Plataforma do reino: O significado de viver as realidades do reino de Deus em nossa história
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Plataforma do reino - Ricardo Costa
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PRIMEIRA PARTE
PLATAFORMA DO REINO: O AMBIENTE
Acredito que a espinha dorsal
da palavra de Deus é o que chamamos de Reino de Deus.
Quando lemos os Evangelhos percebemos que o Reino de Deus é um tema central para os três Evangelhos que chamamos de Sinóticos². A proclamação de João Batista é para que o povo se prepare para a chegada do Reino de Deus, que se manifestaria através do Messias (Marcos 1.4-8; Lucas 3.1-20). Após João ser preso, Jesus dá início a seu ministério público, proclamando que esse Reino estava perto (Mateus 4.12-17; Marcos 1.14-15).
Conforme a narrativa de Marcos 1.14-15 lemos:
Depois que João foi preso, Jesus foi para a Galiléia, proclamando as boas novas de Deus. O tempo é chegado
, dizia ele. O Reino de Deus está próximo. Arrependam-se e creiam nas boas novas
A expressão grega usada para está próximo
referente ao Reino de Deus aqui neste texto é a palavra eggízo
, que faz referência a uma proximidade espacial, física, e não temporal³. Seu significado é estar à mão
.
Assim, o sentido do que Jesus está proclamando como boa nova sobre o Reino de Deus era uma realidade que havia chegado. Chegado na pessoa dele. As pessoas podiam estender o braço que tocariam no Reino, pois ele estava à mão, na pessoa de Jesus Cristo.
Então, para entendermos o Reino de Deus, precisamos entender quem é Jesus Cristo. E para entendermos quem é Jesus Cristo precisamos voltar nossos olhos para o Antigo Testamento.
Capítulo 1
UMA VISÃO VETERO-TESTAMENTÁRIA
DO REINO DE DEUS
O QUE É A BÍBLIA?
ABíblia é um livro que nos conta uma história que tem começo meio e fim. E como todo livro ela tem, portanto, um drama que está se desenvolvendo. A Bíblia é, no entanto, no nosso entender, um livro especial, porque ela é um livro de revelação.
Através da Bíblia somos introduzidos na verdadeira cosmovisão do nosso Universo. Por intermédio do que ela nos conta nós somos capazes de compreender o que está acontecendo ao nosso redor.
Logo no início, vemos que todo o nosso Universo não é fruto do acaso, mas vem a existir por intermédio da criação realizada por Deus. Essa criação é uma criação boa e perfeita em suas origens.
Toda a narrativa de Gênesis 1 e 2 nos apresenta a criação de um Universo que é povoado por ordem e beleza. No ápice dessa criação está a humanidade que foi criada à imagem e semelhança do seu Criador.
Então Deus disse: Façamos o ser humano à nossa imagem; ele será semelhante a nós. Dominará sobre os peixes do mar, sobre as aves do céu, sobre os animais selvagens da terra e sobre os animais que rastejam no chão
.
- Gênesis 1.26 (NVT)
A assim chamada narrativa da criação
descreve para nós os fundamentos da realidade do Reino de Deus. Se observarmos com atenção o texto, tanto da narrativa de Gênesis 1 como do capítulo 2, veremos que o conceito de Reino está presente em toda ela.
Deus é Senhor absoluto sobre todas as coisas, e isso é assim porque ele é o criador de tudo o que existe, logo, tudo lhe pertence. E este Deus que cria todas as coisas, faz o ser humano à sua imagem e semelhança, e concede a ele domínio
sobre tudo o que foi criado.
Ou seja, se Deus concede ao ser humano domínio sobre tudo o que foi criado, então, o ser humano, está sob o domínio de Deus. O que o texto de Gênesis 1 demonstra para nós é que Deus iria reinar sobre todo o Universo criado por intermédio do ser humano, que fora criado à sua imagem e semelhança e que recebera domínio para governar a criação.
O domínio que o ser humano recebeu deveria ser exercido a medida que ele mantivesse sua conexão com o Deus Criador, sendo submisso a seu governo amoroso, através de um contínuo relacionamento de prazeirosa obediência.
Isso é expresso assim em Gênesis 2, quando o texto nos diz que Deus faz um Jardim no Eden, coloca o ser humano nele e ordena que ele não comesse da árvore do conhecimento do bem e do mal (Gênesis 2.15-16).
O texto em Gênesis 2.16 diz que o SENHOR Deus lhe ordenou
. Devemos observar a linguagem de Reino, a linguagem de governo. Não é um pedido que Deus está fazendo, é uma ordem que Deus está dando.
Então, para que o ser humano exerça domínio sobre toda a criação, ele precisa se manter sob a autoridade de Deus. E a maneira de se fazer isso é por intermédio de sua pronta obediência e submissão à ordem que Deus dá para que o fruto da árvore do conhecimento do bem e do mal não fosse comido.
Chegamos assim em Gênesis 3 onde somos introduzidos à narrativa da rebelião.
Neste capítulo a Bíblia nos mostra a razão de todo o caos e desconexão que vemos ao nosso redor. Como vimos, Deus criou um mundo bom e perfeito e colocou essa criação sob o domínio da humanidade.
Para que a criação permanecesse boa e perfeita a humanidade deveria se manter submissa ao governo amoroso de Deus, mas nós nos rebelamos contra ele, por intermédio do desejo pela auto-suficiência que a serpente
instigou em nosso coração (Gênesis 3.1-7).
A partir do momento que Adão e Eva dão ouvidos à sagacidade da serpente e são iludidos com o fascínio da independência, todo o mal, todo o caos, toda a desconexão, que existe em nosso Universo criado, em todas as esferas - espiritual, relacional e física - foi gerada.
Diante dessa realidade, Deus como o soberano criador, poderia ter descartado sua criação e realizado algo novo. Contudo, o que a narrativa bíblica vai nos mostrar é que Deus entra em um processo de restauração de toda sua criação, a começar com o ser humano.
Ao longo da Bíblia, entrelaçada nos dramas das mais diversas pessoas e famílias, a palavra de Deus vai nos revelando um plano divino que expressa um propósito que estava estabelecido desde antes da fundação do mundo (Efésios 1.3-14).
Deus não abriria mão do seu governo sobre a criação, mas ele iria recuperá-lo por intermédio de um representante da humanidade que fosse absolutamente obediente e submisso a seu governo amoroso (Colossenses 1.15-20).
Esse representante da humanidade é chamado de Ungido
, que é a palavra Messias
no hebraico, e Cristo
no grego.
Assim, o que lemos ao longo de todo o Antigo Testamento é o drama de como Deus está em missão no mundo para restabelecer seu governo por intermédio de um representante da humanidade, o Messias, sobre sua criação⁴.
Johannes Blauw faz quatro afirmações sobre a figura do Messias a partir das narrativas do Antigo Testamento⁵:
1. O Messias representa o Reino, o Domínio Real de Deus; o Messias, é por assim dizer, a manifestação visível do próprio Deus.
2. Ao mesmo tempo o Messias apresenta feições humanas
; com o que não tencionamos por humano
em oposição ao divino
, mas, antes, indicar os atos divinos concretos que devem ser aguardados na história dos homens.
3. Esta realeza não é conquistada por ele, é lhe concedida na base de uma intervenção divina na história, não apenas de Israel, mas também do mundo das nações.
4. O domínio messiânico é humano e justo, em contraste com o dos poderes sub-humanos que foram derrotados.
Conforme podemos ver há na narrativa do Antigo Testamento essa expectativa pela chegada de um ser humano, que conforme a Bíblia, viria da linhagem dos patriarcas e do Rei Davi, e que teria sobre si a plenitude da pessoa de Deus, de tal maneira, que ele representaria visivelmente o próprio Deus.
Capítulo 2
O REINO DE DEUS ESTABELECIDO
EM JESUS CRISTO
Quando damos início a leitura do Novo Testamento o que acabamos de descrever é o que compõe o contexto histórico para a narrativa dos Evangelhos.
O contexto social, político e cultural da nação de Israel sob o domínio do Império Romano era o de uma grande expectativa pela intervenção de Deus mais uma vez na história, trazendo libertação para a nação de seus opressores.
Havia uma grande expectativa pela chegada do Messias, daquele que viria trazendo em si, a plenitude do Espírito de Deus. Aquele que conjugaria as três unções de profeta, sacerdote e rei, estabelecendo assim, o governo pleno de Deus sob toda a sua criação, por intermédio da restauração de Israel.
É neste contexto que Jesus nasce e dá início ao seu ministério, proclamando que aquilo que aguardavam tinha chegado. O Reino de Deus está ao alcance de um braço
.
Portanto, a questão referente ao Reino de Deus passa diretamente pelo que podemos chamar de questão cristológica
.
A grande pergunta a ser respondida nos Evangelhos, e que precisa ser respondida também por cada um de nós é justamente essa. É Jesus de Nazaré o Messias? Ou havemos de esperar outro?
Essa foi a dúvida no coração de João Batista, quando ele se encontrava preso por Herodes. Ele envia seus discípulos a Jesus justamente com essa pergunta.
Os discípulos de João contaram-lhe todas essas coisas. Chamando dois deles, enviou-os ao Senhor para perguntarem: És tu aquele que haveria de vir ou devemos esperar algum outro?
- Lucas 7.18-19
Este é o questionamento que Jesus faz a seus primeiros seguidores, ao qual Pedro responde afirmando ser Jesus o Cristo, ou seja, o Messias.
E vocês?
, perguntou ele. Quem vocês dizem que eu sou?
Simão Pedro respondeu: Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo
.
- Mateus 16.15-16
A questão que precisa ficar clara para nós é que se Jesus é o Cristo, se ele é o Messias, então, ele é o Rei do Reino. E se ele é o Rei do Reino, quais as implicações disso para nós? Para a nossa história?
EVIDÊNCIAS DE QUE JESUS É O MESSIAS
Muitas pessoas ao lerem os Evangelhos não conseguem compreender muito bem o que ali está sendo narrado, porque acham que os Evangelhos são uma espécie de biografia
sobre a vida de Jesus.
Não! Os Evangelhos são testemunhos sobre quem Jesus é. Eles foram redigidos para testemunhar que Jesus é o Cristo, o Filho do Deus vivo. Assim, o melhor lugar para encontrarmos as evidências de que Jesus é o Messias são os próprios Evangelhos.
Quero apresentar duas evidências que os Evangelhos nos dão a respeito de ser Jesus o Messias.
1. O seu batismo
No Evangelho de Lucas nós lemos:
Quando todo o povo estava sendo batizado, também Jesus o foi. E, enquanto ele estava orando, o céu se abriu e o Espírito Santo desceu sobre ele em forma corpórea, como pomba. Então veio do céu uma voz: Tu és o meu Filho amado; em ti me agrado
⁶
- Lucas 3.21-22
Ao olharmos para o ministério de João Batista com sua pregação somos informados de que ele está preparando o caminho para a chegada do Messias, e que este seria aquele que iria batizar não apenas com água, mas com o Espírito Santo (Mateus 3.1-11; Marcos 1.4-8; Lucas 3.1-20; João 1.26-27, 29-34).
Então, Jesus vem até João Batista para ser batizado no rio Jordão, como tantas outras pessoas estavam fazendo. E quando João o batiza, a Bíblia narra uma série de acontecimentos extraordinários que demonstram exatamente que Jesus é o Messias.
Primeiro, enquanto Jesus está orando, os céus se abrem. Essa é uma expressão de interferência das realidades do céu na terra. O céus se abrirem significa que as realidades do nosso contexto foram invadidas pelas realidades do contexto de Deus.
Então, o texto nos diz que o Espírito Santo, desceu sobre a pessoa de Jesus que estava sendo batizada. Não vamos passar com muita pressa por aqui.
Há muitas coisas na Bíblia que negligenciamos, que lemos sem dar a devida atenção, ou mesmo, que consideramos ser algo, quando na verdade é muito mais profundo do que imaginamos.
Vamos pensar um pouco!
Quando lemos na Bíblia as narrativas sobre o nascimento de Jesus Cristo, somos informados de que Maria, que era uma jovem virgem, foi envolvida pela pessoa do Espírito Santo, esse mesmo Espírito que está descendo sobre Jesus, agora em seu batismo.
A Bíblia nos diz que é o poder do Espírito Santo que fecunda um óvulo no útero de Maria, e através disso, a Palavra Eterna, passa a ter um corpo humano, um corpo físico. E esse corpo físico tem um espírito, que é o Espírito Santo, o Espírito do próprio Deus. A partir dai a humanidade de Jesus passa a existir.
Jesus Cristo é eterno enquanto a Palavra, mas seu corpo físico passa a existir a partir de um momento específico da nossa história. Momento esse que o apóstolo Paulo se refere como plenitude do tempo.
Mas, quando chegou a plenitude do tempo, Deus enviou seu Filho, nascido de mulher, nascido debaixo da Lei
- Gálatas 4.4
Então, aquele homem que está dentro do Jordão, sendo batizado por João Batista, tem em si o Espírito Santo, pois é seu espírito, foi gerado por ele, mas agora está recebendo sobre si o Espírito Santo na forma corpórea de uma pomba, o mesmo Espírito que já está nele.
Em seguida a isso, ouve-se uma voz que vem dos céus dizendo para aquele ser humano: "Tu és o meu Filho amado; em ti me agrado".
Essa é a voz do Pai! Ela é importante, porque a narrativa bíblica nos diz que todos aqueles que vão até João para serem batizados por ele, ao chegarem precisam confessar seus pecados.
Mas, quando Jesus chega, ele não confessa nenhum pecado. Isso porque ele não tem pecado; antes, ele recebe duas confissões. Ele recebe a confissão de João Batista, que diz que ele é que precisava ser batizado por Jesus (Mateus 3.14). E recebe a confissão do Pai de ser ele o Filho amado, em quem o Pai tem todo seu prazer.⁷
Em seguida ao texto do batismo, Lucas coloca a genealogia de Jesus (Lucas 3.23-38). Essa genealogia, diferente da feita por Mateus, não parte de Abraão e chega a Jesus. Ela parte de Jesus e chega até Adão, o primeiro ser humano criado, e de Adão, a Deus, encerrando com a expressão filho de Deus
.
Peço que você acompanhe meu raciocínio. Estamos acostumados a chamar Jesus de Filho de Deus, porque consideramos a verdade de que ele é Deus, parte da Trindade, e como tal nos referimos a ele como o Deus Filho. Mas será que a intenção de Lucas ao colocar a genealogia de Jesus Cristo logo após seu batismo, onde é afirmado que ele é o Filho amado, levando-a até Adão, o primeiro homem, e fechando com a referência de que Adão é filho de Deus, não teria como objetivo nos mostrar, e lembrar, que dentro do plano original de Deus, é isso que a Humanidade é? Filho de Deus!
Em outras palavras, Jesus