Família, urgências e turbulências
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Sobre este e-book
+ Como melhorar o convívio entre pais e filhos?
+ Como educar os jovens? Como estipular limites a eles?
+ Como ser presente na criação e educação dos filhos, diante da vida atribulada que os adultos têm?
+ Como evitar a fragmentação das relações familiares? Como não deixar que a tecnologia atrapalhe o convívio e os estudos?
+ Como impor autoridade a jovens cada vez mais desacostumados a obedecer?
+ Como lidar com crianças e jovens que parecem estar tão mimados, quanto despreparados para enfrentar as dificuldades da vida?
A obra traz em suas páginas, além de respostas para estes e outros questionamentos, um posicionamento firme e claro: os pais que enfrentam situações como essas devem estar sempre alertas aos riscos que os conflitos em família podem provocar e, mais do que isso, devem adotar uma postura ativa, urgente e corajosa para encontrar soluções.
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Avaliações de Família, urgências e turbulências
3 avaliações1 avaliação
- Nota: 2 de 5 estrelas2/5É uma leitura de fácil compreensão ,um tema muito apropriado com uma abordagem rica e necessária par os nossos dias.De fato existe uma necessidade dos pais,responsáveis interagirem com assuntos que venha atender tal prioridade que é saber preparar ,disciplinar essa turma que precisa e merecem toda atenção. CORTELA faz menção a uma realidade muito pertinente ,quando diz que os pais não estão se reeditando ou procurando saber como lhé dar com essa geração,e deixa ao descanso,isso acaba gerando um descompromisso dos pais cumprir seu devido dever,aì são ficam obrigados a ter filhos também descomprometidos.
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Família, urgências e turbulências - Mario Sergio Cortella
percorrido.
1
Angústias da criação turbulenta
Percebo hoje nas famílias, especialmente naquelas com pais e mães com menos de 50 anos, um mal-estar diante da convivência intergeracional. São pessoas que vivem angústias em relação à criação dos filhos e também advindas das preocupações com aqueles que têm mais idade, os pais dos pais, os avós.
Nesse contexto, o dado mais preocupante é a incapacidade que parte desta geração demonstra no enfrentamento de questões relacionadas às novas gerações. Querendo ser muito amigos dos filhos, pais e mães promovem um clima de camaradagem excessiva que beira a complacência e pode ser perigosa, na medida em que rompe alguns laços de autoridade. Observa-se uma dificuldade em se chegar a uma situação de equilíbrio, em que haja uma vida harmônica, mas disciplinada. Uma vida com liberdade de convivência, mas que não abra mão da ética do esforço. Que não seja opressiva, tampouco desordenada.
Os meus pais — isto é, os pais dos pais dos pais em relação à geração atual — não tinham essas questões. Porque os modelos eram mais óbvios, bastava repeti-los. Meus pais fizeram o que fizeram meus avós. A lógica era que criança obedece ou fica de castigo ou apanha. Meus pais viveram isso sem tanto peso. As atividades paternal e maternal eram muito afeitas à ideia de cuidar com disciplina. Já a minha geração deu vez à formação dos filhos com mais direito à liberdade: a criança e o jovem podiam emitir opinião. Ela retirou da palavra infantil
o sentido original que tem. Infante, em latim, é aquele que não pode falar
. E, portanto, diminuiu a infantilização da infância e abriu espaço para que o filho ou a filha tivesse alguma voz. Mas não toda a voz. Na geração dos meus avós, era nenhuma voz
; na dos meus pais, talvez alguma voz
; a minha geração criou seus filhos sim, eles têm direito a alguma voz
; a atual geração de pais dá a eles toda a voz
. Quando falo voz
, não estou falando de liberdade de expressão, mas de poder de decisão, da possibilidade de escolha autônoma, às vezes até soberana.
Essas angústias são partilhadas por essas gerações conviventes de modos diferentes. Esta atual geração de pais na faixa dos 50 anos tem nostalgia de algumas práticas: Bastava o meu pai olhar e a gente obedecia
, minha mãe falava ‘basta’ e bastava
. Um tipo de nostalgia quase queixosa. Esse mal-estar que gera angústia resulta de um desconhecimento de como lidar com as novas gerações. Ele é mais proveniente de falta de formação para lidar com esse modo novo de convivência do que de fato uma questão de princípio. Não se trata de eu não sei o que fazer
no sentido de desistência, mas de desconhecimento mesmo.
Uma das frases que eu mais ouço ultimamente dos pais e das mães (cabe esclarecer que, neste livro, paternidade e maternidade se referem aos responsáveis pela formação de alguém, e não apenas aos pais biológicos) é essas crianças são assim
ou essa juventude é desse jeito
, como se essas crianças de hoje fossem uma fatalidade, que se originassem de outro lugar que não de nós. Há uma falência da expectativa e, consequentemente, da ação, numa conformidade muito danosa. É a suposição de que eles são assim, o que eu posso fazer?
. Os pais estão quase sempre na condição de reféns. Se eu não der, ele chora
, se eu não fizer, ele grita
, se eu proibir, ele fecha a cara.
Como se essas crianças e jovens fossem detentores exclusivos de direitos contínuos. Não que não tenham direitos. Mas não têm nem todos os direitos e nem de modo contínuo.
A principal angústia é a sensação de fracasso. Meus pais me formaram bem, para trabalhar, para buscar autonomia, e eu não estou conseguindo fazer o mesmo.
Meu filho não quer estudar, passa o dia inteiro na internet e não há o que eu possa fazer.
Claro que há causas para essa situação, e a principal é a rarefação da convivência. Os pais gastam parte considerável do tempo no mundo do trabalho, incluindo aí as horas passadas no deslocamento para casa, principalmente nas grandes cidades, e nas tarefas profissionais levadas para casa. Essa redução brutal do tempo de convivência faz com que as pessoas não se conheçam. E, de maneira geral, aquele que tem responsabilidade de formar, por não conhecer aquele com quem está lidando, fica enclausurado. Eu tenho a sensação de que alguns pais e mães ficam restritos a determinados espaços da casa. É como se praticamente todo o território da família pertencesse aos filhos, que levam os amigos, que fazem o que desejam, que, quando querem, também ficam reclusos em seus castelos
, que são os seus quartos. É como se a família fosse apenas um criadouro, não um local de formação, de aprendizado, de convivência, de alegria, de afeto.
Olha que frase curiosa: Eles têm a vida deles
, usada predominantemente por pais de adolescentes. É como se ter a vida deles
significasse que eles pudessem seguir sem nenhum tipo de controle, de supervisão, isto é, pais e mães abrindo mão da responsabilidade que têm. Isso faz com que fiquemos marcados pela angústia. Nós corremos o risco de minar a formação ética das novas gerações. E esta geração perdeu um pouco a capacidade de entender que a vida coletiva é uma construção que exige esforço, dedicação e, portanto, requer também ordenamento.
A geração que está criando a atual estabeleceu a liberdade como um valor. Liberdade de pensamento, de conduta, do uso da roupa que quiser: "Coloco piercing e a tatuagem que eu quiser, o corpo é meu". Essa ideia de posse de si mesmo foi muito marcante. Ela, no entanto, desandou no momento de formar pessoas, porque essa ausência de fronteiras pode se transformar em algo absolutamente danoso, que é a incapacidade de contenção.
Vida também é renúncia, vida e convivência também demandam contenção. Quando Sigmund Freud escreve Mal-estar na civilização (1930), ele está falando das potências internas, o que ele chamaria de impulso, que faz com que, em última instância, eu pense apenas em mim mesmo. Meu grande temor em relação às novas gerações é que se reforce o individualismo em excesso. Como já falei em várias ocasiões, desejos não são direitos.
De onde vem essa angústia? Da sensação forte de que eu não sei o que fazer
. Isso angustia porque reflete a falência da responsabilidade de um adulto sobre os seus. Há uma confusão sobre não saber o que fazer, que não vem só do fato de não se ter clareza, mas também porque os modelos