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Atlas da Bíblia
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Atlas da Bíblia

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Sobre este e-book

A Bíblia marcou a nossa cultura. Ela descreve pessoas e conta histórias que, muitos séculos depois, ainda inspiram pintores, compositores e escritores na produção de suas obras. Ela mesma contém prosa e poesia literariamente significativa. A Bíblia faz parte da nossa herança espiritual e é o fundamento de várias denominações religiosas. Ainda assim, é desconhecida para a maioria das pessoas hoje em dia, um best-seller não lido: o Livro dos livros é considerado volumoso demais, nebuloso e difícil de entender, sendo usado no máximo como fonte de citações. Mas mesmo o leitor que a folheie com prazer e frequência, apreciando-a como obra histórica ou obra literária, às vezes procura informações adicionais e gostaria de saber mais sobre governantes, culturas e religiões do Antigo Oriente.

O objetivo do Atlas da Bíblia é facilitar o primeiro contato ou uma reaproximação com a Bíblia. Textos detalhados, tabelas cronológicas, mapas e gráficos informam sobre contexto e conteúdo dos livros bíblicos, sobre a tradição textual, pessoas, geografia e história. O Atlas da Bíblia oferece um resumo compacto da estrutura dos diferentes livros do Antigo e do Novo Testamentos, e usa linguagem simples para relatar a posição atual da pesquisa bíblica moderna.

O livro Atlas da Bíblia oferece uma introdução e pano de fundo a um estudo mais detalhado da Bíblia, o Livro dos livros.
IdiomaPortuguês
Data de lançamento18 de mar. de 2020
ISBN9786586048193
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    Muito bom, para professores e alunos, que gosta de se aperfeiçoar no conhecimento bíblico, perfeito material!

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Atlas da Bíblia - Annemarie Ohler

editores

A Bíblia / Introdução

E SCRITOS SAGRADOS ¹

Características de escritos sagrados

Religiões distantes umas das outras têm noções semelhantes do que sejam escritos sagrados. Isso fica especialmente evidente quando se faz uma comparação dos Vedas com a Bíblia.

Os Vedas são textos arcaicos das religiões hinduístas, cujas partes mais antigas datam do segundo milênio antes de Cristo. São venerados como o conhecimento eterno (do sânscrito: veda) descoberto por videntes de tempos antigos e protegido por sacerdotes. A noção de que a Bíblia é a palavra de Deus é semelhante. Entretanto, de acordo com a narrativa bíblica, a humanidade recebeu essa palavra no decorrer de um período histórico muito longo. É por isso que, na Bíblia, não somente o eterno é significativo; experiências históricas específicas guardam um peso próprio no texto bíblico.

Na verdade, até hoje os Vedas devem ser apenas ouvidos, decorados e memorizados unicamente por brâmanes especialmente treinados. Já a maneira adequada de ter um encontro com a Bíblia é a ministração pública. Nela, a Escritura Sagrada é lida em voz alta, para que a palavra de Deus seja ouvida e se torne novamente atual.

Antes dos Vedas em si, surgiram regras destinadas a protegê-los contra modificações; já havia registros sobre a métrica e a retórica, além de regras gramaticais, fonéticas e etimológicas do sânscrito (desde o século V a.C.). A memorização do texto original da Bíblia, que deveria ser rigorosamente observada, tornou-se um fator estabilizador e, frequentemente, também reformador na história das religiões bíblicas.

• São fruto de revelação, e não de reflexão.

• Eles se tornam vivos na palavra ouvida.

• São textos transmitidos com fidelidade.

• São mantidos separados de outros textos.

Desde cedo, alguns textos dos Vedas foram parafraseados de forma poética em versos de hinos ou poemas épicos sobre os deuses, mas também questionados. Desde o século V a.C., fazia-se distinção entre esses textos e os Vedas: os Vedas são considerados ouvidos, isto é, não feitos por pessoas; outros textos sagrados eram lembrados, isto é, cunhados pelo pensamento humano. Eles podiam ser remodelados e citados no dia a dia. O texto da Bíblia também não pode mais ser modificado. Desde o século 2, empreenderam-se esforços para fixar um texto unificado, além de estabelecer o cânon de livros bíblicos, separando-os de outros escritos religiosos. Todavia, diferentemente dos Vedas, a Bíblia deveria estar disponível a qualquer pessoa; por isso, desde o começo ela passou a ser escrita e também traduzida.

Peculiaridades da Bíblia

Dois eventos são decisivos:

1. Depois da ruína de seu país em 587 a.C. os judeus deportados passaram a depender quase que exclusivamente da tradição oral e escrita para definir sua identidade. Com textos cuidadosamente colecionados e adaptados à nova realidade, essa tradição era, para os judeus dispersos, as marcas mais importantes da sua união.

2. Com a destruição de Jerusalém no ano 70, os judeus perderam, pela segunda vez, o lugar que era o ponto representativo e referencial do povo. A partir de então, os escritos sagrados, incluindo novas interpretações, passaram a ser o único centro e torá (instrução) da vida judaica.

A apresentação da Bíblia como palavra de Deus se fundamenta em duas afirmações da Escritura Sagrada de Israel:

1. Os profetas falam em nome de Deus;

2. As ordenanças de Israel são consideradas lei dada por Deus no Sinai. Por isso, o NT frequentemente se refere à Escritura Sagrada de Israel como a lei e os profetas.

• Literatura nacional se torna Escritura Sagrada.

• Trata-se de uma revelação em várias partes.

Os cristãos primitivos compartilhavam as escrituras sagradas com os judeus. No século 2, adicionaram a elas o Novo Testamento, uma coleção de seus próprios escritos. Ele testemunha de um entendimento ampliado da revelação: em Jesus Cristo, a palavra de Deus entrou definitivamente na história. A parte de sua Bíblia procedente do judaísmo tornou-se o antigo testamento ou o primeiro testamento (2Co 3.14; Hb 9.15).

Por duas vezes, já na Antiguidade, houve homens que, tendo a Bíblia como exemplo, fundaram religiões ao redor de um livro:

•No século III, Mani chegou à conclusão de que deveria purificar os ensinos de seus predecessores (Jesus, Buda, Zaratustra) e preservá-los contra novas falsificações por meio de registros escritos. Esses livros, muito traduzidos, trouxeram sucesso missionário ao maniqueísmo (em aramaico: Mani chaija , Mani vivo), da Espanha à China. Hoje, restam apenas fragmentos desses textos.

•No século VII, Maomé considerou-se o último dos profetas depois de Moisés e Jesus; ele anunciou o Corão como sendo a reprodução literal de um original celeste que lhe fora permitido escutar. Por isso, somente o Corão em árabe é considerado escrito sagrado. Para o islamismo, religião e livro são inseparáveis; eles só reconhecem como legítimas outras religiões que também sejam possuidoras da escritura, principalmente o judaísmo e o cristianismo.

H ISTÓRIA DA ORIGEM DA B ÍBLIA

Pré-história

Os vestígios mais antigos de Israel são aldeias do século XIII a.C. na região montanhosa da Palestina.

Associações de clãs tinham colonizado novas regiões, e por isso nomes de lugares e de tribos podem, por vezes, ser intercambiáveis na Bíblia, como, p.ex., Belém e Efrata. Também alguns conceitos bíblicos comprovam que os laços entre clãs permaneciam muito significativos. Algumas imagens bíblicas, p.ex., apresentam Deus como o parente forte, cujo dever é ajudar.

As tribos se formaram a partir de grupos de refugiados que se uniam contra outros grupos que buscavam novas terras. No começo, essas uniões eram temporárias e emergenciais, formando uma comunidade que se chamou "povo de Javé (mais precisamente parentela de Javé) e Israel".

No século X a.C., incursões dos filisteus forçaram as tribos a se organizarem de forma mais permanente, reconhecendo a autoridade de um rei. Somente então Israel passou a ter contato com a cultura do antigo oriente, que já possuía escrita. Funcionários públicos e sacerdotes tornaram-se portadores das tradições escritas.

Os profetas defenderam o ideal da parentela de Javé contra o Estado. As compilações escritas de suas palavras só apareceram a partir do momento em que já era possível prever o fim de Israel como nação.

A origem das compilações

O declínio dos reinos de Israel e Judá (respectivamente em 722 e 587 a.C.) impulsionou o registro escrito das tradições orais e a sua compilação. Os escritos desse povo, que desde então passou a viver disperso, se tornaram sua pátria espiritual.

Provavelmente as tradições de Israel teriam se perdido de qualquer forma, não tivessem os persas conquistado um grande império no qual povos pequenos, como era o caso de Israel, podiam viver segundo suas próprias leis. Em 515 a.C., o templo de Jerusalém foi reconstruído. Os escritos sagrados dos judeus passaram a ser reunidos e guardados aqui.

Origem do cânon

Em 398 a.C., o sacerdote Esdras, encarregado pelos persas, levou para Jerusalém um escrito proveniente das escolas judaicas na Babilônia e promulgou-o lá como sendo a lei dada por Deus a Israel. A narração deste acontecimento (Neemias 8) é a narrativa da formação do judaísmo; ela explica por que a escritura sagrada é, para o povo judeu, a torá, instrução de vida.

Logo se manifestaram opiniões divergentes sobre quais livros pertenciam à Escritura Sagrada. A versão mais extensa é a tradução grega, produzida no Egito a partir do século III a.C.

Seu nome, Septuaginta (latim: setenta), se explica por uma tradição: 72 tradutores chegaram à mesma redação, independentemente uns dos outros. Isso teria sido visto como um sinal de que a tradução tinha sido inspirada por Deus.

O cânon hebraico dos livros bíblicos, aceito definitivamente até hoje pelo judaísmo, se formou em Judá. No começo, eram os sacerdotes do templo que cuidavam das escrituras sagradas. No entanto, quando a família real dos asmoneus reivindicou para si o sumo sacerdócio (152 a.C.), o que atentava contra as leis bíblicas, os essênios e os fariseus se separaram do partido dos sacerdotes do templo, os saduceus, alegando que seriam mais capazes do que estes para cuidar dos textos sagrados. Historicamente, impõe-se a doutrina dos fariseus de que todos os judeus deveriam viver de forma sacerdotal, por terem sido chamados a guardar a Escritura.

Formação de um cânon duplo

No ano 63 a.C., os romanos ocuparam Judá. Levantou-se uma rebelião contra eles da parte de grupos messiânicos cujo entendimento das escrituras sagradas os levava a esperar por um novo rei de Judá: o Messias. Roma pensava que a destruição do foco central do povo judeu – Jerusalém e o templo – levaria à aniquilação definitiva deste povo (ano 70).

As várias correntes judaicas realmente desapareceram; mas o judaísmo sobreviveu na forma ensinada pelos fariseus, segundo a qual o centro da vida judaica está nas escrituras sagradas e nas ordenanças por elas ensinadas. A interpretação farisaica das escrituras foi propagada pelos rabinos (hebraico: mestre). No século III, eles estabeleceram definitivamente a abrangência e a estrutura da Bíblia judaica.

O grupo dos discípulos de Jesus, ao qual pertenciam representantes de várias correntes judaicas, entrementes dera origem a comunidades cristãs, inicialmente dentro do judaísmo. Porém, já no fim do primeiro século o cristianismo judaico havia perdido sua relevância; cristãos gentios, que falavam grego, determinaram o desenvolvimento posterior da igreja. Por isso, os conceitos dos cristãos de língua grega a respeito da abrangência e da estrutura da Bíblia permaneceram vivos no cristianismo. No século II, formou-se uma coletânea de escritos cristãos seguindo esse modelo da Escritura Sagrada herdada do judaísmo; ela tornou-se a segunda parte da Bíblia cristã, conhecida como Novo Testamento. A primeira parte desta Bíblia se compõe dos escritos sagrados judaicos, conservados integralmente pelo cristianismo na forma do Antigo Testamento, ainda que algumas das regras lá apresentadas não sejam praticadas pelos cristãos.

É tarefa da exegese bíblica cristã explicar como também esses textos são Palavra de Deus para os cristãos.

D OMÍNIO ESTRANGEIRO EM TERRAS BÍBLICAS

Com a passagem pela Palestina, a Ásia se abre para a África. Na Antiguidade, povos, culturas e religiões se misturaram aqui principalmente devido à influência de impérios estrangeiros nessa área. Isso influenciou de maneira decisiva a história de Israel, do judaísmo primitivo e, com isso, também a história da formação da Bíblia. Na verdade, o território onde a Bíblia se originou ficava numa região montanhosa mais remota, mas quando o Estado de Israel, ainda em seus primórdios, se estabeleceu ali no século XIII a.C., havia também ali cidades onde prevalecia a cultura mista de origem egípcia, principalmente em Jerusalém, que, quando conquistada por Davi (no ano 1000 a.C.), já contava mais de 800 anos de existência.

A partir do século XX a.C., o Egito, assegurou para si rotas comerciais que passavam pela Palestina; a partir do século XV a.C., também passou a empreender expedições militares contra invasores que vinham do norte, como os hititas. A última intervenção do Egito na Palestina foi o estabelecimento dos filisteus na planície costeira no século XIII, quando estes buscavam territórios na costa do Mediterrâneo.

Os reis nativos consideraram bem-vinda a proteção egípcia; mas, para os agricultores livres de Israel, o Egito era o protótipo do poder estatal escravizador. No entanto, quando as instituições estatais se formaram em Israel a partir do século X a.C., eles acabaram se baseando no Egito. Era inevitável que houvesse resistência, mas essa apenas gerou a formação de um segundo estado paralelo ao reino de Judá, que reivindicou para si o nome de Israel. Durante muito tempo, o Egito continuou a ser uma potência protetora para as pequenas cidades da Palestina; no início do século VI a.C., p.ex., os reis de Judá buscaram ajuda egípcia contra os ataques assírios e babilônios. No tema bíblico da fuga para Egito aparece a noção de Egito como um estado de direito que protege os ameaçados.

Por meio de uma política expansionista agressiva, a Assíria conquistou hegemonia no Oriente Próximo. Com altos impostos e deportações sistemáticas, eliminou os fundamentos de existência dos povos subjugados. Em 841 a.C., Israel pagou tributos pela primeira vez; em 722 a população foi deportada; o território tornou-se província assíria; povos deportados de outras regiões foram estabelecidos ali. Judá ainda persistiu durante mais de 100 anos, na maior parte do tempo como estado vassalo pagador de tributos. Em 587 a.C., perdeu a liberdade política para a Babilônia que, após um longo processo, venceu a Assíria, mas deu continuidade à sua política. Diferentemente de outros povos cuja existência como nação foi aniquilada, Israel não desapareceu da História. Isso se deveu principalmente à elite da população - profetas, sacerdotes, mestres – que atribuíram uma interpretação religiosa à catástrofe política, e também aos persas, que devolveram muitas liberdades aos povos de seu império.

Poucas décadas depois da queda de Judá, os persas conquistaram o grande, mas decadente, império babilônico. Eles permitiram a volta dos judeus para sua terra natal, a reconstrução do templo de Jerusalém e, finalmente, uma administração autônoma da província de Judá, exercida pelos sacerdotes e anciãos, baseada nas leis bíblicas.

O domínio helenístico começou depois de Alexandre o Grande destruir o império persa (a partir de 330 a.C.). Na divisão da herança de Alexandre, a Palestina foi entregue a ptolomeus, que moravam no Egito. Para os judeus, foi difícil suportar o fato de serem obrigados a pagar caro aos novos dominadores pelo direito de morar na sua terra, uma vez a consideravam como a herança que Deus dera a Israel. Além disso, esses impostos eram financiados por nativos ricos e depois recolhidos com dureza, muitas vezes com o auxílio de forças militares.

Mas esse conflito só explodiu quando os selêucidas, que tinham recebido a Ásia, se apoderaram da Palestina (198 a.C.). A intervenção destes nas ordenanças religiosas e principalmente o apoio dado a eles pela aristocracia sacerdotal judaica foram o estopim de uma revolta, em 168 a.C., surpreendentemente bem sucedida. A Judeia estava livre.

No entanto, a família judia dos asmoneus, que tinha iniciado a revolta, exercia o poder de maneira não muito diferente dos dominadores helenistas, que eles haviam expulsado. O fim da liberdade em Judá veio quando os asmoneus pediram a Roma que arbitrasse na disputa pelo trono. Roma tomou o poder para si.

O maior interesse de Roma no controle de Judá estava relacionado à defesa contra os partos (persas) do que à terra propriamente dita. Como Roma não conseguiu impor seu domínio com ajuda de uma elite de governo judaica que fosse reconhecida pela maioria dos judeus, o país não chegou a uma estabilidade. Nem mesmo a destruição de Jerusalém (ano 70) foi capaz de quebrar a resistência dos judeus. Por isso, depois de sufocar novas rebeliões no ano 135, os romanos exterminaram também os nomes de Jerusalém e Judá. Chamaram a colônia romana levantada sobre as ruínas de Jerusalém de Aelia Capitolina, como o santuário de Júpiter no Capitólio. Judá passou a ser chamada de Palestina, uma referência aos filisteus, os piores inimigos de Israel nos tempos antigos.

L ÍNGUAS DA B ÍBLIA

Devido às línguas usadas em seus textos – hebraico, aramaico, grego – a Bíblia se insere em um espaço cultural bastante abrangente.

O hebraico veterotestamentário apresenta-se bem homogêneo, apesar do longo período de formação do AT. Isso se explica principalmente pelo fato de o hebraico ser uma língua bastante estável, uma vez que o significado básico das palavras está quase sempre alicerçado em três consoantes. Além disso, até a Idade Média os textos bíblicos eram escritos apenas com consonantes.

Por isto, um texto hebraico do século XI a.C., encontrado em escavações, é relativamente fácil de compreender a partir do hebraico bíblico.

Como as vogais não eram escritas e a pronúncia das consonantes era variável, não se sabe como era pronunciado o hebraico bíblico:

•Segundo Juízes 12.26, no antigo Israel na pronúncia do som sh indicava a tribo de origem de uma pessoa.

•No grego da Septuaginta, os nomes estão transliterados de maneira diferente do hebraico moderno. Por exemplo, Noach soava, naquele tempo, como Noé.

As línguas de povos vizinhos a Israel eram tão próximas ao hebraico bíblico como dialetos:

•A língua moabita é conhecida a partir de Estela de Mesha de Moabe, do séc. IX,

•As línguas edomita e amonita são conhecidas a partir de óstracos (pedaços de cerâmica com inscrições) dos séculos IX a VI.

No antigo Israel, estes parentescos linguísticos eram bem conhecidos. Em Isaías 19.18, p.ex., a língua de Israel é chamada língua de Canaã. Ela só passou a ser chamada de hebraico no fim do século II a.C.

O cananeu é uma língua semítica ocidental como o hebraico, o moabita ou o edomita. Na Antiguidade, os gregos a chamavam de fenício, e em Roma, onde era conhecida por causa de Cartago, era chamada de púnico. O dialeto cananeu falado posteriormente na terra de Israel é conhecido a partir de palavras isoladas encontradas em cartas dos pequenos reis cananeus ao faraó, escritas na língua diplomática da época, o babilônio.

Com a língua, Israel herdou também maneiras de pensar e expressar-se dos cananeus. A dimensão dessa herança é demonstrada em textos achados na cidade de Ugarit, no norte de Canaã. Não poucas expressões e figuras de linguagem da poesia bíblica já aparecem em hinos e poemas épicos ugaríticos.

As línguas assírio-babilônicas são línguas semíticas orientais. Na época do domínio da Assíria e da Babilônia, os funcionários governamentais de Israel tinham que lidar tão intensivamente com essas línguas que os hábitos linguísticos das línguas semítico-orientais acabaram penetrando na literatura bíblica, principalmente no livro de Deuteronômio.

Na Bíblia, o aramaico, uma das línguas semíticas ocidentais aparentada com o hebraico, aparece em partes do livro de Esdras e Daniel assim como em expressões isoladas no Novo Testamento. Enquanto o hebraico se manteve como língua de um pequeno povo, o aramaico era internacionalmente conhecido durante vários séculos. Os primeiros a contribuir para isso foram os assírios. Para eles, era mais fácil comunicar-se com os povos miscigenados pelas deportações usando o aramaico, com sua escrita alfabética confortável, do que utilizar o assírio, com sua complicada escrita cuneiforme. Já os persas abdicaram completamente de sua língua indo-europeia no contato com os povos de línguas semitas de seu império, o aramaico imperial passou a ser a língua internacional do Egito à Índia; em Judá tornou-se até mesmo a língua da conversação cotidiana.

O hebraico permaneceu vivo apenas como língua acadêmica e litúrgica. Atualmente se tornou a língua de uso corrente no Estado de Israel, artificialmente renovada.

O aramaico foi também a língua materna de Jesus. No entanto, na época de Jesus a língua da administração pública era, há muito tempo, o grego.

O grego é a língua do Novo Testamento e de alguns livros judaicos que os cristãos incorporaram à sua Escritura Sagrada (entre outros, o de Tobias). Os semitismos do grego neotestamentário explicam-se apenas em parte pelo fato de a língua materna de Jesus e seus discípulos ser o aramaico. Bem maior foi a influência da Septuaginta, a tradução grega do Antigo Testamento usada pelos judeus e que, para maioria dos cristãos primitivos, era a Escritura Sagrada.

O Novo Testamento se distingue da alta literatura grega principalmente pelo uso de uma linguagem informal, já que por muito tempo os cristãos não pensavam em produzir literatura escrita. Como o cristianismo se propagou inicialmente nas cidades, a linguagem informal urbana tornou-se a língua do Novo Testamento. Nas cidades em torno do mar Mediterrâneo, e até mesmo em Roma, a população, formada a partir de várias comunidades linguísticas, se comunicava por meio do chamado koinê (em grego: língua comum).

Este grego simplificado nasceu no exército com o qual Alexandre avançou até a Índia, cujos integrantes eram provenientes de diferentes comunidades linguísticas. Os sucessores de Alexandre tornaram essa a língua da corte. Os romanos usavam o koinê como língua administrativa no leste de seu império.

No século II, quando houve um renascimento do grego clássico, o grego do Novo Testamento e da Septuaginta dava a impressão de ser a língua rude das classes inferiores; os gentios cultos escarneciam dela.

O Antigo Testamento/Introdução

A NTIGO T ESTAMENTO E HISTÓRIA

O Antigo Testamento contém lembranças históricas de Israel. Por isso mesmo, não apresenta a história de Israel exatamente como aconteceu. Afinal, antes de cada uma dessas lembranças receber sua forma bíblica ela foi, durante séculos, interpretada e remodelada por comunidades de fiéis que nelas buscavam instruções para suas vidas. O Antigo Testamento só é referência para o período narrado na medida em que é possível identificar, por baixo das várias camadas de interpretação, elementos que remetam às origens das tradições.

•A dificuldade dessa pesquisa está no fato de tradições diferentes estarem interligadas.

•A viabilidade da pesquisa se deve ao fato de que camadas mais antigas frequentemente foram embutidas em outros contextos de forma clara.

É proveitosa a comparação dos testemunhos bíblicos com informações de fontes extrabíblicas.

Fontes históricas extrabíblicas

Também o conteúdo histórico destes relatos deve ser analisado de forma crítica, mas, diferentemente dos textos bíblicos, eles normalmente foram esculpidos em pedra ou registrados em tabuletas de barro na mesma época em que aconteceram os eventos narrados.

A primeira menção a Israel aparece em uma inscrição muito mais antiga que qualquer texto bíblico. Essa comemora a vitória do faraó Merneptah sobre a Líbia (1219 a.C.), mas também declara que a leste as cidades e países foram aniquilados até a Ásia Menor, enumerando-os em ordem geográfica. Israel não é chamado de país nem de cidade, mas como representado pelo hieróglifo homem e mulher, designando um grupo de pessoas.

Inscrições que citem Israel só voltam a aparecer mais tarde, em meados do século IX a.C.:

•Reis assírios se vangloriam de suas vitórias sobre reis cananeus, citando também reis de Israel e Judá;

•Mesha, rei de Moabe, se vangloria em uma estela de seu triunfo sobre Israel.

Alguns momentos específicos da história de Israel são confirmados também por documentos extrabíblicos. Naturalmente, os relatos de vitórias de governantes estrangeiros e os textos bíblicos descrevem os acontecimentos de perspectivas diferentes.

Essa dedicação às pessoas comuns se reflete na única grande inscrição em pedra do antigo Israel. Ela data do século VIII a.C., e enaltece os trabalhadores que cavaram a rocha para a construção do túnel pelo qual a água do vale de Cedrom foi desviada para Jerusalém, e não o rei Ezequias, que ordenou sua construção.

Outros achados arqueológicos oferecem dados semelhantes. As escavações na área de assentamento de Israel não encontraram enormes palácios ou templos, nem grandes esculturas ou cidades magníficas, mas sim os resquícios da vida de pessoas simples. Alguns exemplos:

•No princípio da Idade do Ferro (século XIII a.C.) aumentou o número de aldeias não fortificadas – um sinal que os antepassados de Israel começaram a transformar as encostas com florestas em área cultivada.

•Desde o século X a.C., aldeias foram abandonadas, o número de edifícios públicos aumentou continuamente e surgiram pequenas cidades. Tudo isso são sinais da mudança social que acompanhou a formação de estruturas estatais.

•As formas das vasilhas de barro e da arte menor assim como a manutenção das mesmas técnicas de agricultura mostram que a cultura nativa perdurou nesses novos assentamentos. Não há comprovação arqueológica de que os antepassados de Israel foram imigrantes com uma cultura diferente da nativa.

Mesmo no caso de achados arqueológicos é preciso certa cautela para considerá-los como fontes históricas. A propriedade de uma relíquia só pode ser atribuída a alguém quando for possível demonstrar que os achados arqueo-lógicos e as fontes escritas que citam o respectivo nome combinam entre si. Assim, em lugares isolados foi possível encontrar algumas camadas de uma destruição acontecida no início da Idade do Ferro, mas nenhum vestígio que corresponda à rápida campanha de conquista que fala o livro de Josué.

Questões de datação

Os arqueólogos só podem estabelecer uma cronologia relativa das camadas de escavação; datações mais precisas só podem ser obtidas através de fontes escritas. Na maioria das vezes, os documentos antigos são datados por anos de reinado; cada país tem sua própria cronologia. Referências ocasionais aos reis israelitas em textos extrabíblicos permitem relacionar datas de reinados bíblicos com as de outros povos. A relação com o calendário moderno pode ser estabelecida com ajuda de textos assírios que falam de eclipses solares totais em determinados anos de reinado e em determinados lugares. A cronologia moderna pode ser elaborada com base nesses pontos fixos calculáveis. De modo geral, há hoje unanimidade quanto às datas mais relevantes da história de Israel.

• Muitos dos achados textuais do contexto bíblico são relatos laudatórios dos feitos de reis.

• Os autores bíblicos estão muito mais interessados no destino do povo do que nos grandes feitos dos reis.

A NTIGO T ESTAMENTO E A HISTÓRIA DAS RELIGIÕES

Desta forma, a fé bíblica em um Deus único engloba também ideias de deuses dos povos vizinhos pagãos de Israel. Graças a essas tensões, esta fé se desenvolveu de forma rica durante a longa história de Israel.

Tanto o Antigo Testamento quanto fontes extrabíblicas testemunham que a fé em um Deus pessoal, com quem o indivíduo tem uma ligação especial, era uma religião familiar e cotidiana:

•Em nomes próprios, Deus é mencionado como pai (ab), irmão (ah), tio (am). Abrão significa o pai é elevado. Airão era o nome de um rei gentio de Biblos (século XI a.C.), Anrão foi o pai de Moisés.

•Orações do Oriente Próximo e do Egito testificam que as pessoas em necessidade se voltavam para a divindade que haviam escolhido como seu deus.

Os relatos sobre os antepassados de Israel estão também marcados por essa devoção (Gn 12-50); Deus se importa quando as pessoas se preocupam se um bebê vai nascer ou se um conflito familiar chegará ao fim. Gênesis 31.53 conta quão tolerante é esta devoção: um arameu fala do Deus de Abraão e do Deus de Naor como se fossem dois deuses.

No século VI a.C., ainda havia em Judá essa devoção pessoal paralela à religião oficial de Israel. Em momentos de crise, junto aos seus santuários caseiros simples (colunas ou estacas), as pessoas invocavam a Deus dizendo tu és meu pai ou tu me geraste (Jr 2.27).

• Na época em que o Antigo Testamento adquiriu sua forma final, o monoteísmo estava firmemente arraigado no povo judeu. No entanto, vestígios de formas mais antigas da religião de Israel não estão completamente riscados dos textos veterotestamentários.

A fé na divindade popular se manteve viva nos povos que surgiram nas regiões montanhosas no início da Idade do Ferro (século XIII a.C.). Eles se chamavam a si mesmos de povo ou parentela (hebraico: am) de um deus. No AT, Israel chama-se povo de Javé, Moabe é povo do (deus) Camos e Moloque, deus dos amonitas. Poetas veterotestamentários referem-se a Deus como o mais forte da parentela de Israel; ele luta por seu povo e este permanece a seu lado (Jz 5.11 e 23). Quando Davi, fugindo de Saul, vai para a terra dos filisteus, ele lamenta não poder lutar por Javé na terra de outros deuses (1Sm 26.19s).

Ao contrário do que acontecia nessas religiões populares, nas religiões estatais do mundo antigo o relacionamento entre a divindade e a pessoa era marcado pela imposição e pela submissão, e não pela mutualidade. Os cultos estatais deveriam assegurar não apenas a vida do povo, mas também a existência da criação, dos céus e da terra. O deus que tinha vencido o caos era celebrado como o rei dos deuses, que, trabalhando com ou contra os outros mantinham o mundo em movimento. O rei terreno era considerado filho dos deuses, pois executava os planos divinos e assegurava a ordem no mundo. Outras religiões eram toleradas, desde que reconhecessem a supremacia do deus do Estado.

Entre os pequenos povos da Idade do Ferro, essas ideias ganharam influência em decorrência da organização dos países. O rei Mesha de Moabe (século IX a.C.) deu a si mesmo o título de filho de Camos. No Antigo Testamento, no entanto, essas ideias se transformaram por influência das tradições contra um reinado. Por isso, em 2Samuel 7.14 Deus é denominado pai do filho do rei, uma vez que pretende educá-lo segundo os castigos humanos.

A fé no Deus dos oprimidos no Antigo Testamento se opõe às ideias das religiões estatais. Esta fé surgiu das experiências do pequeno povo de Israel, que raramente viveu em liberdade e livre de perturbações. Principalmente a tradição que fala de Javé como o libertador que tirou o povo da casa da servidão no Egito fez com que a realeza fosse vista com desconfiança.

No entanto, somente no início do século IX a.C., irrompeu em Israel uma luta acirrada contra outros deuses. Jeú, um usurpador, queria impor o culto ao único Javé à força. Os profetas censuraram seus atos de violência em nome de Javé (Os 1.4).

A fé bíblica no Deus único não se tornou uma religião estatal. O conceito do relacionamento recíproco entre Deus e povo/parentela marca a proibição aos deuses estrangeiros (Dt 5.7). Não se nega a existência de outros deuses, mas os fiéis são exortados de que Deus quer ser o seu único Deus; por isso não devem ter outros deuses.

No Antigo Testamento, a fé em um único Deus para todo o mundo só começa a ser registrada em textos que surgiram depois da queda dos reinos de Israel e Judá. Essa fé foi modificada de maneira tipicamente veterotestamentária. Em Gênesis 1.26-28, o conceito de rei como imagem de Deus (filho semelhante ao pai) se estende a todos os homens. A humanidade deve reinar soberana e proteger a ordem mundial. Em Isaías 45.7, os conceitos de uma divindade que vence o caos estão ligados às experiências históricas da queda de Israel: além de Javé não existe nenhum poder divino, por isso somente ele age, quer os homens experimentem luz e salvação ou trevas e perdição.

A NTIGO T ESTAMENTO E A LITERATURA DO ANTIGO O RIENTE

Sabe-se disso desde o século XIX graças a numerosos textos do antigo Oriente descobertos em escavações, nos quais foi possível encontrar formas linguísticas, motivos e pensamentos conhecidos no Antigo Testamento. Os testemunhos escritos mais antigos datam de fins do quarto milênio a.C., e são da Suméria (sul do Eufrates) e do Egito.

A escrita cuneiforme formou-se a partir de símbolos gravados em argila com ajuda de um estilete, a fim de registrar dados comerciais. A descoberta de que este método também permitia reproduzir sílabas e frases foi usada inicialmente apenas em inscrições. O poema mais antigo conhecido é o hino sobre a construção do templo do príncipe sumério Gudea (por volta de 2100 a.C.), um poema de 1360 versos únicos. Uma poesia como essa deve ter sido transmitida oralmente desde muito antes. A novidade estava na ideia de registrar o hino como texto sagrado em vez de apenas apresentá-lo em sua forma musical.

O subtítulo desse poema era za-mi harpa. Mais tarde, um livro veterotestamentário receberia seu nome a partir da palavra grega para harpa (psalterion) saltério.

A origem da poesia no canto pode ser verificada no fato de que a repetição continuou sendo a forma básica da poesia oriental antiga. Os versos duplos aparecem em textos egípcios do terceiro milênio a.C. e mesmo no século I, em hinos neotestamentários em grego que imitam a poesia hebraica (Lc 1.46ss).

• Os escritos veterotestamentários são obras tardias de uma história literária bem mais antiga do que Israel.

• Mais do que qualquer outra literatura do antigo Oriente, o Antigo Testamento apresenta experiências cotidianas que qualquer pessoa conhece.

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