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Como gerir bem uma paróquia: A paróquia como empresa do Terceiro Setor e suas seis categorias de gestão
Como gerir bem uma paróquia: A paróquia como empresa do Terceiro Setor e suas seis categorias de gestão
Como gerir bem uma paróquia: A paróquia como empresa do Terceiro Setor e suas seis categorias de gestão
E-book306 páginas3 horas

Como gerir bem uma paróquia: A paróquia como empresa do Terceiro Setor e suas seis categorias de gestão

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Sobre este e-book

Neste livro, Pe. José Carlos Pereira fala sobre a administração paroquial em sua totalidade, aprofundando-se nas seis categorias de gestão que a compõem: financeira, patrimonial, pastoral, pessoal, espiritual e missionária. O objetivo é contribuir para que os gestores paroquiais possam gerir a paróquia, como empresa do Terceiro Setor, de forma transparente e eficiente, mas sem negligenciar os aspectos que a diferenciam de outros organismos empresariais: sua espiritualidade, sua missão como parte da Igreja e os princípios humanos ensinados por Jesus Cristo.
IdiomaPortuguês
Data de lançamento3 de fev. de 2021
ISBN9786555621761
Como gerir bem uma paróquia: A paróquia como empresa do Terceiro Setor e suas seis categorias de gestão

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    Como gerir bem uma paróquia - José Carlos Pereira

    I. ADMINISTRAÇÃO PAROQUIAL: UM RAMO DO TERCEIRO SETOR

    1.O conceito de administração

    Administrar significa coordenar, reger, governar ou gerir negócios públicos ou privados. Quando se trata da gestão de empresas, o ato de administrar está relacionado à função de comando, de direção ou de chefia, de uma empresa, firma, negócio ou mesmo projeto. Daí vem o significado da palavra empresa, que quer dizer, entre outras coisas, empreendimento, ou seja, o ato de empreender, realizar, assumir uma tarefa ou responsabilidade que envolva uma ou mais instituições e pessoas, mas também riscos.

    Por essa razão, há uma ciência e técnicas de administração que visam capacitar pessoas para o ofício de administrar, fornecendo não apenas técnicas para dominar a gestão de um empreendimento, seja público, seja particular, mas também uma linha de pensamento que forme seres pensantes na arte ou ofício de gerir ou administrar empreendimentos de modo técnico e científico. Assim, a administração, seja ela de qualquer empreendimento, para ser eficaz, precisa ser também científica, como afirmou Frederick W. Taylor: Os princípios fundamentais da administração científica são aplicáveis a todas as espécies de atividades humanas, desde nossos atos mais simples até o trabalho nas grandes companhias (TAYLOR, 2015, p. 23). Por essa razão, buscamos aplicar, direta ou indiretamente, esses princípios da administração científica às paróquias, já que gerir uma paróquia é gerir um empreendimento, que requer certa ciência, pois envolve várias categorias de gestão. Taylor já havia dito que

    […] os mesmos princípios, com resultados iguais, podem ser aplicados em qualquer atividade social: na direção de nossos lares, na gerência de nossas fazendas, na administração de nossas casas comerciais, grandes e pequenas, na administração de Igrejas, de institutos filantrópicos, de universidades e de serviços públicos […] (TAYLOR, 2015, p. 23).

    Escolhemos aplicar aqui esses princípios à Igreja, mais especificamente à paróquia, buscando contribuir para uma gestão eficaz, que conduza o seu desenvolvimento não apenas como empresa, mas como Igreja, com sua missão de atingir o seu fim último, ou sua atividade-fim, que é a evangelização. Para tanto, urge fazer um breve resgate da história da administração, com vistas a uma melhor compreensão e aplicação do que entendemos hoje como administração de empresas.

    Tais linhas de pensamento, ou Escolas de Administração, com a organização que temos hoje (faculdades e cursos técnicos em administração), não são tão antigas quanto poderíamos pensar, embora a arte de gerir ou administrar seja milenar, remontando a épocas pré-cristãs, como podemos ver na Bíblia, tanto no Antigo quanto no Novo Testamento, sobretudo nos livros dos Reis e no Deuteronômio. Nos livros dos Reis encontramos, entre tantos exemplos de administração e governos, eficazes e ineficazes, o de Salomão, que se tornou famoso pela sua sabedoria em administrar. Quando foi escolhido rei, demonstrou uma das características fundamentais para um bom administrador: a humildade. Quem acha que sabe tudo da arte de gerir e administra com arrogância e prepotência tem grande chance de fracassar como administrador e de levar à falência a empresa que administra.

    Salomão, recém-escolhido rei, jovem e inexperiente, ouviu, numa noite, Deus lhe dizer: ‘Peça. O que lhe posso dar?’ Salomão respondeu: ‘Eu sou bem jovem e não sei como governar […]. Ensina-me a ouvir, para que eu saiba governar o teu povo e discernir entre o bem e o mal’ (1Rs 3,5-6.9). Além da humildade, Salomão apresentou mais duas características fundamentais para um bom gestor ou administrador: saber ouvir para discernir. Observar, estar atento, escutar para tomar decisões acertadas são atitudes essenciais para quem quer ser um bom administrador.

    No Novo Testamento, encontramos outro exemplo bíblico de administração: a narrativa do administrador que havia colocado a empresa em risco de falência por causa de uma administração desonesta (Lc 16,1-8). Mediante o fracasso como administrador, e a iminência da demissão, ele buscou alternativas, negociando com seus credores e revertendo o quadro da empresa, sendo, assim, elogiado pelo seu patrão. Neste caso, o texto destaca a expertise do administrador, que soube, a tempo, reverter o quadro da empresa e ainda ganhar a confiança do diretor e dos demais.

    O administrador que não tem essas características pode cometer erros primários em qualquer tipo de administração, seja de uma nação, seja de uma empresa de qualquer porte ou setor. Ao ler a biografia de uma das referências em administração do século XX, Frederick W. Taylor, ¹ é possível ver quão observador ele era quando o assunto era administração. Começou humilde, com o desejo de ser mecânico, trabalhando como operário nas oficinas de construção de máquinas da Midvale Steel Company, na Filadélfia, estado da Pensilvânia, nos Estados Unidos. Devido à sua perspicácia, soube ouvir, observar e perceber situações, buscando soluções para os problemas, ascendeu na empresa e na vida, tornando-se mais tarde um dos grandes responsáveis pelo sucesso daquela empresa no setor automotivo, além de um dos mentores dos princípios de administração científica que temos hoje. Vemos, assim, que a administração é uma arte de todos os tempos, embora tenha se firmado como escola num passado não muito remoto, que pode ser datado da virada do século XIX para o século XX.

    De acordo com Peter F. Drucker, as primeiras escolas de negócios nos Estados Unidos surgiram na virada para o século XX (2010, p. 43), mas elas não ofereciam nenhum curso de administração (Ibidem). Foi mais ou menos nessa época, segundo ele, que o termo ‘administração’ começou a ser popularizado, e o responsável por essa popularização foi o já citado Frederick Winslow Taylor. Taylor foi lapidando o conceito, usando outros conceitos correlatos, como estudo de trabalho ou estudo de tarefa. Para Taylor, a administração era um trabalho, ou tarefa, que precisava de um estudo mais articulado e sistematizado, até que se tornou aquilo que Drucker, mais tarde, chamou de engenharia industrial e que nós conhecemos pelo termo genérico de administração de empresas. Drucker lembra que, quando Taylor falava sobre o que atualmente denominamos ‘administração’ e ‘gestores’, ele os chamava de ‘os donos’ e ‘seus representantes’ (2010, p. 43). Assim, o diretor de uma empresa, ou seu presidente, era o dono da empresa, e sua equipe de trabalho, ou sócios, eram os que Taylor chamava de representantes. Vemos que, desde a época de Taylor, as nomenclaturas mudaram um pouco, mas o significado continua o mesmo, pois, na maioria das empresas, os diretores são os donos, exceto em empresas do Primeiro e do Terceiro Setor. Como veremos adiante, no Primeiro Setor, a empresa pertence ao governo (país, estado ou município), e, no Terceiro Setor,² pertence a instituições filantrópicas, isto é, sem fins lucrativos, e é gerida mediante estatutos e atas que determinam as regras e constituições de seus gestores. Ela não tem, portanto, um dono, embora tenha diretorias. Por outro lado, nas empresas do Segundo Setor, empresas particulares, com fins lucrativos, os diretores ou presidentes podem ser também donos. Dessa forma, Taylor não estava de todo equivocado ao usar o termo dono.

    Voltando às origens da administração como organização técnica e científica, Drucker afirma que as suas raízes remontam a cerca de duzentos anos atrás, porém a administração como função, como um trabalho distinto, a administração como disciplina e área de estudos – tudo isso é produto do século XX (2010, p. 43). Ele lembra ainda que a tomada de consciência da administração como ciência, ou disciplina, ocorreu após a Segunda Guerra Mundial. Ou seja, foi a partir do século XX que

    as principais tarefas sociais passaram a ser realizadas dentro e através de instituições organizadas – empresas de negócios, grandes e pequenas; sistemas escolares; faculdades e universidades; hospitais; laboratórios de pesquisas; governo e órgãos do governo, de todos os tipos e portes; e muitas outras" (DRUCKER, 2010, p. 44).

    Nisso podemos incluir as empresas ou instituições filantrópicas, que são o objeto deste trabalho, sobretudo as Igrejas, dioceses e paróquias, que até pouco tempo atrás não tinham uma administração organizada como empresa, embora já fossem vistas e tratadas perante o governo como empresas do Terceiro Setor.

    2.A paróquia como empresa do Terceiro Setor

    Antes de falar da paróquia e de discorrer sobre o conceito de Terceiro Setor, cabe uma breve explanação sobre alguns dados importantes ou terminologias conceituais, fundamentais para o entendimento do tema central aqui tratado, que é a administração de paróquias como empresas do Terceiro Setor.

    O conceito de paróquia surgiu atrelado ao conceito de diocese por volta do século IV, quando começaram a se acentuar as mudanças nas configurações das primeiras comunidades cristãs, conhecidas como Igrejas domésticas, que se formavam nas casas, nos primeiros séculos da era cristã. Diz o Documento de Estudos 104 da CNBB que,

    quando em Roma, o cristianismo adquiriu a forma de uma organização central, este começou a influenciar as Igrejas domésticas, e estas, com o crescimento do número de cristãos, após o edito de Tessalônica (381), quando Teodósio era imperador, ficaram abaladas (CNBB, 2013, p. 33).

    Esse abalo significou enfraquecimento dessa modalidade de Igreja, que não comportava mais as pessoas devido ao número de adeptos, que aumentava de modo significativo, exigindo novas configurações. Assim, a relação Igreja-casa, enfraquecida, deu lugar a um novo modelo de instituição, as chamadas paróquias territoriais. De acordo com o Documento de Estudos da CNBB, "desaparecem as fronteiras entre a comunidade eclesial e a sociedade civil e se identifica a paróquia como igreja paroquial, caracterizada pelo local de reunião ou o templo" (Ibidem). Esse modelo de paróquia que temos hoje guarda profunda similaridade com o modelo surgido antes do século IV. Assim, a partir do século IV aparece, de um lado, a diocese e, do outro, a paróquia (Ibidem).

    Tanto o surgimento das paróquias quanto o das dioceses foram medidas que visavam, além da missão de evangelizar, atividade-fim da Igreja, ao aspecto administrativo. Diferentemente do modelo que se tem hoje de paróquia e de diocese, a diocese emerge como expansão das comunidades urbanas, e a paróquia vive uma expressão dessa comunidade urbana única, da qual pretende ser uma reprodução em outra escala (Ibidem). Havia, assim, uma similaridade entre diocese e paróquia, sendo uma extensão da outra, em diferente escala.

    As paróquias surgiram, portanto, da expansão missionária da Igreja nos pequenos povoados que rodeavam as cidades (Ibidem), enquanto a diocese centrava sua ação gestora na cidade. A diferença mais evidente estava no fato de que a diocese geria o mundo urbano, e a paróquia, o mundo rural. As paróquias eram, portanto, originalmente rurais, o que permaneceu influenciando os modelos seguintes de paróquia, mesmo depois do Concílio de Trento, no século XVI, que não modificou seu perfil estrutural. Mesmo que mais tarde elas tenham se estendido pelas cidades, devido ao crescimento populacional, as paróquias mantiveram características rurais no seu aspecto administrativo.

    Um fato a ser destacado, em termos de administração, é que, passados mais de cinco séculos, as paróquias continuam, em grande parte, sendo administradas como se fossem uma instituição rural. Esse procedimento faz com que o trabalho de gestão paroquial, ainda hoje, nem sempre responda aos desafios da atualidade, sobretudo no mundo urbano. Nesse aspecto, necessita-se um novo conceito de administração paroquial, de modo a contemplar os avanços da sociedade e o crescente processo de urbanização das paróquias, que hoje estão concentradas, majoritariamente, nos grandes centros urbanos. Além disso, a administração paroquial esbarra na dificuldade que muitos padres têm no âmbito do conhecimento sobre gestão, pois, apesar das grandes mudanças, eles ainda não são preparados, durante seu período de formação, nos seminários, para serem gestores de empresas, mas apenas gerenciadores do sagrado, como afirma Pierre Bourdieu (1997), gerenciadores que, apesar de gerir finanças e patrimônio, não os administram como bens reais, mas como bens simbólicos. Esse procedimento acarreta problemas sérios na conjuntura administrativa da paróquia, uma vez que a gestão de bens simbólicos – gestão espiritual, pastoral e missionária – exige procedimentos distintos da gestão financeira e patrimonial. Por essa razão, Bourdieu afirma:

    A empresa religiosa é uma empresa com dimensões econômicas que não pode se confessar como tal e que funciona em uma espécie de negação permanente da sua dimensão econômica: pratico um ato econômico, mas não quero saber que o fiz; faço-o de tal modo que posso dizer a mim mesmo e aos outros que não se trata de um ato econômico (1997, p. 186).

    Essa negação consiste na não aceitação da instituição religiosa – neste caso, a paróquia – como empresa, pois se desenvolveu no imaginário dos representantes oficiais do sagrado (bispos, padres e fiéis leigos) uma cultura teológica de que a Igreja não pode ser tratada dessa forma, embora seja, de fato, uma empresa. Isso acaba por dificultar uma administração qualificada da diocese e da paróquia dentro dos moldes exigidos pelas leis e pela própria ciência da administração de empresas.

    Assim, o primeiro procedimento para uma administração eficaz é a tomada de consciência de que todo gerenciador do sagrado, seja bispo, seja padre, deve gerir a paróquia ou a igreja que lhe foi confiada como um gestor, um administrador de empresas, sem prejuízo da sua missão de pastor, pois as demais categorias de gestão – a espiritual, a pastoral, a missionária e a de pessoas – estão interligadas. Quem não é um bom gestor de finanças e de patrimônio pode prejudicar as outras modalidades. O mais importante é que o gestor de empresas do Terceiro Setor, sobretudo os gestores de paróquias e dioceses, saiba diferenciar a sua empresa das demais. É isso que afirma Bourdieu quando diz que a empresa religiosa, o negócio religioso, ‘não é uma empresa industrial e comercial com fins lucrativos’, isto é, não é uma empresa como as outras (1997, p. 186). Essa diferenciação é fundamental para uma boa gestão nas empresas do Terceiro Setor, inclusive paróquias.

    2.1O Terceiro Setor

    Busco neste tópico elucidar o conceito de Terceiro Setor e contextualizar nele as paróquias, pois, com a compreensão desse conceito e do papel que a paróquia tem nessa categoria de empresas, fica mais fácil geri-la.

    Em primeiro lugar, é importante saber que o Terceiro Setor é formado por empresas ou entidades sem fins lucrativos, por exemplo, ONGs, instituições de ensino, hospitais, casas de recuperação de dependentes químicos, abrigos, creches, associações e todas as categorias de instituição religiosa ou Igreja, inclusive a Igreja católica, foco deste trabalho.

    A classificação Terceiro Setor é oriunda da sociologia, mas foi adotada por outras ciências, como a economia e a administração de empresas. Por essa razão, vamos usar as ferramentas das ciências sociais para fundamentar e tratar o tema. O termo Terceiro Setor é oriundo dos Estados Unidos – Third Sector – e se espalhou pelo mundo, inclusive pelo Brasil, o que não podia ser diferente, tendo em vista a influência norte-americana em nossa cultura, sobretudo nas áreas de economia. Tanto é que a maioria dos expoentes da área de administração de empresas é dos Estados Unidos, como os já citados Frederick W. Taylor e Peter F. Drucker.

    Mas, se o conceito de Terceiro Setor é aplicado com supremacia nos Estados Unidos para classificar as empresas sem fins lucrativos – e no Brasil não é diferente –, como podemos enquadrar as Igrejas e, neste caso, as paróquias nessa categoria? Quem nos ajuda a responder a essa questão é o antropólogo Rubem César Fernandes, que faz um resgate desse conceito em uma fonte mais remota que a dos Estados Unidos. Ele busca na Inglaterra as bases para o que entendemos hoje, tanto nos Estados Unidos quanto no Brasil, como Terceiro Setor. Diz ele:

    A lei inglesa, tradicionalista como é, usa a expressão mais antiga para designar nosso objeto. Fala de caridade (charities), o que remete à memória religiosa medieval e enfatiza o aspecto da doação (de si, para o outro) que caracteriza boa parte das relações idealizadas nesse campo (2005, p. 25).

    Vemos, assim, que as bases para a formulação do conceito de Terceiro Setor, aplicado hoje às categorias já citadas, têm sua gênese religiosa, ou seja, sua origem está no seio da Igreja. Fernandes diz também que "a noção de ‘filantropia’, contraponto moderno e humanista à caridade religiosa, também aparece com frequência, sobretudo na literatura anglo-saxã" (Ibidem).

    Em outra obra sobre o Terceiro Setor, Fernandes destaca:

    Pode-se dizer que o Terceiro Setor é composto de organizações sem fins lucrativos, criadas e mantidas pela ênfase na participação voluntária, num âmbito não governamental, dando continuidade às práticas tradicionais de caridade, da filantropia e do mecenato e expandindo seu sentido para outros domínios, graças, sobretudo, à incorporação do conceito de cidadania e de suas múltiplas manifestações na sociedade civil (1996, p. 45).

    Nesse sentido, as bases do que temos hoje na América Latina e no Brasil como Terceiro Setor surgiram no âmago da Igreja católica, como forma de dar continuidade à prática da caridade, procedimento elementar da Igreja, que é também uma instituição social e existe para fazer a diferença na sociedade. Essa diferença se dá, sobretudo, na prática da caridade, base da doutrina cristã. A Igreja católica, inclusive, mantém outras instituições, a ela vinculadas, que têm como objetivo, exclusivamente, a prática da caridade, como a Cáritas,³ de origem alemã.

    Vale destacar ainda que o Terceiro Setor também tem como função contribuir para atender locais aos quais o Primeiro Setor (Estado ou o governo) não consegue chegar. Sua função, contudo, não é fazer o papel do Estado, mas colaborar com ele em prol da sociedade. Nesse sentido, é importante, na administração paroquial, saber diferenciar as situações, para que a paróquia não arque com projetos e ações que são obrigação do Estado. Nesse caso, cabe à paróquia, como Igreja, cobrar do Primeiro Setor que ele cumpra sua função, pois os impostos que a comunidade e a sociedade pagam devem também ser revertidos em obras sociais.

    Assim, o papel do Terceiro Setor é contribuir para a inclusão social por meio de ações solidárias, que podem ou não ser feitas em parceria com o Primeiro e o Segundo Setor, ou seja, com o governo e empresas particulares, sem ocupar seu espaço e suas funções. As empresas do Segundo Setor participam de ações e obras sociais contribuindo ou firmando parcerias com empresas do Terceiro Setor, obtendo, dessa forma, benefícios e isenções do governo, que, por sua vez, estreita os laços entre esses setores. Boa parte das empresas do Terceiros Setor é mantida por iniciativas privadas ou pelo governo, por meio de repasses de verbas públicas ou leis de incentivos fiscais. Nisso consiste uma das diferenças entre as Igrejas e as demais instituições filantrópicas: as Igrejas não recebem verbas do governo, embora recebam algumas isenções fiscais, tributárias. Se, contudo, uma Igreja desenvolver um projeto que contribui para a inclusão social, ela também poderá receber verbas do governo para mantê-lo. Para isso, existem regulamentações, na forma de Lei, e será preciso, como ocorre com qualquer empresa do Terceiro Setor, prestar contas ao governo.

    Muitas paróquias deixam de receber ajuda do governo para seus trabalhos sociais devido à falta de gestores capacitados para gerenciar essas situações, no que diz respeito, por exemplo, à organização de documentos para requisição da ajuda, à aplicação conforme as orientações governamentais e, sobretudo, à prestação de contas, uma das dificuldades mais latentes encontradas no âmbito das paróquias quando se trata de gestão de finanças e patrimônio, uma vez que esses gestores estão mais preparados para a gestão espiritual do que para a gestão financeira e patrimonial. Além disso, a burocracia também impede que muitas paróquias desenvolvam parcerias com o Primeiro Setor nas suas ações sociais ou filantrópicas.

    2.2A Igreja católica e as Igrejas particulares

    De antemão, cabe iniciar este tópico com definições conceituais, ou elucidações terminológicas, para facilitar a compreensão, em toda a sua extensão, do objeto de pesquisa deste trabalho, a administração paroquial, parte integrante de uma instituição religiosa (a Igreja católica) e de suas repartições, configuradas aqui de modo simplificado como dioceses

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