Liderança em foco
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Sobre este e-book
Esse livro procura exatamente mostrar o que nos leva a reconhecer uma liderança como legítima, os principais fatores de motivação de um grupo, além de lançar luz sobre como unir as pessoas em prol de uma causa comum.
Mediante um diálogo cativante, Eugenio Mussak e Mario Sergio Cortella despertam nossa atenção para aspectos essenciais da boa liderança – papel que pode ser desempenhado com entusiasmo por qualquer um de nós. - Papirus 7 Mares
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Liderança em foco - Mario Sergio Cortella
LIDERANÇA EM FOCO
Mario Sergio Cortella
Eugenio Mussak
>>
Mario Sergio Cortella por Eugenio Mussak
Quando recebi da Papirus o convite para produzir um livro sobre liderança em parceria com Mario Sergio Cortella, meu primeiro pensamento foi: Ótimo, vou me divertir um pouco
. Cortella é daquelas pessoas que não conseguem concluir um pensamento sem que este tenha, a par da seriedade de seu conceito, um lado engraçado ou lírico. No final não sabemos se o que nos deixou encantados foi o que ele nos ensinou ou o modo como fez isso.
Mas meu primeiro pensamento pós-convite foi injusto com meu colega, pois, no fundo, minha excitação vinha da perspectiva do aprendizado. Filósofo e educador, Cortella é, provavelmente, o melhor exemplo do interesse das pessoas pelos saberes do humanismo. Conferencista altamente requisitado, tem falado para plateias de todos os matizes, sobretudo as de homens de negócios, executivos pragmáticos e duros, que aprendem encantados a arte de atingir resultados por meio da ética e da percepção de sua missão como agentes transformadores da sociedade. Cortella lhes ensina sorrindo, e eles aprendem com encanto e gratidão.
A experiência de construir este livro por meio de um diálogo que recupera todas as facetas da autêntica liderança foi fascinante. A transdisciplinaridade – que mesclou gestão com psicologia, economia com filosofia, educação com biologia, literatura com história – acabou por mostrar a verdadeira dimensão da arte de liderar, que é a de criar condições para que as pessoas colaborem com seu melhor na construção de um mundo mais rico, justo e feliz. Afinal, como Cortella costuma dizer: A vida é muito curta para ser pequena
.
Eugenio Mussak por Mario Sergio Cortella
Eugênio Mussak é médico de formação, educador por devoção, escritor por doação e palestrante por opção. Com ele convivo pelo mundo das conferências, dos hotéis e aeroportos, das aulas e dos estudos, das viagens, dos passeios com Luciana, sua parceira de vida, e com Janete, a minha.
Por mais de duas décadas (no século passado, claro) ensinou biologia na educação básica e superior, dirigiu escola, empresariou projetos e, no Paraná, onde nasceu (como eu), ajudou a criar a Universidade do Professor. Depois, ficou alguns anos no exercício da medicina e, como ele mesmo conta, notou ter mais paciência com discentes do que com pacientes.
Passou, em São Paulo, onde mora (como eu), a burilar cada vez mais a sua competência no campo da educação corporativa: é docente em universidades e renomadas escolas para executivos e um dos mais afamados palestrantes do mundo organizacional. Inteligente, aproveita o tempo também para saborear um bom vinho, enquanto escreve ótimos livros e provocadoras colunas em revistas.
Sumário
Liderança: Dom ou virtude?
Os códigos da vida
Coragem, persistência e relevância
Utopia: O lugar que não existe... ainda
Liderar é criar o inédito viável
A inteligência a serviço do sonho
O coelho da Alice e o cronômetro do Taylor
Autonomia e automotivação
O poder que, em vez de servir, se serve, é um poder que não serve
Quem está no comando?
A presença de Afrodite
O bom ensinante é bom aprendente
Admiração, respeito e confiança
Sobre o ócio criativo
Vencendo os inimigos internos
Glossário
Sobre os autores
Outros livros dos autores
Redes sociais
Créditos
N.B. Na edição do texto foram incluídas notas explicativas. Além disso, as palavras em destaque remetem para um glossário ao final do livro, com dados complementares sobre as pessoas citadas.
Liderança: Dom ou virtude?
Eugenio Mussak – Já faz um bom tempo que tanto eu como você, Cortella, estamos envolvidos com a questão da liderança, de ser líder ou de desenvolver essa habilidade. Acompanho seu interesse, suas reflexões e sua atuação na área da educação e confesso que compartilho muitas de suas ideias a respeito do tema. Por isso estou entusiasmado com a oportunidade deste livro.
Mario Sergio Cortella – Pois é, Mussak. E apesar de se ouvir falar sobre liderança, sobre a necessidade de formar líderes, falta ainda esclarecimento. Assim, é muito bem-vinda esta possibilidade de nos reunirmos para este papo tão estimulante. Quando discutimos aspectos como o que se entende hoje por liderança, quais as principais características do líder e o que se espera dele, entre outros tantos, podem vir à luz reflexões que acabam por se revelar inovadoras.
Mussak – É verdade. Por exemplo, a que área pertence o estudo sobre liderança? No meu entender, a várias: desde a antropologia, a sociologia, a psicologia – enfim, o humanismo de modo geral –, mesmo porque liderança não é cargo. Nas organizações existem cargos de gerente, diretor, supervisor, superintendente, mas não de líder, embora algumas empresas adotem essa denominação. Em princípio, liderança não é cargo, mas uma condição, um comportamento humano. E, logicamente, é desejável que as pessoas que ocupam esses cargos comportem-se como líderes, o que nem sempre acontece.
Cortella – Também costumo enfatizar a ideia de que liderança, tal como você disse, não é um cargo em que o indivíduo desempenhe uma atividade específica. Trata-se, isso sim, de uma atitude, uma função a ser exercida. Logo, não é determinada pela hierarquia em qualquer dimensão.
Passando a vista pela história, deparamos com muitos líderes que não tinham cargos de chefia. Alguns eram até antichefes
. Basta que nos lembremos de figuras como Nelson Mandela, Mahatma Gandhi, Jesus de Nazaré, Martin Luther King, Sócrates, Madre Teresa de Calcutá – pessoas que não ocupavam nenhum cargo de chefia. Aliás, penso que valeria a pena já examinar a distinção entre as noções de chefia e de liderança. Enquanto a chefia é caracterizada pelo poder de mando sustentado pela posição que a pessoa ocupa em determinada hierarquia (na família, na empresa, na escola etc.), a liderança é uma autoridade que se constrói pelo exemplo, pela admiração, pelo respeito.
Mussak – Nesse sentido, é interessante observar que não existe vácuo de liderança. Sempre que se estabelece um agrupamento humano, formal ou informal, em qualquer área de atividade, alguém estará liderando o processo em cada momento. A liderança pode ser compartilhada, pode ser alternada, mas nos grupos humanos, mesmo naqueles constituídos de duas pessoas, ela sempre está presente. Portanto, exercer liderança e ser liderado são condições que caracterizam as relações humanas.
Cortella – E aí a questão é de mão dupla, porque nenhum de nós exerce liderança ou é liderado o tempo todo. Isto é, vivemos as duas condições em momentos variados. É por essa razão que a liderança, no meu entender, é circunstancial, Mussak. É algo que acontece em ocasiões específicas, em determinadas situações, mas nenhum de nós exerce liderança o tempo todo e em todas as situações, dada a impossibilidade de que assim seja. Talvez por isso seja descabida a noção de vácuo de liderança, exceto por intervalos muito pequenos.
Mussak – Não se pode nem mesmo contar a história da humanidade sem mencionar as pessoas que protagonizaram as grandes mudanças, os grandes momentos. Até quando falamos, por exemplo, da Revolução Francesa, em que não houve um grande líder como viria a ser Napoleão Bonaparte, que surge pouco depois, não é possível abordar o fato sem fazer referência a seus protagonistas, como foram Danton, Robespierre, Marat, além daqueles cujas ideias deram início à revolução, como Rousseau e Voltaire. Portanto, sempre haverá líderes ou pessoas que, de alguma forma, desencadeiam os processos. E não importa a hierarquia ou o poder que essas pessoas têm, são líderes.
Cortella – Você mencionou Napoleão. Às vezes, em meio a uma conversa, as pessoas perguntam se ele foi um líder, se Hitler, Stalin ou mesmo Gêngis Khan foram líderes. Em outras palavras, se pessoas que têm um vínculo com a brutalidade, muitas vezes com o poder despótico e a violência, com a lógica do fazemos qualquer coisa a qualquer custo
, podem ser classificadas como líderes. Nesse ponto faço uma distinção, e gostaria de saber sua opinião sobre o assunto.
Defendo que liderança não é dom, mas virtude. Aliás, é exatamente porque não é um dom que podemos debater o tema. Porque, se fosse dom, não haveria discussão: a pessoa nasce ou não com esse traço; ela o possui ou não. Já que não é dom, podemos considerá-la virtude. A filosofia define virtude como força intrínseca, capacidade a ser desenvolvida – e eu sempre entendo virtude como uma força intrínseca que dirige o indivíduo para o bem. Em contrapartida, a força intrínseca que dirige para o mal é o vício. Voltando então a Napoleão: porque ele tinha não a virtude da liderança, mas o vício do poder despótico, entendo que ele não era um líder. Como você vê isso?
Mussak – Cortella, você questiona se a pessoa nasce com essa habilidade ou a desenvolve. Pelo que você está dizendo, ela pode desenvolver a liderança precisamente porque se trata de uma virtude.
Cortella – Justo: ela já nasce com a virtude, mas ainda terá que desenvolvê-la, praticar seu potencial de liderança.
Mussak – A sua perspectiva é, evidentemente, filosófica. Já a minha visão fundamenta-se, em parte, na biologia, o que se justifica pelas diferenças em nossa formação. Vejo a capacidade de liderar pessoas, de conduzi-las em direção a um determinado objetivo, de modificar o comportamento do grupo para o bem ou para o mal (e aí estaríamos separando o vício da virtude) como uma espécie de força interior que cada um possui. Considero que todos, sem exceção, a possuem, porém, em alguns indivíduos essa força é maior do que em outros. E, independentemente de sua intensidade, essa força, essa capacidade de influenciar as pessoas, precisa, sim, ser trabalhada. Como você diz, é uma virtude em potencial que precisa ser burilada sob pena de essa força não se transformar em virtude, e sim em vício.
Cortella – Gostaria que depois ainda voltássemos a Napoleão, mas não queria