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Novos capítulos da política brasileira: o primeiro ano da era Bolsonaro
Novos capítulos da política brasileira: o primeiro ano da era Bolsonaro
Novos capítulos da política brasileira: o primeiro ano da era Bolsonaro
E-book286 páginas4 horas

Novos capítulos da política brasileira: o primeiro ano da era Bolsonaro

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Sobre este e-book

Com sua ampla experiência como analista político, Alon Feuerwerker revela com clareza o complexo jogo de forças que atuam nas esferas do poder. Escritas no calor da hora, semana a semana, as crônicas de Alon ganham uma nova perspectiva ao serem reunidas em livro. Na sequência de Brasil em capítulos, que cobria o período do impeachment de 2016 até as eleições de 2018, estes Novos capítulos da política brasileira mostram o que aconteceu de mais importante no primeiro ano do governo bolsonarista, e ajudam a compreender melhor o cenário histórico atual.
IdiomaPortuguês
EditoraImprimatur
Data de lançamento19 de mai. de 2020
ISBN9786599065231
Novos capítulos da política brasileira: o primeiro ano da era Bolsonaro

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    Novos capítulos da política brasileira - Alon Feuerwerker

    alon feuerwerker

    Novos capítulos

    da política brasileira

    O primeiro ano da era Bolsonaro

    Apresentação

    Diante das turbulências naturais do primeiro ano de um novo governo, especialmente depois de eleições tão polarizadas e de um sinal de mudança significativo que veio das urnas, a leitura das crônicas de Alon Feuerwerker ajuda a compreender melhor o atual cenário da política brasileira.

    Com sua ampla experiência como analista político, Alon revela com clareza o complexo jogo de forças que atuam nas esferas do poder. Este trabalho, que circula em tempo real para os clientes da FSB Comunicação, ganha uma nova perspectiva histórica ao ser reunido em livro.

    Na sequência de Brasil em capítulos, que cobria o período do impeachment de 2016 até as eleições de 2018, estes Novos capítulos da política brasileira mostram o que aconteceu de mais importante no primeiro ano do governo bolsonarista, e são uma leitura obrigatória para quem gosta de se manter bem informado.

    francisco soares brandão

    Sócio-fundador da fsb Comunicação

    Rio de Janeiro, dezembro de 2019

    Introdução

    Este segundo volume de análises políticas segue a lógica do anterior Brasil em Capítulos. Uma reunião, sem acrescentar ou tirar nada, de textos publicados desde a vitória eleitoral de Jair Bolsonaro.

    2019 foi um ano fértil em antevisões do apocalipse político, mas acabou como começou. Quando este livro está sendo fechado, Bolsonaro mantém no essencial o apoio firme de quem votou nele no primeiro turno e a esperança de dias melhores por quem o apoiou no segundo turno.

    Um tema recorrente nas análises é a agitação em busca de um bolsonarismo sem Bolsonaro, mas o movimento ainda traz mais espuma que músculos.

    De todo modo, assim como o anterior, este livro oferece a quem lê a oportunidade de dissecar o primeiro ano da Era Bolsonaro a partir da narração do jogo enquanto está sendo jogado, e não do comentário depois que já acabou. Espero que seja útil. Boa leitura.

    Brasília, janeiro de 2020

    Alon Feuerwerker

    Acabou o mimimi

    Perspectiva de choque de capitalismo

    Plano inicial de voo sem políticos e sem luvas de pelica

    Quinta feira, 1º de novembro de 2018

    Que a eleição deste ano selou o colapso da Nova República já se disse. Mas esse colapso ensaia ser mais amplo. Parece ter fim também o pilar central das políticas econômico-sociais pós-redemocratização: a ideia de promover inclusão social principalmente pelo redistributivismo via Estado.

    As políticas sociais não vão acabar, mas sairão de moda. O pensamento econômico-social estruturante do novo regime é nítido: só mais capitalismo, e com menos amarras, será capaz de promover crescimento e prosperidade, inclusive para os mais pobres. Se vai funcionar, ou até quando, é outra história.

    Na teoria, serão uma linha e uma agenda do agrado do mundo empresarial. Mas atenção: o choque de capitalismo, para funcionar, terá de atacar cartórios e benesses que sustentam o status quo na economia brasileira há décadas, ou há séculos. Aqui, como Fernando Collor na largada, talvez Jair Bolsonaro deixe a direita indignada.

    Mas Collor não disse só isso, disse também que deixaria a esquerda perplexa. Acho que agora não vai acontecer, pois até as franjas mais moderadas da esquerda começam a perceber a disposição de combate e o plano estratégico do adversário. Vem aí um período de sofrimento operacional para a nova oposição.

    Até porque o novo regime não parece muito preocupado com certas formalidades que estiveram em moda nas três últimas décadas, quando jogar o jogo democrático-parlamentar-institucional era visto como valor pela opinião pública e pela sociedade. Agora, o jogo mudou: a única regra é não se faz omelete sem quebrar os ovos.

    O plano de voo inicial parece seguir dois sem. Sem políticos e sem luvas de pelica, que no jargão das hoje célebres redes sociais é o sem mimimi. Vai dar certo? Dependerá essencialmente da economia, onde as perspectivas não são tão cinzentas, já que vivemos um início de recuperação, até certo ponto inevitável depois da recessão de 2015/16.

    E a esquerda? Vai enfrentar um período operacionalmente difícil mas politicamente promissor. Também porque no novo regime, apesar dos muitos militares influentes, parece que ninguém leu Sun Tzu. Quando você não deixa uma saída para o inimigo ele vai multiplicar as próprias forças e a disposição de combate, para sobreviver.

    *

    Para já ir adotando a novilíngua dos novos tempos, as reclamações contra a nomeação de Sergio Moro para a Justiça serão recebidas como mimimi. Mais uma evidência de que certas formalidades e salamaleques da hoje velha Nova República deixaram de ter serventia e repousam no arquivo à espera apenas de algum historiador curioso.

    Desafios respectivos do novo governo e da nova oposição: atacar o déficit e buscar uma identidade

    Segunda-feira, 5 de novembro de 2018

    O primeiro desafio do futuro governo Bolsonaro é dar sinais de que vai enfrentar rapidamente o déficit primário, no qual o governo Temer vem sendo recordista. Seria uma luz não apenas para as finanças, mas também para o mundo político. Mostraria que Paulo Guedes não é um fusível do presidente para os primeiros tempos, que a aliança entre ambos tem consistência.

    Quando se escreve enfrentar, não se leia resolver. O que as forças bolsonaristas na sociedade, especialmente nas camadas mais bem postas, esperam não é um milagre de Natal nas finanças públicas, mas a indicação clara de o trem ter saído da estação. O andamento da reforma da previdência social será o sinal de que a composição finalmente passou a rodar.

    Qualquer governo mexeria na previdência, e este vai mexer. Ela tem dois problemas fundamentais: 1) o aumento da expectativa de vida e 2) o paraíso previdenciário particular dos servidores públicos, com destaque para as chamadas carreiras de Estado. Dois vespeiros. O primeiro é bolir com o povão. O segundo é cutucar um núcleo duro do bolsonarismo.

    O ideal para Bolsonaro seria resolver isso antes de receber a faixa. Uma reforma da previdência que ao menos clareasse o caminho para os próximos anos. O problema menor: associar-se ao impopular Temer na empreitada. O risco maior: e se tentar e perder? Um pavor de governos novos é nascerem velhos. O presidente certamente não vai, no popular, querer pagar o mico.

    Então a tática repousará na aritmética. Para o governo eleito, ­trata-se apenas de contar votos. E governos novinhos em folha têm gás para juntar gente no Congresso Nacional. A moeda-padrão das negociações políticas ainda não se desvalorizou. A promessa e o compromisso ainda estão com a credibilidade intacta. Ainda não foram corroídos pela inflação da vida real.

    Além do mais, o governo tem um amplo estoque potencial de votos congressuais maduros, apenas esperando pela colheita. O PSL exibe só meia centena de deputados, mas o bolsonarismo lato sensu pode facilmente reivindicar três quintos da Câmara. E conta também com a boa vontade de um pedaço da oposição ansioso para exibir uma atitude, digamos assim, construtiva.

    O projeto político de reconstrução do holograma centrista está nítido: apoio crítico ao governo na agenda liberalizante e oposição cerrada nas políticas anti-identitárias, nas iniciativas ambientais e nas medidas ultrarrepressivas para combater a criminalidade. É o programa de um bloco que tentará se apresentar moderado, distinto da oposição de esquerda.

    Esta também anda dividida, dada a disposição de uma parte de buscar caminhos que a libertem da subordinação ao PT. Por enquanto, a iniciativa parece ter alguma musculatura parlamentar. Um problema dela é o PT ter conseguido segurar seus votos na campanha eleitoral. Outro problema é como fazer oposição construtiva de esquerda a um governo Bolsonaro.

    São elucubrações. Os fatos da vida costumam ser um santo remédio. Quando janeiro chegar, as forças políticas e sociais precisarão escolher entre duas opções: apoiar o governo ou opor-se a ele. O centro precisará de remédio para urticária pois se descobrirá colado ao bolsonarismo. E a esquerda não petista acordará do porre deitada na cama ao lado do PT.

    E não é bom depender da estupidez alheia. É ilusão acreditar que o bolsonarismo vai assistir quieto à articulação de uma direita aguada e palatável a quem, tendo ajudado a vencer o PT, precisa agora de algo mais moderno para sair à rua. E é, desculpem, burrice achar que PT e PSOL vão se deixar isolar sem explorar politicamente o colaboracionismo dos rivais.

    *

    Depois de um passo à frente, dois passos atrás. Nesta primavera (ou outono, conforme a preferência) de rearenização, é curioso notar o ressurgimento também da velha diferença entre oposição autêntica e moderada. Os adeptos desta última lembram sempre que quem brigou mesmo foram os primeiros mas quem levou no final, com Tancredo, foram os segundos. Será?

    O governo técnico e o presidencialismo de coerção: as novas fantasias do imaginário político brasileiro

    Todo governo é político, ainda que negue

    Confiar no medo que a polícia põe nos políticos é arriscado

    Sexta-feira, 9 de novembro de 2018

    Algumas coisas foram mesmo novidade nesta eleição. A vitória de um candidato com pouco tempo formal no horário eleitoral, a larga supremacia da direita sobre a esquerda no segundo turno, o livre trânsito para as ideias liberais, o fim da vergonha de defender a ditadura militar. Não faltaram novidades.

    Entretanto, outras anunciadas originalidades ainda precisam ser mais bem verificadas. Bolsonaro não foi o candidato de um partido pequeno, o PSL. O partido informal que o elegeu foi superparrudo, agregando ampla coalizão empresarial, religiosa e militar. E congressual. Esta foi a eleição das cristianizações.

    Outra tese cuja repetição exaustiva infelizmente não chega a ser uma demonstração: as redes sociais teriam suplantado a mídia clássica. As redes foram sim vetor fortíssimo de mobilização, mas não há ainda qualquer prova de que os eleitores tenham formado convicção principalmente pelo material que receberam no whatsapp.

    Por falar em repetição, outra tese bem martelada é que Bolsonaro está montando um gabinete sem olhos nos partidos. Não é fato. Estão e estarão bem representados no governo o PBR (Partido da Bancada Ruralista), o PLJ (Partido da Lava Jato), o PMR (Partido dos Militares da Reserva) e o PEMAL (Partido da Economia Mais Liberal). Pelo menos.

    Legendas não registradas no TSE, mas e daí? Quem ajuda a eleger ajuda a governar. A realidade não é refém dos cartórios. Por isso, o ministério Bolsonaro talvez seja o mais político de tempos recentes, na acepção da palavra. Claro que falta coordenar isso com o Congresso. Mas, como diria o Marcelo Adnet imitando o Geraldo Alckmin, dá pra fazer.

    Pode resultar errado? Claro. Não há originalidade em apostar que as coisas darão errado entre nós. Mas é preciso esperar. Inclusive porque o Congresso brigar com o governo novo em folha nunca é inteligente. E, como se aprende em Brasília, aqui não tem bobo. Se tem algum bobo, deve ter ficado em alguma suplência, e olha lá.

    Outra hipótese cuja inteligência ainda está por demonstrar é que os políticos vão aderir ao governo por medo de serem perseguidos pelo novo ministro da Justiça, Sergio Moro. Antes de tudo: quase metade dos eleitos ao Congresso não estavam ali nos últimos quatro anos. E a maioria dos reeleitos vêm atravessando ilesos a fogueira repressiva.

    É ingenuidade achar que o ministro da Justiça vai mandar no Ministério Público, ou mesmo nas investigações da Polícia Federal. E mais ingenuidade ainda achar que Moro vai arriscar seu capital político operando o cargo pela lógica da impunidade seletiva. A lógica do vota comigo que eu te protejo. Não faz sentido, para ele ou para o Planalto.

    E como votar os assuntos de interesse do governo? Vamos aguardar. O governo será popular na largada e terá o orçamento. E mesmo isso pode ficar algo congelado no começo. No primeiro ano, 2003, Lula deixou para executar emendas parlamentares bem no final, quando o Congresso já tinha aprovado coisas importantes para o presidente.

    Tudo pode dar errado, principalmente com o passar do tempo, mas é bom não colocar a carroça na frente dos bois.

    A administração da política vai ser complicada, também porque as instituições estão funcionando

    Segunda-feira, 12 de novembro de 2018

    O novo presidente encontrará algumas condições boas. A economia ensaia uma recuperação, devagar mas recuperação. O desemprego também declina, ainda que muito lentamente (suspeita-se que 10% de taxa de desemprego tenha virado estrutural). O apoio empresarial e militar é maciço. A imprensa fará algum barulho, e só. A oposição vem isolada e dividida.

    Há constrangimentos? O principal é a situação fiscal, especialmente de estados e municípios. Mas quanto mais gente um problema ameaça, maior o estímulo para encontrar saídas. Há também as expectativas difíceis de realizar, como na segurança pública. Uma vantagem: as pesquisas disponíveis mostram que a população não espera soluções instantâneas.

    O nó mais difícil vem, é claro, da política. Bolsonaro tem amplo apoio potencial no Congresso, pelo menos 60% da Câmara e Senado. O risco? Está na palavrinha potencial. Apoio programático genérico e difuso não resolve. A sustentação política de qualquer governo precisa ser organizada, colocada para rodar e administrada na sintonia fina. E 24x7 por todo o mandato.

    Nisso, as condições que ele encontra são notavelmente piores que as dos antecessores. Depois de três décadas de demonização da política parlamentar, e de quatro anos de blitzkrieg, a sociedade concluiu que governante bom não divide poder com ninguém. E que oferecer posições governamentais por apoio no Congresso é crime passível de pena de morte política.

    Apesar de as pesquisas mostrarem certa preferência majoritária pela democracia, as últimas eleições revelaram uma interpretação peculiar do que deva ser essa democracia, na tradução prática: eleger diretamente alguém com poderes quase ditatoriais. Infelizmente, para quem pede isso, e

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