. Ou seja, temos de julgar. Além disso, foi o próprio Jesus quem determinou os passos para o exercício da disciplina na igreja (Mt 18.15-17).
O exercício da disciplina viola o amor?
Segundo, para muitos a disciplina é uma violação do mandamento do amor. É considerada como falta de amor cristão para com o irmão caído. Essa interpretação falsa do amor cristão não leva em conta o ensino bíblico de que Deus disciplina exatamente aqueles que ele ama (Hb 12.6; cf. Dt 8.5; Sl 89.30-34; Pv 3.12; 13.24; et alli). Fechar os olhos para o pecado do irmão não é amor. É ódio. É desejo de vê-lo afundar-se mais e mais no pecado.
O exercício da disciplina viola a liberdade?
Terceiro, há quem considere o exercício da disciplina como uma violação da liberdade de consciência e da liberdade cristã. De fato, a igreja não pode violar o foro íntimo da consciência das pessoas, que está sujeito somente a Deus. Todavia, existe o foro externo das atitudes e das ações. Essas, sim, são objeto da supervisão e da disciplina da Igreja. Cito aqui a Confissão de Fé de Westminster:
Visto que os poderes que Deus ordenou, e a liberdade que Cristo comprou, não foram por Deus designados para destruir, mas para que mutuamente nos apoiemos e preservemos uns aos outros, resistem à ordenança de Deus os que, sob pretexto de liberdade cristã, se opõem a qualquer poder legítimo, civil ou religioso, ou ao exercício dele. Se publicarem opiniões ou mantiverem práticas contrárias à luz da natureza ou aos reconhecidos princípios do Cristianismo concernentes à fé, ao culto ou ao procedimento; se publicarem opiniões, ou mantiverem práticas contrárias ao poder da piedade ou que, por sua própria natureza ou pelo modo de publicá-las e mantê-las, são destrutivas da paz externa da igreja e da ordem que Cristo estabeleceu nela, podem,